Plinio Corrêa de Oliveira

 

 

Nova et Vetera
 
Almas de esparadrapo

 

 

 

 

 

 

 

Legionário, 6 de abril de 1947, N. 765, pag. 5

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O trabalho daqueles que procuram reagir contra a onda de demagogia que ameaça envolver a sociedade humana, em grande parte vem sendo neutralizado por aqueles aos quais a sabedoria popular deu o nome de “almas de esparadrapo”. Se está em voga o liberalismo, tais incorrigíveis adesionistas sofregamente absorvem toda a peçonha liberal, pois é tão feio e incômodo a gente remar contra a maré... Nazistas e fascistas, quando andavam em moda os duces e os führers, voltam-se agora as almas de esparadrapo para o socialismo esquerdista.

E assim como os publicistas católicos de outros tempos se opuseram a desvarios de sua época, assim também nos incumbe o dever de clamar pela verdade, diante dos erros de nosso século.

Porfiem os oportunistas e acomodatícios em sua inglória faina de compor arranjos e pactos com as chamadas “novas ordens”. Quanto a nós, continuaremos a quebrar o silêncio que se procura fazer em torno da doutrina e das diretrizes da Igreja. Eis porque achamos oportuno transcrever hoje, para este rodapé, alguns trechos de documentos pontifícios que tratam de dois tópicos de palpitante atualidade: a liberdade para o erro e a política da mão estendida em relação ao comunismo:

Contra a liberdade para o erro

O direito é uma faculdade que, como temos dito e convém repetir muito, é absurdo supor haja sido concedida pela natureza de igual modo à verdade e ao erro, à honestidade e à torpeza. Há direito para propagar na sociedade livre e prudentemente o verdadeiro e o honesto para que seu benefício se estenda ao maior número possível; mas quanto às opiniões falsas, a mais mortífera pestilência do entendimento, e quanto aos vícios, que corrompem a alma e os costumes, é justo que a autoridade pública os coíba com diligência, para que não se propaguem insensivelrnente com dano para a própria sociedade.

“E as maldades dos engenhos licenciosos que redundam em opressão da multidão ignorante, não hão de ser menos reprimidos pela autoridade das leis, do que qualquer injustiça cometida pela força contra os débeis. Tanto mais, quanto que a imensa maioria dos cidadãos não pode de modo algum, ou pode com suma dificuldade, precaver-se contra esses enganos e artifícios dialéticos, singularmente quando falam às paixões. Se a todos for permitida essa licença ilimitada de falar e escrever, nada será sagrado e inviolável; nem pelo menos serão perdoados aqueles grandes princípios naturais tão cheios de verdade e que formam como que o patrimônio comum e nobilíssimo do gênero humano. Oculta assim a verdade pelas trevas, quase sem sentir-se como muitas vezes acontece, facilmente se assenhoreará das opiniões humanas o erro pernicioso e multiforme. Com o que recebe tanta vantagem a licença como detrimento a liberdade, que será tanto maior e mais segura quanto maiores forem os freios da licença” (Leão XIII na Encíclica “Libertas”).

* * *

E com relação ao comunismo diz Pio XI na “Quadragesimo Anno”: “Contemplamos com profunda dor a incúria dos que parecem desprezar estes perigos iminentes, e com certa passiva desídia permitem que se propaguem por todas as partes doutrinas que destruirão toda a sociedade pela violência e pela morte”.

Contra a “mão estendida”

“A princípio, o comunismo se mostrou tal qual era em toda sua perversidade, mas logo deu conta de que este modo de agir afastava de si os povos, e por isto mudou de tática e procura atrair as multidões com diversos enganos, ocultando seus desígnios atrás de idéias que em si são boas e atraentes. Assim, vendo o desejo geral de paz os chefes do comunismo fingem ser os mais zelosos fautores e propagandistas do movimento pela paz mundial, mas ao mesmo tempo excitam uma luta de classes que faz correr rios de sangue e sentindo que não têm garantias internas de paz, recorrem a armamentos ilimitados. Assim, sob diversos nomes, que nem sequer fazem alusão ao comunismo, fundam associações e periódicos que servem para fazer penetrar suas ideias em meios que de outro modo não lhes seriam facilmente acessíveis; e perfidamente procuram infiltrar-se até em associações abertamente católicas e religiosas. Assim, em outros lugares, sem renunciar no mínimo que seja a seus perversos princípios, convidam os católicos a colaborar com eles no campo chamado humanitário e caritativo, propondo às vezes coisas completamente conformes ao espírito cristão e à doutrina da Igreja. Em outras partes levam sua hipocrisia até fazer crer que o comunismo em países de maior fé e cultura tomará um aspecto mais suave, e não impedirá o culto religioso e respeitará a liberdade das consciências. E até existe quem, referindo-se a certas mudanças introduzidas recentemente na legislação soviética, deduza que o comunismo está para abandonar seu programa de luta contra Deus.

“Procurai, Veneráveis Irmãos, que os fiéis não se deixem enganar. O comunismo é intrinsecamente perverso e não se pode admitir que colaborem com ele em nenhum terreno os que querem salvar a civilização cristã. E se alguns, induzidos pelo erro, cooperassem para a vitória do comunismo em seus países, seriam os primeiros a ser vítimas de seu erro” (Pio XI na Encíclica “Divini Redemptoris”).


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