Plinio Corrêa de Oliveira

 

 

Nova et Vetera
 
Liberalismo, raiz do nacional-socialismo

 

 

 

 

 

Legionário, 20 de maio de 1945, N. 667, pag. 5

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Há quem classifique o nazismo como um movimento reacionário. Seria ele um inimigo ferrenho dos ideais da revolução liberal de 1789. É bem verdade que tanto o nazismo, quanto o comunismo procuram canalizar, a seu favor, o movimento contrário à decomposição liberal. Não é menos verdade, porém, que a essência do liberalismo se acha na própria estrutura do nazismo... e do comunismo.

Para se compreender toda a hediondez do liberalismo e a responsabilidade que lhe cabe pelo caos em que se encontra atualmente o mundo, nada melhor que comparar nossa época, farisaicamente cristã e liberal, com a Idade Média. E este contraste nós o encontraremos nas seguintes páginas do livro “Liberalismo ou Nacional-Socialismo?” de Luiz Adolfo Esteves.

* * *

TRAÇOS CARACTERISTICOS DA IDADE MEDIA

Naturalmente nos limitamos a destacar os traços que nos parecem essenciais, deixando de lado as particularidades.

Eis, portanto alguns princípios que, a nosso ver, caracterizam a Idade Média:

1 - Existe um valor supremo, e evidentemente é Deus

A) ATITUDE COM RELAÇÃO AO VALOR SUPREMO: O cumprimento da vontade de Deus é o primeiro dever do homem. Ora, podemos conhecer essa vontade de Deus, pois Ele se nos revelou e a Revelação nos é conservada e interpretada pelo magistério infalível da Igreja; possuímos esta Revelação pela Fé.

2 - Existe uma ordem moral objetiva

Deus é o fundamento desta ordem de moralidade e de justiça. Portanto, tal ordem, assente sobre a vontade divina, tem uma base religiosa.

3 - Deparamos uma cultura cristã

O homem da Idade Média sabe que deve orientar tudo para Deus. Os indivíduos e as sociedades são subordinados a Deus, devem trabalhar pela sua glória, inclinar-se à sua vontade. As atividades culturais (ciências, artes, profissões, educação, diversões) são dirigidas para Deus e reguladas segundo os seus preceitos. Ciência e Fé, Estado e Igreja, civilização e serviço de Deus, vida e Religião - tudo isto, ainda que heterogêneo está intimamente unido e compenetrado na harmonia de um todo. É impossível conceber-se algo de inteiramente “profano”, sem a menor relação com Deus e com a Religião.

4 - Encontramos uma certeza objetiva

Todos estão certos de que se apoiam sobre um fundamento objetivo e absoluto, de que vivem na ordem sobrenatural, pela vontade de Deus. Não há senão uma teologia, uma filosofia, uma concepção do mundo; uma ideologia: o Cristianismo. E este fundamento, garantido pela Igreja, é absoluta e objetivamente seguro.

B) ATITUDE COM RESPEITO A ESTRUTURA DO MUNDO: Consideremos primeiro três problemas que se referem à relação entre o homem e a sociedade: cultura e Estado; indivíduo e comunidade; mundo e nação. Em segundo lugar, dois problemas que se referem à essência do homem: relação entre espírito e sangue e entre sentimento e vontade.

Estes valores, coordenados entre si, opõem-se mutuamente. Grave problema o de reduzí-los à prática. A humanidade, no seu caminhar através dos séculos, oscila entre uma alternativa de cada grupo. Coube à Idade Média a glória de ter efetuado a síntese de todos estes valores como veremos neste capítulo.

1 - Cultura e Estado em harmonia

Na Idade Média existe o respeito à autoridade por motivos religiosos: toda autoridade legítima repousa sobre a vontade de Deus. As autoridades constituídas sentem-se responsáveis por todas as atividades de seus súditos. Os príncipes protegem e fomentam as manifestações culturais de toda espécie. Mas, por outro lado, a autoridade concede plena liberdade aos organismos sociais e aos indivíduos.

Deste modo, atingia-se o ideal do Estado devidamente ordenado.

2 — Indivíduo e comunidade

O homem da Idade Média não vive isolado. Desde o nascimento sua vida se entrelaça com a das comunidades que o cercam: família, organização profissional, nação, império.

A existência decorre no âmbito destas comunidades, que delimitam, orientam e sustentam a vida do indivíduo.

Existe, portanto, uma síntese: o indivíduo não é destruído, mas, ao contrário, respeitado, amparado e impulsionado pela comunidade. Se algum dia tiver de sacrificar-se por ela, ele o fará sabendo que, em último termo todas as comunidades não têm outro fim senão servir ao próprio bem pessoal.

Daqui, uma “comunidade” em toda a força da palavra.

3 — Mundo e nação

Elemento importante que influencia a vida de cada homem é a tradição, a história do seu próprio povo. Não se pode representar um homem da Idade Média isolado, separado de sua gente, da tradição de sua cidade natal, da história de sua terra. Não existem homens internacionais. Existem, sim, professores, mercadores, que viajam ou residem longe de sua cidade natal, mas também, conservam as notas características de sua gente, e mantem-se em contato com a “Heimat” (país de origem). Sem falar de “nação”, vive-se instintivamente dentro da tradição, da história, dos costumes, das recordações e lendas, vive-se na mentalidade do próprio povo, vive-se em tudo aquilo enfim que denominamos “nação”. E a influência destes elementos constitutivos da nacionalidade é muito mais viva que nos tempos modernos.

Entretanto, está longe de ser unilateral. Eis novamente a síntese de mundo e nação: esta vida nacional, vida do povo, é concebida como célula de um organismo superior. Acima do povo há laços reais que unem todos os povos cristãos, há a realidade do Corpo Místico de Cristo, a Igreja, há o Império, enfim toda Cristandade. E esta grande comunidade não destrói a influência dos valores nacionais, das tradições, da história; ao contrário, ela os supõe e os alimenta.

4 - Espírito e sangue

O homem da Idade não é de modo algum um “intelectualista”. A inteligência é apreciada no seu justo valor, mas o que constitui o valor do homem, não é o que ele sabe, mas o que ele pode. Existem os grandes reis. Os cavaleiros, os poetas, os grandes artistas, e os artífices. O ideal do homem compreende todas as suas qualidades, corporais e espirituais. O “homem perfeito” não é o homem com dois ou três diplomas de doutorado, mas o que possui todas as qualidades corporais e espirituais exigidas pelo seu estado social, por sua profissão. O soldado perfeito, o lavrador perfeito, o cavaleiro perfeito, o operário perfeito, o príncipe perfeito - todos estes não se concebem sem o contingente físico do corpo.

Evidentemente, este homem perfeito é dirigido e influenciado em grande parte pelo solo de sua pátria, pelos atavismos do sangue, pela saúde e robustez física.

E ao mesmo tempo, este homem perfeito é também homem, essencialmente superior ao animal devido à sua alma espiritual. Ele se deixa dirigir pela razão iluminada pela fé.

5 - Sentimento e vontade

O homem da Idade Média é o oposto do fraco ou do tímido. Invadido pela convicção de possuir a verdade absoluta (Revelação) e de viver na ordem estabelecida por Deus, tem ânsia de viver e de produzir algo.

Daí sua fertilidade. Que abundância e que produtividade em todos os ramos da cultura! Teologia e Filosofia: Tomás de Aquino, Alberto Magno, os Escolásticos. Mística: Eckehardo, Suso, Tauler. Artes: o gótico, arquitetura, escultura. Literatura: Dante, os grandes épicos. Os artesãos, quantas obras primas não produziram! O homem medieval é rico em formas que exprimem sua vida: festas religiosas e profanas, peregrinações, procissões, mil pequenos costumes e símbolos, vestes, danças, festas populares, torneios, jogos, cânticos. É enérgico: basta lembrar os duros métodos da justiça medieval, a educação escolar. Nunca excessivamente apreensivo pela saúde, mas sempre robusto. Os tipos humanos nas crônicas e lendas nunca são sentimentais, doces ou moles, mas fortes, enérgicos, valorosos, robustos.

É corajoso e heróico: a covardia é um vício relativamente raro e muito desprezado. O nível a que subiram a coragem, a vitalidade, o heroísmo demonstram-no as Cruzadas, empresa comum de toda a Cristandade. Mas, ao mesmo tempo, como estima a ternura, sobretudo nas mulheres! Que ideal feminino nas imagens da Virgem Santíssima, nas lendas, nas crônicas, na poesia!...

Seu ideal viril é o cavaleiro, homem de vitalidade, de força física, sim, mas unida à piedade, ao respeito interior, à delicadeza do coração, à misericórdia, penitência...

I – A DECOMPOSIÇÃO DA IDADE MÉDIA

A decomposição se inicia no tempo da Renascença, ou, se preferir, do Nominalismo.

Desmorona-se a base de tudo: a Fé comum.

Desde então se inicia a revolta contra Roma, contra o Pontificado – é o protestantismo.

Mas a decomposição não se detém aqui; perdem-se, um após outro, os dogmas da Revelação de Jesus Cristo. A Fé cristã definha cada vez mais.

Perde-se a Fé na divindade do Redentor, na Revelação – é o racionalismo.

Renuncia-se por fim totalmente à Fé em Deus, temos o ateísmo e este ateísmo penetra na massa dos povos europeus. O indiferentismo e não raro as mais variadas superstições conquistam um sem número de adeptos, principalmente onde o protestantismo liberal minara o terreno. Ao mesmo tempo e no mesmo ritmo que a identidade das crenças religiosas, também se desfaz a unidade das máximas políticas.

Afirmam-no as palavras de Godefroid Kurth (L’Eglise aux tournants de l’histoire; Dewit, Bruxelles – 1927). “A Europa estava até então estreitamente unida, não só quanto às crenças religiosas, mas também quanto às idéias políticas. Unia o direito à moral cristã e reconhecia o Papa como seu intérprete (Kurth baseia sobre este fato, e com razão a justificação do Papa Bonifácio VIII).

“A partir de Filipe o Belo, não foi mais assim. Não houve mais “república cristã”. É o que se deduz do desaparecimento do grande fato que a manifestava, as Cruzadas. Maomé torna-se o árbitro do Mediterrâneo e os turcos enchem de pânico o mundo...

“Eis, do ponto de vista internacional, o balanço da realeza absoluta.

“Do ponto de vista nacional, o absolutismo dos reis destruiu o equilíbrio do corpo social, concentrou toda a vida na cabeça, atrofiou as instituições livres e tornou a revolução o único corretor possível da tirania”.

Desfaz-se a sociedade Cristã da Idade Média.

As nações se constituem em contraposição à unidade cristã e à direção da Igreja. Também o indivíduo se afasta da comunidade. “As nações, arrancadas à direção da Igreja, não acharam o seu caminho. Parecem condenadas a passar sob o jugo de todos os erros, antes de encontrar de novo sua rota. Deixam-se enlear por novos sistemas que se sucedem ininterruptamente. Filosofismo, liberalismo, socialismo, anarquismo, omitindo as doutrinas intermediárias, são herdeiros legítimos do absolutismo real, que, como este, faltarão às suas promessas”.

Decompõe-se também a vida de cultura. Não há mais uma “mentalidade cristã”.

A universidade perde a universalidade. A especialização domina.

As verdadeiras fontes de cultura se esgotam: principia o império do intelectualismo.

Vida e Religião se afastam. A vida seculariza-se, laiciza-se. Eis o padrão dos tempos modernos.

“O mal durará enquanto o destino das nações cristãs estiver nas mãos duma política que não acata os princípios cristãos. E a Igreja Católica, firmada no pedestal da cruz, espera tranquilamente que as revoluções completem a educação da humanidade”.

II - ATITUDES CARACTERISTICAS DO LIBERALISMO

Sem querermos disputar sobre a palavra “liberalismo”, podemos chamá-lo o último termo da decomposição.

Esta abraça o período que precede a guerra mundial e, em parte, o que a segue imediatamente.

É nesta época que a Idade Média, ao nosso ver, desaparece completamente. Desmoronam-se suas últimas ruinas.

Examinemos mais de perto este período. Seu cunho é diametralmente oposto ao da Idade Média. Em lugar do Cristianismo encontramos o ateísmo (sob as formas do ceticismo, relativismo, etc.). Em vez do Estado bem regulamentado, o caos cultural. O indivíduo substitui a comunidade. A vida de interesse pelo povo de cada um é substituída pelo internacionalismo, o ideal do homem total pelo intelectualismo, e a virilidade pelo sentimentalismo do burguês comodista.

Eis as atitudes dominantes nesta época. Eis os princípios que inspiraram a educação da juventude antes e imediatamente depois da guerra mundial.

As repercussões na juventude foram profundas. Mais e mais, a Europa Central tomava consciência desse depauperamento: começava a sentir-se envergonhada.

Descrevamos mais pormenorizadamente as atitudes do liberalismo, tais como se apresentavam à juventude, especialmente à juventude católica.

1) Em relação ao valor supremo:

a) Recusa-se o Magistério da Igreja, a Revelação, a Fé em Jesus Cristo, a Fé em Deus. Qual é, pois, o valor supremo, absoluto? Não se sabe. Não há. Professa-se como sistema o ceticismo ou o relativismo; como religião o ateísmo.

b) A ordem moral e a justiça se apartam da religião. Resta uma ética humanitária, a consciência moral sem fundamento objetivo e transcendental, resta o “imperativo categórico”, a tradição, os bons costumes.

Esta moral humanitária naturalmente se torna uma moral aparente, oca, fachada do niilismo moral.

c) Emancipada assim de Deus, a cultura perde o seu norte. Separa-se de toda metafísica e religião. A característica dominante é o mundo profano secularizado – o laicismo.

d) A certeza da Idade Média, de se achar sobre um fundamento absoluto é substituída pela dúvida, pela hesitação, pelo ceticismo.

2) Em relação à estrutura do mundo

a) A Idade Média possuía uma cultura e a síntese da cultura e autoridade. No liberalismo o Estado (em geral as autoridades), não se interessam pela unidade de cultura. Onde achar esta unidade se não existe?

Caos Cultural. Cada ramo do saber segue sua direção sem se incomodar com outras atividades culturais. Não existe filosofia. Só há “filósofos”. Um contradiz o outro. Qual deles conhece a verdade objetiva? Impossível conhecer a “coisa em si”: “Ding an sich” (Kant). Deus, moralidade etc.... são “postulados”! Subjetivismo, relativismo, ceticismo... A filosofia do “tudo se passa como se...” (“des als ob”). A razão de ser das mais fundamentais instituições se torna problemática.

Exemplifiquemos. Educação: uma biblioteca sobre a possibilidade ou impossibilidade da educação e mil experiências. Artes: naturalismo brutal, impressionismo, expressionismo, cubismo... Família: casamento “de prova”.

Tudo é problemático.

O Estado devidamente ordenado tornou-se caos cultural.

b) Individualismo. Na Idade Média “vivia-se” a verdadeira comunidade, isto é, a síntese dos valores coletivos e individuais. No tempo do liberalismo os homens se revoltam contra as comunidades e as dissolvem. A grande família cristã se desmembra. As nações não reconhecem mais unidade alguma superior; frisam suas diferenças e seus direitos. Fomentam um internacionalismo humanitário. Dentro das nações surgem divergências entre as classes. Como todos os agrupamentos sociais são dominadas pelo interesse próprio, os grupos não se conhecem. Cada classe vê na outra seu inimigo. No seio de cada classe se exageram de novo as diferenças sociais. Os direitos do indivíduo são focalizados unilateralmente. Teme-se exigir sacrifícios da pessoa em favor da comunidade.

Por consequência, deixa-se a liberdade individual a todos e a tudo, aos bons e maus, para a verdade e para o erro. Confiança cega na natureza, que no fundo é boa, é preciso, por isso, deixar-lhe liberdade. Por conseguinte: liberdade individual em todos os terrenos.

Economia livre: capitalismo, “mamonismo”, exploração dos operários.

Na educação: Renuncia-se à disciplina moral, permitem-se sistemas imorais (Dr. Hodann), respeito excessivo à consciência subjetiva...

Da comunidade deslizou-se para o individualismo.

c) Internacionalismo. Na Idade Média a vida do homem era influenciada, alimentada, impulsionada pelas forças dos seu povo, pela tradição. Na época do liberalismo, o homem se torna internacional. Afasta-se do solo natal, da tradição própria e característica.

Despertam-se as nações; mas só negativamente, como oposição ao Império, a uma autoridade superior, como células que se desagregam do organismo: não no sentido positivo e orgânico, pois tradições, costumes, história, lenda, que significa tudo isto para o liberal? Este é cosmopolita. Nivela-se a humanidade, segundo a ideologia dos grandes movimentos do socialismo e comunismo. Preocupa-se não do operário alemão ou francês, mas do operário como tal. A burguesia se entusiasma pela “humanidade”.

Perdem-se os valores orgânicos da nacionalidade e tende-se ao internacionalismo nivelador.

d) Intelectualismo. Na Idade Média formava-se o homem integral; e o homem “perfeito” se desenvolvia com relação a todas as suas forças corporais e espirituais.

O liberalismo não visa o homem total, mas só a inteligência e a razão.

Ninguém tem força para agir, todos se contentam com o saber.

O liberalismo divide, faz abstração da realidade orgânica. Esquece e despreza o elemento corporal de hereditariedade. Faz abstração das forças físicas, menospreza formação corporal. A nota dominante é o saber dos pormenores. O conceito de “homem perfeito” se identifica com o de “homem talentoso”: compreende somente a inteligência.

Do ideal do homem integral passou-se para o intelectualismo.

e) Esterilidade e sentimentalismo

Esterilidade: Assim podemos caracterizar uma atitude diametralmente oposta à vitalidade e à fertilidade da Idade Média.

O liberalismo é estéril. Discute sem nunca chegar a uma conclusão. Mil teorias, mas nenhuma prática. Escrevem-se bibliotecas sobre princípios que jamais se aplicarão. Tempo de discussões, congressos de mil programas, de teorias, de comissões especiais e de subcomissões – tudo se reduz a um mecanismo sem vida, sem ação, sem produção.

Por conseguinte, mediocridade, falta de energia.

Para não se cometer um erro agindo, deixa-se de agir

O tipo dominante é o burguês, que quer estar bem defendido e gozar de todo conforto, que não se expõe ao menor risco e não quer ter responsabilidade alguma. Não é capaz de grande amor, nem de grandes ímpetos. É medíocre. O bem-estar material é sua primeira preocupação. Foge de decisões; deixa-as para outro tempo, para outra pessoa ou,  melhor ainda, para uma comissão anônima.

Sentimentalismo: O burguês não trata de assuntos desagradáveis, como por exemplo da morte... Em todas as obrigações judiciárias é bondoso, frouxo e sentimental... Pena de morte, abolida. O conceito de punição substituído pelo de correção. As prisões se tornam casas de repouso, “sanatórios”.

Reina igual sentimentalismo na educação: não se exige nada. O burguês é o burocrata que não tem outro interesse mais que a própria comodidade. A vida é mecanizada. A religião é uma rotina.

Naturalmente há muitas exceções nas atitudes acima expostas. Sobretudo o verdadeiro Catolicismo, perpetuava as principais atitudes da Idade Média. Mas, em geral, a realidade popular era, antes da guerra, a que deixamos esboçada.

Os católicos, os verdadeiros católicos, formavam sempre uma minoria na Alemanha e, também, na França.

De resto, não se pode negar que uma parte considerável de católicos adotou as atitudes liberais, exceção feita, está claro, da atitude relativa ao valor supremo. (...)

O liberalismo é a raiz do nacional-socialismo: em muitos círculos católicos presta-se pouca atenção ao fato de ser o responsável pela crise moderna. Encara-se unilateralmente a questão considerando como único inimigo atual da Igreja o nacional-socialismo. Inimigo certamente ele é, e presentemente o mais perigoso e agressivo. Mas que aproveita combatê-lo se nós mesmos continuamos liberais? Tal atitude não pode significar uma solução verdadeira e decisiva. Só seremos capazes de vencer realmente o nacional-socialismo, se extirparmos o mal pela raiz; e a raiz é, como hoje ninguém pode ignorar, o próprio liberalismo, a separação da Religião e da Vida, o rompimento do mundo com Deus, a laicização do ensino e das demais atividades, o individualismo, o intelectualismo, o sentimentalismo.

Nossa luta contra o nacional-socialismo terá um sentido e dará esperanças de resultado duradouro, se não recairmos nos erros que o geraram. Portanto não lutemos contra o nacional-socialismo arvorando temas errôneos. Não se trata de palmilhar de novo sendas que nos extraviaram os passos.