Plinio Corrêa de Oliveira

 

 

Nova et Vetera
 
Os bastidores do socialismo inglês

 

 

 

 

 

Legionário, 19 de agosto de 1945, N. 680, pag. 5

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Devemos distinguir entre os elementos da corrente esquerdista, os mentores intelectuais do movimento e a grande massa ignara ou oportunista que nada mais faz senão repetir e passar adiante as “sugestões” e “slogans” emanados daquela camarilha de iniciados.

É a Sociedade dos Fabianos, cujas origens já estudamos em nossos dois últimos rodapés, um dos focos desse “brain trust” que dirige os cordéis da política esquerdista. Desvendar a perfídia de seus desígnios e hipocrisia de seus processos é, portanto, um dever de todo católico. É o que estamos procurando fazer, ao transcrever de novo para estas colunas um breve cenário da campanha de infiltração socialista feita pelos seguidores Sidney Webb e de Israel Zangwill, partidários da tática de cansar e mitridatizar o adversário, quando a vitória não pode ser conseguida por processos violentos.

Vistos os aspectos político e econômico da campanha fabiana, vejamos agora o aspecto educativo.

Ponto de vista educativo

Do ponto de vista educativo, os “iluminados” fabianos em toda a linha seguiram as teorias enunciadas pela própria alma do iluminismo da Baviera do século dezoito: NICOLAI. Quando conseguiram penetrar no seio dos conselhos de ensino, foi fácil aos fabianos ali introduzir mudanças e inculcar nos programas escolares seus princípios e suas idéias anticristãs e socialistas. Seus ataques contra o ensino religioso, posto que até um certo ponto encobertos, não foram menos mortais que seus outros golpes, como se pode julgar pela lei sobre a Educação (“Education Bill”) de 1902”. Vangloriam-se de contar em seu grêmio vários “bispos” e “pastores” anglicanos, e, com efeito, o bispo protestante Headlam foi um dos pioneiros do movimento fabiano. A propaganda intensiva dos fabianos em torno do “Education Bill” lhes valera uma assinalada vitória.

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Indo do geral para o particular, a obra dos fabianos nos meios escolares se distingue pela formação de “grupos educativos” e de “Nurseries” (estas últimas designadas como uma espécie de escola de adestramento para jovens e promissores socialistas). Há também grupos feministas cujos membros participam em todos os movimentos de emancipação da mulher.

Entretanto, de todas essas medidas no campo educativo, a mais importante sem dúvida foi a formação de grupos fabianos nas Universidades e nos meios Universitários. Esses grupos tomaram o nome de “Sociedades Socialistas Universitárias”, que em 1912 foram finalmente agrupadas por Crifford Allen na “Federação Socialista Universitária”. Ademais, no verão, os fabianos organizam cursos de férias em que a semente socialista é lançada à mancheias nessas “sociedades de propaganda”, como a denomina o historiador do fabianismo, E. R. Pease.

O triunfo culminante dos fabianos em sua luta revolucionária contra o ensino cristão foi a criação na Universidade de Londres, de uma “Escola de Ciências Políticas e Econômicas”, da qual um dos professores mais em evidência até há pouco era o sr. Harold Laski, membro da comissão diretora da Sociedade dos Fabianos, diretor-chefe de seu serviço de publicidade e presidente da comissão executiva do Partido Trabalhista, cuja “profissão de fé” na democracia pode ser ilustrada pela seguinte frase, por ele proferida no ano passado: “Se o Partido Comunista da União Soviética colocar o princípio central de sua fé ao sabor do capricho do eleitorado... isto seria notável, como seria a boa disposição das democracias ocidentais em ver, sem resmungar, o acesso de partidos socialistas ao poder estatal”.

O partido socialista britânico acaba de galgar o poder, apesar dos “resmungos” do sr. Churchill. Quem não vê, porém, que uma vez no poder os socialistas não trepidarão em atentar contra esse mesmo ideal de liberdade cuja não apresentação ao julgamento das urnas o sr. Laski procura justificar no caso da União Soviética?

Conclusões

Apesar da forma resumida pela qual expusemos as atividades e diretrizes dos fabianos, nossos leitores terão percebido que eles não deixaram nenhum campo inexplorado.

Há mais de sessenta anos vêm inculcando nos ingleses doses às vezes puras, às vezes diluídas de marxismo, na maioria das ocasiões diluídas, porque os ingleses, por seu natural bom senso e caráter conservador não são facilmente arrastados a excessos semelhantes aos perpetrados em Paris pelos “communards” de 1871. Mas, por outro lado eles vêm sendo completamente “permeados” e lentamente envenenados pelos fabianos. E devemos acrescentar que a guerra de 1914 favoreceu singularmente a evolução do socialismo na Inglaterra. As gerações jovens, que haviam crescido paralelamente com o fabianismo, mas sob a orientação de princípios tradicionais, conservadores e cristãos, em grande parte se extinguiram nos campos de batalha da França. Sem dúvida, sua virilidade teria constituído uma barreira contra esse fabianismo pernicioso. Quanto aos homens das gerações que precederam os jovens heróis da Grande Guerra, pouco sabiam e não mostraram nenhum esforço de aprender, certos de que nada poderia abalar a segurança e a tranquilidade da Inglaterra. Um certo esforço foi feito por um grupo de “Britons” (ingleses da Grã-Bretanha), os quais procuraram conjurar o perigo, mas em pouco tempo se viram, por sua vez, “permeados” pelos sinistros emissários de seu inimigo todo-poderoso, e caíram rapidamente em torpor. Devemos registrar também um outro esforço, mais pertinaz, desenvolvido por um grupo formado em torno do órgão “The Patriot” e algumas vagas espasmódicas de resistência contra essas forças desagregadoras, na forma de artigos publicados uma vez ou outra no “Morning Post”. E a não ser também uma certa oposição das forças conservadoras, acha-se livre o caminho para esse exército de iluminados maçônicos que é o socialismo fabiano.

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O resultado disso nós o podemos ver a olhos nus na história da Inglaterra de após-guerra de 1914.

O Governo de união nacional de Loyd George foi mais que indulgente com o socialismo, mas o tempo das vacas gordas chegou para os fabianos quando o Partido Trabalhista ganhou as eleições em 1924 e seus membros governaram, ou melhor, desgovernaram a Inglaterra. Foi necessário nada menos que a reação organizada pelo elemento são e ainda desperto para derrubar o governo de Mac Donald, que estava procurando forçar uma aliança com os bolchevistas. Esta amostra de resistência, foi, porém, efêmera. Em 1929 o Partido Trabalhista de novo estava no poder e agora, neste após-guerra tumultuoso, vemo-lo disputar aos conservadores as rédeas do governo do grande império britânico.

De acordo com o “Clarion”, órgão semanário dos fabianos, reservam-se mais dissabores para o pobre povo inglês, com reformas parlamentares. E segundo o último discurso de Churchill, “homens como sir Stafford Cripps e Herbert Morrisson (ambos fabianos), demonstraram em suas declarações, que estão dispostos a lançar mão de qualquer maioria que possam obter para provocar grandes restrições ao direito do Parlamento de criticar as vastas transformações que propugnam para a vida britânica”.

E Churchill vai adiante e denuncia a ameaça totalitária que pesa sobre a Inglaterra se ela vier a cair sob o poder dos fabianos: “Se e quando os planos com os quais aqueles homens se comprometeram pública e irrevogavelmente, forem postos em vigor em toda a sua extensão, e quando vigorar o sistema socialista completo, a oposição saudável e as modificações naturais dos partidos no poder de tempos em tempos, terão de cessar e uma polícia política seria necessária para impor um sistema absoluto e permanente à nação”. Lobos cobertos com peles de ovelha e adotando a tática fabiana de recuos e de penetração pacífica onde os meios violentos estão fadados a insucesso, apresentam-se hipocritamente como “filantropos, de bons propósitos e progressistas”.

Vale a pena transcrever esta mesma opinião que dele faz Churchill: “Denuncio aqui o plano de socialização da Inglaterra, nesta época em que estamos em tão graves dificuldades e perigos que nos ameaçam fazer perder grande parte daquilo que ganhamos à custa de tantos sacrifícios” (é o que o LEGIONÁRIO costuma chamar de torpedeamento da vitória).

E continua o Primeiro Ministro britânico: “No entanto, esses objetivos revolucionários surgiram há alguns dias no eleitorado de forma a torná-los menos repulsivos. Vários dos líderes socialistas procuraram apresentar-se como simples filantropos, de bons propósitos e progressistas”. Quer dizer que o sr. Winston Churchill não trepida em acusar os socialistas de má fé e de ocultar seus verdadeiros objetivos socialistas e totalitários sob a capa de filantropia e bons propósitos progressistas. Mas entre nós não falta quem, não sendo ostensivamente socialista, viva a apregoar, de encomenda, a “sinceridade” dos líderes comunistas que aqui desenvolvem a tática fabiana...

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Corroborando o que já dissemos sobre as filas, racionamentos coordenações e requisições de propriedades como meios, que sob pretexto de estado de guerra, os fabianos empregam para fazer adiantar a marcha da causa do totalitarismo socialista, apresentamos aos nossos leitores a seguinte grave acusação feita contra os elementos do fabiano Partido Trabalhista, que exercem altos cargos no atual governo britânico:

"Londres 9 (R) - Apelando para o governo no sentido de acabar com a coordenação, Lord Beaverbrook, Lord do Selo Privado, declarou hoje falando em reunião de eleitores nesta cidade, que havia abundância de alumínio, carne, lã, algodão e outros artigos, e acusou as forças racionadoras criadas pelo ministro Bevin (trabalhista) como responsáveis pela escassez. - Afastai essas forças e tereis dissipado a escassez - concluiu Beaverbrook”.

E ainda segundo telegrama de Londres desta semana, o fabiano Sir Stafford Cripps, falando em Halifax declarou que “o fato mais notável ocorrido no continente durante a guerra foi o desenvolvimento das tendências esquerdistas dos povos europeus”.

Por esse pequeno trecho, vemos, pelas palavras de um dos mais salientes membros da Sociedade dos Fabianos, a confirmação da verdade de que, esses socialistas procuram se valer da grande hecatombe em favor de seus ideais revolucionários. O fato mais notável dessa guerra não teria sido o extermínio do totalitarismo nacional-socialista, razão ostensiva do conflito, mas “o desenvolvimento das tendências esquerdistas”...

Nada mais natural que assim se manifestem esses líderes socialistas, pois a isso colimam todos os seus esforços. Não foi o próprio Sir Stafford Cripps o emissário enviado à Rússia e aos países do Báltico com o fim de, através de relatórios falsos, desviar a atenção mundial da ocupação soviética e bolchevização da Lituânia, da Estônia, da Letônia sob o manto protetor do Pacto Ribbentrop-Molotov?

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E de que nos valerá compreender os fariseus, se não lhes combatemos as tramas, como fez Nosso Senhor? Será verdade que para combater alguma doutrina teremos que odiar os seus propagadores? Não nos dá a Igreja, que é Mãe, um exemplo de amor a seus filhos ao fulminar um lobo voraz com as penas de excomunhão, para resguardo do rebanho? Ou terá sido Deus injusto ao lançar Lúcifer para todo o sempre nos abismos infernais como castigo de seu ato de orgulho e insubmissão? Eis um tema de meditação para quem é todo doçuras para com os inimigos da Igreja, trazendo porém os olhos fechados às tremendas devastações que eles causam entre os bons. E nem se pode dizer que tais pessoas amam esses inimigos da Igreja, pois não empregam para com eles o dever de correção fraterna. Pelo contrário, com rasgados elogios, confirmam-nos em seus erros. E não é sem razão que o Espírito Santo diz que o pai que poupa a vara, odeia a seu filho.

Eis, para o caso do socialismo e do comunismo, o verdadeiro sentido da frase: odiar o erro, amar os que erram. Ou será que não existe no mundo gente de má fé? A raça de víboras terá desaparecido da face da terra?