Carta de Dr. Plinio para Alceu Amoroso Lima, 22 de dezembro de 1937

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[Os sublinhados e as palavras em maiúsculas são do original]

 

( I H S )
São Paulo, 22-XII-1937
Meu caro Dr. Alceu
Adiei a resposta da boníssima carta que o Sr. me escreveu, para vésperas do Natal, para lhe enviar um afetuoso abraço de boas festas, e votos à toda a sua família.
Certamente, Nosso Senhor não deixará de franquear largamente o tesouro de suas graças, no Santo Natal, àquele que escolheu com misericordioso amor para a mais alta, mais delicada e talvez mais árdua tarefa a que possa ser chamado um católico leigo, no Brasil. Um meio muito seguro para medir o bem que a Providência nos quer, é pesar os benefícios que, por nosso intermédio, faz à humanidade e especialmente os serviços que nos permite prestar à Santa Igreja. Calculo facilmente, por aí, a generosidade de Nossa Senhora para com o Sr. e os seus, que participam de seus méritos.
Sua rápida passagem por S. Paulo deixou as mais gratas impressões. Esperamos todos revê-lo em fevereiro, conforme prometeu.
Aborreci-me muito com a imperícia do redator do “Legionário”, que, ao fazer a notícia da manifestação do Largo da Sé, nada ou quase nada disse sobre sua belíssima oração, enquanto transcreveu na íntegra o discurso do Padre Chagas, do qual deveria apenas ter extraído trechos. São “barbeiragens” de novato.
Passando a outra ordem de assuntos, venho pedir-lhe um favor.
Há dois ou três anos, tirei uma carta de tradutor juramentado de francês, alemão, inglês e espanhol. Por outro lado, em 1934 fui, como o Sr. sabe, nomeado professor catedrático de História no Colégio Universitário, seção pré-jurídica.
Com as novas disposições sobre acumulações remuneradas, fiquei com receio de existir incompatibilidade entre um e outro cargo, razão pela qual comuniquei o fato ao Morato, que estava de partida para o Rio, a fim de tratar com o Francisco Campos de outros casos análogos ocorridos na Faculdade, de que ele é Diretor.
Depois de uma interminável espera, só ontem recebi do secretário da Faculdade (o Morato zarpou para a sua “toca” em Piracicaba) uma resposta ambígua de que depreendi que o meu caso não foi tratado com o Ministro.
Estudando pessoalmente o assunto, cheguei à conclusão de que, a respeito de meu caso, há dúvidas entre os tratadistas de Direito, afirmando uns e negando outros que o tradutor seja funcionário público. Ora, a Constituição atual estabelece as incompatibilidades para todos e quaisquer cargos públicos, sem distinção.
Para evitar qualquer dúvida, eu lhe pediria o favor de apresentar a inclusa representação ao Campos, pedindo-lhe de a despachar com urgência. Não se trata de lhe pedir que despache favoravelmente, mas simplesmente que despache quanto antes. Realmente, optarei pela Faculdade, mas precisaria de uma solução até o dia 27, para saber se realmente a opção é necessária.
Peço muito insistentemente que o despacho seja por escrito. Do contrário, sobrevirá a qualquer momento uma mudança de resolução, acompanhada de um acesso de amnesia do Campos sobre o que lhe tiver declarado, para abrir vaga na Faculdade, para algum [ilegível].
O Sr. compreenderá facilmente meu empenho para uma solução que não venha tirar-me o cargo da Faculdade, que é do que vivo.
Sou forçado a suspender a carta, que há gente à minha espera no escritório.
Com um afetuoso abraço, agradeço-lhe o grande favor.
Do amigo em Nossa Senhora
Plinio
625, [Rua] Itacolomy [endereço então da residência do Prof. Plinio]

 

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Nota: Clique aqui para consultar a vasta correspondência entre o Prof. Plinio e Alceu de Amoroso LIma (Tristão de Athayde), de 1930-1939.

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