Plinio Corrêa de Oliveira

 

Carta para Alceu Amoroso Lima,

4 de Junho de 1932

 

 

 

 

 

 

 

 

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São Paulo, 4 de Junho de 1932

Meu querido Dr. Alceu

De ordem do Chefe, venho comunicar-lhe a constituição definitiva da Junta Estadual da Liga Eleitoral Católica em São Paulo.

Estes nomes acumulam a qualidade de representantes das seções do Interior do Estado, e de membros da Junta de São Paulo. Não haverá, portanto, representantes do Interior, que não sejam os nomes inclusos.

Por outro lado, a Junta é simultaneamente estadual, e para a Capital.

Sua constituição é a seguinte:

PRESIDENTE: Dr. Estevam de Souza Rezende, Rua Veridiana 52

SECRETÁRIO ESTADUAL: Plinio Corrêa de Oliveira.

SECRETÁRIO REGIONAL: Dr. Paulo Sawaya, Rua Fortunato 19

DEMAIS MEMBROS: Dr. Mario Egydio de Souza Aranha, R. Franco da Rocha 24

Dr. Adolpho Greff Borba, Al. Nothamnn 53

Dr. J. Papaterra Limongi. Rua Brigadeiro Machado 67

Como vê, a Junta tem 6 nomes em vez de 5. É ordem do Chefe. Por outro lado, quis este que eu ficasse como secretário estadual, isto é, incumbido das relações com o Interior, e dos serviços próprios ao secretário de uma Junta Estadual. O Sawaya ficará com as incumbências próprias a um secretário de Junta regional. Achei ótima esta divisão de serviços.

Provavelmente, já conhece alguns ou todos os nomes mencionados. Farei referências apenas aos que, talvez, não conheça. O Presidente é o que se pode chamar um grande nome. De grande família, descende de Estevam de Souza Rezende, Marquês de Valença, e um dos grandes dignatários do Império. Sem grande fortuna, é no entanto abastado, e mantém um pé de vida perfeitamente condizente com sua posição social. Católico convertido há coisa de 8 anos mais ou menos, é assíduo frequentador do famoso “Automóvel Club”, mas se destaca neste ambiente pela pureza de seus costumes. Contar-lhe-ei um fato bastante ilustrativo, que me foi relatado por nosso “amigo” E.A. Antes de sua conversão o Dr. Estevam detestava os  chamados “sapos”, isto é os que assistem os jogos, e frequentemente intervém com apartes intempestivos etc. Depois de convertido, o Dr. Estevam faz mortificação à custa dos “sapos”. Quando um deles se aproxima, o Dr. Estavam fá-lo sentar, explica-lhe o jogo, e procura retê-lo o mais possível perto de si. Reputo o fato bem eloquente. Aliás, quando se fala em jogo, é preciso notar, no caso, que se trata sempre de jogo muito módico, pecuniariamente, e feito apenas para distrair. Que eu saiba, o Dr. Estevam não trabalha. É tesoureiro da Ordem Terceira do Carmo, onde é dos membros mais conhecidos por sua devoção. É assíduo na frequência da Sagrada Comunhão, sendo que eu o vejo comungar em Santa Cecília 2 ou 3 vezes por mês. Foi membro do diretório político perrepista de S. Simão. Chamado pela Igreja ao posto atual, desligou-se imediatamente do Partido. E parece, aliás, que não tem apego algum a este. Em todo o caso, estou convicto de que agirá com imparcialidade. Tem prática dos serviços de alistamento eleitoral. Suponho que tenha bastante eleitores em Piracicaba, onde sua família tem ligações, e onde reside sua Mãe, a Baronesa de Rezende. Parece ter 48 a 50 anos.

O Dr. Mario Aranha é primo (se não me engano, pouco próximo) de Dr. Alfredo Egydio. Também uma grande família paulista, e também ligado, portanto, aos escombros da antiga aristocracia paulistana. Trabalha com um dos melhores clínicos de S. Paulo, o Dr. Pinheiro Cintra. Parece ser competente na sua profissão de médico. Católico sempre declarado, desde a infância, nunca interveio em política. Sei que é muito piedoso, e membro da Ordem Terceira do Carmo. Parece ser um bom auxiliar. Sua idade é, aproximativamente, de 40 anos.

O Dr. Adolpho Greff Borba é católico convertido (se não me engano). É pai de dois Congregados Marianos, e membro da Ordem Terceira do Carmo. É muito simpático. Conheci-o ontem, apenas. É advogado do Banco Comercial, o que constitui uma presunção de preparo e prática profissional. Recebi de seu espírito religioso boas informações. Parece estar disposto a trabalhar. Tem 55 anos mais ou menos.

O Sawaya e o Papaterra são nossos velhos amigos e conhecidos. Estão acima de elogios.

Quero que me informe o seguinte: 1) as comunicações que eu lhe farei, relativamente à Liga, podem, em via de regra, constar de cartas particulares, ou o Sr. prefere que eu lhe escreva cartas de tom “oficial”, para serem arquivadas devidamente etc.? 2) por via das dúvidas, segue uma comunicação de tom “oficial”, que receberá o destino que o Sr. julgar mais conveniente; 3) o Presidente julga conveniente começarmos a trabalhar apenas daqui a 2 ou 3 meses. Penso que as intenções aí sejam diversas. Peço-lhe, portanto, que me escreva sobre o assunto; 4) prefere que a correspondência sobre a Liga seja endereçada para sua casa, ou para seu escritório? No primeiro caso, mande-me o endereço certo de sua residência.

Espero estar aí em meados Junho, para passar 10 dias. Parece bem segura, desta vez, a viagem.

Outro assunto: como já lhe tenho escrito, estou informado de que em São Paulo está havendo uma verdadeira fermentação de pequenas sociedades secretas. Tem lido as notícias curiosíssimas que, de Minas, nos tem vindo a este respeito pelos jornais? Em caso negativo, enviar-lhe-ei tais notícias. Não julga o Sr. conveniente que o Sr. indague em Minas, seguramente, o que há a este respeito, para que a gente se possa orientar? É evidente que, se o fato se está passando em São Paulo e Minas, também se passará aí.

Um afetuoso e saudoso abraço do todo seu em Nossa Senhora

Plinio

O Sr. nada me escreveu sobre o Grignion [de Montfort]. Conhece o livro [Tratado da Verdadeira Devoção a Nossa Senhora]? Em caso negativo, avise-me, porque quero levar-lhe um.

N.B. Ao reler a carta, vieram-me à mente, como de costume, mais alguns assuntos. Rapidamente, passo a abordá-los.

I - Estou com vontade de pedir ao Octavio de Faria uma colaboração qualquer para o “Século”. Tenho, no entanto, receio de que: 1) sendo jornal católico, ele não aceda senão com constrangimento; 2) que não me conheça de nome, e que, portanto, não aceda ao meu pedido, por não saber com quem trata; 3) ou que, conhecendo a amizade com que o Sr. me tem distinguido, se sinta forçado a aceitar o pedido, embora isto atualmente lhe desagrade por qualquer motivo. Pergunto, portanto: 1) posso fazer o pedido? 2) em caso afirmativo, como fazê-lo? Por seu intermédio? Diretamente? Peço-lhe com toda a insistência que proceda com toda liberdade possível em relação a este caso. Tenho horror a ser importuno.

II - Parece-me que está em relativa sombra, neste trabalho todo, o meu amigo Paulo Sá. Não sabe o que ele pensa a respeito de tudo isto? Aprecio-o muito, quer como intelectual, quer como católico, e quer, enfim, como diplomata. Não seria ele um ótimo auxiliar para uma ação como esta? É verdade que é filho de político, e de político mineiro...


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