[Nota manuscrita de próprio punho, ao alto da carta enviada por um Padre de Pindamonhangaba]
Meu caro Dr. Alceu
Aí vai esta carta, escrita por um Padre, se não me engano Redentorista. Envio-lha para que se informe, e dê a providência que possa caber.
Um abraço
Plinio
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[texto da missiva]
Pindamonhangaba, Colégio [ilegível] 30 – 10 – 1938
Exmo. Sr. Plinio Corrêa de Oliveira
Cordiais saudações.
Li no “Legionário” de hoje referências a uma surda campanha contra os Religiosos estrangeiros. Quero a este respeito comunicar-lhe uma coisa muito grave que não sei se é conhecida na capital.
Em dias desta semana passada foram Inspetores escolares às escolas e colégios dirigidos por Irmãs e lhes disseram que uma nova lei proíbe a todos os estrangeiros de ensinarem nas escolas primárias e que, por isto, até 1 de dezembro haviam de afastar das escolas todas as Irmãs que não sejam brasileiras natas; disseram mais que desta lei só estão excetuadas as cidades de São Paulo e Santos. Esta exceção, o segredo de que revestiram sua intimação, o prazo brevíssimo de apenas um mês parecem indicar claramente que se trata de um golpe de surpresa que elementos hostis à Religião querem desfechar contra os colégios católicos, educadores da mocidade católica. Querem criar um fato consumado antes que o povo católico perceba de que se trata, e uma vez aberta a brecha já lhes será mais fácil expulsar das escolas também os Religiosos nacionais.
Além de ser medida de perseguição religiosa, é esta conclusão também muito injusta e de todo contrária ao espírito do povo brasileiro. Religiosos e Religiosas que há 10, 20 ou 30 anos estão trabalhando nas escolas e prestando ao país serviços inestimáveis são de uma hora para outra excluídos, sem atenção alguma a méritos, anos de serviço e aptidões. Muitos deixaram sua pátria e vieram ao Brasil a convite de altas autoridades eclesiásticas ou civis e abriram, a pedido das mesmas, os seus colégios ou escolas e agora são, sem culpa alguma de sua parte, privados de sua colocação e condenados a morrer de fome.
Que dirão os outros países se para lá voltarem Irmãs encanecidas no serviço do Brasil e agora obrigadas a retirar-se em tais condições? Que se dirá em Roma, depois que o “Osservatore Romano” ainda há poucas semanas se referiu tão elogiosamente ao “hospitaleiro Brasil”, onde podem continuar o seu apostolado muitas Irmãs excluídas das escolas da Alemanha pelos nazistas.
Certo é que os autores de tal medida não querem golpear tanto as Irmãs das quais nada tem que temer a instrução nem a nacionalidade, quanto os colégios católicos.
Escrevo-lhe isto para pedi-lo que faça o que lhe inspirar o seu zelo pela causa de Deus. Peço-lhe, porém, que não publique o meu nome porque sou Congregado e poderia parecer suspeito.
Nossa Senhora que abençoe sempre sua pessoa, sua pena e todos os seus trabalhos.
Seu dedicado servidor e admirador
João Baptista C.
Nota: Clique aqui para consultar a vasta correspondência entre o Prof. Plinio e Alceu de Amoroso LIma (Tristão de Athayde), de 1930-1939.