Plinio Corrêa de Oliveira

 

 

Nova et Vetera

 

A glorificação de Barrabás

 

 

 

 

 

Legionário, 21 de abril de 1946, N. 715, pag. 5

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(...) Einstein falou sobre a bomba atômica. Assegurou que numa guerra em que fosse empregada essa terrível arma, talvez dois terços da população do globo seriam destruídos. No seu entender, o segredo da bomba atômica não deve ser dado à União Soviética. Para evitar o atrito entre nações concorrentes, e o perigo de nova guerra, o segredo da bomba atômica devia ser confiado a um governo mundial. Esse governo mundial seria inicialmente constituído pelos Estados Unidos, a União Soviética e a Grã Bretanha, “por serem as três únicas potências que dispõem de grande força militar”...

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Como se vê, Einstein se mostra um fiel discípulo de seu compatriota Benedeto Spinoza, o tataravô do totalitarismo, ao identificar o direito com a força física, sem indagar da idoneidade moral de quem usa dessa mesma força. Dizia Spinoza que os peixes estão determinados pela natureza não somente a nadar, mas também “magni ad minores comendendum”, concluindo que os peixes grandes comem os peixes pequenos “summo naturali iure” (Trat. theol. pol. cap. 16 - apud. G. Gonella). E assim o Estado “gangster”, que é a Rússia soviética, pelo fato de “dispor de grande força militar”, deve fazer parte desse governo mundial, e “uma vez que os Estados Unidos, a Grã Bretanha possuem o segredo da bomba atômica, de que a União Soviética se acha excluída, urgiria que esta última fosse convidada pelas outras duas a elaborar e apresentar o anteprojeto de uma constituição para o governo mundial proposto”.

Dentro da lógica da força em que se coloca, o raciocínio do matemático relativista nos parece um tanto forçado. Pois se a Inglaterra e a América do Norte é que têm o segredo da bomba atômica, esses dois países é que deveriam elaborar e impor à Rússia soviética o anteprojeto de uma constituição para esse governo mundial. Mas não é este o ponto importante.

Tal governo mundial, continua Einstein, devia ser organizado pelas três grandes potências, quer as pequenas nações aderissem, quer não aderissem.

Esse governo mundial teria plenos poderes em todas as questões de ordem militar” e ainda o poder “de intervir nos países onde uma minoria estivesse oprimindo a maioria e criando dessa maneira uma instabilidade prenunciadora de guerra”.

Eis o messianismo de Einstein. Age ele no pressuposto de que a maioria sempre tem razão. Tanto que apenas cita o caso de uma minoria que oprime a maioria. O normal, porém, não é a maioria oprimir a minoria? Que fez a Alemanha nazista com a Áustria? E a Itália fascista com a Albânia? E a Rússia comunista com a Finlândia, com a Estônia, com a Lituânia, com a Letônia, com a Polônia, com a Iugoslávia, com o Irã?

Dir-se-á que aqueles dois países totalitários eram capitaneados por uma pequena “clique” de aventureiros, por uma minoria, portanto. Mas este raciocínio também é procedente para o caso da Rússia bolchevista. Aí está porque estranhamos que um homem, de renome mundial como Einstein, desloque deste modo os dados do problema e se mostre tão “cândido” e otimista quanto aos resultados a serem obtidos por meio desse super governo mundial. Que pensar de tudo isto?

Ao lado do recrudescimento da propaganda comunista no mundo inteiro, ao lado da desfaçatez com que já se mostram as alianças de trabalhistas, socialistas e comunistas, ao lado do imperialismo bolchevista em todo o oriente europeu, ao lado das convulsões políticas e sociais em que estrebucham as nações e os povos, vem o sr. Einstein propor o dilema desse governo mundial, imposto “pacificamente” pelo acordo entre as três nações que dispõem de maior força material ou então pela supremacia de uma só potência por meio da guerra, tão convencido está de que esse governo mundial “virá de qualquer maneira”.

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Outra declaração preciosa de tão credenciada pessoa é de que o controle da energia atômica será um meio de se promover o socialismo universal. (...) “Por agora a energia atômica não é o maná que a humanidade espera, mas apenas uma ameaça. E talvez seja (...) sim. Porque uma ameaça desta natureza poderá, pela intimidação, forçar a raça humana a pôr ordem nos seus negócios internacionais, o que, sem a pressão do medo, ela talvez não fosse capaz de realizar”!

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Mas Einstein, na sua grande modéstia, termina dizendo que melhor que ele, se expressou Emery Neves sobre este magno assunto em seu livro “Anatomia da Paz”. E são deste livro as seguintes palavras:

“A era das guerras entre nações acabará, como acaba tudo o que é humano. Acabará provavelmente ainda neste século, com a instituição da lei universal reguladora das relações humanas. E esta lei universal acabará sendo imposta, ou por meios racionais, ou por meio da violência e da conquista”.

E que “lei universal” será essa? A que constas do anteprojeto cuja elaboração Einstein propõe se confie à Rússia bolchevista?

Eis porque, ao contrário desse falso otimismo dos utopistas, que preveem o fim das guerras pelo uso da força sem indagar da retidão de intenção dos que a usam, Pio XI, diante do espetáculo das desgraças contemporâneas, indagava se esta aflição universal não pressagiava a vinda do Filho da Iniquidade profetizado para os últimos dias da humanidade, daquele que devia ser precedido pela apostasia, daquele que será o “homem sem lei, o filho da perdição, o adversário que se arvorará acima de Deus e tudo que é santo a ponto de sentar-se no templo de Deus e querer passar por Deus” (II Ts. 2-4).

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A salvação dos povos não se acha nos meios externos, diz Pio XII, gloriosamente reinante. As energias que hão de renovar a face da terra têm que promanar do interior do espírito iluminado pela luz da verdade.

“Sem mim nada podeis fazer” (Jo., XV, 5).