A beleza e a alegria de raciocinar à luz da Fé – “Quem vive de sensação tem preguiça de pensar”

Santo do Dia, 24 de agosto de 1985 – sábado

A D V E R T Ê N C I A

Gravação de conferência do Prof. Plinio com sócios e cooperadores da TFP, não tendo sido revista pelo autor.

Se Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério da Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como homenagem a tão belo e constante estado de espírito:

“Católico apostólico romano, o autor deste texto  se submete com filial ardor ao ensinamento tradicional da Santa Igreja. Se, no entanto,  por lapso, algo nele ocorra que não esteja conforme àquele ensinamento, desde já e categoricamente o rejeita”.

As palavras “Revolução” e “Contra-Revolução”, são aqui empregadas no sentido que lhes dá Dr. Plinio em seu livro “Revolução e Contra-Revolução“, cuja primeira edição foi publicada no Nº 100 de “Catolicismo”, em abril de 1959.

A noite é sobretudo dos “enjolríssimos”! E os nossos queridos “enjolras” – eu quase diria os nossos “enjolrões” – os nossos queridos “enjolras” estão pouco frequentes aqui. Há alguns, mas são poucos numerosos aqui. Ontem à noite eles ainda estavam conosco. Hoje já não estão.

Estou vendo um… “enjolrão” assim… espanhol, estou vendo outro… um chileno, um outro espanhol… por aí assim, um outro. Um americano, outro espanhol, outro canadense… e quando eu vou falando, eles vão vendo se eu conheço bem a eles. Tem um cambojano, tem um francês… Está cheio. Outro americano! Graças a Nossa Senhora está cheio, está cheio, bem.

* Para conhecer a própria alma, é preciso analisar-se a si próprio

Mas, nós estamos, evidentemente, lamentando que os outros não estejam aqui. Mas, seria um desaponto para nós – vejam como é feita a alma humana -nós temos que aprender a conhecer a nossa alma, e para isso a gente precisa analisar-se a si próprio – os senhores imaginem ontem aqui, nós estávamos na idéia de nos despedir deles. E nós estávamos com tristeza pela ida deles, mas sobretudo com alegria: que bom! Vão. Vão e espalhem-se pelo Brasil afora!

A Providência, a rogos de Nossa Senhora, os colocou num país que é dos maiores do mundo. Um país que tem o maior bloco populacional católico do mundo: quase 120 milhões e tantos de habitantes. Desses 120 e tantos milhões de habitantes, mais de 90% são católicos. Não há bloco católico contínuo tão grande. Muito importante, porque está todo cercado de países católicos. O tesouro da Igreja, o tesouro da Igreja, para o século XXI que vem vindo, a grande novidade da Igreja é a América Latina.

Eu espero que não seja só a América Latina. A Igreja conserva os tesouros espirituais inapreciáveis da Europa; as realizações magníficas, e os tesouros inapreciáveis da América do Norte, do Canadá. Na Ásia a Igreja ainda terá muita coisa para dizer! E na África Ela já começou a dizer! E assim, nós esperamos para o Reino de Maria o mundo inteiro. A Austrália, Nova Zelândia, Oceania, nem se fala!

Mas, praticamente, esses nossos amigos, nós mesmos, nesse momento, estamos nesse país. E este país está ameaçado pelo adversário. E nós, então, nos dividimos numa série de duplas que foram percorrer o país afora, com a deliberação seguinte: se for necessário irão outras e outras e outras duplas! Com exceção dos menores de idade – não tem por onde escapar – tudo irá! E nós ficamos contentes com isso, nós achamos bonito!

Os senhores imaginem o seguinte. Nós gostaríamos que eles estivessem aqui. Imaginem que, de repente, eles começassem a voltar. E voltassem por quê? Porque eles nos diriam – graças a Deus a hipótese é irrealizável, no momento, pelo bom estado da alma deles – que a viagem estava muito longa, que eles resolveram voltar.

Todos nós dormiríamos numa tristeza única! Eu era capaz de, para animar a eles, dizer que nós não íamos dormir, íamos fazer uma noite inteira de vigília. E esse era o começo da conversa. Quer dizer, há alguma coisa de muito bonito no ato que eles fazem, espalhando-se pelo Brasil inteiro. E nossa alma se alegra com isso.

* Explicação lógica da alegria ao ver as duplas saírem para a campanha contra a Reforma Agrária

Agora não vamos mais pensar neles, mas vamos pensar em nós. Eu não vou mais pensar no ato deles, eu vou pensar na alegria que nossas almas tiveram à vista do ato deles. É uma boa pergunta, a seguinte: É evidente, esta alegria se pousa, se firma, tem sua explicação, em razões evidentes. Diante dessas razões evidentes, uma pessoa pode tomar duas atitudes, um “enjolras” como os senhores. Eu tive o problema, um pouco antes, um pouco depois dos senhores.

Bem, problema seguinte: se é para mim evidente porque é que eu estou alegre, à vista deste fato, por exemplo, eu tinha outras alegrias, menores do que os senhores tinham. Eu estremeceria de alegria se eu pertencesse a um movimento como a TFP. E eu estremeceria de alegria se com a licença de Da. Lucilia e Dr. João Paulo, eu pudesse ir para esse movimento, percorrer o Brasil. Notem que eu jamais gostei de viajar. Mas, viajar para isto, muito bem!

Bem, eu teria dois caminhos para pôr diante de mim. Se eu estremeci de alegria com isso, por que é que eu estremeci de alegria? Eu sou capaz de dizer para mim mesmo por que razões eu estremeci de alegria? Ou eu acho inútil eu saber por que que eu estremei de alegria?

Está compreendida a pergunta, ou não?

(Sim!)

* Dr. Plinio quando menino já aprendeu a analisar as próprias sensações

Bem, grande número de meus companheiros, intoxicados pelo cinema, que só dá sensações, sensações, sensações… No meu tempo de pequeno não havia televisão, então a grande diversão era o cinema. Todo mundo ia ao cinema. Meus companheiros de colégio, parentes, etc. intoxicados pelo cinema, viviam de sensações. E quem vive de sensação, tem preguiça de pensar. Porque gosta de sentir o tempo inteiro. E eu não sei como é hoje em dia com a televisão – os senhores com certeza foram pouco ao cinema, e devem ter assistido muita televisão antes de entrar para o grupo, infelizmente… – eu não sei se ainda tem fita de cowboy na televisão, fita de cowboy para menino. No meu tempo era o grosso da fita para menino, era a fita de cowboy. Eu ia assistir esta fita glacialmente indiferente… Eu ia porque todo mundo ia, os meus companheiros iam, meus primos iam. E, portanto, para eu não ficar sozinho em casa, sem fazer nada, eu ia também. Mas eu achava aquilo de uma caceteação medonha.

Eu me lembro dos “enjolras” do meu tempo, quando chegava a hora do cowboy entrar, e dar um tiro na lâmpada de querosene, pegar fogo na casa, eles: “Ahhhh!” Depois, chegava um que era o ruim, eles vaiavam. Eu… “não me incomodo com essa besteirada. Pode fazer o que quiser, pode dar o tiro no que quiserem, eu já sei que isso não é verdade, que é uma representação. Arranjem-se!”.

Bem, eu gostava já de pensar. Um certo número de meus amigos e de meus parentes não gostava de pensar, gostava de sentir: “Ahhhh! Como é? Pulou do cavalo, como é, saiu correndo? Vai chegar ou não vai chegar o xerife? (Xerife era uma espécie de delegado.) Vai chegar ou não vai chegar o xerife, prende ou não prende o homem… pega o ladrão…” uma bobajada que não tinha…

Quem gosta muito de ter sensação – sentir, sentir, sentir – fica mais ou menos como um fumante quando lhe tiram o cigarro. Sentir, sentir, sentir é um vício. E quando chega na hora de pensar, precisa parar de sentir. Não tem remédio. Não pode sentir e pensar ao mesmo tempo. Sentir e raciocinar ao mesmo tempo é inútil, não é possível.

Então, o que é que acontece? Acontece que eu tinha uma certa disposição para pensar, e eles não tinham. Então, diante dessa pergunta: “Por que é que eu fiquei alegre diante de uma coisa evidente? “Vamos dizer, por exemplo, fiquei alegre porque eles foram para a campanha; com as minhas alegrias daquele tempo, fiquei alegre porque consegui – isso eu gostava muito – um livro ou uma revista sobre a história da França. Personagens, palácios, grande estilo, grandes coisas… eu gostava enormemente.  Bem, mesmo outros livros, livros de figuras, e coisas; viagens pelo mundo, menos, mas um pouquinho também.

Bom, eles achavam que uma coisa sendo evidente, não tinha que pensar. Eu achava que não. Dizia: eu acho que eu devo explicar para mim mesmo porque é que eu estou pensando as coisas. Eu devo montar um raciocínio que eu depois possa controlar pelo meu raciocínio. Será que o que eu senti é direito? Será que o que eu senti é bom? Depois, eu preciso aprender a raciocinar. Porque eu vou – pensava eu na vossa jovem idade – eu vou remar contra todos os ventos e contra todas as marés. Eles vão me encostar na parede, porque vão pedir meus motivos. E ou eu sei dar motivos de esmagar, ou eu estou esmagado.

Imaginem um homem que quer atravessar a barco, do Brasil para Portugal. Ele dá prova de bom gosto. Mas ou ele sabe remar, ou ele não faça isso, porque é um louco. Assim mesmo, também, um homem que quer sustentar uma opinião, um estilo de vida, um modo de ser inteiramente diferente dos outros – ou ele sabe explicar ou ele é um louco, porque ele não pode fazer isso.

Resultado: é preciso pensar, é preciso raciocinar, é preciso gostar de pensar, porque o homem só faz bem feito aquilo que ele se habitua, enquanto ele não adquirir o hábito ele não faz bem feito. Ele faz muito bem feito quando ele chega a gostar de pensar. Aí ele pensa bem, ele pensa direito. E, ou eu faço isso do meu pensamento o meu avião, ou eu estou perdido!

Eu procurei prestar atenção em gente que pensava. Porque eu tinha uma objeção. Os senhores estão vendo que a minha vida foi dura. Mas, teve vantagem, porque me habilitou a fazer uma reunião de sábado à noite, para os meus “enjolras”, a uma hora em que todo mundo já está dormindo: meia-noite.

* “Vou fazer de cada raciocínio meu uma bomba que cai!”

Bem, eu pensei o seguinte. Eu vou me habituar a pensar, vou assim, para voar, para fazer de meu pensamento o meu avião – mas meu avião não é avião de transporte, é avião de guerra – eu preciso fazer de cada raciocínio meu uma bomba que cai! Eu tinha passado – eu nasci em 1908 – eu tinha passado minha infância na atmosfera da I Guerra Mundial que terminou em 1918. E ouvia falar de bombas, fotografia de bombardeio, avião… Essa coisa toda já havia bastante naquele tempo. Então, isso povoava o meu espírito, como o de todo mundo, não é? Então, ou eu faço do meu pensamento, cada raciocínio uma bomba, ou eu estou perdido, porque então não adianta fazer nada.

* A força de personalidade do grão-duque Constantino Constantinovich

Um outro acontecimento do meu tempo, que é explicável, A Revolução Comunista Russa foi em 1917, eu tinha 9 anos. Mas, ela impressionou enormemente naquele tempo, os senhores podem imaginar. Naturalmente cenas da Revolução etc., se contava muito. E anos depois ainda se contava, os jornais publicavam coisas, cenas e fatos da Revolução Russa. Como contavam fatos de análogo significado. Porque caíram três grandes monarquias da Europa. As quatro grandes monarquias da Europa eram: Inglaterra, Alemanha, Áustria e a Rússia. Os outros eram países menores.

Ora, as três monarquias, a Inglaterra continua, mas a Alemanha, a Áustria e a Rússia perderam: três grandes monarquias que caíram. Isso se comentou enormemente: como é que o imperador da Alemanha perdeu o trono, como é que o Imperador da Áustria perdeu o trono, sobretudo como perdeu o trono o Imperador da Rússia, que era o que tinha mais poder dentro do seu próprio país. Ele era um monarca absoluto. Era também o mais rico. E aqui no Brasil impressionou mais o Imperador da Rússia.  Mas todas essas quedas de imperadores eram muito noticiadas aqui.

Eu me lembro quando eu li uma vez uma notícia de um homem – se eu pudesse me lembrar que eu ia falar desse homem hoje, eu teria trazido uma magnífica fotografia dele, que já deve estar pronta, mas, se me lembrarem, no sábado que vem eu trago – um homem que era isso:  o tzar da Rússia… Os senhores sabem o que á um tzar, não? Sabem, não é? Não sabe nada, é?

Tzar… eles gostam muito de etimologia. César era, simplificando as coisas, imperador do Império Romano. Ele deixou um tal nome na História, que depois os outros imperadores que apareceram, querendo dizer que eram imperadores, diziam que eram César. Mas então, em russo, a palavra César, adaptada para o russo, deu tzar. Não é bonito? É bonito isso.

Adaptado ao alemão, deu Kaiser. Porque César, em latim, escrevia-se C-a-e-s-a-r. “Ae” se pronuncia “é” em latim. Isto se chama “diphtongo”, de que certamente os professores de gramática dos senhores lhes informaram. Bem, então, pronunciado pelos povos germânicos – eles não sabiam, eram bárbaros, não sabiam que “ae” forma “e”. Eles viam escrito C-a-e-s-a-r, eles diziam Cáesar. Então deu Kaiser em alemão, e, portanto, na Áustria também, que é um país de língua alemã. “Tzar” na Rússia. Eram os três césares da Europa que caíram.

Mas, o césar, o tzar da Rússia era um moloide. Ele era um moloide e não soube resistir. Ele podia ter resistido, foi mole. Ele chegou da frente de combate onde ele foi derrotado, assinou a paz com os alemães, e foi para a capital, que era a atual cidade …não sei… qualquer “Porco-grado”… “Satanogrado”. Naquele tempo se chamava San Petersburg, cidade de São Pedro. Bem, ele foi para San Petersburg. E a revolução comunista estava fervendo na rua.

E os membros da família dele, sabendo que ele chegara, ele tinha uma família grande, irmãos, primos etc., foram para o palácio, para prestar solidariedade para ele. E o povo deixava passar mal e mal. De repente passou o automóvel de um, cujo nome vale a pena guardar, Constantino Constantinovich [de fato, trata-se do grão-duque Nicolau Nicolaievich, n.d.c.]. Quer dizer em russo Constantino, filho de Constantino. “Vich” quer dizer filho. Todos os parentes do tzar chamavam-se grão-duques. O grão-duque Constantino Constantanovich.

Os grão-duques andavam na frente do automóvel, com uma placa representando a coroa imperial. Não tinha número. Era um parente do imperador que passava. É preciso bater continência e fazer tocar, está acabado, bem. Quando, no meio desses moloides todos, passou esse, o povo cercou, porque viu a placa imperial — ele estava fardado, general do exército russo –  cercou e começou a quebrar os vidros, etc., etc., a querer forcejar a porta. Ele, um gigante, dois metros e tantos de altura, sentado no fundo, impassível!

Quando ele viu que iam abrir a porta, ele abriu a porta, saiu! Em vez de tentar sorrir, agradar, ele passou uma descompostura no povo, mas daquelas! Empurrou os comunistas na parede completamente. Sabe o que aconteceu? O povo não deixou ele tomar o automóvel, porque carregou de triunfo até o palácio do imperador.

Reflexões do então “enjolras” Plinio Corrêa de Oliveira: “Assim um homem deve ser! Mas, para isso é preciso ter personalidade.

E… se esse homem não soubesse o que ele tinha que dizer, ele levava uma surra e morria na hora. É claro! Se ele estivesse armado, ele só com os revolverzinhos não se defendia contra aquela gente.

Mas, há a bomba da cabeça, há a bomba do argumento!  Ele soube dizer àquela gente o que os persuadia. Ah, bomba! Isso aqui – o maior canhão daquele tempo era um canhão alemão que se chamava “Grosse Berta” – é a Grosse Berta do homem, o grande canhão do homem é a força de vontade. Levando um pito dele, os povos recuam: isso é homem.

* Saber raciocinar não é decorar dados

Então, eu tenho que saber raciocinar muito bem. Mas eu não posso ser como aqueles moloides, que não sabem nem sentir. Se eles forem para uma fita de cinema, nem entendem a fita de cinema. Eles só sabem dar o que eles decoraram na Geografia, o que eles aprenderam na História… A história dos quinze reis de Portugal… Eu respeito muito Portugal, venero muito os quinze reis. Mas com isto não me resolve nada. Ou eu entendo o que eles fizeram – Manuel I, II, III, não sei o que, não sei o que – com isso eu não faço nada. Os reis da Síria, Nabucodonosor, Tiglapilesar… o que eu vou fazer dessa gente?

No meu tempo de menino era preciso – os senhores tiveram uma vida muito melhor do que a minha – era preciso decorar o seguinte: os senhores, na maior parte não são brasileiros aqui, eu vou explicar, ou são 50 a 50 brasileiros. Mas é assim: o Brasil tem vinte e um estados. Naquele tempo, hoje aumentou. Vinte e um estados. Era preciso conhecer o limite de cada estado com cada estado. De cor, de cor. Por exemplo, limite de Paraíba com Pernambuco. Então era: “A partir da serra de não sei o que, passando pelo rio não sei o que… toma uma reta que vai até não sei o que…” Cada estado tem limite com dois ou três outros pelo menos. Agora, vinte e um estados para aprender isto, num país enorme, que os limites… fronteira de Luxemburgo em meia hora a gente aprende… Mas, a fronteira de Mato Grosso, como é esse negócio? Quanto rio, quanta história tem pelo meio para decorar? Os primeiros da classe sabiam isso. Eu dizia: isso eu não vou saber. Se algum dia eu precisar saber, tem aqui esse livro, eu abro e …

* O gládio do homem é a língua a serviço do pensamento iluminado pela graça

Eu vou ter que ser um homem objetivo no sentir. Tudo quanto eu sinta seja verdade. Eu vou ter que ser um homem firme no raciocinar. Do que eu senti, eu tirei uma conclusão rija, porque o raciocínio estava bem feito, bem amarrado: pam! Lá vai a minha bombarda! Então, eu tenho que ser um homem que sabe sentir, tem que ser objetivamente, não é sentimental não. Sabe sentir. Inclusive e largamente, sabe querer bem. Sabe ser amigo, sabe proteger, sabe agradecer e corresponder à amizade dos outros. Mas, na hora de brigar, briga!

Mas, não vou ser um simples desses – eu tinha um desprezo enorme por isso – boxeur, o sujeito que sabe dar murro na cara do outro. O que é que vale isso? Nem a cara do outro vale isso, nem ele vale isso. Aqui está a arma do homem! A língua é um gládio!

Mas, ela só adianta quando é a serviço do pensamento. Vou ser um homem que sabe raciocinar. Mais do que isso tudo, quero conservar-me a vida inteira um homem puro e de fé. Está feito o meu programa… Salve Regina, Mater misericordiae… Dizer, é relativamente fácil.  Por exemplo, todos nós aqui estamos dizendo “ohhh, ohhh”, não é tão difícil. A questão é fazer, é ser, ser, construir a si próprio assim.

Então, fazia parte deste programa, que eu vou tocando com a graça de Nossa Senhora, fazia parte o raciocinar bem. E para raciocinar bem, eu quando sentia uma coisa, eu procurava me explicar porque é que eu tinha sentido. E examinava pelo raciocínio se aquele sentimento era bom. Primeiro, primeiríssimo ponto: é de acordo com a Doutrina Católica? Tudo que está de acordo com a Doutrina Católica é bom, porque é de Deus. Tudo que é contra, não presta porque é contra Deus, portanto está liquidado.

Mas depois, se eu tiver que explicar isso para não católicos, para convencê-los a serem católicos, para convencê-los a serem contra-revolucionários, como é que eu vou fazer, se eu não souber pensar? Eu tenho que pensar.

Então, eu pensaria, por exemplo, nos nossos amigos que foram viajar. E eu vou fazer um pensamento a respeito deles. Os senhores ficaram contentes deles viajarem, e eu tenho impressão que os senhores ficariam contentes se recebessem licença ou convocação para irem os senhores mesmos.

Bem, então, por quê? Por que é que eu fiquei contente vendo-os irem viajar? Ou esta alegria tem uma razão de ser, ou eu sou um bobo. Eu não sei dizer, não sei explicar o que eu estou sentindo. Isto define um bobo. A gente vê um homem responsável, adulto, fazer uma coisa, e a gente pergunta a ele:

– Por que é que você está fazendo?

– Não sei…

No dia seguinte a gente encontra com ele, amável, porque a gente deve ser amável com todo mundo: “Você, como vai?”, mas, pssst! Porque… o que é que vai me dar disso? Só se for para fazer apostolado. É a única coisa que faz a gente aturar bobo na vida é apostolado! Aí para salvar qualquer alma a gente faz qualquer coisa. Fica conversando com uma besta quadrada uma noite inteira, e ainda agradece a Deus, ainda que não tenha dado resultado, porque nós lutamos por Deus.

Mas, vamos agora, porque o tempo também está correndo…

(Nããããooo.)

Como não está? Ah, ah, como é que não está?

* A beleza de combater e de ser combatido

Bem, então vamos ver por que é que nós ficamos contentes ontem à noite, qual é a razão? A razão, assim, primeira, é que nós vimos que eles foram partir para uma ação heroica. E a ação heroica é uma coisa bonita. Todo heroísmo tem uma beleza, que não há enfeite, não há coisa material que tenha a beleza do heroísmo. A gente toma, por exemplo, o que, um herói de guerra. Um homem que sozinho foi motivo do ganho de uma batalha decisiva. Mas, também ele se expôs inteiramente, ele ficou estropiado, mas ele sabendo isso, se expôs, e ele ganhou a guerra: é uma beleza!

Uma ocasião eu tive oportunidade de ser apresentado a um daqueles heróis que voaram sobre Londres, para garantir Londres contra os bombardeios nazistas, e dos quais Churchill disse “nunca tão poucos fizeram tanto para tantos”. Quando me disseram: “esse é um dos tais”, e vinha com as provas, não era conversa não, eu apertei a mão dele e senti-me honrado. Por quê? Porque é um herói. Ele se expôs a sacrifícios medonhos, para uma finalidade imediata nobre, que era evitar que o nazismo tomasse conta da Inglaterra; para uma finalidade, um pouco indireta, mas mais nobre ainda, era o cumprimento do dever para com a pátria dele. Era para evitar que a Polônia caísse no jugo dos nazistas ou dos comunistas, como ela está infelizmente. Ele correu um grande risco. “Muita honra em conhecê-lo”. Uma coisa evidente.

O heroísmo tem uma beleza muito grande. E eu fiquei alegre, os meus “enjolras”, os meus “enjolríssimos” ficaram alegres vendo tantos fazerem um ato de heroísmo! Porque sabiam bem que eles não vão combater. Mas eles vão fazer uma coisa mais difícil do que combater, eles vão ser combatidos. Eles viajam até sem armas. Mas eles – vários, vários dos que vieram despedir de mim, como os senhores viram ontem, vários me disseram baixinho: “Dr. Plínio, se eu morrer, por ódio à Igreja ou à Civilização Cristã, o senhor fique sabendo e seja testemunha que eu quis esta morte!”

Eles falaram baixinho. Eu não sabia, estou vendo agora pela reação dos senhores, que o alto-falante não transmitia, que os senhores não ficaram conhecendo. A cerimônia de ontem não ficou mais bonita depois que eu estou contando isso? É a beleza do heroísmo. Então, ontem havia esta beleza.

Mas havia mais: é que essa beleza era acompanhada da alegria com que eles iam. E a alegria do heroísmo aumenta a beleza do heroísmo. Por quê? Porque é bonito dar. Mas quando a gente vê que quem dá, dá com alegria, isto é mais bonito. Os senhores veem alguém por exemplo, não sei, alguém lhes dá um presente de aniversário custoso, que custou bastante para quem está dando. Os senhores ficam contentes, “muito obrigado”, etc. Mas, se notam que ele veio com alegria: “Meu caro, olha esse presente para você, eu estou tão contente…” A gente dá muito mais valor. Por que dar um presente é uma coisa; dar uma amizade é uma outra coisa que vale muito mais…

Eles deram um ato de amor. Eles deram, ainda os que não me disseram isto, eu tenho certeza que estavam nessa disposição, eles deram essa disposição: por disciplina, não matarem; correrem o risco de serem mortos. Porque eles matando, eles cometeriam uma ilegalidade e caía o mundo em cima da TFP. Então, por disciplina eles não atacariam quem os atacasse. Se eles morressem, eles estavam dispostos a morrer, para alguma coisa.

Eu não sei se eu torno claro aos senhores que à medida que eu vou mostrando o belo da coisa, vou mostrando como a coisa é racional. Sem sujeitar os senhores a um raciocínio inadequado, no vazio, inadequado para um sábado à meia-noite. Vejam como tempo vai correndo: meia noite e 45, já… Sem sujeitar os senhores a um raciocínio abstrato, eu entretanto vou caminhando com os senhores, como um remador experiente que vai com outros remadores na mesma canoa. E os senhores vão pondo seus remos também, para nosso barco andar. Para nós chegarmos ao fim do nosso tema.

* A beleza do ato está sobretudo em sua finalidade

Então, é porque é belo isso. Agora, por que é que é belo? Em última análise, eles vão se expor a uma viagem cacetíssima, a um trabalho enorme; eles vão fazer o papel de quem está pedindo dinheiro, que é sempre uma coisa desagradável, pedir dinheiro – quem vende livro, no fundo, pede dinheiro – vão ser mal recebidos em vários lugares, vão aturar desaforos, etc., etc., mas vão expor a vida. Mas eles querem uma determinada finalidade. Qual é essa finalidade?  Que no Brasil não haja Reforma Agrária.

Bem, então, o fim é que no Brasil não haja Reforma Agrária. Ou é bom que no Brasil não haja Reforma Agrária, ou eles estão fazendo besteira. É claro.

Bem, os senhores então chegam a uma conclusão, chegamos juntos no nosso barco, os nossos remos, aportam numa mesma conclusão: o valor de uma ação, a beleza de uma ação, não está só na ação em si, no ir e no distribuir os livros, está sobretudo na finalidade da ação. Se a finalidade é boa, se a finalidade é elevada, a ação é linda. Se a finalidade é má, a ação é péssima.

Está claro isso, ou não:

(Siiim)

E por causa disso, se à mesma hora, grupos de comunistas estivessem se distribuindo pelo Brasil para espalhar a Reforma Agrária, portanto num fim oposto ao nosso, eu não iria dizer: “duas ações igualmente belas, apenas o fim é diferente”, porque é uma asneira! Se uma tem por fim dar a vida, e outra tem por fim matar, a que faz a coisa dando a vida tem um fim bom, intrínseco. A outra tem um fim ruim. A primeira ação é boa e bela, a segunda é má e feia.

Dois médicos em duas salas vizinhas de um sanatório, um hospital. Ambos estão na sala de cirurgia, um está dando uma injeção num cliente, com uma perícia extraordinária. Uma injeção muito bem escolhida, para fazer com que aquele cliente viva. Ele está com aquele gorrinho branco, com aquela história toda de médico, pega a agulha de injeção, escolhe bem e psss… ele se revela um grande técnico. Técnico porque escolheu bem o remédio; técnico porque ele está trabalhando para a cura daquele homem. A finalidade é uma finalidade excelente. Ele é médico e está curando alguém.

Bom, na sala vizinha tem outro médico, está fazendo uma injeção também dificílima, no mesmo órgão, de um outro cliente. Mas ele está injetando um veneno. Porque ele tem um interesse “X” em matar aquele homem. Eu não posso dizer que as duas ações são igualmente bonitas. Por quê? Porque dar a saúde a alguém é uma ação honesta e, mais do que isso, boa, louvável. Bem, pelo contrário, tirar a vida a alguém é um crime, é um assassinato! Agravado pelo crime de traição. Porque o doente deposita um ato de confiança no médico. O médico abusa dessa confiança para matar o cliente. Em miniatura é um Judas Iscariotis. Não tem por onde escapar. Mas, se é assim, então a ação é má.

Eles estão fazendo uma coisa muito bonita, porque eles estão servindo contra a Reforma Agrária. Então, os senhores estão compreendendo a importância da finalidade, que os senhores, na primeira análise, não lhes tinha ocorrido. A importância da finalidade na reunião de ontem.

* Razão da luta contra a Reforma Agrária

Agora, por que combater a Reforma Agrária é bom? Por que trabalhar pela Reforma Agrária é mau? Vamos, vamos… nós estamos perto do porto! Não demora muito, estamos perto do porto. Por que é que ser contra a Reforma Agrária é bom, por que é que ser a favor da Reforma Agrária é mau? Em outros termos: por que a Reforma Agrária é um mal, por que é que manter a atual situação é um bem? Aí chegamos ao fim.

Para dar uma razão simplicíssima, mas que entra pelos olhos, o problema é mais complexo, não cabe na noite de hoje. Mas, enfim, para dar uma razão simplicíssima, é a seguinte. Deus, quando criou o homem, criou o homem dotado de razão. Quer dizer, ele tem inteligência e tem vontade. E a inteligência e a vontade são destinadas, evidentemente, para que o homem compreenda (inteligência) e queira (vontade). Portanto, o homem tem na sua mente a lanterna que guia os seus passos. E ele tem na sua vontade, o volante que orienta suas rodas. Ele tem, portanto, pela natureza que Deus deu a ele, ele tem o governo de si mesmo.

Mais ainda, Deus deu ao homem fome, sede, necessidade de remédios, uma porção de necessidades. Mas Deus deu a cada homem fundamentalmente, um meio de atender a essa necessidade. E esse meio é o trabalho. Deus deu a outros homens, um outro meio, que não é de trabalhar para pegar, mas é de levar uma vida muito mais calma.

Todos os países dos senhores, a menos que algum seja suíço ou seja paraguaio, todos os países dos senhores dão no mar. E sabem, não sei se os da América do Sul tem uma vida como os caipiras do mar brasileiro. Os senhores devem ter visto no mapa que o litoral brasileiro é enorme. Mas é enorme, não é? E os caipiras constroem casas junto ao mar. Quando chega assim, uma hora ou duas antes do almoço, o caipira grita para o filho: “Vá pegar o almoço”. Ele toma o barquinho, vai lá no mar, pega uns peixes – nosso mar tem peixe em quantidade – pega uns peixes, traz.  A mulher ou a mãe dele, frita, não sei como é que arranja aquele peixe. Eles comem… foi pegar o almoço no armário. O armário que Deus pôs lá é o mar.

Aquilo pode ser tão fácil, que não seja um trabalho. Às vezes é uma lagoa, fervendo de peixes, ali perto. Vai lá, pega. É uma “frigidaire” [geladeira] que Deus pôs para ele lá. Ele tem direito a isso? Tem, porque Deus criou aquele peixe para os homens. Aquele peixe não tem dono, ele tem fome e ele tem braço. Vai lá, pega um peixe e come.

Está na natureza, portanto, que o homem seja dono do produto do seu trabalho, porque se ele é um homem… vamos dizer, um homem percebe que se ele vai no mato, se ele andar dez, vinte horas, ele consegue uma comida para a família dele. Mas que isso é uma coisa duríssima! Então, que ele pegando as sementes, e plantando no chão da casa dele, de que ninguém é dono, ele faz uma plantaçãozinha para ele ali, e aquilo começa a dar regularmente. Ele plantou, trabalhou. Porque a semente não tem dono, está pendurada na fruta do mato; porque aquele chão ainda não tem dono. Os senhores já pensaram o chão do Brasil, quando aqui chegou Pedro Alvares Cabral? Não tinha dono. Quando chegou no Canadá, quando chegou nos Estados Unidos, quando chegou em toda América, não tinha dono. Eles chegaram lá e começaram a ficar dono do que encontraram lá. Deus deu aquela terra para um ficar dono.

Um ficou dono pelo seu trabalho. O outro, verificou que aquela lagoa está cheia de peixe e disse: “eu vou morar aqui”. Faz a casa dele lá, ficou dono. Então, um pelo trabalho – plantou – outro pela apropriação: está ali, eu pego para mim. Não tem dono, eu pego para mim. Eu sou dono de toda essa lagoa, pronto, acabou. Ficou dono.

Bem, isso tem uma relação entre a coisa e o homem e Deus. Deus criou a o homem, e criou a coisa para o homem. Como o homem tem necessidades que se renovam, ele tem direito a plantar, a fixar uma casa num lugar, onde ele possa sempre comer e viver sossegado com os seus. Esta é a origem do direito de propriedade. É com isso que o homem é proprietário.

A gente dirá: está bom, mas e o filho, que não trabalhou para comer? O filho? Mas o filho é carne da carne, sangue do sangue de seus pais. O filho é meio o próprio pai. E o que é do filho é meio do próprio pai. A herança é tão do direito natural, que há moralistas católicos que sustentam que os filhos têm uma espécie de co-propriedade do que é dos pais. E eu acho isso uma coisa razoável, tal é a união, o vínculo da natureza posta por Deus. O filho tem o direito de herdar. Deus fez isto assim!

Agora, vem os homens comunistas que dizem: não existe Deus. O homem não tem, portanto, em Deus o fundamento dos seus direitos. O direito de propriedade não tem fundamento, e nós vamos tomar.

Esses indivíduos pecam contra dois mandamentos, que num dos atos mais augustos da história da humanidade, foram revelados ao homem. No alto do Sinai, Deus entregou a Moisés a tábua com os Dez Mandamentos. Coisa augusta, venerável entre mil. Nestas tábuas estava escrito, entre outras coisas: “Não furtarás; não cobiçarás o que é do próximo” – internamente não pode querer o que e do próximo.

Portanto, o agro-reformista ou comunista, cobiça e depois rouba. Porque a Reforma Agrária consiste nisso: chega para o proprietário e diz:

–       Eu te dou 1/5 do preço da sua terra. Ponha-se daqui para fora. Aqui agora é de seus colonos.”

– Por quê?

– Porque nós gostamos mais assim, está acabado.

Então, sair na alegria da alma, sair na alegria do entusiasmo, defender esse direito, é uma coisa muito boa.  Quando a gente sai para defender, não apenas o direito de um outro, mas um princípio no qual se apoia esse direito, que é o princípio da propriedade privada, tornar-se melhor ainda. Mas, melhor ainda, santo, é quando a gente diz: Não, é porque esse princípio foi revelado por Deus! Sanctus, Sanctus, Sanctus, Dominus Deus Sabaoth – Tu és Santo, oh, Tu és Santo, oh, Tu és Santo, oh Senhor Deus dos exércitos! Eu vou defender a Tua lei!

* Paz na Terra aos homens de boa vontade, e guerra na Terra aos homens que não cumprem a Lei de Deus

Bem, então, os senhores fizeram um raciocínio que explica aos senhores a beleza… fizeram um raciocínio! Eu vou provar por meio de outro raciocínio. Um alpinista… os senhores têm mais Pirineus e Andes, do que Alpes, aqui. Um homem dos Pirineus, dos Andes, ou então das Montanhas Rochosas, etc., que explica aos outros como subir, e vai na frente dos outros subindo até o alto, eu não posso dizer que só ele que subiu. Os outros subiram com ele! Me parece uma demonstração muito boa!

Nós subimos à mesma conclusão juntos. Vale muito mais do que fazermos um passeio juntos. Bem, e então, fazer isto, os senhores percebem agora toda beleza do que ontem se fez. Um velho Mandamento eterno, dado por Deus no alto do Monte Sinai, no meio das coruscações e dos raios, Moisés transido diante da glória de Deus, e Deus que se faz a conhecer a Moisés, e que lhe revela a sua Lei.  A Lei que explica toda a ordem que há nas relações humanas: os Dez Mandamentos. Explicam tudo. Tudo seria caos se não houvesse os Dez Mandamentos. Tudo é ordem desde que os homens conheçam e sigam os Dez Mandamentos!

Noite de Natal… os anjos cantam: “Glória a Deus no mais alto dos Céus, e paz na Terra aos homens de boa vontade.”  Que beleza! O que é essa paz na terra aos homens de boa vontade? Quais são os homens de boa vontade?   São os homens que querem o que Deus quer. E o que Deus quer? É o Mandamento dele. Paz na terra aos homens que cumprem a Lei de Deus.

Eu concluo: guerra na Terra aos homens que não cumprem a Lei de Deus. Vamos tentar convertê-los, vamos esclarecer, vamos bombardeá-los com as santas bombas do raciocínio. Para isso, os nossos jovens levam um livro raciocinado.

Paz na Terra aos homens de boa vontade, porque se respeitarem esses mandamentos, se evitarem essa Reforma Agrária, haverá paz na terra e a fertilidade da terra brasileira continuará a crescer, crescer, crescer para realizar o plano de Deus no mundo, que é a prosperidade de todos os homens, dentro da lei de Deus.

Agora, vem uma explicação indireta de um ponto. Porque assim pensa o homem. Os senhores vão ver e vão achar interessante. Por que riem?… Bem, vão achar interessante. Os senhores, de um modo mais ou menos, os senhores tinham uma certa noção disso e sabiam que essa era a finalidade. E os senhores sabiam que isso era conforme a lei de Deus, etc. Mas os senhores se entusiasmaram também, porque os senhores sentiram no ambiente, sentiram no ato, a beleza moral do entusiasmo que habitava na alma deles. Os senhores gostaram de conviver com almas habitadas por aquela beleza moral. Os senhores acharam bonito ver neles aquele entusiasmo. Os senhores acharam bonito ver neles aquela deliberação. E vendo-os entrar aqui com as alabardas, e cantando etc., todos nós nos entusiasmamos, porque nós achamos belo ver aquilo.

E os senhores pensaram um pouco assim: se é para ser desses, eu quero ser, porque isso é belo e bom. Os senhores tiveram uma alegria em vê-los e dizer: “como é belo isto assim!”. Por quê? Porque os senhores viram homens de boa vontade. Homens que amam a Deus, e que estão resolvidos até a expor a sua vida por amor a Deus: isto é a boa vontade. O auge da boa vontade é o heroísmo. Os senhores viram rapazes que estão dispostos a serem heróis. E o que o serão – ninguém está certo de ser herói, a não ser depois de ter sido – e o serão se eles rezarem, pedirem e prepararem a sua alma. E isto era o que os senhores tinham mais imediatamente diante de si. Os senhores não tinham imediatamente diante de si todos esses raciocínios. Mas os senhores tinham imediatamente diante de si o bom, o belo e o verdadeiro, que correspondia àquelas almas com que os senhores tratavam, aquele ambiente que estava aqui. Os senhores disseram: “Isto também, o que há de melhor em mim, vai nessa direção!”. Aquilo atraiu aos senhores.

Mas como os senhores lucraram, como os senhores lucraram em conhecer o raciocínio. Não acham que lucraram?

(Sim.)

* Além do raciocínio, a explicação psicológica dá vida ao tema

Bem, então qual é o resultado? Os senhores se soubessem só o raciocínio, e não tivessem visto a linda cerimônia de ontem, os senhores me dariam a impressão de erva seca que a gente guarda num livro. Abre… está lá, é aquilo, é uma flor, uma rosa. Alguém guardou uma rosa num livro. Ela secou, ficaram lá as pétalas. Pode ser uma coisa muito respeitável! Mas outra coisa é a vida da rosa.

Então, é bonito admirar a rosa, cheirá-la, encantar-se com ela, e saber como ela funciona, como ela é por dentro, e saber que papel ela ocupa no conjunto das flores. Não ficar apenas na impressão, nem ficar sem impressão. Mas, uma posição humana completa: eu entendi, eu senti, eu gostei! Eu raciocinei e articulei isso com o seu fim. E amei sobretudo pela alta finalidade: Deus, Nosso Senhor, Jesus Cristo, o Filho de Maria.

Então, estão dadas duas explicações. Os senhores, depois desta reunião, eu presumo pelo menos, que saem com uma ideia ainda mais clara do que sentiram ontem e do que houve ontem. Bem, de outro lado os senhores saem com uma idéia mais clara de como os senhores devem ser. Saem com um programa. E o programa é: não ser um menino parecido com flor seca, primeiro prêmio de colégio daquele tempo; nem ser o menino irracional, turbulento e feito de sensações, que era certo outro gênero daquele tempo. Mas, o menino completo, que sabe pensar, sabe lutar; sobretudo, sabe rezar, sabe amar a Deus e sabe querer o mais alto fim das coisas, que a razão e sua fé lhe apontaram: Glória a Deus no mais alto dos céus.

Aqui está, meus caros…

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