Verba Tua manent in aeternum

 

O que merece mais apreço:
os milagres ou a grandeza da doutrina (ensinamentos)?

 

 

 

 

 

 

 

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A D V E R T Ê N C I A

Transcrevemos abaixo matéria tal qual foi publicada pelo mensário de cultura "Catolicismo", conforme indicado no final da citação. "Catolicismo" utilizava, para isso, traduções provenientes de fontes fidedignas, como o serviço de divulgação da Santa Sé para o português ou então sua equipe redatorial se valia da ediçao do "Osservatore Romano" em francês ou ainda - conforme o documento - proporcionava aos leitores versão baseada na própria "Acta Apostolicae Sedis". 

A utilidade da leitura dessas "Verdades esquecidas" - com as devidas adaptações - encontra-se ressaltada pelo Prof. Plinio em artigo de "Catolicismo" de abril de 1952: "É necessário que se ponham em foco as máximas que o demônio, o mundo e a carne procuram a todo momento relegar para segundo plano".

“Os milagres não foram operados em favor dos fiéis, mas dos infiéis” (São Paulo).

“Eram mais sábios aqueles que, segundo São Mateus, admiravam sobretudo a grandeza de sua doutrina.”

Evangelho de São João (6, 1-11): 

"Passou Jesus à outra banda do mar da Galileia, que é o de Tiberíades. Seguia-O grande multidão de gente, porque viam os milagres que fazia sobre os que se achavam doentes.

"Subiu, pois, Jesus a um monte e ali se sentou com seus discípulos. E estava próxima a Páscoa, dia da festa dos judeus. Jesus, levantando os olhos e vendo a grandíssima multidão de povo que O seguia, disse a Felipe: onde compraremos pão a fim de que estes tenham de que comer? Mas Ele assim falava para o experimentar, porque sabia o que havia de fazer. Respondeu-lhe Felipe: duzentos dinheiros de pão não lhes bastam, para que cada um receba um pequeno bocado. Um dos seus discípulos, chamado André, irmão de Simão Pedro, disse-Lhe: Aqui está um jovem que tem cinco pães de cevada e dois peixes; mas que é isto para repartir entre tanta gente? Então, disse Jesus: Fazei assentar essa gente. E havia muito feno naquele lugar. E se sentaram, para comer, cerca de cinco mil homens. Tomou, pois, Jesus os pães, e tendo dado graças, distribuiu-os aos que estavam sentados. E assim também com os peixes, dando-lhes quanto quiseram".  

Comentários extraídos da Catena Aurea, de Santo Tomás de Aquino

Este mar (da Galileia) toma diferentes nomes conforme os diversos lugares pelos quais se estende. E quanto ao lugar presente, chama-se mar da Galileia, pela província, e de Tiberíades, pela cidade.

Diz-se mar, não porque a água seja salgada, mas acomodando-se ao costume hebreu, que denominava mar todas as grandes reuniões de água.

Este mar, Nosso Senhor Jesus Cristo o transpôs várias vezes para difundir sua doutrina entre todos os povos que habitavam junto a ele.

Milagres corporais e regeneração do espírito

Passou de povoado a povoado, a fim de provar a vontade dos homens e para torná-los mais ávidos e solícitos na Fé. Dava vista aos cegos e fazia outras coisas semelhantes.

Mas há de ter-se em conta que, a todos os que sarava quanto ao corpo, os regenerava no espírito.

Contudo, degustando tão alta doutrina, só retinham na memória os milagres, porque seus entendimentos estavam obscurecidos, pois, como diz São Paulo, os milagres não foram operados em favor dos fiéis, mas dos infiéis. Eram, então, mais sábios aqueles que, segundo São Mateus, admiravam sobretudo a grandeza de sua doutrina.

Subiu ao monte por causa do milagre que pretendia realizar. Mas também para nos ensinar a aquietar o ânimo, fugindo do tumulto e da agitação das coisas mundanas; porque a solidão vem muito a propósito para a contemplação (ou para o conhecimento das verdades sublimes e a meditação das coisas divinas).

Prossegue: "E tendo Jesus levantado os olhos", para que conheçamos que não estava simplesmente sentado com seus discípulos; falava-lhes alguma coisa com cuidado e os atraía para si. Depois, olhando longe, viu a multidão que se acercava.

Nos milagres operados pelo Redentor, poder criador ilimitado

Com que fim perguntou a Felipe onde comprar pão? Nosso Senhor sabia que os discípulos, na verdade, necessitavam de mais amplos conhecimentos, como sucedia com Felipe, o qual logo depois iria dizer "dá-nos a conhecer ao Pai, e com isto teremos bastante". Por esta razão o instrui antes da multiplicação dos pães, e, antes do acontecimento, o obriga a confessar a carência de pão, para que conheça melhor a magnitude do milagre. Porque, se tivesse conhecido claramente que Aquele era o Criador, não teria duvidado da extensão de seu poder. E Nosso Senhor viu que André era parecido a Felipe, embora seu pensamento se elevasse um pouco mais. Havia ouvido falar do milagre que Eliseu fez: alimentou cem homens com vinte pães de cevada. Elevou-se mentalmente a algo mais alto, mas não pôde chegar ao auge, como manifesta sua conclusão: "mas que é isto para tanta gente?" Acreditava, portanto, que de poucos havia de fazer poucos e de muitos, muitos, Aquele que fazia milagres. Mas isto não era verdade. Do mesmo modo lhe era fácil alimentar a multidão, fosse de pouco ou de muito, porque Ele não necessitava de uma matéria limitada. Utilizava as coisas criadas nos milagres para que não viessem a julgar que as criaturas lhe eram estranhas.

Antes das refeições: oração e ação de graças

Por que não ora quando vai curar o paralítico, nem quando ressuscita os mortos ou quando acalma a tempestade do mar, e aqui ora e dá graças?

Para manifestar que aqueles que começam a comer devem dar graças a Deus.

E também por outra razão. Ora nas coisas pequenas para que se veja que o faz não por necessidade. Se necessitasse orar, faria isto com muito mais razão nos milagres de maior importância. Mas, como os fazia com autoridade própria, dá a entender que aqui ora para acomodar-se ao nosso modo de ser. E ademais, como havia muita gente, convinha ensinar-lhes que isto sucedia por vontade de Deus, e para que não cressem, como alguns o acusavam, que era inimigo de Deus.

Nota: Santo Tomás de Aquino -- Catena Aurea, exposición de los cuatro evangelios -- vol. V: San Juan -- Cursos de cultura católica, Buenos Aires, 1946. Os intertítulos são da redação de Catolicismo, Novembro de 1996.


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