[Os sublinhados e as palavras em maiúsculas são do original]
( I H S )
São Paulo, 12-IX-1935
Meu caro Dr. Alceu
Recebi suas duas cartas e seu cartão, que muito agradeço. Quanto ao que me manda dizer sobre a impossibilidade de estar presente para o encerramento de nossa Semana, lastimo-o profundamente. Porém, não quero perder a ocasião de tê-lo por aqui; por esta razão, a despeito de suas numerosas ocupações, o Sr. permitirá que eu ínsita ainda, perguntando-lhe se não seria possível sua vinda em qualquer outro dia da semana. Sei que o José Pedro tentou telefonar ao Sr. hoje, mas não o conseguiu devido à demora na ligação. Amanhã, ao mais tardar, ele terá conversado com o Sr., e o assunto terá sido resolvido mais comodamente, do que por meio de cartas.
Quanto ao que me diz sobre o veto presidencial ao projeto de lei ou melhor à lei do casamento religioso, corresponde exatamente à minha impressão. Sempre me pareceu um absurdo que o Estado pretendesse chamar a si o direito de legislar sobre a celebração do casamento, e muito me preocupava o precedente que esta situação ia criar num regime como o atual, em que as relações entre Igreja e Estado são inevitáveis e em que está sempre de pé o perigo de se ingerir o Estado em assuntos eclesiásticos. O Getulio interpretou, pois, muito bem a sã doutrina, e fez o que o Sr. e eu faríamos no lugar dele. Tanto mais que ele apenas impugnou a parte que nos prejudicou, deixando o resto. Os motivos do veto foram irrepreensíveis. Até mandei que o “Legionário” lhe pedisse uma entrevista para o próximo número sobre este assunto. Espero que chegue a tempo, pois que o assunto é de grande oportunidade.
Quanto ao aspecto político da questão, é realmente estranhável que, uma vez que é este o pensamento do Getulio, ele não o tenha feito prevalecer na própria Câmara. Parece-me que ele quis servir-se da oportunidade para prestar um serviço pessoal aos católicos, em que ficasse bem patente e notória a sua boa vontade. É ao menos esta a única explicação que encontro.
Aliás, tenho a maior curiosidade em saber qual foi o autor da ideia de se legislar sobre a celebração. Por sua última carta, parece que foi o Waldemar, mas provavelmente ele teve para isto a colaboração de outros elementos. Não andará aí o dedo do Pedro Aleixo? Mande dizer-me algo a este respeito.
Quanto a informes nos meios oficiais, vou fazer o possível para obtê-los. Como sabe, sou muito amigo do Pinheiro L., atual Secretário da Viação, e meu ex-companheiro de bancada, com quem converso com muita liberdade sobre questões deste gênero, graças ao convívio quase de todos os momentos, na Constituinte e no Hotel Regina. Depois de ter obtida qualquer informação, lhe escreverei.
Mas se o Sr. achar indicada qualquer intervenção do alto, pode mandar dizê-lo, pois que acho que o Sr. Bispo auxiliar, que está cada vez mais ao par das coisas, e que tem toda a liberdade de ação bem como toda a confiança do Sr. Arcebispo, não teria a menor dificuldade em procurar pelo Armando. O Sr. Arcebispo se tem recusado a qualquer intervenção pessoal, como o Sr. sabe. Mas parece-me que o Sr. Bispo Auxiliar, que há meses não teria agido, agiria certamente agora, tanto mais que o Sr. Arcebispo está em São Vicente.
Houve aqui em S. Paulo uma forte campanha de redução de 50% em todas as taxas de estudos universitários, livros, divertimentos etc., promovida indiretamente pelos remanescentes da Aliança Libertadora. Mas os católicos investiram sobre eles de frente, e já está o jogo deles inutilizado.
Recomendando-me aos seus, envia-lhe um afetuoso abraço o sempre muito seu, em Nossa Senhora
Plinio
Nota: Clique aqui para consultar a vasta correspondência entre o Prof. Plinio e Alceu de Amoroso LIma (Tristão de Athayde), de 1930-1939.