Plinio Corrêa de Oliveira

 

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A Igreja Militante

 

 

 

 

 

 

 

 

Legionário, 9 de julho de 1944, N. 622, pag. 2

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O dia do Papa deu ensejo a muitas manifestações de homenagem ao Chefe da Cristandade. Nestes dias turbulentos que vivemos, em que as próprias bases da civilização estão abaladas e em que se controvertem os valores essenciais que cercam de dignidade a vida humana, os olhos se voltam espontaneamente para a figura sem par do Sumo Pontífice, que, em todos os tempos tem sido o guardião dos tesouros espirituais autênticos. E, então, a luz da verdade se faz tão penetrante, que consegue varar até as muralhas impenetráveis dos preconceitos amontoados pela má vontade. Assim também os soldados que crucificaram a Cristo foram obrigados a exclamar: “Verdadeiramente, este era o filho de Deus”.

Infelizmente, porém, nem todos querem fazer esta confissão por completo como a fizeram aqueles rudes soldados. Medo de irritar demais os fariseus? Quem sabe. Falta de coragem para aceitar as tremendas consequências desta confissão? É provável. E, por isso, ficam pelo meio, satisfazendo em parte a verdade, e em parte a mentira, em uma transação cômoda entre a verdade de Deus e do Céu, e a mentira da Sinagoga e do mundo: “Verdadeiramente, este foi um grande homem!”

Foi por isso que, entre as vozes que erguiam louvores ao Papado, houve algumas que apenas cantaram as benemerências morais da Santa Sé como a mais bela instituição humana, esquecendo a sua origem divina. Veem na Igreja e no seu Chefe apenas uma grande força moral, e nesta força moral se basearia a Autoridade que o Papa sempre tem exercido, apesar de todas as vicissitudes. A indefectibilidade da Igreja seria, assim, devida mais à bondade humana, que jamais abandona completamente os ideais elevados, do que à misericórdia divina, que não se deixa vencer pela malícia dos homens.

Ora, esta força moral é radicalmente insuficiente para manter a Igreja. A humanidade decaída se tornou escrava dos erros e das paixões e, deixada a si própria, trai os mais sublimes ideais. A graça divina, eis a força da Igreja; a graça divina que luta contra a perversão dos homens, e mantem íntegra e indefectível a Igreja como um fermento de santidade em meio à corrupção do mundo, apesar da corrupção do mundo. E é por isso que a Igreja neste mundo, é militante; precisamente porque Ela acena com ideais sublimes aos homens que repelem o sublime, que se agacham no lodo de suas imundícies, que acham insuportável o peso da virtude e querem plena liberdade para seus desvarios, abrindo mão de seus destinos espirituais. Por isso, e só por isso, é que a Igreja é odiada, combatida, perseguida, porque Ela dá testemunho contra a malícia dos homens, atestando que as suas obras são más.

Ela está no mundo, mas não é deste mundo; entre Ela e o mundo há um abismo intransponível, de tal modo que o mundo precisa negar-se a si mesmo para poder entrar na Igreja.

Esta barreira que marca o erro e o mal, estigmatisando-os como tais, eis o que os mundanos não podem suportar. O mundo procura sempre confundir o seu erro com a verdade, a sua malícia com a virtude, e a sua maior pretensão é destruir aquela barreira que o põe à margem. Daí a tendência para os sincretismos religiosos que baralham indistintamente todas as religiões; daí o desejo de pôr todas as religiões em pé de igualdade, com os mesmos direitos, sem qualquer discriminação. Isto é a maior injúria que se pode fazer à verdade, e é por isso que a Igreja Católica, única verdadeira Igreja, sempre afirmou os seus direitos exclusivos, apenas tolerando as outras religiões, em circunstâncias particulares, não lhes reconhecendo, porém, qualquer direito.

A respeito do Papa, sejamos, pois, coerentes. Quando São Pedro confessou oficialmente a divindade de Jesus Cristo, o Messias lhe respondeu: “Bem-aventurado és tu, Simão Bar-jona”. Mas não ficou aí, e logo acrescentou: “Porque não foi a carne, nem o sangue que te revelou isto, senão meu Pai, que está nos céus”.

A Igreja não se funda na carne, nem no sangue, mas na graça de Deus, e só a Igreja Católica tem este fundamento. E, aos que não querem ir tão longe, digamos-lhes como disse o Mestre ao Príncipe dos Apóstolos: “Duc in altum“ (Lc 5,4).


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