Classificação das pessoas segundo Jules Romains: as superiores se preocupam com ideias; as medianas com acontecimentos; as pocas com fatos

Santo do Dia, 21 de março de 1969, sexta-feira

A D V E R T Ê N C I A

Gravação de conferência do Prof. Plinio com sócios e cooperadores da TFP, não tendo sido revista pelo autor.

Se Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério da Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como homenagem a tão belo e constante estado de espírito:

“Católico apostólico romano, o autor deste texto  se submete com filial ardor ao ensinamento tradicional da Santa Igreja. Se, no entanto,  por lapso, algo nele ocorra que não esteja conforme àquele ensinamento, desde já e categoricamente o rejeita”.

As palavras “Revolução” e “Contra-Revolução”, são aqui empregadas no sentido que lhes dá Dr. Plinio em seu livro “Revolução e Contra-Revolução“, cuja primeira edição foi publicada no Nº 100 de “Catolicismo”, em abril de 1959.

 

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É um pensamento de um escritor francês que tem um livro muito original. O escritor chama-se Jules Romains [1885-1973,  foi um poeta e escritor francês, membro da l’Académie française]. Ele tem um livro intitulado “À la recherche d’une Église” (À procura de uma Igreja), que com uns dez anos de antecedência, talvez, prevê o Concílio Ecumênico Vaticano II como uma conjuração de padres que resolveram democratizar a Igreja Católica, para transformá-la numa igreja ocultista que pratica um dito “evangelho do amor”, que seria diferente do Evangelho verdadeiro de Nosso Senhor Jesus Cristo.

E então faz uma distinção entre a “Igreja de São Pedro” [petrina] e a “Igreja de São João” [joanina]. A “Igreja de São Pedro” seria a da autoridade, da severidade, da grandeza. A “Igreja de São João” seria uma igreja sem regras, sem leis, sem preceitos, uma igreja anárquica.

Esse autor teve um pensamento que li numa revista francesa e que me pareceu muito interessante e que desejo expor muito rapidamente:

Os homens se classificam de acordo com aquilo que habitualmente os preocupa: os homens superiores se preocupam com as idéias; os homens de certa categoria, mas meio médios se preocupam com os acontecimentos; os homens pocas se preocupam com os fatos.

Os senhores conhecem a diferença entre acontecimento e fato, não é? O acontecimento é uma coisa como por exemplo a I Guerra Mundial, ou a Segunda Guerra Mundial. Os três acontecimentos por excelência da História do mundo foram a Encarnação do Verbo, a Crucifixão de Nosso Senhor Jesus Cristo e Sua Ressurreição. Se os senhores quiserem, podem pôr ao lado disso o nascimento de Nossa Senhora e a instituição da Igreja Católica. São os acontecimentos por excelência da História dos homens, depois do pecado original. E assim por diante.

Os fatos, não. São os pequenos fatos concretos de nossa vida. Por exemplo, não sei… Eu vim agora aqui com o “x”, que vinha dirigindo o automóvel em que eu estava quase deu uma trombada num outro carro da mesma marca. Está acabado. Este é um fato sem graça, que a maior parte das pessoas acha que tem graça…

Então os homens pocas se ocupam com os fatos e não com os acontecimentos. Por isso também os senhores veem que as conversas pocas giram em geral sobre fatos e não sobre acontecimentos.

* O delírio e o triunfo da “poquice” é quando o homem se preocupa só com sua pessoa

Mas quando se é muito poca – acrescento eu –, não conversa nem sobre fatos, conversa só sobre as pessoas. É o fuxico: “Aquele disse, outro falou, aquele contou, preste atenção!” E depois fica com inveja, com birra, e o fulano que cerrou de cima, deu uma paulada na cabeça do outro… Isso é quando o sujeito é muito poca.

O delírio, o triunfo, o apogeu da “poquice” é quando se preocupa só com sua pessoa. Aí é o fim do fim, é o último do último, quando a pessoa se preocupa só consigo mesma. O normal da pessoa que se preocupa só consigo é uma dificuldade em achar interessante tratar de outra pessoa a não ser ela mesma, e quando fala de outrem, é só em função de si mesma.

“Sabe o que aconteceu com MEU tio?” Quer dizer, é o tio dela… O tal indivíduo não tem importância, a questão é ser tio dela. “Sabe o que aconteceu com MINHA escola?” Porque é a escola que ela frequenta… Se aquele homem não fosse seu tio, não se incomodava; se a escola não fosse sua, não se incomodava. “Sabe o que aconteceu com o ônibus do MEU bairro?”… Se fosse uma coisa mesmo mais grave que se deu fora de seu bairro, não teria importância nenhuma…

Gente assim sobretudo gosta de conversar a respeito de coisas que lhe possam trazer alguma vantagem pessoal de qualquer natureza. E gosta de pensar a respeito de si mesmo. Ou seja: “Eu, eu, eu, eu, eu, eu.”

Então se levanta de manhã: “O que eu vou fazer hoje”? Olha no espelho: “Que cara eu tenho?” Vai tomar banho: “Vai me fazer bem ou mal?” Sai do banho: “O que é que vão pensar de eu estar atrasado, o que é que vão pensar de eu estar adiantado?” Veste a roupa: “O que é que vão pensar da minha roupa?” Olha-se no espelho de novo: “Que colosso sou eu!…”

Às vezes cálculos mal feitos… [Risos] Eu já tenho visto cálculos mal feitos…

Então: “Que colosso sou eu!”. Depois rememora a conversa que teve e em vez de prestar atenção no que foi dito, no tema, não: “Que cara fizeram quando eu disse tal coisa? Aquele bandido daquele Fulano que não me respondeu, mudou de assunto quando eu disse uma coisa, e olhe que era engraçada, tá compreendendo? Também da próxima vez ele vai ver! E quando eu cheguei, aquele Cicrano que não me cumprimentou como eu queria…” Quer dizer: “Eu, eu, eu, eu, eu, eu.” Isto é “arqui-poca”, é o triunfo, o delírio da “poquice”. Não se pode ser mais poca do que isto…

* Quem se encaixa nas três categorias, leve em consideração que se, nesta “corrente”, um elo é de aço, há um outro de barro…

Então, podemos fazer uma análise de nós mesmos.

Alguém dirá: “Dr. Plinio, analisando-me a mim mesmo eu arrebento a sua classificação, porque eu noto que em mim há de tudo: eu às vezes penso um pouco em idéias, às vezes penso um pouco em acontecimentos, às vezes eu penso bem mais nos fatos, confesso que penso ainda muito mais na minha pessoa… Mas eu lá também penso de vez em quando em algumas idéias e alguns acontecimentos. O Sr. está sendo injusto para comigo recriminando-me de nunca pensar em idéias e acontecimentos.”

Eu digo: Meu caro, então é o caso de dizer que você pertence às três coisas: tem algo de homem superior, você tem algo de misto, algo de medíocre e algo de poca. Então você é como uma corrente com elos de qualidades desiguais, um elo de aço fortíssimo, um elo de ferro “così, così” [assim, assim], um elo de estanho já fora de qualquer apreciação e depois um elo de barro. Do que é que vale a corrente?…

“Ah! seja imparcial! Uma corrente com quatro elos de valor diferente se aquilata tirando a média dos valores dos elos!” – Não é verdade. Uma corrente vale pelo valor de seu elo mais fraco. Então, meu caro, meça-se, julgue-se e não me queira mal…

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