III – Comentários ao “Tratado da verdadeira devoção a Nossa Senhora”: Cap. I, Art. I – Segundo princípio: Deus quer servir-se de Maria na santificação das almas

Plinio Corrêa de Oliveira

 

Comentários ao

“Tratado da verdadeira devoção

a Nossa Senhora”

 

Cap. I, Segundo Princípio

 

1951, Conferência

 

A D V E R T Ê N C I A

O presente texto é adaptação de transcrição de gravação de conferência do Prof. Plinio, em 1951, para os futuros sócios-fundadores da TFP brasileira.

Se o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério da Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como homenagem a tão belo e constante estado de espírito:

“Católico apostólico romano, o autor deste texto  se submete com filial ardor ao ensinamento tradicional da Santa Igreja. Se, no entanto,  por lapso, algo nele ocorra que não esteja conforme àquele ensinamento, desde já e categoricamente o rejeita”.

As palavras “Revolução” e “Contra-Revolução”, são aqui empregadas no sentido que lhes dá o Prof. Plínio Corrêa de Oliveira em seu livro “Revolução e Contra-Revolução“, cuja primeira edição foi publicada no Nº 100 de “Catolicismo”, em abril de 1959.

Cópia da Virgen del Apocalipsis, Escuela quitenha, Equador, sec. XVI

 

SEGUNDO PRINCÍPIO: Deus quer servir-se de Maria na santificação das almas  

Vimos até aqui o que diz São Luís Grignion da cooperação de Nossa Senhora na Encarnação do Verbo. Ele analisa as três qualidades d’Ela – Filha do Padre Eterno, Mãe do Filho de Deus e Esposa do Espírito Santo – e mostra quais as relações que, em face dessas três qualidades, Ela teve com a Santíssima Trindade na Encarnação do Verbo. E conclui demonstrando que essas relações não foram tão-somente muito íntimas, profundamente íntimas, mas foram as mais íntimas das relações, como aliás é fácil conceber.

Pressupostos que demonstram a importância fundamental da ação de Nossa Senhora na salvação das almas

São Luís Grignion passa então a um segundo princípio, cuja demonstração pede três pressupostos:

a) Nossa Senhora teve uma participação imensamente íntima, sumamente íntima, na Encarnação do Verbo;

b) É verdade comum da doutrina católica, e geralmente aceita, que a ação de gerar o Redentor Nosso Senhor Jesus Cristo, e a de gerar as almas para a vida da graça, são duas ações que não podem ser consideradas separadamente.

A razão, segundo a doutrina católica, está em que Nossa Senhora, sendo Mãe de Nosso Senhor Jesus Cristo, que é a cabeça do Corpo Místico, é também Mãe do Corpo Místico de Cristo, pois quem gera a cabeça gera todo o corpo. Sendo Mãe de Cristo, cabeça do Corpo Místico, Nossa Senhora é necessariamente a Mãe do Corpo Místico. Não apenas num sentido figurado ou analógico, Nossa Senhora é Mãe da Igreja Católica. Ela o é no sentido próprio da palavra, e não somente por ter para conosco certas relações e certo sentimento de maternidade, mais ou menos por uma relação proporcionada, como um tio pode chamar a um sobrinho de “meu filho”. Sendo Ela Mãe da Cabeça, Ela o é de todo o Corpo Místico de Cristo. Sendo Mãe da Cabeça, Ela o é de todos os membros.

Pode-se compreender isto, mesmo deixando de lado qualquer outra consideração. O Corpo Místico de Cristo nasceu da Redenção. Ora, tendo Nossa Senhora gerado o Redentor, compreende-se facilmente qual a íntima relação d’Ela com a Redenção, porque Ela é a geradora d’Aquele que é o próprio artífice da Redenção, d’Aquele que é o próprio Redentor. A sua relação com a Redenção está, pois, dentro da linha da maternidade, o que Lhe atribui a maternidade sobre todos aqueles que foram gerados para a vida da graça.

c) Por outro lado, pela própria natureza das coisas, a conversão de uma pessoa equivale a ser gerado Nosso Senhor Jesus Cristo nela, em tornar-se ela membro do Corpo Místico de Cristo, um cristão. Nestas condições, trabalhar pela extensão da obra da Redenção é trabalhar pelo nascimento de Jesus Cristo nas almas. A conversão de uma alma e a geração de Nosso Senhor Jesus Cristo são operações conexas.

Deus gerou Jesus Cristo em Nossa Senhora. Tendo Ela concebido por obra de Deus, sendo Ela a Mãe de Deus, esta maternidade é perene, porque as coisas que Deus faz são definitivas. Tendo Ele, pois, dado a Ela esta qualidade, tendo Ele feito esta operação n’Ela e por meio d’Ela, Ele Se mantém nesta relação a título definitivo. Portanto, a geração das almas pela graça é feita n’Ela e por meio d’Ela, posto que as obras de Deus são definitivas.

Compreenderemos isso melhor imaginando que, por absurdo, Deus degradasse Nossa Senhora, fazendo que uma obra dessa natureza se passasse fora d’Ela, apesar de estar Ela ligada com a maternidade. Essa hipótese só seria possível se Ela deixasse de merecer. Nós sabemos, porém, que em sua vida terrena estava Ela confirmada em graça, e que jamais deixou de merecer essa qualidade; e agora, que está no Céu, Ela também não deixará de merecer a mesma qualidade. Portanto, esta relação está estabelecida a título definitivo.

Desses três pressupostos, tira São Luís Grignion uma conclusão: a ação de Nossa Senhora na salvação das almas é tão importante quanto o foi na Encarnação. Assim como foi primordial o papel d’Ela na Encarnação do Verbo, assim também é de suma e essencial importância na salvação das almas.

Aplicação desse princípio às relações de Nossa Senhora com a Santíssima Trindade

Estabelecido esse conceito geral, São Luís Grignion faz aplicações às relações de Nossa Senhora com as três Pessoas da Santíssima Trindade. Diz ele:

a) Assim como há na ordem natural um pai e uma mãe, para a geração sobrenatural há necessidade de um pai, Deus, e de uma Mãe, Maria. Por isso não tem a Deus por Pai quem não tem Maria por Mãe.

O Padre Eterno quis, em Nossa Senhora, gerar para Si um filho, que é Nosso Senhor Jesus Cristo. E os novos filhos que tem, segundo a graça, Ele também quer gerá-los em Nossa Senhora. Desta maneira, até à consumação dos séculos, os filhos de Deus serão gerados em Nossa Senhora. Assim como a geração natural supõe um pai e uma mãe – pois sem pai e mãe não pode haver geração – assim também há na geração sobrenatural um Pai, que é Deus, e uma Mãe, que é Maria Santíssima.

E São Luís Grignion tira daí uma aplicação muito importante: “Não tem Deus por Pai, quem não tiver Maria por Mãe” (tópico 30). Esta a razão por que os hereges e os cismáticos não gostam de Nossa Senhora; não querem ter Nossa Senhora por Mãe, e por isso não têm a Deus por Pai. É um sinal certo de se ter bom ou mau espírito o ter-se maior ou menor propensão à devoção a Maria Santíssima.

b) Assim como o Verbo quis formar-se em Nossa Senhora para Sua vida terrena, assim também quer fazê-lo para nascer em cada um de nós. “O desejo de Deus Filho é formar-se e, por assim dizer, encarnar-se todos os dias, por meio de Sua Mãe, em Seus membros” (tópico 31). Assim como Ele quis formar-Se e encarnar-Se em Nossa Senhora para Sua vida terrena, assim quer Ele formar-Se, encarnar-Se em Nossa Senhora para nascer em cada um de nós.

c) Sendo Maria esposa do Espírito Santo, somente produz Seu fruto, que é Nosso Senhor, nas almas onde Ele A encontra. O Espírito Santo é realmente o esposo indissolúvel de Maria Santíssima. Dada a indissolubilidade deste vínculo, numa alma onde o Espírito Santo encontra a devoção a Nossa Senhora, Ele aí pára, acorre e produz o Seu fruto, fazendo nascer Jesus Cristo. Se, numa determinada alma, Ele não encontra Maria, não encontra a devoção a Ela, ali não produz o Seu fruto, que é Nosso Senhor.

Necessidade da devoção a Nossa Senhora para a nossa salvação

Por essas considerações, compreende-se bem como, por disposição da Providência Divina, Nossa Senhora é verdadeiramente necessária para a salvação das almas. A este título, esta necessidade torna a devoção a Ela completamente diferente da devoção aos santos. Não se pode dizer, por exemplo, que a devoção a São Francisco de Sales seja necessária para a salvação de nossa alma. É, por certo, uma devoção muito conveniente, mas isso não quer dizer que não salvará sua alma quem não for seu devoto.

Com Maria Santíssima, contudo, não é assim. Quem não for Seu devoto não salvará a sua alma. E não a salvará por força do papel de Nossa Senhora na economia da graça e na produção dos filhos de Deus.

É importante e necessária uma perfeita compreensão disso, devendo estar de tal maneira sabido e assimilado, que passe a ser um desses conhecimentos comuns, que se manuseiem para a nossa devoção e se utilizem com facilidade para a vida espiritual.

Recapitulando

Para maior facilidade de compreensão, e tendo em vista a importância transcendental da matéria, repetiremos essas doutrinas em termos mais simples.

1 – Pela graça, tornamo-nos membros do Corpo Místico de Cristo – Sem a graça de Deus ninguém pode salvar-se. Portanto, a posse da graça é essencial para a nossa salvação. Essa posse, por outro lado, é o que em teologia se chama o nascimento de Jesus Cristo em nós. Aqueles que têm a graça tornam-se membros do Corpo Místico de Cristo, incorporam-se a Jesus Cristo e, de algum modo, pelo fato de terem a graça, Jesus Cristo nasce neles. Vemos, pois, a conexão que existe entre o fato de tornarmo-nos cristãos, membros do Corpo Místico de Cristo, e a vida da graça.

2 – Sendo Nossa Senhora Mãe da cabeça do Corpo Místico, que é Cristo, tem que sê-lo também dos seus membros; e por causa das relações especiais que Ela teve com a Santíssima Trindade na Encarnação, sua aplicação e seu símile se dão na geração da vida espiritual em nós – Para uma pessoa tornar-se cristã, membro do Corpo Místico de Cristo, é absolutamente indispensável a participação de Nossa Senhora, por uma necessidade que de si não é absoluta, mas que Deus instituiu. Em termos mais simples: Absolutamente falando, a Providência poderia ter dispensado Maria Santíssima; mas, uma vez que dispôs o contrário, Nossa Senhora tornou-se para nós meio indispensável. Sendo Mãe de Jesus Cristo, Ela o é de todo o Corpo Místico de Cristo, e sem a participação d’Ela não teria sido possível sermos membros desse Corpo Místico.

3 – Como essa doutrina não é exclusivamente de São Luís Grignion, mas de toda a Igreja, negá-la é pecar contra a Fé – É mister esclarecer que não se pode dizer que essas idéias aqui desenvolvidas sejam “doutrina de São Luís Grignion”. Talvez, já no tempo dele, fossem elas ensinadas por toda a Igreja. Hoje certamente o é. Em conseqüência, toda essa doutrina não poderia ser hoje negada, sem que se caísse em pecado contra a Fé, pois é verdade de Fé.

Se tudo isso é verdade, tanto mais unidos estaremos a Deus quanto o estivermos em relação a Nossa Senhora. Que aplicações tiramos daí para a nossa vida espiritual?

Se tudo isto que a Igreja ensina é verdade – já não podemos aqui dizer que é São Luís Grignion apenas quem o ensina – torna-se bem claro que a ação de Deus em nós, em nossa santificação, em nossa própria salvação, tornar-se-á tanto mais garantida quanto mais estivermos unidos a Nossa Senhora.

Se sabemos que o Padre Eterno quer multiplicar Seus filhos por todos os séculos em Maria Santíssima, é tanto mais certo que seremos filhos d’Ele quanto mais Nossa Senhora estiver dentro de nós. Se é certo que Nosso Senhor Jesus Cristo Se multiplica e quer Se multiplicar nos cristãos, fazendo que eles nasçam em Nossa Senhora como Ele mesmo nasceu, tanto mais teremos certeza de que Cristo Se forma em nós e de que nos santificamos e progredimos na vida espiritual, quanto mais Nossa Senhora estiver presente em nós, pela ação da graça.

Maria é esposa indissolúvel do Espírito Santo. Vendo Nossa Senhora em uma alma, ou seja, vendo a devoção a Ela, Ele acode imediatamente e nela produz Seus frutos da graça. Portanto, quanto mais intensa for em nós a devoção a Maria Santíssima, tanto mais garantia teremos de que o Espírito Santo virá à nossa alma, e nos ilustrará e fecundará com Sua ação.

4 – Por isso devemos fazer um exame de consciência, para medir o grau de santificação e união com Deus em que estamos, pelo grau que temos de devoção a Nossa Senhora – Se isto é assim, devemos ter a maior devoção a Nossa Senhora que se possa conceber. E se ela é assim necessária, tanto mais longe estaremos de nos santificar e de nos salvar, quanto mais distantes estivermos desta máxima devoção a Maria.

Podemos, pois, fazer um exame de consciência e perguntarmo-nos em que grau estamos da devoção a Nossa Senhora. Teremos, por essa forma, um verdadeiro termômetro do grau de santificação e de união com Deus em que nos achamos. Tal é a estreita relação existente entre a devoção a Nossa Senhora, a santificação e a salvação.

5 – Essa devoção, ainda que não sensível, dará seus frutos – Há, nesta matéria, aspectos belíssimos. Nem todas as almas sentem um atrativo, por assim dizer espontâneo e natural, para a devoção a Nossa Senhora. Uma freira contou-me certa vez que uma protestante convertida ao catolicismo dizia ter uma compreensão completa de todas as razões pelas quais, segundo a doutrina católica, uma alma deve ter devoção a Nossa Senhora. Mas essas razões, se bem que a persuadissem, não lhe tocavam a alma. Então, por puro espírito de sujeição para com a Santa Igreja, ela fazia tudo quanto esta lhe indicava para com Nossa Senhora, mas sem que aquelas práticas tivessem maior ressonância em seu interior. Passou mais ou menos dez anos praticando dessa forma um culto a Nossa Senhora que, na aparência, se poderia dizer fabricado, sintético, artificial, intencional. Ao cabo desses dez anos, tornou-se uma das pessoas mais devotas de Nossa Senhora que essa freira conhecera. A graça fecundara aquela admirável docilidade para com a Igreja infalível. A dificuldade que ela sentia, em ter uma devoção sensível para com a Santíssima Virgem, era uma espécie de barreira que Nossa Senhora queria que ela vencesse, a fim de uni-la a Si ainda mais particularmente do que outras almas.

Não devemos, pois, desanimar quando não notamos em nós uma propensão especial para esta devoção. Desde que tenhamos suficiente espírito de fé para nos submetermos à doutrina católica, e para agirmos como nos indica a Santa Igreja, a devoção a Nossa Senhora, mesmo praticada nessas condições, produzirá em nós todos os seus frutos. E esses frutos serão particularmente ricos se tivermos o propósito firme de desenvolver a devoção à Santíssima Virgem em cada um de nós e em torno de nós, tanto quanto a doutrina católica o permita, e até aos seus mais ousados extremos. Se a expressão não fosse um tanto incorreta, ousaríamos dizer: até aos seus últimos paroxismos. Eis um programa completo de vida espiritual.

Aplicações para o apostolado

Que aplicações devemos tirar destas verdades, para o apostolado?

Se é real tudo o que até aqui se disse, o progresso da Igreja deve consistir sobretudo no desenvolvimento da devoção a Nossa Senhora entre os fiéis. Quando, por exemplo, o “Catolicismo” insiste de todos os modos na devoção a Nossa Senhora, ele o faz por devoção; mas fá-lo também porque sabe que realmente, para a Igreja Católica, este é um ponto absolutamente fundamental.

Se há uma determinada região onde Nossa Senhora é pouco venerada, aí a fé e os costumes correm perigo. Se em outras Ela é muito venerada, estão postas as condições para que a fé e os costumes floresçam. Não se pode dizer que florescerão automaticamente, porque na vida espiritual não existe automatismo. Não é lícito dizer que, sendo devotas de Nossa Senhora, as almas são automaticamente boas. Mas pode-se afirmar que ficam postas as condições para que as almas, nessa região, sejam verdadeiramente católicas. Isto é certo, como já vimos, para cada alma. E o que se diz de um homem diz-se de uma região, pois esta é constituída por homens. Se é verdade que uma alma será tanto mais imune à heresia e à corrupção quanto mais for devota de Nossa Senhora, as cinqüenta mil almas de uma região também o serão, quanto mais devotas d’Ela forem.

Por outro lado, o culto a Nossa Senhora é o que atrai de Deus as maiores bênçãos. Esta devoção, atraindo d’Ele as graças mais excelentes, é evidentemente capaz de promover a salvação de maior número de almas.

Descendo mais ao fundo da questão, vemos que, estando a conversão e a santificação das almas, segundo os altíssimos desígnios do próprio Deus, de tal maneira relacionadas com a devoção a Nossa Senhora, devemos pedir a Ela que trabalhe nesse sentido de nos unir mais a Si, pois a Sua intercessão e o Seu patrocínio são absolutamente necessários para a nossa salvação.

Se quisermos que alguém progrida e se santifique, não poderemos fazer coisa melhor do que pedir as graças de Nossa Senhora para ele. Se quisermos a conversão para alguém, melhor não poderemos fazer que pedi-la a Nossa Senhora. Devemos pedir a Ela – criatura santíssima em que Deus Nosso Senhor é gerado – que produza o Seu fruto naquela alma, fazendo nascer nela Nosso Senhor Jesus Cristo. A devoção a Nossa Senhora, bem entendida e bem praticada, é o elemento fundamental para a fecundidade do próprio apostolado.

O culto a Nossa Senhora não prejudica o culto a Deus. Antes, é um meio necessário para ele. É preciso esclarecer que o tempo empregado pelo homem em cultuar Nossa Senhora não representa uma diminuição do culto prestado a Deus. Isso porque Deus dispôs as coisas de tal maneira que, enquanto estamos nesta Terra – para não considerarmos senão a vida terrena – nosso pensamento não pode, não consegue estar continuamente preso a Ele de modo direto, e deve estar necessariamente relacionado com outros seres. E o mérito de nosso pensar consiste então em ver a Deus em outros seres, porque esta foi a ordem de coisas estabelecida por Ele.

Assim, é vontade de Deus a nosso respeito que estejamos cogitando, por exemplo, de assuntos de sociologia, política, finanças, economia, arte, e não é vontade d’Ele que nosso espírito esteja constantemente concentrado na preocupação exclusiva de Lhe prestar culto (pelo menos de modo direto). Ora, se este é o princípio obviamente admitido, não é de espantar que Ele deseje que uma parte desse tempo recaia sobre Sua Mãe. Isto para não considerar senão este aspecto do assunto.

Mesmo do ponto de vista da intensidade dos afetos, a devoção a Nossa Senhora não prejudica o culto a Deus. Num raio de sol que pousa sobre um certo objeto, se lhe interpusermos um corpo opaco, o raio ficará com sua marcha tolhida; colocando-se um corpo translúcido, o raio passará por ele, perdendo contudo a sua intensidade. Mas se se colocar uma lente, ele se concentrará. Nossa Senhora não faz entre Deus e nós o papel de corpo opaco nem do translúcido, mas o da lente.

A devoção a Maria, em relação a Deus, é para nós o que na devoção ao Santíssimo Sacramento representa o cristal que se coloca no ostensório diante da Hóstia: todo olhar deve passar por ele, para se chegar a ver as Sagradas Espécies. Ele não prejudica a visão; pelo contrário, necessariamente é preciso passar-se por ele (para tê-la de maneira mais nítida). Nossa Senhora é como uma lente poderosa e pura, que concentra em nós as graças que vêm de Deus. São Luís Grignion nos explica muito bem o fundamento teológico disso, como veremos adiante.

Índice pormenorizado

Introdução

Capítulo I – Necessidade da devoção à Santissima Virgem / Artigo I – Primeiro princípio: Deus quis servir-se de Maria na Encarnação

Art. II – Consequencias: 1a. Maria é a rainha dos corações; 2a. Maria é necessária aos homens para chegarem ao seu último fim

Capítulo II – Verdades fundamentais da devoção à Santíssima Virgem

Capítulo II (continuação): Mediação Universal de Nossa Senhora na obra de São Luís Grignion

Capítulo III – Escolha da verdadeira devoção à Santíssima Virgem

Capítulo IV – A perfeita devoção à Santíssima Virgem ou a perfeita consagração a Jesus Cristo

Capítulo V – Motivos que nos recomendam esta devoção

Capítulo VI – Figura bíblica desta perfeita devoção: Rebeca e Jacó

 

 

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