Carta de São Pio V (30/4) ao rei Felipe II da Espanha em defesa de Malta, ameaçada pelos muçulmanos

Santo do Dia, 30 de novembro de 1968, sábado

A D V E R T Ê N C I A

O presente texto é adaptação de transcrição de gravação de conferência do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira a sócios e cooperadores da TFP, mantendo portanto o estilo verbal, e não foi revisto pelo autor.

Se o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério tradicional da Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como homenagem a tão belo e constante estado de espírito:

“Católico apostólico romano, o autor deste texto  se submete com filial ardor ao ensinamento tradicional da Santa Igreja. Se, no entanto,  por lapso, algo nele ocorra que não esteja conforme àquele ensinamento, desde já e categoricamente o rejeita”.

As palavras “Revolução” e “Contra-Revolução”, são aqui empregadas no sentido que lhes dá o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira em seu livro “Revolução e Contra-Revolução“, cuja primeira edição foi publicada no Nº 100 de “Catolicismo”, em abril de 1959.

 

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Aqui há o trecho de uma carta de São Pio V aos reis cristãos pedindo auxílio na defesa da ilha de Malta. Essa ilha era ocupada pelos Cavaleiros da Ordem de Malta, que era uma Ordem de cavalaria religiosa e militar que datava da Idade Média, o posto avançado da defesa de todo o Mediterrâneo, em relação aos navios maometanos que tinham base na Turquia e em toda a África do Norte ocupada por nações muçulmanas.

Então, o papa se dirige a todos os reis da Europa cristã, pedindo apoio para a Ilha de Malta que estava sendo objeto de ataques:

“Ao nosso caríssimo filho em Cristo, Filipe II, Rei Católico da Espanha:

“Eis que está certo e estabelecido: nosso poderosíssimo inimigo, o sultão dos turcos, prepara uma frota considerável, uma armada importantíssima como ainda não houve. Ele completa todos os preparativos que se impõem a fim de se precipitar logo contra Malta, para abater a Ordem Militar de São João, a qual ideia particularmente é submeter esta ilha que deseja muito dela se apoderar, tanto por causa das grandes vantagens que ela oferece sob o ponto de vista estratégico, como por causa da vergonha sofrida no sítio precedente.

“Como a tais forças a Ordem não pode resistir de nenhuma maneira, nosso caríssimo filho Jean de La Valette, seu Grão Mestre, é obrigado a implorar o socorro dos príncipes cristãos contra o inimigo comum, o inimigo de Cristianismo.

“Nós não duvidamos que Vossa Majestade e vosso povo venham em nosso socorro espontaneamente, ainda mais considerando que é de vosso interesse que uma ilha assim próxima da Sicília e da Itália não caia em mãos inimigas”.

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Esta carta tem aspectos bonitos.  O primeiro deles é o modo pelo qual o papa trata o rei Filipe II. Ele se dirige assim: “Ao nosso caríssimo filho em Cristo, Filipe II, Rei Católico”.

É uma beleza a gente ver como os papas daquele tempo podiam se dirigir como de pai para filho, no protocolo oficial, para todos os grandes da terra: “nosso caríssimo filho”… e é um dos maiores potentados da terra, “em cujos domínios o sol jamais se punha”, o rei Felipe II. Bonito o título, também, de “Rei Católico”.

A Santa Sé foi dando aos vários reis, ao longo dos séculos, títulos que lembravam serviços prestados à Igreja. Então, o rei da França se chamava “Rei Cristianíssimo”; o rei da Hungria era “Majestade Apostólica”; o imperador do Sacro Império Alemão era “Sua Sacra Majestade Cesárea”, porque o imperador se reputava sucessor de Carlos Magno, o césar do Ocidente; o rei de Portugal era “Sua Majestade Fidelíssima”, por causa da grande fidelidade à Sé Apostólica; os reis da Espanha eram “Majestades Católicas”, porque a Espanha era a nação fiel por excelência, a nação católica por excelência. E, assim, o “Rex Catholicus” era o rei da Espanha.

Nesta época, havia um rei que tinha um título também, mas que já não merecia: era o rei da Inglaterra, “Defensor Fidei”; tinha sido nomeado “Defensor da fé”. E assim, cada rei tinha, como adorno mais belo, algum título que celebrasse sua união com a Igreja Católica.

Isto nos traz um contraste frisante em relação aos Estados modernos. Não pensem os srs. que essas fórmulas de tratamento ficam numa ordem puramente protocolar; mas elas baixam daí para a realidade das coisas.

Aqui os srs. têm um papa que se dirige a Filipe II como a um filho e expõe a situação: os Cavaleiros da Ordem de Malta, que me são tão diletos, que são o amparo da Cristandade, estão necessitando de apoio: apoie.

É uma atitude muito natural pois se a Igreja está precisando, ele é um rei católico, que apoie! E apoiou e ajudou a salvar os Cavaleiros da Ordem de Malta. Hoje em dia, até um Estado se mover para ajudar a Igreja Católica, que dificuldade!

É verdade que o papa põe aqui também um argumento de ordem temporal: ele mostra que as possessões do Rei da Espanha na Itália, especialmente a ilha da Sicília, ficariam ameaçadas com a queda da Ordem de Malta. Mas isso é argumento secundário; o argumento fundamental que ele dá é a Fé ameaçada.

Os srs. veem que felizes tempos: grandes perspectivas! grande fé a iluminar a vida política daquela época! grande nostalgia de nossa parte!... Não há nostalgia mais dolorida do que a nostalgia daquilo que a gente nem sequer chegou a conhecer, mas os élans de nossa alma católica pedem por ver e pegar.

Mas há uma grande alegria: essa nostalgia é ao mesmo tempo uma grande esperança! Esta é a grande alegria com que terminamos este “Santo do Dia”.

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Eu estava falando, hoje à tarde, a respeito de um assunto que se relaciona ligeiramente com esse e no qual menciono muito de passagem. Na “Reunião de Recortes” eu estava dizendo que – se não me trai a memória – deve fazer agora dez anos que foi publicada a R-CR [“Revolução e Contra-Revolução”].

A R-CR é exatamente o livro onde se condensam, se esquematizam estas noções, onde ao mesmo tempo se dá um quadro do que é ou deveria ser a Cristandade, se mostra o panorama horroroso da chaga da Revolução que nela se instaurou.

Convém, sobretudo aos mais novos, que há dez anos não estavam na TFP, que procurem ler e estudar esse nosso livro básico, onde se encontram estas ideias, nostalgias e esperanças.

E assim – baseado ou estimulado pelo perfume desses áureos tempos – fica aqui um apelo aos senhores para uma leitura e estudo da R-CR neste próximo ano que será o décimo de sua publicação.

Com isto, resta-me encorajá-los ardentemente a que vão lutar, amanhã, pela causa de Nossa Senhora expressa na Tradição, na Família e na Propriedade, nas ruas e vias de São Paulo. E que Nossa Senhora os abençoe e os ajude.

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