Plinio Corrêa de Oliveira

 

 

Comentando...

História da Igreja

 

 

 

 

 

 

Legionário, 12 de novembro de 1944, N. 640, pag. 2

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Em princípios deste ano, o Santo Padre Pio XII dirigiu ao Revmo. Pe. Pedro Leturia, Decano da Faculdade de História Eclesiástica da Universidade Gregoriana, uma carta em que deu importantes diretrizes acerca do estudo desta matéria.

Depois de lembrar que Pio XI havia elevado a História Eclesiástica ao grau de disciplina primária nas Faculdades de Teologia, o Santo Padre salientou que, como matéria a ser lecionada nas escolas, não deve demorar-se demais em questões críticas ou meramente apologéticas, embora estas tenham a sua importância, mas deve ter por especial escopo mostrar a vida e atividade da Igreja. Esta vida, acrescentou o Papa, que decorre pelos séculos, como que posta à nossa vista, muito contribui para formar um juízo maduro da condição da Igreja, e para desenvolver um verdadeiro amor para com Ela.

Além disso, Pio XII caracterizou dois perigosos escolhos no estudo da História da Igreja, a saber, o excesso de uma erudição indigesta, ou o uso de uma crítica seja ignorantemente deficiente, seja imprudentemente exuberante. Por fim, condenou Sua Santidade um certo naturalismo, imitado dos autores acatólicos, que se esforça por medir e julgar naturalmente os acontecimentos que ultrapassam as forças humanas.

Percebe-se, logo à primeira vista, o alto alcance destas instruções. Já não queremos insistir sobre a última parte, que proscreve esta espécie de complexo de inferioridade que faz com que alguns católicos procurem imitar os métodos dos acatólicos, a fim de mostrar a estes que eles não são fanáticos, nem crédulos, nem espíritos estreitos, e conseguirem assim fores de cidadania perante a ciência oficial. E, neste afã, chegaram ao extremo de negar o milagre como objeto de indagação científica. Mas são evidentes as vantagens das outras orientações que propõem no estudo da História Eclesiástica um objeto vital e não um como cadáver mumificado.

De fato, há um certo modo de conceber a História da Igreja segundo o qual ela aparece quase como se fosse uma geometria deduzida na estratosfera e não como uma realidade viva, que continua a ser vivida, e continuará a sê-lo, até à consumação dos séculos.

A História da Igreja deve ser a memória completa do católico e dirigi-lo nas suas atividades como filho da Igreja. Só assim ele compreenderá o seu papel como realizador de uma ordem cristã neste mundo, como construtor da Cidade de Deus, como agente da civilização católica. Só assim ele amará plenamente a Igreja e terá uma ideia bem nítida e ampla da essência do Cristianismo. E, também, só assim poderão ser evitadas as situações difíceis, criadas em outros tempos pelos inimigos da Igreja e novamente postas em prática, infelizmente, com o mesmo sucesso.

Mas, principalmente, é preciso ser evitada, no estudo da História da Igreja, a ideia de que as crises em que Ela outrora se debateu são coisas definitivamente do passado, que jamais se repetirão. Este é o melhor modo de desarmar os fiéis, nas lutas que devem enfrentar.


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