[Os sublinhados e as palavras em maiúsculas são do original]
( I H S )
São Paulo, 12 de julho de 1935
Meu caro Dr. Alceu,
Logo que recebi sua carta, procurei o Sr. Arcebispo, que me disse que, devendo fazer uma visita de cortesia ao Armando [Sales Oliveira, governador de São Paulo, n.d.c.], com ele falaria. Quanto à bancada paulista, achava que à vista da resposta que recebera do sub líder, Theodoro Monteiro de Barros, não havia necessidade de intervenção. Hoje, li nos jornais que o Senhor Arcebispo fez ontem a tal visita ao governador. Portanto, o assunto deve ter sido abordado. Se, no entanto, no decurso da discussão, o Sr. achar conveniente mais alguma intervenção, mande dizê-lo. Quanto a mim, eu lho digo francamente, acho que a atitude de reserva do Senhor Arcebispo em relação à bancada traduz a confiança que ele nutre de que os deputados paulistas não se animarão a tomar qualquer orientação contrária ao sentimento católico, como ele acha que a Constituição recentemente promulgada demonstra; razão pela qual até julgou supérflua qualquer intervenção junto ao elemento perrepista de nossa bancada. Infelizmente, não participo deste otimismo. Por isto, se uma intervenção for necessária à vista de alguma eventual relutância dos deputados paulistas, mande dizê-lo, pois que, verificado este fato, estou certo de que o Senhor Arcebispo não relutará em agir com mais vigor.
Lamento que o Sr. não assista nossa concentração, que parece que vai ter grandes proporções. Será um belo movimento, que edificará toda a Cidade.
Quanto ao nascimento de um futuro herdeiro ou herdeira (ainda que a redação de sua carta deixe transparecer toda a sua preferência pela primeira hipótese sobre a segunda) peço ardentemente a Nossa Senhora que cumule seu lar, e especialmente a criança que está para nascer, das maiores graças.
Eu lhe escrevi, há tempos, uma carta em que lhe remetia, para a coluna do Centro, um artigo sobre Tomas Morus. Por intermédio do Pagano, recebo agora a notícia de que o Sr. quer mais artigos. Não terá chegado às suas mãos o primeiro? Ou o Sr. terá achado por qualquer motivo, preferível não publicá-lo? Mande dizer-me algo a este respeito, pois que, a se verificar a segunda hipótese, escreverei outro artigo sobre qualquer outro assunto.
Na mesma carta, eu lhe enviava meu programa de História da Civilização para que o Sr. me desse a sua impressão sobre ele, e lhe pedia o nome do livro sobre o Divino Espírito Santo, que o Sr. uma vez me indicou. Poderia fazer o obséquio de me mandar uma palavra sobre estes dois assuntos?
Passemos, agora, a outra questão. Acabo de ler no “Diário de São Paulo” uma entrevista do Chefe de Política do Distrito Federal sobre os planos subversivos da Aliança Libertadora, sobre cujos desígnios de subversão social, aliás, só algum idiota ou mal intencionado poderia nutrir dúvidas.
À vista disto, parece que o elemento católico deveria fazer uma pressão desesperada sobre todo o elemento político para favorecer o esforço ora empreendido no sentido de fechar a Aliança.
Ainda hoje li que a minoria se reuniu para examinar [ilegível] e que deliberou opor-se ao fechamento, uma vez que seja processado [ilegível] das normas legais. Em outros termos, parece que isto significa que a minoria está disposta a se servir do menor pretexto para taxar de ilegal a medida do fechamento, e fazer demagogia barata em torno do assunto. [ilegível] seria da maior vantagem que os senhores da maioria e da minoria [ilegível] …sem que nós, católicos, fazemos do fechamento questão fechada, e [ilegível] no firme propósito de queimar até o último cartucho para acautelar a ordem social, que a Aliança Libertadora quer subverter. Diga-se, aliás, entre parêntesis, que acho a força atual da Aliança muito menor do que aqueles afirmam, e que só futuramente ela poderá constituir grave perigo.
Peço-lhe que me mande dizer, em sua próxima carta, algo a respeito, uma vez que se o Sr. concorda com este alvitre, irei já preparando as coisas no que disser respeito a São Paulo.
Por mil coisas da concentração, termino apressadamente, enviando-lhe um afetuoso abraço.
Plinio
Nota: Clique aqui para consultar a vasta correspondência entre o Prof. Plinio e Alceu de Amoroso LIma (Tristão de Athayde), de 1930-1939.