Consagração a Nossa Senhora, 2ª semana de preparação: o conhecimento de Maria, Rainha dos corações

Auditório Nossa Senhora Auxiliadora, Santo do Dia, 13 de março de 1992

 

A D V E R T Ê N C I A

O presente texto é adaptação de transcrição de gravação de conferência do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira a sócios e cooperadores da TFP, mantendo portanto o estilo verbal, e não foi revisto pelo autor.

Se o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério da Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como homenagem a tão belo e constante estado de espírito:

“Católico apostólico romano, o autor deste texto  se submete com filial ardor ao ensinamento tradicional da Santa Igreja. Se, no entanto,  por lapso, algo nele ocorra que não esteja conforme àquele ensinamento, desde já e categoricamente o rejeita”.

As palavras “Revolução” e “Contra-Revolução”, são aqui empregadas no sentido que lhes dá o Prof. Plínio Corrêa de Oliveira em seu livro “Revolução e Contra-Revolução“, cuja primeira edição foi publicada no Nº 100 de Catolicismo, em abril de 1959.

 

 

Nós devemos hoje continuar a preparação para a Consagração, estamos no que se chama convencionalmente a Segunda Semana da preparação. Vamos então ler o texto correspondente a isso e fazer alguns comentários.
Preparação para a Consagração: Segunda Semana
Tratado da Verdadeira Devoção: Números: 229, 37 a 59 
* Depois de nos ter limpado do espírito da Revolução, o primeiro passo é conhecer bem Nossa Senhora
 “Durante a segunda semana, aplicar-se-ão em todas as suas orações e obras quotidianas, em conhecer a Santíssima Virgem. Implorarão este conhecimento ao Espírito Santo”. (…)
Então tem duas coisas. Depois de terem tirado do espírito todos os erros que tornam impossível conhecer bem a Santíssima Virgem, quer dizer, os erros do espírito do mundo, o qual como tive ocasião de demonstrar aqui, se identifica hoje com a Revolução, e portanto, com o espírito da Revolução. O espírito do mundo é uma coisa, a Revolução é outra, mas em nossa época o espírito que o mundo adotou é o espírito revolucionário. E a Revolução é a mentalidade do mundo, é a atividade do mundo.
Então, depois de ter limpado o nosso espírito do espírito da Revolução, incompatível com Nossa Senhora, se criam então as condições para que Nossa Senhora entre em nosso entendimento para que nós a compreendamos bem, condição prévia para depois amarmos, porque o amor nasce do conhecimento, e o reto amor nasce do reto conhecimento. É só quando se conheceu bem é que se ama retamente e, portanto, o primeiro passo depois dessa limpeza preliminar é conhecer bem Nossa Senhora. E para conhecer bem ele indica as condições.
* A primeira condição que São Luís indica para conhecer a Nossa Senhora é a oração
A primeira condição que ele indica desde logo é a oração, mas ele especifica; a oração tem um objetivo, não é uma Ave Maria qualquer solta no ar, mas ela tem objetivo de pedir o conhecimento de Nossa Senhora. E uma altíssima graça que se deve pedir a Deus Nosso Senhor é conhecer Nossa Senhora, primeiro ponto.
Segundo lugar, deve-se pedir esse conhecimento ao Divino Espírito Santo do qual parte exatamente as graças que por meio de Nossa Senhora nos tornam aptos a conhecer bem a Nossa Senhora, a Esposa do Divino Espírito Santo.
* O que representa de intimidade com Deus, a relação de Nossa Senhora com o Divino Espírito Santo
Eu não sei bem se todos os senhores chegaram a medir o que é que representa de intimidade com Deus, a relação de Nossa Senhora com o Divino Espírito Santo.
A relação dEla como Mãe do Verbo Encarnado, a relação dEla com Deus enquanto tal salta aos olhos, e se insiste muito a esse respeito, fala-se muito a esse respeito, ou por outra, falava-se, insistia-se muito a esse respeito, mas esta relação é muito conhecida. A relação com o Divino Espírito Santo é conhecida também, mas se fala menos disso, e uma palavra a esse respeito tem propósito, muito de passagem eu já tratei disso na reunião anterior, mas é o momento de se aprofundar isto.
Por que é que Nossa Senhora é Esposa do Divino Espírito Santo? Ela é Esposa do Divino Espírito Santo no sentido verdadeiro da palavra, Ela é Esposa dEle; a segunda pessoa da Santíssima Trindade, Encarnado, é Filho de Nossa Senhora. Por quê? Porque Ele foi gerado em Nossa Senhora e gerou-se da carne e do sangue dEla, exclusivamente dEla porque nenhuma outra carne ou sangue humano entrou nessa geração, portanto, caro Christi, carum Mariae, a carne de Cristo é inteiramente a carne de Maria, o Sangue de Cristo é inteiramente sangue de Maria. É uma coisa que na consagração agrada lembrar, é que é aquela carne de Nosso Senhor Encarnado é a carne de Maria.
Que o Sangue de Nosso Senhor Encarnado é o sangue de Maria, e é um modo que nós temos durante a consagração de pedir especialmente as graças incalculáveis que a nossa participação à Santa Missa traz – pode trazer se formos devotos – é exatamente por meio de Nossa Senhora, [pois Ele] foi gerado no seio dEla. [Ela foi] Virgem antes, durante e depois do parto, e durante todo o tempo da gestação, o Verbo de Deus Encarnado foi formando o seu corpo do corpo dEla. E como a partir do primeiro momento em que essa Encarnação se deu e estando, embora ainda, o corpo de Nosso Senhor Jesus Cristo na sua fase mais inicial de formação, já Ele tinha toda lucidez, toda compreensão, toda inteligência em virtude da união hipostática e as graças infinitas que Ele recebia etc., etc.
Então, por essa razão Ela tinha conhecimento do que se passava do fenômeno da geração no corpo dEla, e tudo do que se passava Ela queria que fosse assim, e Ela prestava atos de adoração a Ele na medida em que Ela ia dando a própria carne e o próprio sangue dEla para formar o corpo de Nosso Senhor Jesus Cristo. Quer dizer, os senhores estão vendo a intimidade, portanto, dEla com Nosso Senhor é incalculável.
Nossa Senhora é o modelo daquele que comunga porque por uma dessas analogias abismáticas, quando nós temos Nosso Senhor em nós pela Sagrada Eucaristia, a nosso modo, a nosso pequeno modo, às vezes a nosso miserável modo por causa de nossas ingratidões, irreflexões, leviandades, aturdimentos etc., apegos! Então, acontece que nós não comungamos como devemos mesmo assim, quando temos em nós as Sagradas Espécies, nós somos tabernáculos vivos do Santíssimo como foi Nossa Senhora, e isso nos eleva a uma dignidade e a um grau que eu não sei se nós sabemos avaliar cada vez que comungamos.
* Por ser o Divino Espírito Santo o verdadeiro Esposo de Nossa Senhora, São Luís recomenda que se peça a Ele o conhecimento de Nossa Senhora
Mas essas considerações que são tão graves, tão sublimes, que formam o espírito grave e sublime do verdadeiro católico, que vive habitualmente em presença dessas grandes verdades e desses horizontes tão próximos de Deus Nosso Senhor, horizontes de uma grandeza, de uma beleza infinitas, nesse conjunto de verdades está esse fato: que quem gerou Nosso Senhor Jesus Cristo foi o Divino Espírito Santo. De maneira que Ele é o verdadeiro Esposo de Nossa Senhora. E por causa disso São Luís Grignion de Montfort, recomenda que se peça o conhecimento de Nossa Senhora ao Divino Espírito Santo.
Os senhores estão vendo como as coisas se articulam bem e como são lógicas e, portanto, também como é razoável o nosso pedido da jaculatória “Emitte Spíritum túum et creabuntur, et renovabis faciem terrae – Mandai o vosso espírito e todas as coisas serão criadas”. Quer dizer, todos os espíritos abatidos, no pecado, e entregues a toda espécie de coisas, o que os senhores veem por aí, mandai o vosso espírito e todas as coisas serão criadas. Quer dizer, serão restauradas, serão revivescidas, serão reconstituídas na sua situação de maior esplendor. E em fazendo isto vós renovareis a face da terra. Porque quando os homens receberem o Divino Espírito Santo e corresponderem, eles serão recriados, é o “Grand Retour”. E vós renovareis a face da Terra, a Terra terá outra face.
Por que tem outra face? Porque tem outro espírito, a face é o espelho do espírito, mudou o espírito muda a face.
Não sei se eu torno claro a concatenação de todos esses conceitos que ficam logo na primeira linha do que São Luís Grignion diz.
Ele continua:
“Maria é nossa Soberana e nossa Mediadora, nossa Mãe e Mestra”.
Não pensem os senhores que isso são elogios ditos assim… não, tudo isso tem todo o sentido.
* Nossa Senhora é nossa Soberana: Ela, por assim dizer, tem o cetro de Deus nas mãos
Ela é Soberana nossa porque Ela está incalculavelmente mais alta acima de todas as criaturas, e enquanto Mãe de Deus, Ela tem sobre aqueles que obedecem a Deus um poder real porque Deus faz o que Ela pede; Deus manda o que Ela suplica, logo, a súplica que Ela faz é uma súplica governativa por vontade de Deus, Ela suplica a Deus, mas Deus manda: “Faça agora isto!”
E então, Ela, por assim dizer, tem o cetro de Deus nas mãos, é o que aliás, por exemplo, a imagem de Nossa Senhora Auxiliadora indica claramente. Ela tem na mão esquerda o Menino Jesus, e na mão direita o cetro. O que é que quer dizer esse cetro? É o governo que Ela tem de toda a criação pela situação de santidade incomparável e de união com Deus pelo fato da maternidade. Também pelo fato de ser Esposa do Divino Espírito Santo.
E então, “Ela é nossa Soberana” como diz aqui, mas, logo depois diz o seguinte: “é nossa mediadora.”
* Nossa Senhora faz o papel da lente de aumento entre Deus e nós, porque Ela concentra em si aquilo que Ela pede a Deus, e aquilo aplicado sobre a criatura, a incendeia de amor de Deus
Mediar é estar no meio, Ela é que está no meio entre Deus e nós e é mais ou menos, vamos dizer, o papel dEla é mais ou menos assim:
Quando eu era pequeno os meninos do meu tempo gostavam de fazer uma brincadeira que logo depois perdeu a graça para mim, na primeira vez achei um pouco de graça, depois eu achei que não tinha graça nenhuma. É possível que alguns dos senhores tenham feito isso em menino. Comprar nessas casas que há por aí lentes, vidros de aumento e concentrar os raios do sol sobre uma folha morta. Os raios do sol assim concentrados na folha morta, daí a pouco a folha começava a pegar fogo, e para criança que nunca tinha visto isso era uma coisa interessantíssima.
Nossa Senhora faz o papel dessa lente de aumento entre Deus e nós porque pelo poder de Medianeira que Ela tem, Ela concentra em si aquilo que Ela pede a Deus, e aquilo aplicado sobre a criatura incendeia de amor de Deus a criatura. Então, Ela é nossa Medianeira e Mãe.
A palavra mãe diz tanta coisa… em princípio pelo menos fora desse nosso século, dizia tanta coisa. No Reino de Maria dirá tanto mais do que em qualquer século! Porque quando se falar em mãe, se pensará imediatamente em Nossa Senhora. Que a gente compreende que ele logo fala aqui de Nossa Senhora, nossa Mãe!
E depois ele acrescenta: é nossa Mestra. Nossa Senhora deve nos ensinar muita coisa, daqui a pouco ele vai tratar disso, Nossa Senhora como mediadora, como mãe e como mestra.
Ele dá aqui os vários tópicos do que ele vai tratar.
“Apliquemo-nos então a conhecer as funções dessa realeza…”
O que é que Nossa Senhora faz dessa realeza?
As funções dessa mediação, as funções dessa maternidade. Por que isto e para quê? Como é que Ela usa isto?
“… dessa mediação, e dessa maternidade, bem como as grandezas e as prerrogativas que são o seu fundamento ou consequência”.
Quer dizer, as grandezas e perspectivas que vêm daí.
* A gravidade: o verdadeiro católico não é um brincalhão, não é um folgazão, não é um irresponsável
Eu estava lendo outro dia um livro de piedade em que se falava de um santo etc., que era muito bom tal, tal, tal, tal! E apresentava entre as qualidades dele, uma qualidade que eu não me lembro – posso ter visto – mas não me lembro de ter visto mencionado em outro livro de piedade, a gravidade dele.
O ser grave, ser uma pessoa que na qual se vê que costuma cogitar coisas elevadas, que se alegra quando pode pensar em coisas elevadas, e fazer coisas de muita responsabilidade, isto é o que caracteriza o homem que tem o horizonte posto nestas perspectivas. Quer dizer, o bom católico, o verdadeiro católico não é um brincalhão, não é um folgazão, não é um irresponsável, não é um homem que vive examinando a realidade na sua superfície, o verdadeiro filho de Maria é grave, e este é um ponto que acho jamais bastará insistir sobre ele.
A gravidade é uma das nossas principais obrigações.
Digo “nossas” porque se nós somos contra-revolucionários, nós devemos tomar em conta que se há uma coisa que a Revolução quis varrer da face da terra é a gravidade. Todo mundo gosta de se fotografar alegre, dando risada, contente, como se o estado normal do homem nesse vale de lágrimas, fosse alegria. A terra não seria um vale de lágrimas se a posição normal do homem na terra fosse a alegria.
Foi a péssima influência que o cinema de Hollywood teve desde os anos 20 até os anos 40 sobre o mundo, num momento em que o cinema dos outros países estava atrasadíssimo, e o cinema norte-americano dominava completamente o mercado de cinema. E que apareceu um certo estilo, um certo modo de ser alegre, brincalhão, superficial, dando risada de tudo, brincando com tudo, que é o contrário do modo de ser católico e é o contrário do filho de Nossa Senhora, à qual é grave e é séria.
Os senhores nunca viram e eu desafio que vejam – exceto em alguma imagem progressista – uma imagem, uma estampa ou qualquer coisa que represente Nossa Senhora rindo. Por exemplo, está tapando a boca e dando uma gargalhada. Nem se pode imaginar, não é imaginável!
Bem, eu não ouso nem sequer imaginar Nosso Senhor na mesma posição. Por quê? Porque são graves, estão sérios, com espíritos com altos conceitos, altas cogitações, e é disso que se faz a grandeza dos homens e a grandeza das nações.
O que é uma grande nação? É uma nação que tem muitos homens grandes, não tem por onde escapar.
* O que é a grandeza de um homem
E o que é que é a grandeza de um homem? É tratar das coisas altas; se ele gosta de conversar sobre bagatela, ele não tem grandeza nenhuma. A esses brincalhões perpétuos, alegres perpétuos se aplica a censura de Nosso Senhor: “as vossas cogitações não são minhas cogitações, as vossas vias não são minhas vias.” Quer dizer, inferno!
Poucas palavras de Nosso Senhor me impressionaram como esta: “vossas cogitações não são minhas cogitações, vossas vias não são minhas vias.” O que é que vem a ser isto?
“Vocês quando pensam nas coisas, não pensam como Eu; não pensam com profundidade, não pensam com excelsitude, não pensam com elevação, com sublimidade. Pensam de um modo cassange, de um modo ordinário, de um modo vil, na maior parte das vezes em coisas vis! É nisso que vocês pensam, e aí vem o castigo adequado.”
* Exemplo de uma pessoa que não tinha as cogitações de Nosso Senhor
Eu contei já, creio, aqui numa reunião, mas, enfim, o péssimo, o péssimo que há de castigo nas pessoas que não tem esse espírito. Eu contei, creio que aqui, de um velho senhor – eu tinha talvez uns 20 anos – estávamos juntos numa casa e era uma noite muito quente, e quando terminou o jantar as pessoas da família e os demais convidados continuaram durante algum tempo em torno da mesa conversando para depois se levantarem. E ele saiu logo, terminado o jantar ele saiu logo, levantou-se e foi para o terraço contíguo à sala de jantar. Eu vi aquilo, mas não… mas eu também estava com muito calor e era o bom tempo em que os resfriados ainda não me tinham agredido. E eu logo que pude, levantei-me e fui para o terraço também. E o vi que andava de um lado para o outro, mas como ele era muito mais velho que eu, eu não ousei abordá-lo, me limitei a também andar no terraço de um lado para o outro. Ele me disse, parou diante de mim, e disse: “Você sabe por que é que eu estou andando aqui?” Eu disse: “Não senhor!” Ele disse: “Você notou que eu durante o jantar tirei muitas vezes o relógio?” Eu disse: “Notei.” Ele disse: “Cada vez que eu tirava o relógio eu via no relógio uma figura obscena, e é uma obsessão que eu não posso evitar, e eu tirava o relógio para ver se dessa vez veria a figura obscena e a figura se apresentava sempre de novo.” Quase que eu disse a ele: “É porque suas cogitações não são as dEle e as suas vias não são as dEle. Aprenda apenas, pelo menos agora, quando pela velhice Ele está chegando perto do Sr.”
Mas achei que não convinha, afinal ele acabou recebendo os sacramentos antes de morrer.
* O sorriso hollywoodiano e a disposição de gozar a vida presente numa criança de 3 ou 4 anos
Mas eu queria falar isso para chamar a atenção do castigo que tem a falta de gravidade. Os senhores vejam como isto entra nas almas. Muitos dos senhores ouviram falar com certeza numa atriz de cinema dos anos 30 a 40 mais ou menos, se eu não me engano, que foi muito célebre, não como atriz, ela como atriz era uma atriz mediana, Grace Kelly, norte-americana, filha de um casal católico e que se casou como príncipe Rainier de Mônaco, que ainda agora está governando em Mônaco. Ela morreu de um desastre de automóvel.
Mas ela era uma pessoa que parecia levar, pelo menos depois de se casar, uma vida direita e piedosa. De maneira que no conjunto das pessoas de grande representação ela dava uma impressão até edificante. Mas uma revista recente, “Point de Vue”, se não me engano, publicou uma fotografia – fotografias dela – e entre outras uma fotografia dela com três anos de idade mais ou menos, numa praia. Ela já está dando risada, com a risada hollywoodiana, se encantando com as coisas da praia e pronta para gozar a vida. Esta é a mulher como não deve ser.
Os senhores vão ver a descrição que Nosso Senhor faz da mulher forte do Evangelho, não é absolutamente uma mulher assim; é uma mulher séria, que cumpre os seus deveres mesmo quando são difíceis, os cumpre com boa vontade, os cumpre bem, cumpre eximiamente; que está satisfeita, o que é diferente de estar alegre, mas que está com a alma pronta para suportar a qualquer momento uma provação, assim se deve ser.
E é isso que se deve aprender no caminho de Nossa Senhora.
Ele diz aqui o seguinte:
“Nossa Mãe é também um modelo perfeito que deve nos formar…”
Não é “modelo” a tradução não está bem feita, é “molde”. É diferente. Eu daqui a pouco explico isso.
“… a fim de que nos tornemos conformes a Nosso Senhor Jesus Cristo. É necessário que tomemos disposições, intenções idênticas a esse modelo divino. Nós não o poderemos fazer sem estudar atentamente a vida interior de Maria, ou seja, suas virtudes, seus sentimentos, seus atos, sua participação nos mistérios de Cristo e sua união com Ele”.
* A imitação perfeita de Nosso Senhor Jesus Cristo é nos modelarmos em Maria
Então, Nosso Senhor Jesus Cristo é o molde de Maria.
O que é que vem a ser o pensamento dele a respeito do molde? Ele desenvolve isso depois.
Ele diz que um escultor tem dois modos de fazer uma estátua. Uma é ele com trabalho, penosamente etc., sobre uma matéria prima dura, resistente, como é a pedra ou como é a madeira, ele esculpir a estátua. Agora, outra é ele não esculpir a estátua, mas esculpir um molde daquela estátua. De maneira que depois de um modo cômodo, de um modo fácil, ele tenha quantas cópias quiser daquele molde. Porque ele derrama gesso ou qualquer outra matéria lá e o gesso reproduz aquele molde, e então de um modo fácil, de um modo alegre, de um modo seguro ele pode ter um número enorme das estátuas que fabricadas uma a uma lhe daria um trabalho tremendo.
Ele diz então que Maria é o molde de Deus, que Deus ao invés de fazer cada santo exclusivamente por si mesmo, Ele toma Maria e diz ao santo: “Seja como Ela.”
A partir desse momento se aquele que está convidado para a santidade está de acordo, ele aceita de se modelar segundo esse molde e ele fica como que uma outra Maria, como a estátua é um outro tanto do molde. Isso nos faz exatamente lembrar o Reino de Maria.
Como explicar tanta gente esplêndida que nós esperamos que haja no Reino de Maria, quando, hoje, obter uma pessoa esplêndida dá um trabalho sem nome, como explicar tanta gente esplêndida?
É gente que passou pelo molde, que tomou o modo de ser, que entrou dentro do gênero, do estilo dEla. E que por esta razão ficou muito parecida com Ela, ou seja, parecida com Deus, a imitação perfeita de Nosso Senhor Jesus Cristo é nós nos modelarmos em Maria.
Os senhores estão vendo que são razões de peso, razões razoáveis, razões sérias que nos levam a nos modelarmos inteiramente em Nossa Senhora. E assim São Luís vai modelando, vai aproximando-nos desse ideal de santidade que pode a muitos parecer absolutamente inatingível.
* Nossa Senhora é uma prefigura de Cristo e quem quiser se parecer com Cristo deve se parecer com Nossa Senhora
“É necessário que tomemos disposições, intenções idênticas a esse modelo divino”.
Ele quer, portanto, que nós tenhamos disposições e intenções idênticas a Nosso Senhor Jesus Cristo. O que se compreende porque sendo Nossa Senhora, Mãe de Nosso Senhor Jesus Cristo, mas Mãe de uma maternidade tão excelente que é inexcogitável pelo homem; sem a revelação não ocorria ao homem a possibilidade de uma coisa dessas. Então, deve o homem por esta forma imitar perfeitamente Nosso Senhor Jesus Cristo porque Nosso Senhor Jesus Cristo gerado em Nossa Senhora pelo Espírito Santo, por uma geração sublimíssima e eficacíssima, tinha as qualidades todas que Nosso Senhor queria, que Deus queria. Mas Ele tinha por isso muita parecença com Nossa Senhora. Nossa Senhora uma prefigura de Cristo e quem quer parecer com Cristo deve parecer com Nossa Senhora.
Bem é evidente que se fala aqui de parecer moralmente, embora eu tenha a impressão de que Nosso Senhor Jesus Cristo deveria humanamente também, fisicamente parecer-se muitíssimo com Nossa Senhora.
“Nós não o poderemos fazer sem estudar atentamente a vida interior de Maria, ou seja, suas virtudes, seus sentimentos, seus atos, sua participação nos mistérios de Cristo e sua união com Ele”.
Então vem mais uma vez este ponto: “se quiser ir para frente, estude Nossa Senhora, veja como Ela é para conhecer a Jesus Cristo.” E, então daqui a pouco começa o estudo de Nosso Senhor Jesus Cristo.
* Maria Rainha dos corações – Rainha da Contra-Revolução
Bem, então começa agora o seguinte:
“Maria é a Rainha dos corações”
Maria é a Rainha dos corações, Regina cordium, rainha dos corações é o título com o qual nós invocamos Nossa Senhora no começo da reunião dos médicos. Porque é um título que me é muito grato, esse título equivale a dizer, Rainha da Contra-Revolução.
Por que isso?
Os antigos supunham, assim como os homens sem uma instrução especial supõem, que o pensamento é todo elaborado pelos miolos e que, portanto, o miolo é a fábrica do pensamento; eles não tomam em consideração o papel espiritual da alma que é super determinante na gênese dos pensamentos. Os antigos achavam que os atos de vontade eram elaborados pelo coração, de maneira que o coração era o símbolo da vontade da criatura humana. E símbolo, portanto, da vontade da criatura humana enquanto querendo o que aquela criatura quer, voltada para aquilo que aquela criatura quer. Toda a alma, a psicologia da pessoa se veria, vendo-lhe o coração, daí a devoção ao Coração de Jesus e ao Coração de Maria. É devoção à vontade santíssima de Nosso Senhor Jesus Cristo, a vontade santíssima de Nossa Senhora, essas são as duas devoções.
* Em que sentido Nossa Senhora é Rainha dos Corações
Nossa Senhora é a Rainha dos corações em que sentido?
No mesmo sentido da palavra coração. Nossa Senhora não viola a liberdade de todos os homens, mas Ela tem uma tal influência sobre a graça, Ela recebe tantas graças que passa por meio dEla e caminham para os homens que essas graças induzem, atraem, com soberano agrado, com soberana doçura, com soberana clareza, atraem os homens para aquilo que Nossa Senhora quer. E por meio dessas graças Ela é a Rainha de todos os corações.
A vontade do homem hoje em dia, o coração do homem é dominado pela Revolução, o homem hoje em dia – exceções de grupos pequenos como o nosso – o coração dos homens são dominados pela Revolução. Nós temos que nos ligar ao coração por excelência oposto à Revolução, ao coração por excelência contra-revolucionário,[e] o coração de mera criatura assim é o coração dEla. O coração de Nosso Senhor Jesus Cristo está hipostaticamente unido a Deus e é evidente que tem tudo mais do que Nossa Senhora, infinitamente mais, portanto, também a qualidade de contra-revolucionário Ele tem mais do que Nossa Senhora. Mas abaixo de Nosso Senhor, a Contra-Revolução está no coração de Nossa Senhora, e Ela tem o poder de tocar todos os corações, e alterar todos os corações.
De maneira que me passou pela cabeça quando eu propus esta Stella Matutina como jaculatória que seguisse a “Emitte Spiritum túum et creabuntur”, me passou pela cabeça de pôr não Stella Matutina, que eu poderia pôr e pus, mas pôr “Regina Cordium”.
Emitte Spiritum túum et creabuntur et renovabis faciem terrae, ó Regina Cordium!
A questão é que eu não sei se pedir a uma mera criatura como é Ela, embora seja a mais excelsa das criaturas, o mais alto dos serafins não é nada em comparação com Ela; embora seja isto assim eu não sei se é correto dizer sobre o Espírito Santo a Nossa Senhora, mandai Vosso espírito.
Eu tenho dúvida porque Ele afinal de contas é Deus e Nossa Senhora mandar? Eu gostaria de ver isso mais claro, do contrário é o que eu teria posto: Emitte Spiritum túum, etc., o Regina Cordium, ó Rainha dos corações. Propriamente, é o tiro da Contra-Revolução.
Mas isso não deve nos impedir de considerando a Revolução e a Contra-Revolução, invocar muito a Nossa Senhora como Rainha dos corações. E ele vai passar agora a tratar desse assunto elevadíssimo.
Diz ele o seguinte:
“(…) Maria é a Rainha do céu e da terra, pela graça, como Jesus é o Rei por natureza e conquista”.
Nosso Senhor Jesus Cristo é o rei da terra por sua natureza porque Ele sendo homem Deus, a sua natureza o faz rei de toda criação. Nossa Senhora não é por sua natureza mas Ela é pela graça, a graça lhe deu esta realeza sobre toda a terra.
Nosso Senhor Jesus Cristo é o rei da terra por natureza, é o rei da terra por conquista. Porque Ele com a sua Paixão redimiu a terra e a conquistou para Si, Ele ganhou um direito por sua natureza a ser rei da terra.
“Ora, como o reino de Jesus Cristo compreende principalmente o coração, ou seja o interior do homem, conforme a palavra: “O reino de Deus está no meio de vós”,
Quando Nosso Senhor diz “o reino de Deus está no meio de vós” quer dizer, o reino de Deus que se exerce sobre os vossos corações.
“… o reino da Santíssima Virgem está principalmente no interior do homem, isto é, em sua alma, e é principalmente nas almas que Ela é mais glorificada com seu Filho, do que em todas as criaturas visíveis, e podemos chamá-la com os santos a Rainha dos corações”.
Quer dizer o seguinte, os senhores vejam as considerações às quais essas verdades se prestam.
* Para se compreender que o mar é uma vil gota d’água em comparação à grandeza da alma de Nossa Senhora, basta tomar em consideração a situação de Nossa Senhora aos pés da Cruz
Os senhores imaginem o mar, uma pessoa está – vamos dizer, por exemplo – está na ilha Fernando de Noronha, no meio do mar. Aquilo é uma espécie de navio parado e com alicerce no fundo da terra, mas é uma posição maravilhosa. Imagine uma pessoa olhando aquele mar e vendo o esplendor do mar, se regala com aquele esplendor e se entusiasma, como isso é belo! Essa pessoa se for piedosa, se for uma pessoa que ama Maria, deve ter o hábito de reportar a Maria tudo quanto ela pensa, então deve dizer: “Como deve ser o Coração Imaculado de Maria imensamente maior do que tudo isso, não pelo tamanho físico, mas pelo valor, etc.” E podem vir cogitações muito boas sobre a extensão e a qualidade dos predicados dEla.
Por exemplo, para nós compreendermos que o mar é uma vil gota d’água em comparação à grandeza da alma de Nossa Senhora, basta nós tomarmos em consideração a situação de Nossa Senhora aos pés da Cruz. Quer dizer, o que foi que Nossa Senhora sofreu quando Nosso Senhor Jesus Cristo carregando a Cruz, os dois se encontraram e Ela viu o Filho dEla injustissimamente posto naquela situação, e tratado daquela maneira por aquela algaravia de gente vil e que não valia nada, de canalhas. Ela o abraçou e naquele abraço ia da parte dEla ao Divino Filho dEla uma aprovação, mas muito mais do que uma aprovação, um louvor: “Meu Filho eu vos louvo por Vós estardes sofrendo assim pela humanidade, para a glória de Deus.”
Por quê? Porque é glorioso para Nossa Senhora, é glorioso para Deus ter o reino das almas, e Ele estava conquistando isto para todas as almas que foram criadas, que haviam sido criadas e que estão sendo criadas no momento em que eu falo, e que serão criadas até o fim do mundo, Ele está conquistando isso pelo sangue que Ele derramou e pela morte que Ele sofreu.
Ela disse a Ele que estava de acordo, louvou imensamente etc., e subiram juntos ao Calvário. Para mim a cena mais empolgante é o último olhar de Jesus, porque para mim é indiscutível que antes de morrer, Ele olhou para Ela mais uma vez. Para mim isso é uma coisa absolutamente indiscutível! E Ela O estava olhando nesse momento, porque para mim também é indiscutível que durante todo o tempo em que Ela esteve junto à Cruz, Ela não desgarrou os olhos dos olhos dEle. Em nenhum momento Ela olhou para outra coisa do que para os olhos dEle e, portanto, quando Ele olhou para Ela, Ela viu pelo embaçado dos olhos, pelo extremo do sofrimento que Ele estava tendo, etc., Ela viu que a hora estava chegando. Ele disse aquelas palavras de despedida a Ela e a São João: “Filho eis aí tua Mãe, Mãe eis aí teu filho.”
* A morte é um estraçalhamento medonho
Portanto, estava notório que a morte ia chegar logo, mas a morte deve ser um estraçalhamento medonho.
Uma vez eu perguntei a um padre jesuíta no Colégio São Luís em que eu era aluno, como é que se podia saber que sensação tem a pessoa quando morre? E o padre disse: “Ninguém voltou para contar. Mas você veja como é feito o corpo humano, se arrancasse do corpo um braço sem injeção nem nada, pelo mero arrancar, seria uma dor difícil de imaginar. Mas considere que arrancando sem injeção nem nada uma unha de um dedo, por exemplo, uma operação sem nada, já a dor é de urrar, é de dar berros.”
Eu li uma história da Catarina da Rússia, a grande e péssima imperatriz da Rússia, que contava que – entre outras coisas nas memórias dela – que naquele dia ela tinha arrancado um dente. Arrancar dente naquele tempo era uma coisa tremenda porque não havia anestésico. A coisa era no duro e tocavam música durante para as pessoas não ouvirem os gritos da pessoa cujo dente estava sendo arrancado. E ela contou que sofreu tanto com a extração daquele dente que ela ficou louca, e quando deu acordo de si, ela estava sentada sozinha no quarto, sentada embaixo de uma mesa. Até lá a levou isso.
Agora, se arrancar uma unha custa isso, o que é arrancar uma alma?
Os senhores já pensaram nessa hora em que a alma se separa do corpo, a dilaceração que é? Embora possa ser num só ato, e esse ato seja muito rápido, é um ato terrível.
Bem, Ela sabia que Ele ia passar por isso e Ela quis isso. Querendo isto Ela mostrava um domínio sobre si mesma extraordinário, santíssimo porque tudo deve levar uma mãe a não querer, a querer salvar o filho, e se Ela pedisse, Nosso Senhor não seria martirizado.
Nosso Senhor foi martirizado porque Ela não pediu, Ela não pediu porque queria que Ele resgatasse o mundo. Assim Ela levava a sério as coisas, mas Ela ganhou nesta ocasião o domínio de todos os corações.
* Ser senhora de todas as almas é mais do que ser senhora de todos os mares, de todas as vias de todos os astros e de tudo
Agora, é tão augusto dominar todos os corações que os senhores imaginem o coração do homem mais inculto, do homem mais tosco, do homem de sentimentos e de disposições mais vis que podem imaginar; o Nossa Senhora reinar sobre ele tem uma grandeza maior do que o reino que Ela teria sobre todo o mar, e é a alma do último dos homens. Tanto vale uma alma!
Ser senhora de todas as almas é mais do que ser senhora de todos os mares, e ser senhora de todas as vias e de tudo, de todos os astros e de tudo. O que é que Ela possui? Ela possui uma alma! Então, Nossa Senhora é a rainha das almas, chama as almas a si, Ela tem o poder de levar as almas para o bem etc., etc., e este poder de Nossa Senhora é um poder que mostra a onipotência suplicante dEla, é um lado por onde se pode ver pelas súplicas o que é que Ela consegue, o que é que Ela tem de admirável.
Bem, mas então nós devemos fazer a Nossa Senhora esse pedido:
“Minha Mãe Vós sois rainha de todas as almas, mesmo das mais duras e das mais empedernidas que queiram abrir-se a Vós. Está bem, eu Vos peço uma coisa, sede rainha de minha alma, quebrai Vós os rochedos interiores de minha alma, quebrai Vós as resistências abjetas, internas de minha alma. Dissolvei por um ato de Vosso império as paixões desordenadas, as volições péssimas, o resto dos meus pecados passados que possam ter ficado em mim. Limpai-me, ó minha Mãe, para que eu seja inteiramente Vosso.”
Se formos atendidos nós saímos daí perfeitos contra-revolucionários.
Os senhores veem aí a ligação dessa devoção com a Contra-Revolução.
Bem, e nessas condições ele se dispõe então a entrar no pormenor, ele começa demonstrar isso dizendo:
“Maria é necessária aos homens para chegarem ao seu último fim”.
Fim último é Deus, quer dizer, sem Maria nós não chegamos a Deus. Isso já é outra parte e pode ficar para outra reunião.
Eu pergunto se há alguma coisa a perguntar, a ponderar, a acrescentar? Se o padre Gervásio quiser retificar alguma coisa, com todo o gosto…
(Padre Gervásio: Dr. Plinio o seguinte, quando Nossa Senhora em Quito aparecia para a madre Mariana de Jesus Torres, depois da imagem pronta, ela – me parece que numa leitura que eu fiz uma vez – ela entrou na imagem e cantou o Magnificat.)
Que maravilha!
(Padre Gervásio: Se ela entrou na imagem para cantar o Magnificat e como então seria a postura dEla nas nossas almas quando nós abríssemos as nossas almas para Ela? Como seria? O Sr. poderia dar alguma… seria em nós o Magnificat dEla nesta hora também.)
Pois não, com todo o gosto!
Quando se trabalha muito em apostolado uma das alegrias que a gente tem é quando percebe que uma determinada alma melhorou radicalmente, e que está transformada. A gente tem impressão que ela mudou, o olhar dela está luzidio, essa alma está esplendorosa, ela está afável, ela está flexível para tudo quanto é bom, ela está inflexível contra tudo quanto é mal, ela atrai, mas ela mete medo, ela… enfim…
O que é que é isso? É o reluzimento das virtudes que Nossa Senhora obteve para aquelas almas. Então, Nossa Senhora na alma que Ela está dirigindo, Nossa Senhora pelos atos dessas almas e pelo procedimento etc., engrandece a Deus e canta o Magnificat.
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Ilustração: altar-mor da igreja de Santa Maria Rainha dos corações (em Roma), conjunto escultural em que São Luís Grignion de Montfort oferece o “Tratado” a Nossa Senhora.

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