Plinio Corrêa de Oliveira

 

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O Sr. Prestes e a agricultura

 

 

 

 

 

 

 

 

Legionário, 22 de julho de 1945, N. 676, pag. 2

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No comício do Pacaembu, como no anterior comício de São Januário, no Rio de Janeiro, o sr. Prestes tornou a insistir na tecla do “feudalismo” agrícola, que, em extensos latifúndios, acorrenta as populações do interior num regime de servos da gleba. Aludiu também aos “favores”, que a classe agrícola burguesa continuamente obtém do Estado, em detrimento do povo. A se acreditar nas palavras do líder comunista, os nossos proprietários rurais seriam autênticos demônios saídos do inferno para perder o povo brasileiro.

Contrasta absolutamente com semelhantes acusações o completo silêncio do sr. Prestes, a respeito do feudalismo industrial, que se vem avantajando dia a dia, colocando toda a Nação nas mãos de uns poucos donos. E este silêncio se torna ainda mais significativo quando se tem em conta que, ainda na prisão, o mesmo sr. Prestes, em entrevista à imprensa, elogiou o relatório de uma empresa plutocrática, que se tem tornado famosa pelos seus lucros fabulosos.

Por que é que o sr. Prestes só se lembra de atacar a agricultura? Por acaso ignora que a nossa agricultura se vem debatendo em tremendas crises, vivendo num regime permanente de “déficits”? Por acaso ignora que a agricultura, sendo a base de nosso edifício econômico, é explorada por toda espécie de parasitismo?

O sr. Prestes fala em “servos da gleba”. Por acaso ignora que há uma terrível escassez de braços para os trabalhos agrícolas, de modo que nunca estiveram tão altos os salários dos trabalhadores rurais? Ignora por acaso, toda a diplomacia que o agricultor precisa empregar para ter alguns colonos em sua fazenda? Mas isto não é só. Aqui no Estado de São Paulo, bem mais da metade das propriedades rurais pertencem a pequenos proprietários, que cultivam pessoalmente as suas terras. Eles também serão “senhores feudais”? E não se objete que esta é uma condição peculiar de São Paulo. Se isto aqui acontece, é porque somos o Estado mais densamente povoado da Federação. Mas, não será um disparate falar de latifúndio em regiões escassamente povoadas?

No entanto, este e outros disparates o sr. Prestes com seus ares de profeta de encomenda, despejou no Pacaembu, de envolta com silabadas de analfabeto. Que sabe ele da realidade brasileira? O sr. Prestes fala em “camponeses”. No Brasil há colonos, há empreiteiros, há meeiros, há peões, há sitiantes, há caboclos, há caipiras. Mas “camponeses” é termo estranho entre nós. Se o sr. Prestes estivesse fazendo um comício com homens da roça, e os chamasse de “camponeses”, eles certamente ficariam ressabiados. Esta história de “camponeses” o sr. Prestes aprendeu nas cartilhas, não no convício com o povo brasileiro.

Entretanto acreditamos que o sr. Prestes não ignore tudo o que acabamos de afirmar. Tudo isto ele deve saber. Mas não lhe convém uma agricultura próspera nem o bem-estar das populações rurais. Ele precisa de desorganização do trabalho agrícola, do desarraigamento das populações e seu consequente êxodo para as capitais, para aí formarem a massa amorfa, anônima, serva do feudalismo industrial, em que floresce a miséria. O povo organizado e consciente, a democracia segundo o pensamento de Pio XII, é o seu grande inimigo natural.

Mas, diante disso, que é que qualifica o sr. Prestes para líder?


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