[Os sublinhados e as palavras em maiúsculas são do original]
São Paulo, 26 de fevereiro de 1935
Meu querido Dr. Alceu
Os jornais de S. Paulo fizeram grande barulho em torno de um convite que lhe teria sido dirigido pelo Presidente, para ocupar o cargo deixado vago pela morte de Ronald de Carvalho. “Barulho” significa, no caso, grande número de notícias. Não me constou, no entanto, que tenha havido pela imprensa, qualquer comentário malévolo, procurando explorar a notícia do ponto de vista regionalista.
Em todo o caso, dado o desencontrado das notícias, que ora afirmavam que o Sr. havia sido convidado, ora negavam, parece-me até que foi noticiada sem sua aquiescência ao convite) ficou de tudo isto uma imprecisão de impressões que só pode prejudicá-lo em S. Paulo.
De minha parte, não sei o que possa ter havido. Em qualquer hipótese porém, não creio que o Sr. tenha encarado de frente a possibilidade de aceitar.
As más línguas, porém, não descansam. E bem compreende o Sr. que não faltarão pessoas interessadas em espalhar que o Sr. aceitou e finalmente não viu confirmado o convite, ou que o Sr. pediu o cargo e mandou espalhar as notícias, para ver se forçava a indicação do seu nome. São infâmias. Mas só não haveria infâmias se não existissem pessoas infames. E nós sabemos que elas existem em número bem apreciável.
Daí uma série de explorações do sentimento regionalista contra o Sr., explorações estas de que o Sr. já foi vítima uma vez, e que o Sr. deve ter todo o empenho em fazer cessar.
Por esta razão, eu lhe peço que, se possível, me mande qualquer declaração a este respeito, que eu possa inserir no “Legionário”, e em algum órgão da grande imprensa, como o “Diário de S. Paulo”.
No momento, convém lembrar que a vantagem de qualquer declaração só será real, se for imediata. Por este motivo, proponho que o Sr. me mande uma carta qualquer logo que tenha tempo para isto.
Eu desejaria que o Sr. redigisse a declaração. Assim, ela se ajustará a todas as conveniências locais aí do Rio, que eu não posso conhecer, e que poderia ferir involuntariamente, se a redação da notícia ficasse ao meu cargo.
Esperamos aqui, com grande ansiedade, sua vinda para a homenagem ao Alexandre Correia. É pena que o Sr. não possa vir para o retiro do Carnaval. Será ainda muito maior do que em 1934, a ponto de termos sido forçados a abandonar o S. Bento, e ir aos Salesianos, que dispõem de acomodações muito mais amplas.
Virão numerosas delegações do interior do Estado, onde o movimento mariano é florescentíssimo.
Como vão os seus? Envie-lhes meus cumprimentos muito atenciosos.
Para o Sr., um saudoso e fraternal abraço de
Plinio
N.B. O “Legionário” quer uma fotografia sua. É possível mandá-la? Está aqui o Dr. Karam, que lhe manda um abraço.
Nota: Clique aqui para consultar a vasta correspondência entre o Prof. Plinio e Alceu de Amoroso LIma (Tristão de Athayde), de 1930-1939.