[Os sublinhados e as palavras em maiúsculas são do original]
( I H S )
São Paulo, 26-XI-1937
Meu caro Dr. Alceu
Em dois ou três dias apenas, recebi sua carta de 16, que veio aliás censurada vistosamente. Em todo o caso, já sabia eu por meio do Fabricio e do Pe. Luís que o Sr. não poderia vir. À vista dos recados que me foram enviados por meio destes, escrevi uma carta ao Sr., em que formulava votos de melhoras para sua filha, e ao mesmo tempo indagava se o Sr. poderia vir em janeiro. Como não recebi resposta, suponho que minha carta também se terá extraviado provavelmente. Volto, pois, à carga. Nos primeiros dias de fevereiro deverá realizar-se em S. Paulo, na Chácara dos PP. Do Verbo Divino, em Santo Amaro, um retiro espiritual fechado de 7 dias, ao qual deverão comparecer mais ou menos 30 rapazes, na sua quase totalidade universitários ou já formados. Este retiro terá como pregador Frei Angelo, o Capuchinho de que lhe falei quando almocei em sua casa, e que o Sr. visitou recentemente no Rio. Seria magnífico que o Sr. fizesse suas conferências nos últimos dias de janeiro, e, depois, se recolhesse conosco para fazer o retiro.
Frei Angelo, como já lhe disse, é um verdadeiro dom de Deus a S. Paulo. Ainda recentemente, ficou isto muito claro, por ocasião do retiro que ele pregou na Penitenciária. Conseguiu ele de tal modo tocar aquelas almas endurecidas, que foram necessários quatro Sacerdotes para confessar os encarcerados que iam pedir absolvição e houve mais de 600 Comunhões de sentenciados!
É certo que suas ocupações são muito absorventes. Mas, no final das contas, se há uma coisa neste mundo a que o Sr. tenha direito é um bom retiro espiritual em que possa repousar um pouco e tratar de sua santificação, condição essencial para a fecundidade do apostolado de todos nós. Venha, pois, que todos os retirantes ficarão contentíssimos. Durante o retiro, aliás, haverá muita ocasião para conversarmos todos, porque Frei Angelo conta estabelecer um pouco de tempo livre para palestra todos os dias, se não me engano.
(…)
Penso que seria muito importante a gente entender-se um pouco, à vista da situação que atravessamos. Aqui em S. Paulo, o ambiente é de máxima confusão. Os armandistas estão histericamente furiosos; aliás é famoso o temperamento histérico que tem a gente do “Estado”. Entre os perrepistas e os integralistas, há duas almas, uma muito esperançada, e outra muito receosa. No final das contas, para onde vamos? O “Diário de S. Paulo” fala muito, aqui, em Partido único. Cogita-se realmente disto? Para evitar qualquer desencontro de atitudes, seria da maior conveniência que tivéssemos aqui alguma informação.
Minha prima, que é portadora desta carta, seguirá para São Paulo no próximo dia 3, não sei a que horas. Até o dia 2, portanto, o sr. pode mandar uma resposta absolutamente confidencial, sem receio de censuras policiais etc.
Finalmente, desejo também uma palavra sua sobre o discurso cuja publicação foi solicitada por D. Gastão Pinto.
Esperando que se acentuem cada vez mais as melhores de sua filha, recomendo-me aos seus, e lhe envio um saudoso abraço.
Plinio
N.B. Verifico à última hora que se acabaram os envelopes desta caixa de papel, pelo que vai um envelope diferente; mas não importa. O endereço de minha prima é no Copacabana Hotel, Dora Lindenberg, aos cuidados do sr. Manera, de S. Paulo.
Nota: Clique aqui para consultar a vasta correspondência entre o Prof. Plinio e Alceu de Amoroso LIma (Tristão de Athayde), de 1930-1939.