A doutrina dos auges: em meio às trevas do auge do pecado começa a raiar o Reino de Maria

Auditório São Miguel, Encerramento de Simpósio em Amparo (S. Paulo), 19 de julho de 1985

A D V E R T Ê N C I A

Transcrição de gravação de conferência do Prof. Plinio com sócios e cooperadores da TFP, não tendo sido revista pelo autor.

Se Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério da Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como homenagem a tão belo e constante estado de espírito:

“Católico apostólico romano, o autor deste texto  se submete com filial ardor ao ensinamento tradicional da Santa Igreja. Se, no entanto,  por lapso, algo nele ocorra que não esteja conforme àquele ensinamento, desde já e categoricamente o rejeita”.

As palavras “Revolução” e “Contra-Revolução”, são aqui empregadas no sentido que lhes dá Dr. Plinio em seu livro “Revolução e Contra-Revolução“, cuja primeira edição foi publicada no Nº 100 de “Catolicismo”, em abril de 1959.

 

Meus caros, quando se fazem as separações na vida de um homem, desde as pequenas separações próprias à vossa jovem idade, até as grandes separações que se encontram no caminho da vida – e até certo ponto esta é uma separação que já não é pequena, já é uma separação grande, porque vós estivestes inteiramente unidos durante estes dias, com gente das quais alguns já eram vossos conhecidos, e outros não eram. E, entretanto, levastes uma vida de afinidade de ideais, afinidade de corações, afinidade de entusiasmo, muito grande, que tereis dificuldade de encontrar aí fora.

Pois bem, já nesse momento de separação, isto é assim. A gente procura, na hora de separar, tomar uma ideia dominante, uma ideia preponderante, daquilo que deixa, para levar como uma recordação.

As senhoras fazem isto graciosamente. Antes de sair de uma casa, onde elas passaram uma temporada muito agradável, elas gostam de descer ao jardim, colher uma rosa, elas gostam de tirar uma fotografia… elas gostam de guardar consigo uma bonita folhagem, alguma coisa, alguma recordação poética daquilo que elas viveram.

Nós, homens, somos diferentes. As rosas, as folhagens, as fotografias nos dizem alguma coisa… Nós queremos outra coisa. Nós perguntamos, por exemplo: “Está bem, que ideia resultou disso? O que é que ficou? que princípio eu levo? que orientação eu levo? que proveito eu vou tirar para meu bem, dos ideais que desfilaram diante de mim, como uma cavalaria sublime – que diretriz que eu vou levar para minha vida? Desvendou-se para mim um ideal. Eu serei fiel a este ideal? Eu medi toda beleza desse ideal e me senti atraído. Eu terei forças para perseverar nesse ideal? O que é que eu farei?”

São perguntas que se põem. E estas são as perguntas que para nosso espírito varonil são as perguntas sérias, a verdade substanciosa de que nossa alma tem desejo.

Eu creio satisfazer a este desejo vosso, perguntando o que deduzir de tudo quanto vistes. O que levar como recordação de tudo quanto vos foi dito?

Eu, infelizmente não tive tempo para ir a Amparo nesses dias. Como me teria agradado fazer-vos uma visita, e termos uma conversa. Uma conversa que representaria para vós o que será para estes que já têm a idade dos senhores seus pais, e até dos senhores seus avós, os que vem para o Encontro próximo de Correspondentes Esclarecedores. Há conferências. Mas, existe uma sessão que é assim: “Perguntem e Dr. Plinio responderá”. Eu me sento numa sala, assim com cadeiras dispostas mais ou menos como estas, e todos os Correspondentes Esclarecedores perguntam o que quiserem. Os senhores, as senhoras, os moços, os que já não são tão moços; os que não são nenhum pouco moços, perguntam o que entenderem. Eu respondo o que sei. Nós nos saímos tendo nos entendido bem.

Como eu gostaria de fazer para estes meus enjolras uma sessão dessas! Podia a gente intitular assim: “Os enjolras perguntam, o Dr. Plinio responde”.

Mas, eu pensei quase em fazer uma sessão assim agora. Mas eu cheguei à conclusão de que era impossível. Tantas perguntas, exigindo tantas explicações, quando batesse meia-noite – e já são 21:10h -, quando batesse meia-noite nós estávamos ainda na metade. Então eu resolvi tomar uma pergunta que pode representar o centro, a melhor de todas as perguntas que vós me faríeis. É esta pergunta que eu acabo de anunciar.

Qual o princípio, qual a ideia, qual o ponto a levar ao qual eu devo pensar, o que representa o proveito que eu posso tirar de minha vida, desses três dias que tive aqui?

E como eu soube que foi exposta para vós a muito bela doutrina dos auges, eu pensei em dizer alguma coisa a respeito disso.

Os senhores vivem numa época de auge. Nossa Senhora os protege, os encaminha, nessa vida onde Deus vos chamou ao mundo para viver numa época de auge.

Nós vivemos num auge que é o auge da paganização, o auge do abandono da Religião Católica; o auge da deterioração dos princípios católicos, até nos meios católicos. E isto não é só uma convicção que eu tenho, e que têm os que andam comigo por esta estrada, esta larga via, mas é uma convicção que se deduz das próprias palavras de Nossa Senhora em Fátima ao gênero humano.

É uma mensagem de Nossa Senhora que começa por abrir os olhos do mundo, sobre a situação em que o mundo está. E depois de ter aberto os olhos para esta situação, Ela diz qual é o programa dEla. Mais ainda. Mais – quando eu digo mais do que dEla, só posso falar de Deus, porque acima dEla só há Deus. Mais, são as intenções da Providência divina, que Ela comunicou aos homens.

No que é que está esse auge? Nós devemos tomar a moral católica tradicional, como ela foi ensinada e foi praticada pela Igreja Católica durante dois mil anos. E que não mudará até o fim do mundo. Nosso Senhor fez esta promessa: “As portas do inferno não prevalecerão contra Ela”. E de fato não prevalecerão. As portas do inferno são a representação do demônio. Não poderão vencer a Santa Igreja Católica, Apostólica, Romana.

No dia em que Ela aceitasse a renunciar um só princípio ensinado por Nosso Senhor, para aceitar um princípio ensinado pelo demônio, neste dia Ela estaria derrotada.

De maneira que nós devemos então tomar a moral tradicional dEla, e nós devemos considerar esta moral como uma coisa que nunca passará, e à qual nós seremos fiéis até o fim de nossas vidas!

Tomando esses princípios, nós devemos nos perguntar o que pensar do mundo contemporâneo. E o que nós devemos pensar, eu volto a dizer, não resulta apenas da nossa observação, da vossa jovem observação. Da vossa jovem observação, já muita coisa conforme às condições de vida de cada um varia, já muita coisa vários dos senhores poderão ter observado.

Se nós perguntarmos: A, B, C, D que eu conheço em tal lugar, que eu vi em tal outro: nesse ônibus onde eu estou viajando, neste trem onde eu estou viajando – aquele, aquele, aquela, enquanto eu estou aqui, o que é que estão fazendo? Eles estão cumprindo os Mandamentos da Lei de Deus? É uma pergunta! Se se trata da moral católica, a pergunta é esta.

Agora, o que é que nós vamos ver? Está voando em cima um avião. É pecado voar de avião? Evidentemente não. Agora, o que é que estão fazendo as pessoas que estão viajando no avião? Há muitos aviões que viajam com cinema dentro, para distrair os que estão voando. De maneira tal que se o avião cair, eles se dão conta do perigo apenas na hora de morrer…

Os senhores acham que é provável que as fitas que passem na maior parte desses aviões não tenham nada de imoral? Os senhores acham mais provável que pelo menos em boa parte estas fitas são imorais? Os que acham esse segundo caso levantem o braço…

Agora, a fita imoral ao que é que conduz? A gente fixa os olhos na fita imoral, e tem uma tentação. Se consente na tentação, cometeu pecado mortal. Não tem por onde escapar. É isto! Agora, vendo a fita imoral, quantas pessoas estão cometendo pecado mortal naquele avião?

Bem, mas não é só isto. Se fosse só isto. Chega em casa, o que viu na fita volta para a mente. Quando a gente deita – os senhores têm essa experiência, é uma coisa humana -, a gente se deita na cama, antes de dormir, não tem que pensar na cama! A cama está fixa, está em cima de quatro pés. O assoalho está seguro, o teto está seguro, a roupa de cama está bem presa na cama, nós não temos que pensar na cama. No que é que nós vamos pensar? No dia que se foi. E é tal pessoa que nós vimos, e aquilo, aquilo outro… de repente entra pelo meio a lembrança do cinema.

Os senhores têm experiência disso! Não estou lhes contando nada de novo. Aparece a tentação. É ou não é verdade que essa tentação pode dar lugar a um outro pecado ali mesmo? Os senhores sabem que é. Não adianta dizer que não é, porque os senhores sabem que é. Se é assim, daquela fita de cinema, quantos pecados depois aconteceram no chão, depois que o avião pousou? Quando chegar a noite e aquele avião está percorrendo a terra inteira, passando a fita durante um mês… É ou não é um cinturão de pecado traçado em torno do mundo?

Os senhores tomem o caso de uma moça. Ela se veste de um modo imoral. Ela passeia pela rua, e vai por exemplo fazer compra no centro da cidade. Vamos dizer até que tenha, que seja uma moça que tenha alguns sentimentos, algumas disposições de piedade. Ela passa diante de uma igreja, entra, reza um pouco – não é comum – reza um pouco. É uma moça, portanto, que tem algo de bom na alma dela. Mas, quantas pessoas ela tentou pelo caminho que seguiu? E daqueles que ela tentou, quantos pecaram?

Esta pobre moça, quando chegar em casa, é responsável por quantas ofensas a Deus?! Para fazer o cálculo, é isto, não tem conversa!

Os senhores vão ao barbeiro, vão cortar cabelo. Olha para o homem ao lado; ele está lendo uma revista. Os senhores fixam a vista para perceber o que é, é uma revista pornográfica. E às vezes quem está folheando esta revista pornográfica é um homem de 60, 70 anos! Que exemplo ele dá para os filhos dele? Que exemplo ele dá aos netos dele? Ele levou ou não levou muita gente ao pecado, se ele tem o hábito de ler revistas pornográficas? Às vezes são gerações, quatro, cinco gerações corrompidas, porque esse homem tinha o hábito de ler revistas pornográficas.

Eu não estou dizendo aos senhores nada de novo! Um pouco de observação da vida é isto. E o pior não é isto. É a televisão! O lar é um santuário. Nele só deveria entrar aquilo que não ofende a Deus. Aquilo que, pelo contrário, serve a Deus! Isto que devia entrar no lar, é evidente! O que é que a televisão esguicha para dentro dos lares, o dia inteiro? O dia inteiro, a noite inteira, o que é que a televisão esguicha?

Quem aqui poderá levantar o braço e dizer: “Dr. Plinio, eu conheço uma estação de televisão que não publica nada de imoral o dia inteiro!” Os senhores conhecem? Se conhecerem levantem o braço, porque eu vou passar a ser propagandista dessa televisão! Os senhores acham a pergunta até ridícula, porque é tão evidente que não é assim, que é evidente que é!

Agora, os senhores já pensaram uma televisão, quantas ocasiões de pecado solta aos borbotões dentro de uma casa? Eu ouvi falar de casas em que, desde manhã, o primeiro que levanta liga a televisão. E depois a televisão fica até o último que deita. E às vezes o último que deita “zupa” [esquece] de fechar a televisão, e quando o primeiro acorda nem tem o trabalho de ligar a televisão, porque aquilo… não acaba mais.

Quantas ocasiões de pecado entraram nesse lar? Agora, essas ocasiões de pecado não levam as pessoas ao pecado? É claro! Os senhores veem alguém falar numa casa onde há televisão: “Agora vamos cortar, porque chegou a hora de um programa imoral”? É raro! É raro! Agora, isto não conduz ao pecado? Conduz. Se conduz ao pecado, nós devemos reconhecer que o mundo está imerso no pecado.

O que quer dizer isto? Que não há gente boa no mundo? Evidentemente há. Mas, o que quero dizer quando digo que o mundo está imerso no pecado, quer dizer o seguinte: que de um modo geral, salvo as exceções, a maior parte das pessoas vive em condições tão difíceis para manter a virtude, que cai no pecado. Isso é o mundo que está imerso no pecado.

É como eu dizer por exemplo: “São Paulo está imersa na poluição”! Eu não quero dizer que de vez em quando não bata um vento bom e fresco, e sem poluição em São Paulo. E que então em todas as ruas de S. Paulo está havendo poluição. Não quer dizer isto. De um modo geral, de um modo geral, a poluição paira em São Paulo.

Nesse sentido também, de um modo geral, o pecado paira sobre as grandes cidades contemporâneas.

Os senhores veem as modas. Eu alcancei tempo em que as senhoras usavam saia até o tornozelo. E se se perguntava por que, a explicação é: porque o pudor pede que uma senhora use saia até o tornozelo. Está bom. Dali a pouco lançam em Paris moda nova: a saia fica entre o tornozelo e o joelho. “Bomm!” Escândalo etc., “mas, afinal de contas, não é uma ocasião grave de pecado, de maneira que se pode tolerar”. Lança-se.

Daí a alguns anos, a saia sobe para o joelho. Agora, até onde ela subiu? Os senhores têm certeza de que daqui a alguns anos não tem gente andando de biquíni na rua?

Agora, quer dizer, não só o mundo de hoje vive no pecado, mas caminha para pecados cada vez mais graves. Muito simplificadamente, muito resumidamente, é um auge!

Há gente que luta contra o pecado? Há almas boas pelo mundo inteiro que lutam contra o pecado. Mas, elas são muito menos numerosas e muito menos poderosas. Os senhores ouviram falar de um grande cotidiano que luta contra o pecado em todas as suas edições? Eu pergunto jornal diário. Tem? Tem pela Europa, um ou outro, uma coisa rara, pela América, um ou outro, uma coisa muito rara. Os senhores vão comparar estes jornais, os melhores, são sempre pequenos em relação aos maiores. E os maiores são sempre jornais que fazem a propaganda do pecado.

Ainda outro dia eu estava conversando com um repórter de uma revista japonesa que veio me entrevistar, e eu perguntei para ele qual era a tiragem do maior jornal de Tóquio. Os senhores sabem qual é a tiragem? 9 milhões de exemplares por dia!

Os senhores sabem que São Paulo tem dois jornais diários grandes: “O Estado de S. Paulo” e a “Folha de S. Paulo”. Cada um desses jornais, pelo que eles contam, tira mais ou menos 250 mil exemplares por dia. Vejam a diferença! Um anúncio imoral de cinema, ou de hora imoral de televisão, que saia num desses jornais com tiragem de 9 milhões – calcula-se que cada número de jornal é lido por 5 pessoas –, são 45 milhões de pessoas que podem tomar conhecimento do anúncio! Uma fotografia imoral de um campeonato de natação, por exemplo, num jornal desses, são 45 milhões de pessoas que podem ver…

Qual é o poder do pecado em nossos dias? Para falar só disso. Se nós fôssemos falar de outras coisas, por exemplo “não roubar”! Não roubar, não fazer negócio, em que no negócio se apodera de uma parte do dinheiro que pertence ao outro. Quantos é que hoje não roubam?

Nosso Senhor, falando aos homens do tempo dEle, chamou-os de “geração de adúlteros e de ladrões”. Os senhores sabem o que é um adúltero. É aquele que coabita com a mulher de um outro; ou aquele que é casado e que coabita com uma mulher que não é a esposa dele. Todo casal que se constitui sem que o homem e a mulher sejam marido e mulher, esposo e esposa constituído diante da Igreja, vive no adultério, ou então vive no concubinato. Quantos casais há assim pelo Brasil? Pela Argentina? E por este, por aquele, por aquele país? Quantos há? O mundo vive imerso no pecado!…

Aí se compreende que Nossa Senhora tenha aparecido em Fátima, na Cova da Iria, em 1917, e aos 3 pastorzinhos, que eram Lúcia, Francisco e Jacinta, que eram aparentados entre si. E aos 3 pastorzinhos, Ela tenha dado a mensagem que deu. Ela apareceu e descreveu o mundo como estava, e fez ver numa das suas visões, as almas dos mortos que iam para o inferno em quantidade. Ela fez ver isto! Está nas revelações. Em quantidade! Para que os vivos vissem quantos mortos se perdem. E disse que Ela avisava que esses pecados do mundo estavam se tornando cada vez mais graves. E que Ela não conseguia pelas orações dEla conter o braço de Nosso Senhor, o braço justiceiro de Nosso Senhor estava para despencar o Seu castigo. E que Ela, portanto, para que esse castigo não viesse, Ela dava um aviso que todos tratassem de emendar a sua vida, e que não caíssem mais no pecado.

Depois Ela recomendou, além disso, que o Santo Padre consagrasse o mundo e a Rússia ao Imaculado Coração de Maria, e na mesma hora todos os bispos do mundo fizessem a mesma consagração. E deu mais algumas condições que eu não tenho bem presente no momento.

Bem, estas condições foram cumpridas? Nenhuma delas. Inclusive, quanto ao pecado, escandalosamente foi o contrário! Na ocasião mesmo Ela disse: “Se não se emendarem, virá outro castigo sobre o mundo”. E Ela deu dois sinais: a Rússia espalhará seus erros por toda a Terra. Depois, muitas nações desaparecerão… E daí por diante.

E para dar para os homens aquilo que hoje se chama a vivência do castigo, Ela fez a famosa aparição do sol. Eu não conheço uma história da aparição de Nossa Senhora em que Ela tenha aparecido metendo medo de castigo físico, nas pessoas que estavam presentes. Ela é Mãe. E a Mãe, quando encontra seus filhos, gosta de dizer uma palavra amável, afetuosa… é o que o Coração dEla pede. Ela disse essas palavras, mas não disse só isto. Ela disse palavras de ameaça! Em certo momento Ela fez com que o sol começasse a girar de modo a meter medo em todo mundo. E de repente caminhasse como se fosse despencar sobre a multidão reunida em Fátima, e fosse esmagá-los! De onde eles se espalharem correndo por todos os lados!

Por quê? Porque Ela quis meter medo neles, para eles compreenderem o que podia acontecer.

Bem, depois Ela disse outra coisa: a Rússia espalharia seus erros etc. Na época em que Ela falou, na Rússia não se espalhava nenhum erro especial. Era a velha religião greco-cismática, bolorenta e sem capacidade de expressão. Rompida com a Igreja Católica, e como um ramo seco que quebrou do galho está apodrecendo no chão. Era isto a religião greco-cismática. Não estava espalhando em nenhum lugar. Quais eram os erros da Rússia? Parecia um absurdo! Meses depois, Lenin estava subindo ao poder na Rússia, e começava a propaganda do comunismo no mundo inteiro. Quer dizer, Ela fez uma profecia, e a profecia se cumpriu.

Este é o quadro que nós temos diante de nós.

O que tem feito a TFP nesse quadro?

A TFP tem feito o possível para que a “Bagarre” (*) não venha. Todas as campanhas que nós fazemos, são para evitar que o mundo afunde ainda mais no pecado; são para incentivar que o mundo caminhe na linha aconselhada por Nossa Senhora, e para fazer com que o mundo caminhe na linha aconselhada por Nossa Senhora.

Se, por exemplo, a TFP tivesse meio de falar a todos os jovens da terra no momento, o que é que eles estariam ouvindo de mim? O que estão ouvindo os senhores! E se eles estivessem ouvindo de mim o que estão ouvindo os senhores, eles estariam ouvindo palavras que levam à virtude, palavras que levam à emenda da vida.

Se simplesmente os moços da idade dos senhores ouvissem essas palavras e atendessem, se fosse simplesmente isto, podia se ter esperança de que o mundo começasse a voltar à sua posição católica verdadeira, e o espectro da “Bagarre” se afastaria. Isto é o que a TFP está fazendo!

A TFP deve lançar dentro das alguns dias um livro contra a Reforma Agrária! Agora, o que é a Reforma Agrária? É a aplicação ao Brasil de um regime sócio-econômico que fica a pouca distância do comunismo. E o que é o comunismo? É uma ordem de coisas feita de tal maneira que, tudo quanto é pecado é permitido pela lei, e tudo quanto é virtude é perseguido pela lei. Para simplificar enormemente, é assim.

Nós queríamos evitar o comunismo. Se o comunismo tomar conta do mundo, o castigo vem. Lutando contra o comunismo, nós lutamos contra o castigo.

Agora, nós queremos que ainda que o mundo não se emende, o castigo não venha? Se Deus não quer, nós vamos querer?… É claro! Quer dizer, começa a “Bagarre” etc., nós começamos a blasfemar contra Deus porque nós não queríamos a “Bagarre”? Deus nos livre! Que a vontade dEle se faça!

Nós podemos rezar, nós podemos agir para que os homens se emendem! Mas, se os homens não se emendarem, e Ele entender que a misteriosa medida dEle para suportar os pecados dos homens está tão cheia que nem as preces de Nossa Senhora podem mais contê-lo, nós havemos de querer que Ele não mande esse castigo? Não tem cabimento.

Bem, agora, acontece que isto é sempre assim: quando Nossa Senhora permite o extremo do mal – Nossa Senhora é a Rainha da história, Ela é a Rainha do Céu e da terra; o poder todo é de Deus, mas Ele pôs esta realeza nas mãos dEla. Quando Ela permite que o mal chegue a tal extremo, Ela prepara exatamente o contrário. Ela prepara como desfecho, depois, um reluzimento de glória, de glória!

Este reluzimento de glória e de virtude não nasce assim de um momento para outro. O sol mais brilhante do meio-dia começa a se anunciar na terra de manhã, por algum clarão, por alguma coisa assim.

Não sei se já aconteceu aos senhores, a muitos já deve ter acontecido, estarem acordados quando a noite está tão preta que a gente tem quase impressão que nunca mais raiará o dia… Depois, em certo momento, a gente olha sem esperança para aquele céu negro… “Curioso! Eu não sei onde, mas ele está um pouco mais claro! Não, mas deve ser engano de minha vista!” Daqui a pouco olha de novo: “Não, está clareando!” De uma árvore ouço o pio de um passarinho! Mais adiante um galo canta… E mais adiante de mim, enquanto vai ficando claro, eu vejo uma flor que começa a se abrir! É o sinal de que o sol está vindo!

De repente, de cá, de lá, de acolá, réstias de luz começam a atravessar o horizonte. E diante da primeira réstia de luz, eu tenho certeza: “Virá o meio-dia em todo o seu esplendor”! todos os pássaros noturnos, os bichos malfazejos ou feios, que quando anoitece começam a voar, a sair das suas tocas, a empestar a natureza, fogem da luz e se escondem. E, pelo contrário, tudo quanto é aprazível, tudo quanto é doce etc., começa a brilhar! E dir-se-ia que é outra terra, que é outro céu.

Os senhores devem ter visto, vários ao menos devem ter visto.

Assim também se dá com a história das almas. Quando nós vamos ver bem o que aconteceu, um auge prepara em geral outro auge.

Então, quando nós vemos o que os romanos, os autores romanos do tempo em que Nosso Senhor Jesus Cristo nasceu, dizem do mundo do tempo deles, é uma coisa terrível: eles estão fartos, estão exaustos, acham que o mundo não tem mais saída; que por toda parte não há senão o crime, o banditismo, a imoralidade etc., etc. E eles, autores que lamentam isto, estão metidos também nisso. Não há mais esperança.

Numa hora em que ninguém sabia, com que ninguém contava, uma Virgem que também não contava com isso, estava numa pequena Casa em Nazaré. Estava rezando, estava pedindo a Nosso Senhor que Ela tivesse a graça de ser a escrava, a servidora da Mãe do Messias que haveria de vir. E Ela procurava imaginar como é que seria esse Messias. Ela lia as profecias, e ajudada pelo Espírito Santo, Ela entendia clarissimamente o que essas profecias diziam. E Ela então se punha a conjecturar como é que seria esse Messias. Lenta elaboração, magnífica, em que ponto por ponto Ela ia acertando.

E, segundo certos autores, nessa manhã – e nós podemos imaginá-la como esse período da madrugada que vai começando a ser manhã – já Ela estava na Sua Casa, com a bíblia diante de si, folheando os rolos, e meditando, e rezando etc., quando de repente aparece para Ela um Anjo! E o que aconteceu com Ela? Ela se perturbou! Por que o Anjo parou diante dEla e disse: “Ave Maria, cheia de graça, bendita tu és entre as mulheres, e bendito é o fruto de teu ventre, Jesus”.

Ela ficou desconcertada, ficou pasma. E o Evangelho diz isto, que Ela ficou perturbada, e pensava o que era essa saudação, porque Ela, na Sua humildade, não achava que aquilo dizia respeito a Ela. O Anjo então disse que era desígnio de Deus que o Espírito Santo agisse nEla, como Esposo, sem prejuízo da virgindade perfeita dEla, e que esse Filho seria o esperado das nações, o Filho de Deus que haveria de trocar tudo, e tudo ficar completamente diferente!

Começou a mais pura e límpida réstia de luz de toda a história. O Verbo de Deus se encarnou e habitou entre nós. E começou a história do Cristianismo, a história da Religião Católica, Apostólica, Romana. Outra era, outras graças…

Nosso Senhor no silêncio – primeiro nasceu em Belém, depois teve toda a existência que os senhores sabem; e em determinado momento Ele começou Sua vida pública. Ele tinha então 30 anos, e estava atingindo a idade perfeita do homem. A idade perfeita do homem são 33 anos. Ele tinha 30 anos; separou-se de Nossa Senhora; São José já tinha morrido. Ele começou a pregar.

Os milagres! As parábolas! Os povos se entusiasmaram com Ele! O povo saía correndo atrás dEle! Toda a palavra dEle deslumbrava! Toda ação dEle santificava! Por ordem dEle, todas as doenças se curavam! Não havia coisa que, nEle, que não atraísse o povo! Era o que? Depois de um auge de mal o auge de bem que começava a florescer!

Mas, os auges nem sempre nascem assim, como um rojão que sobe ao céu. Eles têm um nascimento duro, um nascimento difícil. O apostolado de Nosso Senhor foi felicíssimo no primeiro ano, no segundo começaram as “máfias” [calúnias], os maus começaram a se mover com medo e com ódio dEle. No primeiro ano eles achavam que aquilo era um literato, era um filósofo, um sonhador, que aquilo ia passar. Mas, quando viram que estava pegando, tiveram medo.

No terceiro ano, Ele já tinha ganho tanta força que, quando Ele entrou em Jerusalém o povo cantava e colocava tapetes no caminho que Ele percorreu montado sobre um jumento, e cantava “Hosana ao Filho de David”. Ele era descendente de David, Rei de Israel. Eles não podiam permitir. A “máfia” chegou ao auge, e começou o processo.

Os senhores sabem todo o resto. Sabem que chegou até o mais trágico da história, o momento da morte dEle. Em que o sofrimento dEle chegou a tal ponto, que Ele clamou: “Meu Deus, meu Deus, por que Me abandonastes?” Nossa Senhora soluçava; as Santas Mulheres soluçavam; os Apóstolos estavam dispersos… Eles também não tinham perseverado.

Todos fugiram. Aos pés da Cruz apareceu o Apóstolo Virgem, São João Evangelista. Ele recebeu um presente incomparável! Nunca ninguém recebeu presente igual. Ele recebeu de presente Nossa Senhora! E foi dado de presente a Nossa Senhora por Nosso Senhor. Ele disse aí: “Mãe, eis aí teu filho; filho, eis aí tua Mãe” e o Evangelho diz expressamente que a partir daquele momento São João A tomou como Mãe dele; fez parte do lar dele, Nossa Senhora! Que honra! Que coisa maravilhosa!

Depois disso, Ele expirou dolorosamente! A terra se pôs a tremer. Os homens virtuosos do Antigo Testamento saíram de dentro da sepultura e começaram a passar por Jerusalém, censurando por toda parte os pecados cometidos! Por toda parte! E um terremoto fortíssimo abalou a cidade. Anoiteceu – Nosso Senhor morreu às 3 horas da tarde – anoiteceu pouco depois, quando ainda era dia; e foi no anoitecer que o cadáver dEle foi colocado sobre o joelho de Nossa Senhora; puseram unguentos, bálsamos, de acordo com o rito funerário daquele tempo. Depois puseram na sepultura. E dentro da sepultura fecharam a pedra, e Nossa Senhora foi para o Cenáculo, chorar sozinha! Era o grande abandono!

E, mais uma vez, tinha começado tudo a melhorar, caiu o pior do que antes. Veio o deicídio, esta gente matou Deus! Não há coisa pior! Mas, mas, mas… dias depois, duas santas mulheres foram à sepultura. E foram rezar. E quando chegaram lá, viram a sepultura aberta. E um Anjo sentado sobre uma pedra, que disse a elas: Por que chorais? Aquele a quem procurais ressuscitou! Ressuscitou! Procurai-O em tal lugar.

E aí começaram as aparições dEle etc., e daí começou de novo a luz e o dia a brilhar! Chegou até a Ascensão dEle. Que alegria vê-Lo subir do alto do Monte Tabor, cada vez mais belo, cada vez mais resplandecente… mais… rezando para o Padre Eterno! Com coortes de Anjos acompanhando-O e cantando! E os fiéis no alto do Monte Tabor vendo isso encantadíssimos! Em certo momento Ele sumiu. E agora?…

Um dia Nossa Senhora estava rezando com eles no Cenáculo, houve um estouro. E apareceu o Divino Espírito Santo. E fez cair uma chama sobre a cabeça dEla, que se difundiu por todos os outros. Era Pentecostes. Eles, que eram muito medrosos, saíram de dentro do Cenáculo, e começaram a pregar a Religião Católica.

Isto até hoje não parou. Era um auge, mas um auge de um auge incomparável que só terá sua analogia, sua identidade com o dia, este terrível, o dia do fim do mundo, quando Ele vier a julgar os vivos e os mortos. Ele aparecer com toda a corte celeste, provavelmente só um punhadinho de homens estará vivo, não terá morrido, toda a corte celeste virá com Ele, um brilho, Nossa Senhora, toda Santíssima Trindade… e fará justiça.

“Vinde benditos!” Começa para eles uma eternidade gloriosa, com os corpos deles ressurrectos. “Ide, malditos!” os senhores já sabem o que é. E aí, para todo o sempre, todo o sempre, todo o sempre, fixa-se no auge definitivo e perfeito.

Nós temos o Reino de Maria, que não é invenção nossa – Nossa Senhora disse em Fátima: “Por fim o meu Imaculado Coração triunfará”. É o Reino dEla, é o Reino de que fala São Luís Maria Grignion de Montfort, que falam outros autores da Igreja. Isto não é invenção nossa. Andam aí uns escrevendo que isso é invenção nossa. Eles vão receber dentro de alguns dias as respostas deles…

O que acontece é que virá um dia em que Ela triunfará. O que acontecerá conosco nesta ocasião? O normal que aconteça é que eu não esteja mais nesta terra quando isso venha. Eu tenha morrido… mas, ninguém sabe quando o Reino de Maria virá. Se for amanhã, se amanhã começar a “Bagarre”, quem sabe eu assisto ainda isto. O importante não é que esteja eu… É importante que esteja Nossa Senhora.

Eu tenho esperança – Ela não prometeu isto – mas eu tenho esperança de que Ela apareça nessa ocasião a todos os homens e anuncie o Reino dEla. Quem sabe se os senhores nessa ocasião estarão lá?

Quando a vida estiver difícil, e que os senhores estiverem achando que estão tão longe desses dias benditos de Amparo – um ano é um período enorme na idade dos senhores, passa lento! Quando se diz “daqui a um ano” é mais ou menos daqui a uma eternidade. É, eu sei. Eu já tive a idade dos senhores… Por incrível que pareça! Eu já tive a idade dos senhores! Eu sei como o tempo passa lento.

Está bem, pensem nisto: “Eu vou perseverar, vou perseverar. Vou pedir ajuda a Nossa Senhora e no dia em que o Reino dEla raiar, terá chegado o dia da vitória. Eu terei também um prêmio aqui na terra”.

Nosso Senhor disse que Ele será, Ele mesmo, a nossa “recompensa demasiadamente grande”. E que para aqueles que tenham deixado tudo para segui-Lo, Ele daria o cêntuplo nesta terra e depois o Reino eterno.

Eu vos convido a isto.

A minha última palavra foi o adjetivo “eterno”. É com pensamento de eternidade que eu me despeço de vós. Passou o tempo! Alguns dos senhores já conhecem a frase: “Fugite irreparabile tempus”. Já sabem, já ouviram.

Até logo! Que a todos os senhores Nossa Senhora os acompanhe!

(*) “Bagarre” é uma palavra francesa que indica uma situação de confusão, devida a uma disputa ou uma rixa. O Prof. Plinio a utiliza como neologismo para se referir ao castigo que espera a humanidade se esta não se converter, conforme advertiu Nossa Senhora em Fátima.

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