Plinio Corrêa de Oliveira

 

Sou Católico: posso ser contra a reforma agrária?

 

Ed. Vera Cruz - Fevereiro de 1981

Capítulo III – Para a implantação da Reforma Agrária no Brasil: fatores propícios e hostis

 

1. Atualidade e importância do fator psicológico para a solução dos problemas contemporâneos

Os homens de nossa época têm sabido valorizar cada vez mais a importância do fator psicológico como elemento determinante do futuro dos povos. Até no que diz respeito à guerra, os especialistas afirmam com vigor crescente a importância desse fator. Daí a guerra psicológica, não menos decisiva, em seu campo próprio, do que as demais modalidades de guerra.

Do ponto de vista da psicologia do povo brasileiro, qual o alcance da “abertura”, e da situação sócio-econômica na qual esta se vai desenrolando?

O povo brasileiro se destacou, desde as origens, por seu caráter ameno, afetivo e cordato. Ademais, habituou-se ele a considerar com otimismo as várias crises econômicas por que tem passado. Ele confia em Deus (“Deus é brasileiro” – afirma um velho dito popular). Ele se sente inteiramente à vontade no seu imenso e fecundo território, que sua população (120 milhões de habitantes) não basta para encher e cultivar. Seria preciso que os homens públicos fossem de uma incompetência sem precedentes na História para levá-lo definitivamente à miséria. Com “jeitinho” (o “jeitinho” é uma instituição nacional), bonomia e paciência – julga a imensa maioria dos brasileiros – tudo se arranjará.

O brasileiro é infenso à ansiedade. Detesta as rixas. Cuida pacatamente de si e de sua família, e considera com um olhar algum tanto desinteressado e cético a política e os políticos, bem como os dramas e as polêmicas da vida pública. Encanta-o viver em sua casa, atento principalmente à sua vida e à dos seus.

Em comparação com o imenso contingente populacional assim disposto, publicistas, políticos etc., representam uma minoria que por certo faz ruído, pois está nos postos chaves de onde o ruído se difunde sobre as multidões. Mas essas multidões constituem um povo que pouca atenção dá a tal ruído. Esta é a grande realidade.

Daí decorre, por exemplo, que todos os partidos de esquerda juntos nunca foram e não são capazes de contaminar, com as febricitações da demagogia, a população urbana nem a rural, em seu conjunto.

Por tudo isso, o povo brasileiro parece dos menos suscetíveis de “explodir”.

2. Infiltração na Igreja, solução para o comunismo. E também para o socialismo

Há porém um fator capaz de levar o povo brasileiro a semelhante explosão. É a CNBB.

Desde que o País existe, sua população crê na Igreja (90% de católicos, a maior população católica da terra), admira-a e nela confia como um filho na sua mãe. A voz da Igreja encontra no mais fundo da alma brasileira ressonâncias que o mais estrepitoso, subtil ou desenfreado sabat publicitário moderno nunca alcançaria.

Assim, o problema de uma “psico-explosão” no Brasil se reduz presentemente a este outro: até que ponto a Igreja pode ser instrumentalizada, em nosso País, pelos modernos empreiteiros de explosões?

Que múltiplos setores da Igreja, em toda a América Latina, se deixaram infiltrar consideravelmente pelo esquerdismo, dizem-no várias publicações largamente difundidas pela TFP brasileira e por suas coirmãs e entidades congêneres de onze países, bem como alguns fatos eloqüentes da história destas [1]. Dizem-no sobretudo as expressivas referências feitas por João Paulo II, na sua mensagem de Puebla, dirigida a representantes de todas as conferências episcopais latino-americanas [2]. Até que ponto, por sua vez, os setores esquerdistas da Igreja conseguirão fazer passar, junto a nosso povo – lúcido e dotado de fina penetração psicológica – por religiosamente autêntica, a sua voz? Esta é uma questão bem diversa.

A origem e a composição dos setores católicos de esquerda é, no Brasil, sensivelmente a mesma de outros países latino-americanos. No que diz respeito ao Clero, tanto secular quanto regular, a infiltração começou, em via de regra, a partir de centros de estudo e formação internacionais, localizados sobretudo na Europa. Os Seminaristas ou os jovens Sacerdotes enviados a tais centros não raras vezes têm voltado a seus países de origem influenciados a fundo por mestres apostados em lhes inculcar as doutrinas novas. Uma vez reintegrados em seu ambiente nacional, esses jovens atuam, por sua vez, como prosélitos das doutrinas e dos métodos de ação novos, que aprenderam no Exterior.

No que diz respeito aos elementos do laicato, o processo de inoculação ideológica é análogo. Leigos brasileiros influenciados por livros e revistas européias da “esquerda católica”, que se encontram em abundância nas livrarias neutras, e principalmente, nas livrarias católicas das grandes cidades brasileiras, deixam-se influenciar pelas “idéias novas”. A partir daí, os mais salientes dentre eles por vezes tomam contato com escritores e homens de ação europeus, cuja linha de pensamento ou de atuação lhes tenha agradado. De onde nascem os contatos pessoais: conferencistas estrangeiros são convidados para cursos no Brasil; por sua vez, brasileiros são convidados a participar de cursos na Europa, quer como mestres, quer como alunos.

De tudo isso decorre a formação de grupos de eclesiásticos e leigos vigorosamente travados entre si e unidos em estreita comunhão de pensamento e de ação com as células-mater européias.

Ou melhor, com estas e outras células inter-americanas. Pois, por sua vez, os grupos brasileiros entram em contato com grupos das outras nações hispano-americanas, nascidos de idêntico processo.

Em outros termos, o “esquerdismo católico” brasileiro não constitui apenas uma corrente de pensamento, mas uma constelação de grupos ou de organizações perfeitamente definidas e interarticuladas em nível nacional e supra-nacional, à maneira de planetas e satélites, com vistas a uma ação comum de larga envergadura [3].

3. Modalidades de infiltração comunista na Igreja: técnicas e subtilezas

Em que medida se pode ver, em tudo isto, um fruto da infiltração comunista na Igreja? Para responder a tal pergunta seria preciso ponderar que essa infiltração tem pelo menos duas modalidades.

Uma, a mais elementar, corresponde a padrões de propaganda comunista mais atrasados. Chamemo-la modalidade A, arrojada. Consiste na formação de uma ou algumas células de comunistas integrais. Estas, clara ou ocultamente, fazem, nos ambientes receptivos – por exemplo, pela difusão de slogans ou através da imprensa – a propaganda de idéias abertamente comunistas.

A outra modalidade – chamemo-la modalidade B, requintadamente cauta – é mais recente, e também mais sofisticada: consiste ela em tirar todo o proveito possível, da instrumentalização de todas as esquerdas.

Este processo começa pela mobilização dos oportunistas.

Em todos os ambientes há espíritos sedentos de se destacar como “atualizados”, “modernos” etc., pois estes qualificativos os põem em foco, lhes dão prestígio e liderança. A difusão de literatura esquerdista proporciona a tais elementos ocasião de conhecer as idéias, os clichês, os slogans e as reivindicações cujo lançamento lhes dará ensejo de tomarem atitudes “ousadas” e “no vento”. Nas emissoras de televisão e de rádio, como também na imprensa, um pedido de publicidade para tais atitudes encontrará ambiente favorável. É a escalada da notoriedade que começa.

Nem tudo isso, porém, se reduz a um oportunismo calculista e insincero. Os sonhadores, como também os novidadeiros, amam facilmente as novidades, e os homens propendem de bom grado para as idéias cujo proselitismo lhes lisonjeia as ambições.

Constituído assim um núcleo de esquerdistas prestigiosos, importa incorporar a este, outro gênero de recrutas: são os espíritos ingênuos e afeitos ao mimetismo em relação a tudo o que vem do Exterior com rótulo de ultramoderno. O núcleo estabelece entre eles uma fácil emulação. Pois se a tendência prestigiosamente “moderna” para a esquerda é dínamo produtor de influência, quanto mais energicamente for acionado o dínamo, tanto mais irradiante será essa influência.

Tal fator dinâmico, se aplicado às esquerdas de matiz católico, despertará uma tendência para a radicalização ideológica crescente. E, assim, a profissão explícita do comunismo acaba por se constituir em pólo de atração até mesmo para o tipo de esquerdismo que por sua natureza seria mais infenso à radicalização. Isto é, o que se intitula católico.

Mas esse fator é contrabalançado por outro. Via de regra, os líderes radicalizantes sentem que os respectivos liderados têm muito menos élan rumo ao pólo do que eles. E que se as lideranças se radicalizarem muito mais rapidamente do que as bases lideradas, operar-se-á uma ruptura, em virtude da qual as primeiras se isolarão e passarão a falar no vácuo. Será a morte do movimento. Esse fator moderador deve ser tomado em linha de conta simultaneamente com o fator dinâmico, para que daí resulte uma ação psicológica revolucionária ao mesmo tempo prudente e progressiva.

Equilíbrio tão subtil não pode ser nem inteiramente artificial, nem inteiramente espontâneo. Ele resulta de um modus vivendi tácito, e por vezes subconsciente, entre líderes e liderados. Mas, pelo próprio fato de ser subconsciente, tal modus vivendi está sujeito às precariedades de tudo quanto é imprevisto. Sem um controle – o mais das vezes discreto – de alguns especialistas muito experimentados, não é possível evitar que alguns líderes “cabeças-quentes” pratiquem excessos e imprudências. Nem que outros líderes, modorrentos, se preocupem mais em fruir as vantagens de sua liderança do que em estimular à radicalização os liderados.

É difícil conceber que todos os corpúsculos de “esquerda católica” assim constituídos caminhem com alguma sincronia, sem que um aparelho, encarregado simultaneamente de controlar os apressados e de apressar os retardatários, assegure a coesão da marcha geral. Coesão esta tão notável nos meios de “esquerda católica” em toda a América Latina.

Isto faz pensar que agentes e núcleos comunistas, possivelmente reunidos na infiltração A (neste caso tornados quão subtis e prudentes), supervisionem e dirijam às ocultas os agentes e as vítimas da infiltração B. – Tal hipótese é altamente plausível. A tática comunista não seria ela mesma se não comportasse, nos meios católicos, a detectação, a análise cuidadosa e, por fim, a instrumentalização de tendências e organizações como estas.

4. A radicalização processiva da “esquerda católica”: empuxo firme cercado de cautelas

Por que processo se daria tal instumentalização?

Trata-se, em suma, de radicalizar líderes ou bases pouco apetentes de caminhar para as conseqüências últimas de certos princípios, certas simpatias e até certas atitudes a que se entregaram com algum ardor em um momento de entusiasmo. Princípios, simpatias, atitudes estas que contrastam, entretanto, com outros princípios, outras simpatias, outras atitudes neles implantados por longos hábitos mentais anteriores.

O êxito no processo de radicalização exige, por isto, que o líder dinâmico saiba evitar o conflito das tradições do passado e das apetências de novidade, nesses espíritos, e ao mesmo tempo faça caminhar a radicalização com tanta cautela, que a tradição vá perdendo insensivelmente terreno em favor da “modernização”.

Tal costuma ser alcançado por vários recursos de vocabulário e de exposição que permitem a instilação progressiva e sem obstáculos, de tendências e idéias esquerdistas, em mentalidades que são esquerdistas apenas a meias, e propendem pouco à radicalização.

Esse método utiliza basicamente:

1º) uma linguagem vaga, marcada por certo tom discretamente literário, o qual permite imergir uma conferência, um artigo ou um relatório numa atmosfera de confusão tépida, discreta e cômoda. De sorte que o ouvinte possa interpretar algum tanto à sua guisa os enunciados de princípios e as descrições de situações de fato que ouça [4];

2º) a inserção, nesse magma confuso, de algumas afirmações tão ousadamente esquerdistas quanto comporte a mentalidade dos ouvintes ou leitores. Mas essas afirmações, se analisadas palavra por palavra, devem comportar um sentido esquerdista provável, a par de um sentido moderado consideravelmente menos provável;

3º) em outras ocasiões, a inserção, nessa literatura, de um elemento peculiar que é a contradição: ou seja, a afirmação simultânea de teses que parecem, à primeira vista, irredutivelmente contrastantes – uma conservadora, e a outra inovadora – e que só dificilmente, e de modo algum tanto forçado, possam ser conciliadas em uma afirmação nebulosa ou inócua.

Especial cuidado deve ser observado, nessa matéria, ao expor, não doutrinas, nem panoramas sócio-econômicos, mas temas diretamente relacionados com essa ação, como sejam programas, reivindicações e projetos de reforma. Pois tais temas não raras vezes afetam especialmente, a um tempo, hábitos mentais e interesses pessoais, e podem produzir, na massa dos retardatários do processo de radicalização, estranhezas e desacordos nocivos.

5. Traços deste método na atuação habitual da CNBB

Até que ponto a observância dessas regras é necessária para os pronunciamentos de Bispos engajados de um ou de outro modo  nesse processo?

Para responder à pergunta, é preciso lembrar que o Bispo engajado no processo de radicalização não é apenas um líder acentuadamente esquerdista, a falar para bases menos esquerdistas, da corrente dele. As “bases” do Bispo são toda a população da diocese. E o público da CNBB (Assembléia Geral, Conselho Permanente, Presidência, Secretariado Geral, Comissões Episcopais Regionais, órgãos especializados etc.) é o País inteiro.

Cumpre pois ter em conta a exposição já feita do panorama nacional, para indagar como deve um Bispo esquerdista aplicar o método que acaba de ser descrito.

De nenhum modo o grande público brasileiro está preparado para uma atitude definidamente pró-comunista – ou ostensivamente pró-socialista – da CNBB, ou ainda de personalidades episcopais isoladas. O temperamento e as tradições do povo levá-lo-iam a afirmar que a CNBB, ou esses Bispos, não exprimiriam a Fé católica, e a deixá-los falar sozinhos.

Se, pois, os esquerdistas do Episcopado querem levar atrás de si a opinião pública pacata e conservadora, rumo a uma radicalização gradual e segura, não têm melhor método a seguir do que o acima descrito.

Mas devem pagar pelo êxito um preço pesado: o tempo. Como já foi dito, este método é lento, em razão de sua própria gradualidade.

6. Análise do documento “Igreja e problemas da terra”, do ponto de vista metodológico

Examinando agora o IPT do ponto de vista metodológico, tem-se a impressão de que seus autores tiveram empenho em empregar esse método. Mas que o fizeram de modo irregular, carregando a mão aqui e acolá, na ousadia das afirmações ou no transparente das contradições. Inabilidade? Impossibilidade de conciliar as lentas precauções do método com necessidades táticas de acelerar a radicalização? Não há base, no IPT, para responder a essas perguntas.

De qualquer forma, essas irregularidades na aplicação do método facilitam, por via de contraste, a caracterização do emprego dele.

Ora, esse método só é eficaz na medida mesma em que não seja percebido nem enunciado de público. Pois, se revelado, pode despertar desconfianças e hostilidades irremediáveis.

Surpreende que os autores do IPT tenham incorrido assim nesse erro tático. Pois uma experiência irretorquível ensinou aos arditi da esquerdização católica os danos irremediáveis que pode produzir um procedimento diverso do acima enunciado.

Quando, em 1960, se desatou no Brasil a campanha agro-reformista já aludida no presente estudo (cfr. Prólogo, 6), toda a “esquerda católica” – então consideravelmente menos importante e numerosa – se atirou na luta em favor dela, capitaneada por vários Bispos e prestigiada por um pronunciamento da Comissão Central da CNBB (cfr. Prólogo, nota 6).

Bastou a publicação de um livro de inspiração católica mostrando o caráter heterodoxo dessa reforma dentro das condições do Brasil de então, para que esta ficasse quase congelada até hoje.

Essa história vem narrada na Documentação I, anexa ao presente estudo.

Tudo quanto aqui fica dito auxilia a compreensão do documento que será examinado, sua linguagem, suas ambigüidades, suas imprecisões, suas contradições e, de permeio, sua contínua propulsão para a esquerda.

Significa isso que todos os Srs. Bispos favoráveis ao documento estão engajados no processo de esquerdização? Acerca de alguns deles, tal é notório. Acerca de outros, não. Constituem estes últimos a “maioria silenciosa” do Episcopado [5], que parece habitualmente conservadora, mas julga que pode dispensar um estudo próprio para emitir seu julgamento. Vota ela, então, com a minoria esquerdista, aceitando uma argumentação que não se deu o trabalho de examinar a fundo. Tal atitude, interpretada até há pouco, pelo grande público, como expressão de alheamento às coisas temporais, vai desconcertando sempre mais...

Tudo isto dito, é fácil compreender que, apesar das imperícias ou peculiaridades metodológicas já apontadas, o IPT apresenta – em razão do prestígio episcopal – valiosas condições para adormecer, e ao mesmo tempo impulsionar veladamente para o esquerdismo, em nome da Doutrina Católica, a massa da população brasileira. E especialmente os homens do campo: fazendeiros e trabalhadores manuais.

Com o êxito do que, terão empurrado o Brasil – nesta delicada conjuntura de abertura política, de crise econômica, de imperialismo ideológico e político triunfal do Kremlin – para a voragem das agitações que começam a sacudir todo o Continente.


NOTAS

[1] Cfr. PLINIO CORRÊA DE OLIVEIRA, A Igreja ante a escalada da ameaça comunista – Apelo aos Bispos silenciosos, Editora Vera Cruz, São Paulo, 4ª ed., 1977; PLINIO CORRÊA DE OLIVEIRA, Tribalismo indígena, ideal comuno-missionário para o Brasil no século XXI, Editora Vera Cruz, São Paulo, 7ª ed., 1979; Meio século de epopéia anticomunista, Editora Vera Cruz, São Paulo, 1980; FABIO VIDIGAL XAVIER DA SILVEIRA, Frei, o Kerensky chileno, Editora Vera Cruz, São Paulo, 2ª ed., 1967; SOCIEDADE CHILENA DE DEFENSA DE LA TRADICIÓN, FAMILIA Y PROPIEDAD, La Iglesia del Silencio en Chile – La TFP proclama la verdad entera, Santiago, 3ª ed., 1976; SOCIEDAD ARGENTINA DE DEFENSA DE LA TRADICIÓN, FAMILIA Y PROPIEDAD, La Iglesia del Silencio en Chile – Un tema de meditación para los católicos argentinos, Buenos Aires, 1976; SOCIEDAD COLOMBIANA DE DEFENSA DE LA TRADICIÓN, FAMILIA Y PROPIEDAD, La Iglesia del Silencio en Chile – Un tema de meditación para los católicos latino-americanos, Bogotá-Medellin, 1976; SOCIEDAD URUGUAYA DE DEFENSA DE LA TRADICIÓN, FAMILIA Y PROPIEDAD, Izquierdismo en la Iglesia: “compañero de ruta del comunismo en la larga aventura de los fracasos y de las metamorfosis, Montevideo, 2ª ed., 1976.

[2] São palavras do Pontífice: “Circulam hoje em muitos lugares – o fenômeno não é novo – “releituras” do Evangelho, resultado de especulações teóricas mais do que de autêntica meditação da palavra de Deus e de um verdadeiro compromisso evangélico. Elas causam confusão ao se apartarem dos critérios centrais da Fé da Igreja, caindo-se ademais na temeridade de comunicá-las, à maneira de catequese, às comunidades cristãs.

Em alguns casos, ou se silencia a divindade de Cristo, ou se incorre de fato em formas de interpretação conflitantes com a Fé da Igreja. Cristo seria apenas um “profeta”, um anunciador do Reino e do amor de Deus, porém não o verdadeiro Filho de Deus, nem seria portanto o centro e o objeto da própria mensagem evangélica.

Em outros casos se pretende mostrar a Jesus como comprometido politicamente, como um lutador contra a dominação romana e contra os poderes e, inclusive, como implicado na luta de classes. Esta concepção de Cristo como político, revolucionário, como o subversivo de Nazaré, não se compagina com a catequese da Igreja. Confundindo o pretexto insidioso dos acusadores de Jesus com a atitude de Jesus mesmo – bem diversa – se aduz como causa de sua morte o desenlace de um conflito político e se silencia a vontade de entrega do Senhor, e ainda a consciência de sua missão redentora” (Insegnamenti di Giovanni Paolo II, Libreria Editrice Vaticana, vol II, 1979, pp. 192-193. Cfr. também PLINIO CORRÊA DE OLIVEIRA, A mensagem de Puebla: notas e comentários, “Folha de S. Paulo”, 26-3-79; 7, 14, 26-4-79; 19-5-79).

[3] Está na índole do progressismo a tendência a agir articulada e organizadamente. “Catolicismo” publicou em seu no. 220-221, de abril-maio de 1969, traduções de estudos aparecidos na revista “Ecclesia” de Madrid (no. 1423, de 11 de janeiro de 1969), e no órgão católico “Approaches” de Londres (no. 10-11 de janeiro de 1968), em que se descreve a atuação de organismos progressistas semiclandestinos em nossos dias.

Precursor do progressismo contemporâneo foi, no começo deste século, o modernismo. Esmagou-o o Papa São Pio X com a Encíclica Pascendi, de 8 de setembro de 1907. No documento o Santo Pontífice faz a descrição, penetrante e pormenorizada, da articulação, das tramas e das táticas dessa corrente. O observador contemporâneo encontra, nessa descrição, elementos sugestivos para a interpretação de fatos atuais.

[4] A mesma tática tem sido usada também por outras correntes, como  a dos modernistas. Descreveu-a com perspicácia e maestria o PAPA SÃO PIO X: “Com astuciosíssimo engano, costumam apresentar suas doutrinas, não coordenadas e juntas em um todo, mas dispersas e como que separadas umas das outras, a fim de serem tidas por duvidosas e incertas, ao passo que de fato estão firmes e constantes” (Encíclica Pascendi, de 8 de setembro de 1907, Vozes, Petrópolis, fasc. 43, 3ª ed., 1959, p. 5).

[5] No livro A Igreja ante a escalada da ameaça comunista – Apelo aos Bispos silenciosos (Editora Vera Cruz, São Paulo, 4ª ed., 1977, pp. 85-86), o autor assim define estes últimos: “O normal da grei fiel é de viver sob a influência e o mando de seus Pastores. E toda situação não normal está sujeita a riscos. Entretanto, nas fileiras do Episcopado e do Clero, das Ordens e das instituições religiosas, há tantas vozes que se calam.

Não é nosso propósito aqui ressaltar quanto esse  silêncio discrepa de seus mais graves deveres. Antes preferimos ver os motivos de esperança que nesse silêncio talvez ainda se encontrem.

Às personalidades assim postas em silêncio, não faltariam louvores e vantagens de toda ordem, caso resolvessem falar em favor da esquerdização da Igreja e do País.

Se não o fazem, resistem presumivelmente a pressões enigmáticas e penosas de enfrentar. E sofrem no silêncio. Há nesse procedimento um aspecto de desinteresse que cumpre não esquecer.

Importa, com efeito, não ver em tal silêncio apenas a posição cômoda de quem está longe da luta. Mas também o desapego e a retidão que evitam obstinadamente a complacência ativa com o mal.

Nesta situação aflitiva para a Igreja e para o País, rezarão e gemerão aos pés do altar estes “Silenciosos”, que lembram em larga medida a “Igreja do Silêncio” do Chile? Esta última, constituída principalmente por leigos, reduzidos ao silêncio por escrúpulos de consciência inconsistentes mas explicáveis, ante uma Hierarquia muito majoritariamente esquerdista; a “Igreja do Silêncio” do Brasil,  constituída por uma considerável maioria de Bispos e sacerdotes emudecidos na tormenta doutrinária que sacode os meios católicos, e de certo número de fiéis sujeitos aos mesmos escrúpulos de consciência dos chilenos, seus irmãos na Fé. – É de presumir que rezem e gemam ante o Senhor os Silenciosos brasileiros. ...

Ponderem que se há “tempus tacendi”, há também “tempus loquendi”: há tempos em que convém calar, mas há tempos em que convém falar (Ecle. 3, 7).

A evidência dos fatos mostra que, se é que houve um tempo em que nas matérias aqui tratadas conveio calar, já ele vai longe, tragado na voragem dos fatos. E que o tempo de falar de há muito está aberto para os defensores da Casa do Senhor.

Na mão dos Silenciosos, pôs Deus todos os meios que ainda podem remediar a situação: são eles numerosos, dispõem de posições, de prestígio e de cargos.

Atuem. Nós lho imploramos. Falem, ensinem, lutem. O anjo protetor de nossa Pátria os espera para os confortar ao longo dos prélios.

E Nossa Senhora Aparecida, Rainha do Brasil, lhes prepara sorridente o cêntuplo prometido já nesta terra aos que abandonam tudo por amor ao Reino dos Céus.

E estremeçam eles por fim, na presença de Deus, estudando na tragédia chilena, o que, de um modo ou de outro, poderá nos acontecer se não fizerem sentir toda a sua autoridade e prestígio, no bom combate”.


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