Plinio Corrêa de Oliveira

 

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O sacrifício polonês

 

 

 

 

 

 

 

 

Legionário, 1° de julho de 1945, N. 673, pag. 2

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Afinal consumou-se o sacrifício da Polônia. A Inglaterra retirou seu reconhecimento ao governo polonês exilado em Londres, de modo que hoje só há de fato um governo da Polônia: o governo títere de Moscou. Este governo é o descendente ilegítimo do Comitê de Lublin, de tão triste reputação; mais do que isto, tal governo nada mais é do que o mesmo Comitê de Lublin com outro rótulo. E não se queira discutir a identidade fundamental de ambos, alegando substanciais modificações, que fariam deste governo uma entidade realmente diversa do Comitê. Estas propaladas modificações nada mais são do que os sofismas com que se disfarça, e se disfarça mal, a tremenda realidade. São da mesma água com que Pilatos lavou as mãos. Mas a verdade insofismável é que a Polônia foi entregue à discrição da Rússia soviética. E sobre isto ninguém tem dúvidas, ninguém articula objeções, mas, pelo contrário, isto se confessa abertamente: a Polônia entrou na esfera de influência soviética.

Ninguém ignora o que isto significa. A esfera de influência soviética quer dizer o cancelamento real da soberania, a implantação do regime comunista, a escravização total da Polônia, enfim. Como católicos, estamos profundamente consternados. Não queremos aludir aqui a injustiça capital que se cometeu contra o primeiro povo que soube levantar-se contra a arrogância nazista, numa ocasião em que só havia na terra poder suficiente para impedir o alastramento da barbárie hitlerista. Que teria sido do mundo civilizado sem o sacrifício inicial da Polônia?

Mas há outro aspecto ainda mais grave. A Polônia é radicalmente católica, era o baluarte da Cristandade ante outra barbárie não menor do que o nazismo: a barbárie soviética. A unidade que nos liga, dentro do mesmo Corpo Místico, que é a Igreja, aos poloneses católicos, nos faz sentir em nossa própria carne o destino atroz destes nossos irmãos na Fé. Não somos, nem queremos ser, daqueles pseudo-ingênuos que acreditam numa transformação do regime comunista. Não alimentamos ilusões.

Tudo isto, porém, indica a predominância de um oportunismo de maus presságios. Os homens continuam a ter mais confiança na força dos arranjos que no poder dos princípios, e sacrificam estes àqueles. Isto não faz prever nada de bom para a nova ordem internacional que se intenta estabelecer.

A entrega da Polônia é um desmentido flagrante e impiedoso de todas as belas declamações a respeito de princípios e direitos. A paz sem Deus, isto é, sem a Igreja, esta paz artificial só pode dar tais frutos. “Non est pax impiis, dicit Dominus” (Não há paz para os ímpios, diz o Senhor).


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