Plinio Corrêa de Oliveira

 

 

A Nota da Semana

 

 

 

 

 

 

O Século, 17 de julho de 1932

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Para os católicos, há, na revolução que empolga presentemente a alma paulista, um aspecto importantíssimo a salientar.

Se São Paulo tivesse interrompido sua vida comercial e industrial intensa, para erguer contra a Lei e os Poderes Públicos milhares de fuzis criminosos, se fosse a anarquia o sopro animador do esforço titânico que ora desenvolve a população bandeirante, os católicos outra coisa não teriam a fazer senão, afastando-se de sua terra natal, chorar copiosamente sobre as ruínas morais de Piratininga, como Jesus chorava amargamente sobre a orgulhosa Jerusalém, rebelde à sua vocação divina.

Ferir o princípio divino da autoridade, voltar contra o poder constituído por força da vontade de Deus as ondas caprichosas e fatais da demagogia anárquica, eriçar contra os legítimos representantes do Poder Público inúmeras baionetas sangüinárias, é, para São Paulo, o maior desmentido à ordem material que admiramos no seu trabalho ininterrupto, no inflexível espírito de disciplina e respeito à Lei que foram sempre as características da história bandeirante.

Do que nos valeria a suntuosidade de nossa esplêndida Capital, se nela tivesse perecido o espírito sublime de Amador Bueno da Ribeira, que recusou as honras da realeza, para se manter fiel aos legítimos laços de submissão que o prendiam ao rei de Portugal? O São Paulo moderno, cheio de progresso e de riqueza, não poderia mais intitular-se o continuador dos antigos bandeirantes, mas apenas o sepulcro suntuoso de uma tradição morta, se decaísse das tradições ordeiras de seus maiores.

Mas a preocupação de respeitar as autoridades reviveu agora, com o empenho manifestado por nossas autoridades em demonstrar que, se São Paulo se ergue contra o Governo Provisório, é porque este não quer a Lei Constitucional, pela qual os paulistas estão dispostos a derramar até a última gota de seu sangue.

São Paulo se ergue, portanto, contra o Governo, mas pela Lei. E, se agora investe de armas em punho contra os detentores do poder discricionário, fá-lo depois de ter esgotado pacientemente, um a um, todos os recursos necessários para obter pacificamente aquilo que a povo algum é lícito negar: uma organização política estável, com poderes públicos nitidamente definidos e delimitados, que salvem a nação da anarquia financeira e administrativa para a qual ia descambando.

A Doutrina Católica é, de todas, a que cerca com maiores garantias a autoridade, contra os caprichos e desmandos do demagogismo popular.

É conhecido o rigor com que São Tomás de Aquino discute o direito de revolução.

Mas, se o discute, é para, em casos muito restritos, o reconhecer.

E causa-nos prazer e orgulho verificar que os paulistas, profundamente imbuídos da tradição cristã do Brasil, tiveram a precaução de, antes de entrar na arena, rejeitar a dura pecha de mazorqueiros e revolucionários.

* * *

Julgamos, por esta razão, muito feliz a sugestão do Major Octávio Bandeira de Mello, que, em proclamação ao povo paulista, enviada da frente de operações militares, propunha que o movimento armado, que São Paulo levantou, tivesse como distintivo a cor branca.

Na Revolução Francesa, o azul indicava os republicanos, repletos do "espírito satânico" com que demoliram o Trono e pretenderam destruir o Altar. O branco era a cor dos exércitos reacionários, partidários da ordem e da disciplina social.

Na Revolução bolchevista da Rússia, o vermelho era a cor dos comunistas. Os anticomunistas adotaram o branco.

Na Revolução Brasileira, o vermelho foi a cor com que um grupo de militares subornados por Moscou assaltou São Paulo, com a cumplicidade dos elementos da Aliança Liberal e a ingênua colaboração de muitos elementos paulistas de elevado valor moral.

É necessário que o atual movimento armado, que São Paulo chefia juntamente com o auxílio de inúmeros mineiros, gaúchos, etc., tenha por distintivo a cor branca, que encarna o "espírito legalista", em flagrante oposição ao famoso "espírito revolucionário".


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