A Espanha é como um sino para a Cristandade: se ela soa, tudo pode soar para o mundo

Conversa com Correspondentes Esclarecedores espanhóis, Sede do Reino de Maria, 12 de fevereiro de 1986

A D V E R T Ê N C I A

Gravação de exposição do Prof. Plinio, não tendo sido revista pelo autor.

Se Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério da Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como homenagem a tão belo e constante estado de espírito:

“Católico apostólico romano, o autor deste texto  se submete com filial ardor ao ensinamento tradicional da Santa Igreja. Se, no entanto,  por lapso, algo nele ocorra que não esteja conforme àquele ensinamento, desde já e categoricamente o rejeita”.

As palavras “Revolução” e “Contra-Revolução”, são aqui empregadas no sentido que lhes dá Dr. Plinio em seu livro “Revolução e Contra-Revolução“, cuja primeira edição foi publicada no Nº 100 de “Catolicismo”, em abril de 1959.

 

Ilustrações: 1) tapa del libro “España, anestesiada sin percibirlo, amordazada sin quererlo, extraviada sin saberlo — La obra del PSOE” (1989). Para bajarlo en su pc o móvil, o consultarlo, como también leer un resumen, pinchar
2) tapa del libro “AD PERPETUAM REI MEMORIAM – Después de haber roto la barrera del silencio, la TFP-Covadonga rasga la cortina del olvido” (1991).

Para ler o prefácio em português à edição espanhola de “Revolução e Contra-Revolução”, clique aqui.

Para conhecer a gesta de TFP-Covadonga desde sua fundação até a publicação (em 1989) do livro “Um homem, uma obra, uma gesta – Homenagem das TFPs a Plinio Corrêa de Oliveira”, clique aqui.

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(…) Porque a Espanha é como um sino para a Cristandade. E se a Espanha faz soar este sino, então tudo pode soar para o mundo. Se a Espanha não faz soar este sino, é muito difícil substituí-la. Para os Anjos, tudo é possível. Mas é muito difícil.

E é natural que nós nos voltemos para a Espanha e lhe perguntemos uma pergunta que será, quiçá, um pouco dolorosa para ouvirem, mas esta é a pergunta: o que fazes Espanha? Dorme?

É uma pergunta que se pode colocar.

Eu me interesso muito pelas coisas espanholas pelo amor que tenho às coisas da Espanha. Fiz, não há muito tempo, uma longa descrição de como aconteceu, depois da guerra civil espanhola, que, depois dessa chama de entusiasmo, tenha sido podido chegar à situação atual em que a Espanha está tão adormecida. Parece não ser quase – me permitam dizê-lo com afetuosa franqueza -, mas se não reagirem muito, parece quase não ser a mesma nação.

Se eu comparo o ardor da sra. Da. Maria d.l.p., por exemplo, se comparo o seu ardor com a atitude atual da Espanha, por exemplo, diante da lei do aborto e de outras coisas do gênero, pela indiferença com que a opinião pública espanhola considera como uma espécie de cidadania que se concede a uma miserável como a “Passionária” até o ponto em que possa ser recebida no Palácio Real e que o Rei lhe aperte a mão infame dessa assassina…!

Para todas as pessoas há perdão. Mas para a Passionária o perdão seria estar fazendo penitência no fundo de um claustro, de se fazer esquecer pelo gênero humano como vergonha e abominação do gênero humano. Assim ela poderia obter a simpatia e quiçá alguma admiração. Mas na situação em que ela está?!… Há toda razão para temer por sua alma, e o mal que ela faz à Espanha circulando de um lado para outro de maneira impune, sem que o asco de todos recaia sobre ela…

Isto significa que a Espanha de Dom Quixote, que a Espanha que Cervantes quis caricaturizar em Dom Quixote, mas que é a Espanha de Jesus Cristo, a Espanha da Reconquista tem suas resistências exaustas. E que a Espanha de Sancho Pança – é triste dizê-lo – mas está tomando a dianteira.

Digo coisas muito duras, mas são coisas muito verdadeiras. Conhece bastante a Uds. e lhes considero bastante para ter esta linguagem consigo. É ou não é verdade?

(Aparte: Se queda muy corto)

Como isto aconteceu? Vê-se a evolução das coisas: subiu o regime de Franco e com esse se estabeleceu uma repressão muito louvável ao comunismo. Mas esta repressão deu uma segurança à Espanha de que o perigo comunista não se apresentaria novamente.

E com a segurança, uma impressão de que o pesadelo havia passado. E com a impressão de que o pesadelo passou, a delícia da vidinha quotidiana sem o drama magnífico do Alzamiento, os dias da revolução espanhola e os dias do Alzamiento deixaram de ser dias que entusiasmam para serem dias que causam horror. E a ideia era fugir de novos perigos, fugir de novos heroísmos, porque Espanha começou a querer não mais o heroísmo, mas o que aqui chamamos em português de vidinha – eu não sei como diria em castelhano… não existe a expressão?

(Aparte: vidoca)

Vidoca! Então seria a vidoca.

Depois disto, acrescentou-se algo mais: com a boa administração econômica, com as facilidades com que o Banco internacional concedeu ao governo espanhol – apesar de combatê-lo na aparência -, a verdade é que ele concedeu facilidades econômicas apreciáveis, começou a indústria da Espanha a recompor-se. Com a recomposição da indústria, uma certa prosperidade.

A reconstituição dos pontos de turismo, a constituição de uma rede de hotéis verdadeiramente magnífica, a adaptação das praias da Espanha ao turismo e pouco depois – como se fosse coincidência – uma baixa da peseta que tornou a Espanha o país da Europa o mais acessível ao turismo.

Então, ondas e ondas de turismo. Mas com o turismo, o mal exemplo, a imoralidade etc., mas um mal exemplo e uma imoralidade que tinham a seguinte agravante: é que o turista penetrava na Espanha com certo desdém, olhando a Espanha “atrasada”, a Espanha “antiga”, a Espanha dos bons costumes – eu emprego as palavras deles – a Espanha do “obscurantismo”, a Espanha da “Inquisição”. Enquanto eles representavam a Europa do pós guerra, a Europa da modernidade, a Europa da imoralidade, a Europa do ecumenismo, da Europa pós conciliar, em uma palavra!

E – fato incrível -, mas meus caros espanhóis se deixaram intimidar… e em vez de responder com altaneria a essa atitude, pelo contrário, intimidando-se, começaram a imitar, a tolerar e depois a imitar.

Bem, dos Correspondentes Esclarecedores, o que peço? Os Srs. conhecem em um lago grande o que pode fazer uma pedrinha que cai no centro do lago: círculos concêntricos se formam e que podem chegar até às margens do lago.

O papel das TFPs é – em todos países em que existem -, o papel da TFP é o da pedrinha: cair no centro do lago e produzir as ondulações.

São ondulações que nos são ingratas de produzir, temos sempre que enfrentar dificuldades muito consideráveis. Uds participam dessas dificuldades todos os dias e as conhecem. Porém, é preciso enfrentar essas dificuldades para dizer as verdades.

Quais são as verdades que é preciso dizer?

Trata-se certamente de fazer – antes de tudo – que se cumpram os Mandamentos, que tenham a verdadeira doutrina ortodoxa, que tenham uma vida de piedade. Mas em segundo plano, é necessário que – por causa disto – eles saibam diferenciar-se daqueles que são diferentes. E que saibam dizer uma palavra cortês – como Uds. o fariam em todos os casos -, mas uma palavra grave e séria de desacordo e inclusive de repreensão, quando for o caso, quanto às pessoas que andam mal.

Por exemplo, não aceitar em nenhum caso o convívio normal com gente que tem famílias imorais constituídas sob a capa do divórcio, como se o divórcio legitimasse qualquer coisa. É preciso opor-se a isto e opor-se categoricamente.

Porém, além disso, convém também fazer o apostolado da categoricidade de espírito. Nosso Senhor disse: “seja vossa linguagem sim-sim, não-não”. E é necessário restituir aos nossos espanhóis o entusiasmo por essa linguagem! Eles serão eles enquanto forem assim. Espanhóis “ecumenizados”, irenizados, absolutamente não.

Como se fazem essas coisas?

Eu disse que se tiver tempo, tenho desejo de organizar – não posso garantir porque Uds. veem em que crise está o Brasil… É minha pátria, mas também e principalmente é o país onde vive a mais antiga, a maior TFP. E se soçobrar o Brasil, soçobra a TFP brasileira. Ou seja, seria necessário dispersar-se. E este seria um golpe para o movimento contra-revolucionário no mundo inteiro! Então tenho que lutar aqui como quem luta pela torre mais essencial do sistema de defesa da Tradição, Família e Propriedade. Eu não sei que tempo livre isso pode me deixar.

A ideia seria de organizar impressos com comentários de fatos internacionais contemporâneos. E com isto os Uds. possam fazer reuniões de Correspondentes com base nesses comentários para abordar temas atuais.

Certamente eu não estou em condições de abordar todos os temas atuais de todos os países. Haverá temas atuais específicos na Espanha, mas que não o são para outros países. Eu só poderei abordar os temas que tenham alcançado uma repercussão internacional e dos quais eu perceba que são de repercussão internacional. Destes eu posso tratar. E então os Srs. poderão fazer reuniões em que, além de uma insistência que Uds. saberão graduar sobre os temas clássicos, tradicionais da boa formação católica, possam acrescentar uma palavra sobre esses temas atuais e colocá-los no vento da Contra-Revolução para que se associem a isto e caminhem. Esta seria a ideia.

Quando ouço falar do movimento dos Correspondentes Esclarecedores na Espanha, tenho esperanças. Porque vejo que há muita gente e muita gente boa. Mas tenho a impressão de que a partir do momento em que comecem a pedir uma ação concreta, definida, sincronizada, Uds. terão muito boas surpresas, mas também algumas decepções.

Porque há muita gente que se diz “tradicional” etc., etc. mas para quem a palavra “tradição” é quase sinônimo da palavra repouso… E que se lhes fale de tradição, eles entendem que a “tradição” é ter uma sede como essa [do Conselho Nacional da TFP brasileira, à Rua Maranhão, em Higienópolis, n.d.t.], antiga, bem arranjada, de certas pessoas que se encontram e que se dizem amabilidades durante meia hora, uma hora por dia, depois se despedem e cada um vai para sua casa… e é a “reação” da “tradição”, ou seja, nada! Isto não é sério! Não tem conteúdo!

Gente como essa se caceteará de nossa companhia, inclusive de nossa atividade e não nos acompanhará por muito tempo, os perderemos… não perderemos tanto assim… Será uma claridade, eu quase diria uma purificação. Se temos que perder, percamo-los. Porém queremos ficar com os que querem trabalhar, com os que querem fazer algo, inclusive – se necessário – sacrificar-se.

Essas são linhas muito gerais do que proporia. Não sei o que me dizem disto…

(Aparte: Para a TFP, não valem os medíocres!)

Para nós, não.

(Aparte: É natural!)

Para nós é um peso inútil. Fora! São a quinta roda do carro.

[risos]

Não, não, não.

(Aparte: Com quatro rodas se vai bem…)

Com quatro caminhamos bem. A quinta pode ir-se embora…

Quanto estive na Espanha – há muitos anos! trinta anos, talvez – tive contato com as direitas espanholas. E vi que eram compostas em boa parte por pequenos organismos corpusculares, que não se uniam uns com os outros. E que brigavam uns com os outros com todo fogo; enquanto não brigavam com os inimigos comum, brigavam entre si, com todo fogo! Mas que para eles esse pequeno mundo era de uma certa importância ser “o sr. Presidente do grupinho tal”. E o outro ser “o sr. Presidente do grupinho outro tal”. E que isto era para eles um adorno e que eles tinham uma espécie de mundinho em que esses pequenos adornos valiam… Enquanto a outra Espanha vivia em pleno ar como lhes disse, e que olhava para eles como se fosse um pequeno vento que batesse em um pouco de pó da terra: fazia um pequeno remoinho e desce. “Essas são as querelas da direita, nada mais…”

E isso me cortava o coração…! Não é assim que se fazem as coisas…

(Aparte: Uma pena!…)

Não é assim que se fazem as coisas…

Que outras perguntas têm? (…)

Da parte da TFP, é começar por esta ausência de respeito humano. Mas esta ausência de respeito humano tem que dirigir-se não contra os inimigos de ontem. Por exemplo, não contra o protestantismo, ou contra os mouriscos ou que sei eu. Mas contra o inimigo do dia de hoje, que é o ecumenismo falso, exagerado, o irenismo exagerado, a condescendência má com as más modas, com os maus costumes, com isto que chamei de “aids”.

Conhecem a doença AIDS? Esta doença moderna…

(Sim, sim)

Essa doença não é por si mesma uma doença. Mas é a queda de todas as defesas do organismo contra os contágios. Então vem qualquer doença e se contrai a doença. Isso é a doença (aids).

Então, esta ausência de reação é como essa doença. Pode-se dizer, porque a comparação é absolutamente válida. E devido a isso é preciso combater isso! Ou seja, estes não foram nossos maiores, este não é nosso passado, este não é nosso futuro! Isto é uma Espanha internacionalizada, uma Espanha de matéria plástica, como o resto do mundo está se tornando de matéria plástica. Com isto não estamos de acordo.

Isso é que é preciso atacar.

(Pergunta: De onde virá isso?)

É o resultado do desbotamento das ideias, das doutrinas e da fibra dos temperamentos que há por todas as partes… há pela Espanha também. (…)

Então, é preciso discutir com eles e dizer: “Mas você é um discutidor, porque está acusando a mim com termos muito fortes. Você me está acusando furiosamente de ser furiosa. Você também não é um furioso?… Você saiba que é um extremo do centro, e que o extremo do centro é você. Há extremismo em todas as posições ideológicas possíveis. E você está no extremismo do centro: é o mais detestável dos extremistas. Quer um exemplo? Pilatos! Foi um extremista do centro: lavou-se as mãos. Você passa a vida lavando as mãos e insultando quem não quer lavar as mãos em sua bacia. Eu não quero fazê-lo.” Digam isto assim…

E, depois, “centro”… Tenham presente este meu bastão. Digamos que aqui seja um extremo e aqui outro extremo, e nós somos contra os extremos. Então, corta aqui, corta ali. O que fica? É extremo… Todo bastão precisa ter extremos. Quanto mais cortam, tanto mais o centro se aproxima do extremismo… Há de chegar um momento em que isto, que se considera o centro, é a única coisa que resta. Então, aqui é extremo, aqui também, ali também… Em certo momento, tudo é extremo… Não sei se me explico bem.

(Claro!)

Você (voltando-se a um membro da TFP) pode fazer um desenho com o título: “A história de um bastão”… É a corrosão dos extremos rumo ao centro. E, em certo momento, o extremo está aqui, identificado com o centro. Pergunta aos srs. do centro: é isso que os srs. querem?

É uma pergunta cortês, nem sequer é uma pergunta agressiva. Mas os deixa literalmente sem resposta, porque não há resposta para dar… Naturalmente, então, se indignam.

“Mas onde está sua moderação? Você não é um centrista? Por obséquio, sorria para mim… Você não é do “partido do sorriso”? Sorria para mim…

(risos)

“Eu não tenho direito de estar em desacordo com você? Você dizia que eu sou extremista e que eu não dou direito aos outros de estar em desacordo comigo. Você me está recusando o direito de estar em desacordo com você?… Eu estou cobrando seu sorriso. É uma dívida sua para comigo… Por favor, por favor!”

Está bem?

Aliás, eu tenho um artigo na “Folha” (de S. Paulo, 10-12-1984, A mangueira, o desejo e o dever) em que eu digo isto. Podiam traduzir o artigo e dar para eles lerem. [Lá] Essa estória do bastão é dada lá. A “Folha” não gostou de publicar, mas publicou…

Estou com muito gosto disponível para responder a outras perguntas…

(duas pessoas começam a falar juntas e aqui se encerra esta gravação)

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