Carta de Dr. Plinio [endereçada a pessoa sem indicação do sobrenome], 2 de junho de 1939

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[Os sublinhados e as palavras em maiúsculas são do original]

 

( I H S )
São Paulo, 2 de junho de 1939
Meu caro Rubens,
Lamento sinceramente o atraso com que lhe escrevo. Conquanto tenha eu o máximo empenho em satisfazer seu desejo de uma resposta urgente. Mas deu-se comigo o que V. me escreveu que se deu consigo: tive assuntos de tal modo inadiáveis a tratar, que não tive vagar para lhe escrever senão agora uma carta explicativa e bem exata. Envio-lhe, em anexo, nossa proposta formal. Penso que, se ela não atende à toda a sua expectativa, Você no entanto verá nela, depois de um exame bem ponderado, a expressão de amizade que lhe tenho bem como ao Paulo e ao Dr. Alceu, e a prova da persuasão em que me encontro, de que seu empreendimento tem uma benemerência digna de toda a cooperação que seja possível prestar-lhe de nossa parte.
Nossa proposta, como Você verá, está bem distante da cópia que Você me enviou do contrato concluído entre a “Spes” e o “Diário”. A priori, entretanto, Você poderá verificar que não poderia deixar de ser assim, uma vez que o “Diário” é um grande jornal que publica mais de 360 páginas mensais, enquanto o “Legionário” é um semanário que publica apenas 32 páginas por mês… ou seja menos da décima parte do que publica o “Diário”. Bem postas as coisas, o “Legionário” é apenas um pouco maior do que o suplemento dominical do “Diário”. Por isto mesmo, não posso deixar de ser muito grato ao empenho que Você manifestou em ter o apoio de nosso pequeno semanário, depois de ter conseguido o de nossos dois grandes diários, bem como dos do Norte. É claro que, o que, sobretudo, Você deseja é que a ausência de nosso apoio não constitua uma nota dissonante, que não teria, aliás, o alcance que, na sua amizade, Você supõe exagerando a importância do “Legionário”. Por isso, tratei de lhe fazer a melhor proposta possível atualmente para o “Legionário”, oferecendo uma cooperação afetuosa se bem que muito limitada à “Spes”.
Toda a confecção do “Legionário” obedece a um princípio fundamental: sendo um simples semanário, não pode ele concorrer com os diários que se publicam em São Paulo, mas deve procurar preencher suas lacunas:
1 – Servindo de suplemento católico aos jornais “neutros”. O leitor, intoxicado durante a semana com a leitura dos jornais ditos indiferentes, encontre aos domingos no “Legionário”: a) a refutação de todos os erros que ingeriu; b) o comentário, sob o ponto de vista católico, de diversas notícias que leu e não entendeu ou não soube apreciar a fundo; c) noticiário religioso abundante, que os jornais neutros não publicam;
2 – uma resenha de todos os fatos nacionais e internacionais religiosos ou profanos – é a nossa seção “Noticiário da Semana” – que deem ao leitor, ao cabo da semana, uma visão de conjunto do ocorrido, informando sinteticamente os leitores que não souberem, digo não puderam ler regularmente os jornais.
Evidentemente, a publicação de outras matérias nos forçaria a concorrer com os jornais diários em um terreno muito desvantajoso. Preferimos suprir as lacunas dos diários, a fazer concorrência impossível a estes.
Isto posto, Você compreenderá que já temos o nosso serviço organizado e gratuito. A resenha do noticiário semanal, fá-la o Lessa com os jornais diários daqui. A resenha das notícias católicas, fazem-na os redatores, com jornais estrangeiros. Assim, pois, não gastamos um real, e temos um pequeno semanário que deixa a desejar, mas que enfim já tem feito um pouco de repercussão.
A circunstância de ser gratuito todo esse serviço é, para nós, capital. Realmente, pelo último balancete do “Legionário”, Você terá visto que nossa situação é do mais estrito equilíbrio, não havendo o menor saldo ponderável. Assim, e devendo nós, extra orçamento, arranjar 3:000$000 para pagamento de máquinas, pode Você imaginar que vivemos “à bout d’argent” [sem dinheiro, n.d.c.], sem possibilidade de impor a nosso semanário o menor sacrifício com o fim de auxiliar iniciativas de caráter geral, por mais meritórias e simpáticas que sejam, por mais prezados que nos sejam seus dirigentes.
Minha proposta se inspira, pois, nos interesses do “Legionário”, e sobretudo do desejo – que constitui o meu principal meio de ação no caso – de não causar a impressão ao público de que o “Legionário” se absteve de colaborar com a “Spes”, preferindo isso à atitude “boudeuse” [desagradada, lamurienta n.d.c.], que seria irracional, estúpida e censurável. Isso tanto mais que, para o futuro diário, a “Spes” nos será indispensável.
Peço, pois, a Vocês, noticiário religioso do Rio e dos Estados, principalmente noticiário que as agências comuns não publicam. Se eu pudesse aceitar mais matéria e mais anúncios, teria que duplicar o número de páginas do “Legionário”. E, então, o mágico equilíbrio se romperia.
Peço-lhe, meu caro Rubens, que transmite ao Dr. Alceu e ao Paulo estas considerações, e que creia na amizade e dedicação que em Nosso Senhor, lhe tenho

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Nota: Clique aqui para consultar a vasta correspondência entre o Prof. Plinio e Alceu de Amoroso LIma (Tristão de Athayde), de 1930-1939.

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