Carta de Dr. Plinio para Alceu Amoroso Lima, 6 de setembro de 1935

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[Os sublinhados e as palavras em maiúsculas são do original]

 

( I H S )
São Paulo, 6 de setembro de 1935
Meu caro Dr. Alceu
Nada tem a me agradecer, no que se refere ao meu telegrama. Sua eleição não foi apenas uma distinção para o Sr., mas para todos nós católicos que nos reputamos também de parabéns. Por este motivo, seria mais o caso de retribuir as felicitações, do que de agradecê-las. Efetivamente, o Sr. sabe ainda melhor do que eu que o ingresso na Academia não acrescentará sequer uma polegada à sua estatura intelectual e moral. No entanto, em um país em que não basta ter valor, mas é preciso parecer tê-lo também para poder falar com autoridade, seu ingresso para a Academia vai armar seu apostolado de uma eficiência ainda maior.
Por outro lado, o gesto da Academia repara em rigorosa justiça, e largamente, a atitude sectária com que, perante o Sr., se conduziu a Faculdade de Direito daí.
A este propósito, tive outro dia, de um informante absolutamente seguro, notícias sobre o concurso que, há anos, fez o H… na Faculdade de São Paulo, quando, depois de aprovado e nomeado livre-docente de Direito Constitucional, se candidatou a catedrático de Direito Administrativo.
O W. F., que foi quem primeiro o arguiu, iniciou a arguição com a seguinte declaração: “Dr. H…, sua tese mostra que o Sr. ignora existir um artigo do Código Penal que pune o plágio”. O H… respondeu que, talvez, tivesse esquecido de colocar aspas em alguma citação. E o W. respondeu: “Realmente, o Sr. se esqueceu de duas aspas, uma no princípio e outra no fim de sua prova”.
Chegada a vez do Ráo, este lhe disse: “O Sr. fez o papel da borboleta, que pousa por toda a parte, rapidamente. Nada, porém, concluiu de tudo que disse”.
Suspenso o concurso por alguns minutos, para repouso da banca e do candidato, o H… fugiu, e não compareceu à segunda parte do concurso. Por esta razão nem sequer houve votação!
É bom que, no Rio, se saiba disto, para poder restituir o verdadeiro valor a indivíduos que certas camorrinhas gostam de elogiar.
Quanto à sua vinda a São Paulo, passo a responder:
1 – Devendo ser publicadas todas as conferências que forem pronunciadas, preferiríamos escrita a sua conferência, SE POSSÍVEL SEM GRANDE DIFICULDADE.
2 – Na última sessão, deve haver uma homenagem ao Santo Padre. O tema seria, pois, qualquer coisa sobre o Papado, sobre o atual Papa, ou congênere.
3 – Prometeu comparecer o Sr. Arcebispo, que dirá talvez algumas palavras, embora rápidas. O resto da sessão será para ouvi-lo. As sessões anteriores durarão mais ou menos duas horas. Não convém que a de encerramento seja muito mais curta. Quanto mais, portanto, melhor.
4 – As sessões terão início precisamente às oito horas e meia.
5 – A Semana se realizará no nosso salão, na Congregação de Santa Cecília.
6 – O auditório será: 1) quase exclusivamente católico, com o comparecimento dos melhores elementos masculinos e femininos de nosso laicato católico, e sempre sob a presidência de um Sr. Bispo; 2) predominará o elemento moço; 3) o nível intelectual será regular, mas é gente ardorosa e, espiritualmente falando, de primeira ordem, com a qual o conferencista não precisa usar de nenhuma espécie de panos quentes; 4) como o salão é bem grande, tendo capacidade para mis ou menos 700 pessoas, procuraremos levar o maior número de estudantes de qualquer matiz religioso; 5) assuntos dos dias anteriores terão versado sistematicamente sobre questões de formação moral e espiritual da mocidade mariana dos dois sexos, e problemas de ação católica, que muito nos preocupam de momento.
7 – Mande dizer-me se pode demorar-se, e quanto, para ver se seria possível aproveitar também alguma palestra para qualquer outra associação.
8 – A Congregação reserva-se o direito de providenciar sobre passagem e hospedagem, sendo conveniente que o Sr. avise com antecedência de alguns dias, o dia e hora de sua chegada.
Um afetuoso abraço de todo seu em Nossa Senhora
Plinio
N.B.: Quero aproveitar sua estadia aqui para conversarmos um pouco sobre a questão do integralismo. Eu não insistiria sobre o assunto, a respeito do qual já lhe dei minha opinião, se não fosse o fato de verificar eu que o Alexandre Correia e o Van Acker pensam exatamente como eu neste assunto.
Aliás, disse-me o Alexandre que lhe escreveria algo a este respeito.
É verdade que anda uma séria crise lá por dentro? Não lhe chegou aos ouvidos qualquer rumor a este respeito? Corre isto por aqui, e a entrevista concedida pelo P. Salgado aos “Diários Associados” sobre a atitude do Madeira de Freitas em face do João Gomes parece autorizar os boatos.

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Nota: Clique aqui para consultar a vasta correspondência entre o Prof. Plinio e Alceu de Amoroso LIma (Tristão de Athayde), de 1930-1939.

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