[Os sublinhados e as palavras em maiúsculas são do original]
( I H S )
São Paulo, 26 de dezembro de 1938
Querido Dr. Alceu
Recebi sua carta, e muito lhe agradeço o ter o Sr. me comunicado sua conversa com S.E. [Cardeal Dom Sebastião Leme, Arcebispo do Rio de Janeiro, n.d.c.]
Antes de lhe responder, quero dizer uma palavrinha sobre o “Atchim”. É um remédio sobretudo preventivo. O Sr. deve usá-lo em dias frios, quando estiver com receio de se resfriar, ou quando esteja em início de resfriado. Quanto o resfriado já atingiu certa intensidade, a sua eficácia, se bem que real, não é tão grande.
Passemos, agora, ao assunto principal.
Pelo que o Sr. me escreve, há desacordo entre todos, sobre o fato de que as exigências que propomos são convenientes para os setores especializados da A.C., isto é, os seus setores intelectuais, como Advogados, Médicos, Engenheiros, Professores, JUC etc. O desacordo só existe quanto aos setores não especializados.
Por uma feliz coincidência, é exatamente para os setores especializados e intelectuais, que uma definição se impõe com a máxima urgência. Parece, pois, que o melhor será que a Junta, na sua resposta, só tome em consideração tais setores, sem se referir, direta ou indiretamente, ao resto da A.C. Quanto aos setores não especializados, como a solução não é tão absolutamente urgente, pode-se deixar aberta a questão até a eleição de um novo Arcebispo, que, com maior possibilidade de êxito, secunde os esforços que o Sr. pode desenvolver junto a S.E.
Se a Junta proceder assim, nossa tese terá ganho imediatamente o maior terreno atualmente possível, sem prejuízo de uma ulterior ampliação que o futuro Arcebispo poderá obter mediante uma exposição mais autorizada e minuciosa do que a minha, sobre a situação em São Paulo.
Passo agora às providências concretas.
Nossa consulta compõe-se de duas partes, uma em que apresentamos as exigências que queremos pôr em vigor (Comunhão ao menos semanal, estudo de Religião etc.) e outra em que enunciamos princípios gerais sobre A.C., incontestáveis, e que julgamos conveniente que a Junta reafirme, dada a situação aqui.
Ao que me parece, S.E. não está em desacordo quanto aos princípios, mas acha que eles permitem, nos setores não intelectuais da A.C., exigências menos rigorosas.
A Junta respeitaria perfeitamente o pensamento de S.E. caso declarasse em sua resposta simplesmente que:
– recebeu a consulta, examinou-a, e afirma que são perfeitamente verdadeiros os princípios gerais sobre A.C. contidos nos itens I a VI.
– que os requisitos que os consulentes querem estabelecer não contrariam os princípios enunciados, e condizem perfeitamente com o que a Ação Católica deve exigir daqueles, dentre seus membros, que, por serem dotados de uma cultura maior, devem por isto mesmo ter uma instrução religiosa e uma vida espiritual especialmente vigorosa.
Esta resposta deixaria intacta a questão controvertida, que parece ser a seguinte: as exigências cabíveis para os setores intelectuais podem também ser formuladas para com os demais setores?
Efetivamente, esta questão ficaria intacta, uma vez que as exigências que queremos estabelecer seriam aprovados dado o fato de se referirem a intelectuais. Portanto, no que não se referir a intelectuais, a questão continua aberta.
Sei que os assistentes eclesiásticos dos Advogados, Médicos e Engenheiros, bem como o da JUC, concordam com estas exigências, conquanto eu, ao fazer tal consulta, só tenha conversado com o Assistente dos Advogados e o Vigário Geral.
Evidentemente, se tomo a liberdade propor esta saída, é confiante na liberdade que sua carta me deu para tal, e também na grande intimidade que o Sr. tem com S.E.
Convém que façamos este esforço de diplomacia, para fazer prevalecer nosso ponto de vista. A meu ver, reside nele todo o segredo do êxito da A.C. E, se A.C. falhar, onde ou antes para onde irá descambando o Brasil?
Recebi sua entrevista. Está excelente. Por motivo de atraso no correio, só será publicada no próximo número.
Que Nosso Senhor abençoe todos os seus esforços, e lhe dê santas e felizes festas, bem como a todos os seus.
Um fraternal abraço de
Plinio
Nota: Clique aqui para consultar a vasta correspondência entre o Prof. Plinio e Alceu de Amoroso LIma (Tristão de Athayde), de 1930-1939.