
1. “Pelo casamento indissolúvel”
Falo agora de outra campanha contra o divórcio que
fizemos em 1975.
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Flagrantes da campanha de difusão da Carta Pastoral. Dados publicados pelo "Catolicismo" de maio de 1975,
informavam a venda de 30 mil exemplares em doze dias |
Nesse ano, a ofensiva divorcista era clara, buliçosa,
espumejante*.
* Essa ofensiva
deu-se em torno de dois projetos divorcistas, um no Senado (do senador
Nelson Carneiro) e outro na Câmara (dos deputados Rubens Dourado e Airon
Rios).
Embora claramente ameaçador o risco do divórcio, a
CNBB portou-se com uma discrição — digamos assim — vizinha da abulia.
Nos arraiais antidivorcistas sem liderança, Dom
Antonio de Castro Mayer lançou sua famosa Pastoral Pelo casamento
indissolúvel, avidamente recebida pelo público.
Dela, os sócios e cooperadores da TFP venderam,
durante dois meses, em praça pública, cem mil exemplares.
Foi um raio. Um raio de vida, e não de morte, que
eletrizou e reergueu a opinião antidivorcista desalentada. E à emenda
divorcista faltou o número de votos exigido pela Constituição [125].
2. Conheceu o Brasil estrondo publicitário maior?
À medida que o êxito de nossa ação antidivorcista se
afirmava, foi-se delineando contra a TFP, e ganhando proporções, um
estrondo publicitário que cobriu aos poucos, de modo sistemático e
cadenciado, todo o território nacional*.
* Nascido na
Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul de uma ação coordenada de
alguns deputados estaduais da esquerda, de modo suspeito esse estrondo
logo se espraiou por todo o País, fazendo “ferver” diversas Assembléias
Legislativas de outros Estados da Federação, políticos de esquerda e
sobretudo a imprensa, o rádio e a televisão.
Esse estrondo fazia lembrar os extremos de ardor
polêmico, característicos de tantas controvérsias políticas do século XIX.
A TFP se viu agredida de súbito, através da imprensa
ou do alto da tribuna, pelas mais variadas acusações.
Ditas acusações, dogmaticamente afirmativas e
formuladas em tom de invectiva, foram desde logo aproveitadas por certa
imprensa, como instrumentos de escol do estrondo publicitário.
3. Boatos, difamações, calúnias
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"A TFP se viu agredida de súbito, através da imprensa
ou do alto da tribuna, pelas mais variadas acusações. Ditas acusações, dogmaticamente afirmativas e
formuladas em tom de invectiva, foram desde logo aproveitadas por certa
imprensa, como instrumentos de escol do estrondo publicitário"
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A par desse apaixonado modo de proceder, as acusações
feitas pelos referidos parlamentares se caracterizaram por uma
desembaraçada falta de provas. E sobretudo por uma carência de conteúdo.
Consideradas em conjunto, causava estranheza ver que,
em vez de analisar nossas doutrinas e citar nossas obras, eles se
restringiram a acusações vagas e imprecisas.
A difamação procurava ganhar consistência não por
argumentos, mas pela generalização vitoriosa do boato.
Limitavam-se a invectivas os discursos e declarações
à imprensa dos parlamentares que nos atacavam. Era obstinada a ausência de
serenidade e objetividade na apreciação dos fatos que alegavam.
S. Excias. levantavam, por exemplo, o espectro, aliás
tão digno de execração, dos totalitarismos ditos de direita. E,
considerando na TFP este ou aquele aspecto fugaz e secundário, forçavam a
nota e procuraram ver no referido aspecto uma analogia com o espectro.
Afirmada gratuitamente essa analogia, partiam desde
logo para a conclusão apavorante: a TFP é nazista!
O pânico, conjugado com a ânsia de nos denegrir,
levava assim a conclusões totalmente alheias à realidade e que não
resistiam a uma análise crítica feita com seriedade, frieza e
objetividade.
Com este método, qualquer pessoa ou qualquer entidade
podia ser acusada mais ou menos de qualquer coisa.
Era bem evidente que, com tais características, as
acusações de S. Excias., devidamente analisadas por qualquer leitor
mediano, ficavam suspensas no ar, à míngua de fundamentos.
As acusações de que éramos nazistas ou nazifascistas
eram veiculadas com uma completa carência de provas.
A este propósito caberia perguntar se nossos
opositores parlamentares conheciam algo da pregação cívica e da atuação
pública da TFP e de seus dirigentes contra o totalitarismo de direita.
Tratava-se, no entanto, de uma fonte informativa abundante, quase diríamos
torrencial.
Preferíamos admitir que S. Excias. ignorassem esse
material. Nesse caso, porém, não compreendíamos como se sentiam no direito
de discorrer e levantar acusações sobre o assunto.
Eram críticas indicativas, pois, de um estado de
espírito efervescente, no qual o boato calunioso, misteriosamente posto em
circulação, facilmente se propagava e chegava a convencer pessoas dignas
de respeito.
E isto a tal ponto que, aparentemente sem maior
análise, tais pessoas as levavam, oralmente ou por escrito, ao
conhecimento do grande público* [126].
* O estrondo se
caracterizou pela falsa imputação à entidade de tendências
nazifascistas, de atividades subversivas com
caráter monárquico, do aliciamento e adestramento de jovens para a prática
da violência, de ser paramilitar, partido político clandestino etc.
Houve dias em que
mais de cinqüenta notícias ou comentários hostis foram difundidos pelos
jornais, rádios ou emissoras de televisão do País. Tivemos de enfrentar
assim o primeiro estrondo publicitário de envergadura nacional
contra a TFP (cfr.
Um homem, uma obra, uma gesta, cit.).
4. Estrondo de molde a derrubar um governo
Foi tal a virulência desse ataque, que um jornalista
comentou que esse estrondo daria para derrubar um governo [127].
Uma investigação de âmbito
federal era o que o estrondo publicitário uivava por abrir contra a TFP.
Desenvolvendo-se num clima psicológico influenciado
por esse processo de preparação da opinião pública, seria tal investigação
acompanhada passo a passo pelo crescer do estrondo, cada vez mais apto a
obliterar os critérios de julgamento da opinião pública* [128].
* Na
impossibilidade de desfazer tantas acusações, Dr. Plinio esperou
serenamente que elas tomassem amplitude. Então as respondeu, uma por uma,
no extenso manifesto
A TFP em legítima defesa, publicado em Seção
Livre primeiramente na Folha de S. Paulo de 21, 25 e 30 de maio de
1975, e depois na imprensa diária de nossas principais cidades. Catolicismo n° 294, de junho de 1975, transcreveu as três partes do
manifesto numa publicação só.
De tal modo as
acusações contra a TFP eram vazias de conteúdo, que a CPI da Assembléia
Legislativa do Rio Grande do Sul, origem de todo esse estrondo, evitou de
elaborar um relatório final, deixando tudo no ar.
Explicando — dez
anos depois — por que isso se deu, o deputado Rubi Diehl, encarregado do relatório, declarou ao jornal
Zero Hora,
de Porto Alegre: “Não foi feito relatório, porque a conclusão seria
pelo arquivamento. E se concluíssemos pelo arquivamento, marcaríamos um
tento para eles, para a TFP” (Zero Hora, 21/7/85).
Segundo a mesma
notícia de Zero Hora, o deputado Rubi Diehl
ponderou ainda que, após as investigações, a CPI não teria como
“indiciar os membros da TFP por delitos”. E, assim, sem se “apurar
nada”, tudo ficaria limitado ao mundo da fantasia.
Zero Hora
concluiu a informação com o seguinte comentário: “O
estarrecedor é que essa CPI tão badalada
seja a única, até hoje, na Assembléia Legislativa, que não teve um
relatório final” (idem).
E o mesmo deputado
Rubi Diehl voltou a afirmar, em abril de 1986,
que, concluída a CPI, “não ficou provada qualquer atividade criminal
exercida pela TFP” (Zero Hora, 9/4/86).
* *
*
Todos os raios caíram sobre nós, mas todas as nuvens
se desfizeram sobre nossas cabeças. Nós rezamos e nos defendemos. Tudo
passou e continuamos a progredir.
E a trombeta de nossos adversários, que era imensa,
naquela ocasião perdeu a sonoridade [129].
NOTAS
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