Análise fisionômica de personagens do mundo de alguns heresiarcas

Santo do Dia, 8 de julho de 1972, sábado

A D V E R T Ê N C I A

Transcrição de gravação de conferência do Prof. Plinio com sócios e cooperadores da TFP, não tendo sido revista pelo autor.

Se Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério da Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como homenagem a tão belo e constante estado de espírito:

“Católico apostólico romano, o autor deste texto  se submete com filial ardor ao ensinamento tradicional da Santa Igreja. Se, no entanto,  por lapso, algo nele ocorra que não esteja conforme àquele ensinamento, desde já e categoricamente o rejeita”.

As palavras “Revolução” e “Contra-Revolução”, são aqui empregadas no sentido que lhes dá Dr. Plinio em seu livro “Revolução e Contra-Revolução“, cuja primeira edição foi publicada no Nº 100 de “Catolicismo”, em abril de 1959.

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Nota deste site: “A criatura humana é o que há de mais típico em matéria de Ambientes, costumes, civilizações. Entretanto, é por vezes mais difícil interpretar a significação de uma fisionomia do que a de um móvel ou um prédio” escreveu o Prof. Plinio. No sentido de ajudar os visitantes deste site na interpretação de fisionomias, reproduzimos o texto a seguir.

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Os senhores estão vendo aqui um heresiarca: Henrique VIII, rei da Inglaterra, o homem que matou várias mulheres sucessivas e que se separou de Roma. Ele foi casado em primeiras núpcias, como soberano ainda católico, com Catarina de Aragão, que era da Casa d’Áustria, irmã de Felipe II. Depois ele divorciou-se dela para pegar uma outra. Pegou umas três ou quatro outras, que ele matou – enfim, se despojou de qualquer maneira. E quando a Igreja negou o divórcio dele com Catarina de Aragão, ele então resolveu separar-se constituindo a Igreja Anglicana.

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Os senhores notam, antes de tudo, o jeito do personagem. Pode-se dizer o orgulho e a sensualidade estão ali perfeitamente misturados. A sensualidade se nota no todo: é o modo de ser carnudo, o rosto carnudo  e o  corpo carnudo, o modo de ser carnudo que é todo especial. Os senhores veem essa face repleta e a boquinha assim chupadinha. Os olhos pequenininhos, duros, inflexíveis, incapazes de qualquer impressão sobrenatural, também de qualquer compaixão. Não é um homem corajoso, é um homem ruim. Ele não dá impressão de corajoso e não o era. Ele era ruim, pura e simplesmente ruim!

De outro lado, os senhores veem no todo dele uma segurança do indivíduo que se sente numa posição política muito forte, e que faz tudo aquilo que entende. E que é meio desbragado, não se controla em nada. Foi ele que mandou matar São Tomás Morus, cuja vida os senhores assistiram aqui num filme, dignamente representada. E o cardeal São João Fisher também, porque eles se recusaram a apostatar para o protestantismo.

O traje – Eu não sei bem o que os senhores acharão desse traje. O personagem é grotesco, é obeso, mas seria interessante os senhores imaginarem num personagem de corpo bem feito. Os senhores perceberiam sem dificuldades que se trata de um traje muito bonito. Não espantem em ouvir dizer – eu não estou dizendo que o traje é bonito, eu estou dizendo que ele é muito bonito.

Os senhores devem distinguir no traje, propriamente, como em qualquer paletó, propriamente a parte que reveste o tronco e os braços. Na parte que reveste o tronco, os senhores estão vendo que ele está vestido com tecido listrado, com cores discretas e, sobre esse fundo discreto, os senhores veem que corre uma grande faixa toda ela de bordados; esses bordados tendo ao centro uma linha de arminho que vem até aqui embaixo, com alamares, provavelmente bordados de fios de ouro; e no ponto em que o arminho cruza com os alamares, uma pedra preciosa. De alto a baixo os senhores estão vendo que são rubis. Daqui não é tão claro, mas devem ser rubis, todos da mesma forma, quadrados etc.

O rei usa uma condecoração muito bonita, um colar, que é também feito todo de ouro, trabalhado com pedras preciosas. E a gola dele é de arminho também, com uma forma elegante, pontuda, que deixa entrever a camisa. E no lugar de onde sai a gravata normalmente, uma linda joia por sua vez.

Os braços são também ricos, estabelecendo um contraste com a túnica e estabelecendo uma harmonia com essa faixa. Os braços são enfeitados até essa metade, até o cotovelo mais ou menos, de um modo que lembra muito essa faixa aqui: é o mesmo bordado, o mesmo fio de arminho, os mesmos rubis de ornamentos, alamares etc.

Depois a parte do cotovelo é cortada bruscamente por uma bordadura de arminho; e daí sai um tecido que parece lamê de ouro e de prata, todo ricamente recamado de pedras preciosas.

O rei usa, no dedo indicador da mão esquerda, uma pedra preciosa. No dedo indicador e no dedo mínimo da mão esquerda – essa é a mão direita – pedras preciosas também.

Aqui esse bastão, que é o bastão de mando, encimado por uma coroa.

O chapeuzinho é discutível. Em primeiro lugar, com as abas muito pequenas para a carona do personagem, acrescentam o que ele tem de grotesco. A ideia de bordar com pedras preciosas a aba do chapéu não é má ideia. Eu não me tenho nem um pouco entendido em matéria de moda, mas eu acho, entretanto, que fica muita pedra para uma abinha tão pequenininha; e que essa cabeçorra, essa carona exigia um chapeuzinho um pouco mais alto pelo menos. Raso assim, a gente tem impressão de que ele pôs um prato na cabeça, virado ao revés.

Aqui os senhores têm as luvas dele. Ele segura as luvas na mão. A meu ver, como defeitos – por exemplo, acho o modo como isso sai disso um pouquinho extravagante talvez – com defeitos, eu acho uma linda indumentária. Mas o heresiarca pretensioso, orgulhoso, sensual, cruel, o perseguidor, o tirano, aqui se mostra por inteiro.

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Essa é filha dele [Elisabeth I]. A mulher não podia ser mais antipática. Ela é magra, esguia, entretanto ela tem algo que parece com o pai, e são os olhos. Em ponto feminino, é aquele mesmo olhinho pequeno, cruel, ruim, sem nenhuma expressão de sentimento, nem de afeto, menos ainda de sobrenatural. Ela toda dá impressão de uma mulher seca. A gente tem impressão de que ela saiu de uma lata de conserva, foi vestida de rainha de um momento para outro.

A cor dela é a de um cadáver que, de repente, tivesse aberto os olhos e a quem se tivesse pintado a boca. Ela não está velha, mas ela tem, da juventude, a imaturidade e, da velhice, o fanado. É o encontro desfavorável de todas as idades.

Ela foi uma grande perseguidora dos católicos. Foi o grande tormento do reino de São Pio V. Foi ela quem mandou matar a sua prima, Maria Stuart, porque Maria Stuart era católica.

O que achar do traje? O traje é uma execução exagerada de alguma coisa que é bonita. Acho discutível essa espécie de cachecol que envolve aqui o queixo completamente, e que forma uma moldura muito esquisita para o rosto.

Cabelos: uns cabelinhos escassos. Os senhores veem como a testa é grande; tem-se a impressão de uma calvície precoce. Ela era completamente careca? Ah é?! Os senhores veem então aqui o cabelo que, pelas explicações de Dom Bertrand, é uma peruca.

Uma coroinha também muito reles, não é bonita. Agora, o manto de arminho é muito bonito. Os senhores estão vendo aqui o manto, que toma depois todo o interior da capa. E os senhores veem que ela abre aqui a capa e se vê – arminho é uma pele preciosíssima. Os senhores veem aqui a capa toda bordada, forrada com tecido, deve ser brocado. Não deve ser bordada, não sei bem. Bem, tudo de material muito fino, muito bonito. E ao que parece o vestido é do mesmo tecido, ou quase do mesmo tecido da capa.

Os senhores podem perguntar o que eu acho da constituição dessa espécie de paletó. É muito esquisito. Parece a ideia de uma pessoa que estava em conserva e que foi tirada da conserva. Aqui se acentua: o rosto é de uma morta. Aqui a gente tem impressão de que tem pau dentro. Mas é porque ela é muito desfavorável e não há quem consiga vestir bem uma múmia dessas… Mas neste modelo se fizeram trajes muito bonitos.

Ela tem na mão um globo que representa o poder sobre o universo, uma cruz como os senhores estão vendo. Agora, o globo me parece feio e não proporcionado com a cruz, pequenininha. O cetro tem apenas três pedras preciosas. Nenhum símbolo heráldico, nem religioso. Era a monarquia comercial da Inglaterra que estava se expandindo, em que a manifestação da riqueza era o principal sinal que identificava essa monarquia com o seu próprio espírito. O colar, à maneira do colar de condecoração, recamado de pedras preciosas, e que a meu ver faz um bonito efeito sobre essa capa. Essa é a grande tirana que perseguiu barbaramente os católicos de seu tempo.

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Martinho Lutero – Eu creio que poderia estar ali com “Z” e o pastor protestante, como entre duas nulidades parecidas com ele, que é um demagogo de primeira ordem. A primeira coisa que chama a atenção nele é como ele também é carnudo. Não à la Henrique VIII, que tinha assim uma carnadura mais homogênea, mas o rosto dele a gente tem impressão de que era feito para não engordar tanto; que foi formando gorduras numa porção de lados onde não cabia já tanta gordura. O nariz, por exemplo, é formado todo de bossas e bolinhas. A pálpebra é gorda. A boca, de desenho até regular, mas os lábios a gente tem impressão de que estão tão apertados por tanta gordura que tem nos beiços. O queixo forma uma verdadeira bola.

Lutero era um comilão e um beberrão de primeira ordem, de muitas vezes ser carregado, bêbado, da taverna aonde ele ia todas as noites conversar, para a casa onde ele morava com sua “fassura”, que ele chamava de esposa: a freira apóstata Catarina Bora.

Os senhores têm aí uma impressão não só de glutonice, mas de sensualidade; de um homem que não se domina em nada, e que faz tudo quanto acha gostoso.

Atrevido: olhem a linha do nariz; de outro lado, falso: olhem esse lábio inferior que se esconde; insolente: olhem o olhar; e observador.

O todo dele é populacheiro. Os senhores podem imaginar esse homem bem no seu ambiente, trepado em cima de uma barrica de cerveja e dirigindo a palavra a multidões populacheiras, prontas para investir numa igreja, para profanar as relíquias, para roubar os tijolos e para proclamar a decadência de todo principado dentro da Igreja, que era o principado do Papa, que era o principado dos bispos. Este é Martinho Lutero. Se não me engano, o quadro é de Dürer. Não tenho certeza.

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[Catarina de Bora] Essa é ela? Uma gata. Se ele é o luterano, ela é, a meu ver, a calvinista. Os senhores olhem para o olhar dela: é um olhar felino, frio, de aço, agressivo, falso e meio caçoísta. Há uma qualquer caçoada. E a boquinha também assim tem qualquer coisa que está escarnecendo. No rosto, as carnes muito estiradas, anguloso; os senhores estão vendo aqui os ossos que dão a impressão de uma pessoa sem misericórdia, nem estranhas. E quando eu falei de gatos, eu falei de propósito. O formato de crânio é o formato de um enorme gato. Os olhos são olhos de gato e o nariz é assim meio achatado… dava quase para ser um focinho de gato; com uma boquinha que é só dizer “miau” e sai ela inteira. Com a falsidade e a agressividade do mau gato.

Muito pouco enfeitada. Os senhores comparem com o vestido de Isabel [Elisabeth I], por exemplo. Os senhores estão vendo um pelinho de cachorro qualquer que ela colocou. É uma coisinha muito ordinária. Depois, uma camisinha que parece que há vinte ou trinta anos se usava uma coisa dessas, com um lacinho. Nada de joias. Cabelo com redinha, que há dez anos atrás se usava. E o penteado, qualquer enfermeira de dez anos atrás usava assim quando … saía para passear, usava assim.

É o período que começa uma espécie de prenúncio do igualitarismo moderno: as modas super simples – para certas camadas de pessoas, sobretudo para os protestantes – a moda super simples; nem um sorriso, nem um atrativo, nem um agrado, nem uma joia

Enquanto se despojava a Igreja de todos os seus ornamentos, os homens também se despojavam de seus ornamentos, para levar uma vida de uma simplicidade que é contrária, também ela, aos desígnios da Providência.

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Calvino – Ah! É a morte de Calvino, pintada por Lucas Cranach.

Os senhores não podem imaginar coisa pior do que isso! Os senhores sabem bem qual era a doutrina de Calvino. É o homem de uma ascese inumana, sem estranhas, sem clemência, sem misericórdia, fixo numa ideia de predestinação. A ideia dele é de que Deus tinha escolhido alguns para se salvarem, e outros para irem para o inferno. De tal maneira que por mais que o indivíduo fizesse bem nessa vida, Deus, à última hora, se o tinha predestinado ao inferno, o impelia a cometer um pecado, ele ia para o inferno. Agora, de outro lado, também se Deus tivesse querido salvar alguém, por pior que ele fosse, à última hora Deus impunha o arrependimento e ele ia para o Céu.

Aqui morre o homem e os senhores estão vendo o pânico do inferno que está dentro dele. Ele não acredita na misericórdia divina; ele não acredita, verdadeiramente, nem na justiça divina. Ela só acredita num capricho de Deus, e está com um medo – muito fundado… – de ser um dos escolhidos para ir para o inferno.

Os senhores olhem esse homem que o assiste aí. A tristeza calvinista está estampada no rosto dele. Os senhores notam um pouco dessa cara também. É uma cara lívida, uma coisa assim. Nenhum consolo, nem gesto de amizade para com o moribundo. Nada. Tudo frio, tudo hirto. O homem vai ser deglutido pela morte, e esses estão pensando: “minha vez chegará também, e vai ser horrível, como é horrível a vez dele! Depois, o que virá? Ponto de interrogação”. É o contrário do comilão, bonachão e porcalhão do Lutero.

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Nossa Senhora! Esse aí é Melanchthon [nascido Philipp Schwarzerdt; Bretten (Alemanha) 16-2-1497 + Wittenberg, 19-4-1560]. Melanchthon foi, até certo ponto, discípulo, e até certo ponto inimigo de Lutero. É a caricatura protestante de São Francisco de Sales. Ele é o protestante “suave”. Ele era conhecido por seu espírito conciliador. É, a gente fica sem ter o que dizer. Pior, eu não sei. Mas que figura bem ao lado dos outros, é verdade! De cheio! Seu espírito conciliador… E muitos “católicos” diziam que ficavam enlevados com a doçura de MelanchtonCatólicos de borra e de ninharia!

Os senhores estão pensando que são caricaturas. Não, são quadros de admiradores. É tirado ao vivo. Isso é assim mesmo…

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