[Os sublinhados e as palavras em maiúsculas são do original]
( I H S )
São Paulo, 29-XI-1935
Meu caro Dr. Alceu
Depois de um período já bastante longo, durante o qual não tiver qualquer resposta sua, venho escrever-lhe para lhe manifestar a preocupação que, a respeito de sua segurança pessoal tive nos últimos dias [a 24 de novembro ocorrera a Intentona Comunista, com mortos e feridos em diversas cidades importantes do Brasil, como no Rio de Janeiro, onde residia o destinatário, n.d.c.], e o prazer com que verifiquei que tudo correu da melhor forma possível, do ponto de vista da própria repressão do movimento comunista.
As primeiras notícias que chegaram a São Paulo não foram claras. Além do temor que a gravidade da situação inspirava naturalmente a qualquer pessoa patriótica e sensata, assaltou-nos também o receio de que algum bando popular armado pudesse tentar qualquer coisa contra o Sr., contra o Sr. Cardeal, ou contra qualquer dos nossos aí. Só bem mais tarde, é que soubemos que o movimento estava circunscrito a quartéis, sem qualquer participação do elemento civil.
Sou de opinião que este movimento terá sido, talvez, muito mais um bem, do que um mal. De um lado, ele mostrou toda a gravidade da situação, e abriu os olhos à toda a prole espiritual de Sancho Pança, tão numerosa entre nós. Por outro lado, a facilidade com que o movimento foi controlado prova que nem tudo está perdido, e que uma reação enérgica por parte do elemento sadio pode, ainda, retirar-nos da beirada do abismo. Qual a palavra de ordem para nós, católicos? Devemos agir, isto é fora de dúvida. Mas como agir? Parece-me que os católicos devem estar prontos a cooperar na obra da conservação social contra o comunismo.
Mande dizer-me sua opinião sobre tudo isto, pois que do Rio é que deve partir uma palavra de ordem para todo o Brasil.
Aqui, aguarda-se com muito interesse sua recepção na Academia, e o discurso que o Sr. fará nessa ocasião. Quando será? Andam todos curiosos.
Espero que o Governo, com os olhos mais abertos agora, tenha a coragem de enfrentar e destruir a panelinha comunista da Faculdade de Direito daí. Se o Governo quiser trabalhar inteligentemente contra o comunismo, deverá começar por arrancar das posições de influência todos os propagandistas da esquerda.
Leio nos jornais que há um projeto de lei que destitui dos cargos públicos todos os funcionários civis e militares comunistas. Será o primeiro passo? Esperemo-lo.
Com um afetuoso abraço, envio-lhe minha sincera amizade de sempre.
Plinio
Nota: Clique aqui para consultar a vasta correspondência entre o Prof. Plinio e Alceu de Amoroso LIma (Tristão de Athayde), de 1930-1939.