IX – Comentários ao “Tratado da verdadeira devoção a Nossa Senhora”: Capítulo V – Motivos que nos recomendam esta devoção

1951, Conferência

A D V E R T Ê N C I A

O presente texto é adaptação de transcrição de gravação de conferência do Prof. Plinio, em 1951, para os futuros sócios-fundadores da TFP brasileira.

Se o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério da Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como homenagem a tão belo e constante estado de espírito:

“Católico apostólico romano, o autor deste texto  se submete com filial ardor ao ensinamento tradicional da Santa Igreja. Se, no entanto,  por lapso, algo nele ocorra que não esteja conforme àquele ensinamento, desde já e categoricamente o rejeita”.

As palavras “Revolução” e “Contra-Revolução”, são aqui empregadas no sentido que lhes dá o Prof. Plínio Corrêa de Oliveira em seu livro “Revolução e Contra-Revolução“, cuja primeira edição foi publicada no Nº 100 de “Catolicismo”, em abril de 1959.

 

Nos tópicos 135 a 182, São Luís Maria Grignion de Montfort discorre sobre as vantagens que há em nos consagrarmos como escravos a Nossa Senhora.

A devoção de São Luís Grignion de Montfort consiste na doação completa de nós mesmos a Nossa Senhora na qualidade de escravos. Escravos, porque damos a Ela mais do que um filho pode dar. As relações de um filho com sua mãe são muito mais íntimas, muito mais próximas, muito mais profundas do que as relações de um escravo com seu senhor. Mas, em face de sua mãe ou de seu pai, o filho conserva direitos. Em face do seu senhor, o escravo como que não retém direitos. Por isso, a renúncia de si, feita por aquele que tem promessa de escravidão a Nossa Senhora, é, num certo sentido, mais profunda do que a que faz aquele que se considera simplesmente filho d’Ela.

São Luís Grignon não teve a intenção de excluir o apelativo filho, mas acumula ambos. É por nos sentirmos filhos de Nossa Senhora, e por reconhecermos n’Ela, além de uma Mãe perfeita e incomparável, a Mãe de Deus, que somamos à condição de filhos também a de escravos. Sem perdermos a condição de filhos, acrescentamos-lhe a de escravos.

Esta devoção significa, pois, uma renúncia muito profunda de nossa parte. Que vantagens nos traz? Podem elas ser resumidas em determinados pontos, alguns dos quais já tratamos.

Relembrando o papel de Maria Santíssima no Corpo Místico de Cristo – é Ela quem gera este mesmo Corpo – e quão grande intercessora e medianeira é entre Nosso Senhor Jesus Cristo e os homens, compreenderemos que tudo quanto está mais ligado a Nossa Senhora está mais próximo de Deus.

Já mencionamos uma comparação a respeito da posição da Virgem Santíssima na vida da graça, segundo a qual Ela está para Nosso Senhor como o cristal que cobre a Sagrada Hóstia no ostensório está para a própria Eucaristia. Não podemos distinguir a operação pela qual olhamos o cristal, da operação pela qual olhamos a Eucaristia. Assim, não podemos separar a devoção a Nossa Senhora da devoção a Nosso Senhor. São uma só e mesma coisa. Na devoção a Maria Santíssima temos o melhor e o único meio verdadeiro de atingir a devoção a Nosso Senhor Jesus Cristo.

Sendo Nossa Senhora o canal, quem por aí entrar, até onde chegará? Até seu ponto terminal. É Ela o meio para lá se chegar. E quem se serve completamente do meio chega necessariamente ao fim. Se, portanto, uma alma colocar-se numa união muito estreita com Nossa Senhora, alcançará certamente uma íntima união com Nosso Senhor.

No ato de escravidão a Nossa Senhora não se trata apenas de conseguir uma união muito íntima com Ela, mas de obter a união mais íntima que uma criatura, nas nossas condições, pode jamais obter. Essa é a nota característica da devoção de São Luís Grignion. Não se pode dizer que é um método de união muito estreito a Maria Santíssima. É muito mais. Por muito que esforcemos nosso espírito, não descobriremos um método de união que vincule mais uma criatura a Nossa Senhora do que este.

Pois: se, além de filho, alguém se dá inteiramente a Ela como escravo; se tem a intenção de tirar, da Doutrina da Igreja, todas as conseqüências a respeito d’Ela; se vive assim numa união íntima e constante com Maria Santíssima, forçosamente chegará ao último ponto possível da devoção a Ela, pois não parece concebível que a devoção à Virgem Santíssima possa chegar a um grau de união, de intimidade, de perfeição maior do que este que São Luís Grignion preconiza.

Nosso Senhor é o prêmio da escravidão a Nossa Senhora

O problema, que consistia em saber qual a vantagem que havia em praticar esta devoção, se desloca para outro ponto: qual a vantagem em se ter a união mais íntima que uma criatura possa jamais ter com Maria Santíssima?

A resposta vem por si: Basta considerar quem Ela é. Maria é nossa Mãe, e ao mesmo tempo Mãe de Nosso Senhor Jesus Cristo. Como nossa Mãe, Ela usa para conosco – se fosse respeitoso dizê-lo – de todos os preconceitos, parcialidades e parti-pris que uma boa mãe tem em relação ao seu filho. O amor materno chega quase à fraudulência. O demônio, em muitas manifestações nas quais é obrigado a falar de Nossa Senhora, faz à Virgem a acusação de que Ela perturba a lei da Justiça e comete fraudes contra o inferno. É uma injúria, uma blasfêmia. Nossa Senhora é incapaz de fazer algo que tenha uma só gota de mal. Mas isso significa que sua misericórdia e proteção maternas são levadas a um tal ponto, que realmente chegam ao inimaginável, ao inconcebível.

Nossa Senhora é incomparavelmente melhor do que todas as mães da Terra. Ela nos ama muito mais do que nossa mãe terrena. Esta, em comparação com Nossa Senhora, está mais distante de nós do que uma governante estaria em relação à nossa mãe, eis a proporção. Maria é muito mais verdadeiramente nossa Mãe do que o é nossa mãe terrena. Ora, sabemos até onde nossa mãe seria capaz de ir, para nos proporcionar um benefício. Do que, então, será capaz Nossa Senhora?

Jamais vimos na Terra um filho que, de extremo amor por sua mãe, tenha renunciado a tudo e se tenha colocado na categoria de seu escravo. Até onde irá o amor de Maria, vendo um filho seu agir assim com Ela? Ela, a Mãe perfeita; Ele, o filho perfeito. A recompensa somente poderá ser perfeita.

Mas, no caso da escravidão a Nossa Senhora, a recompensa será proporcionada, não ao valor do que nós demos, mas sim ao valor da generosidade d’Aquela que o recebeu. É o próprio das mães; se um filho lhe dá um presente, o gosto dela não será o de calcular o preço, e pagá-lo à mesma altura. O amor materno, por um pequeno presente, retribui com grande abundância. É esta a caraterística do amor materno.

Assim sendo, se nós nos dermos inteiramente a Nossa Senhora, se lhe dermos tudo quanto podemos dar, e não apenas um pequeno presente, com o que haverá Ela de nos retribuir? Com uma tal abundância de graças, de benefícios e de proteção, que simplesmente não haveria expressões na linguagem humana que a pudessem traduzir.

Das vantagens da devoção a Nossa Senhora, só há uma coisa a dizer: o prêmio excede toda linguagem. Ela nos dá o que tem de melhor. E o que Nossa Senhora tem de melhor? É o próprio Nosso Senhor Jesus Cristo, a Sabedoria encarnada.

Há uma profunda expressão disto numa imagem de Nossa Senhora, em que Ela, sorrindo, estende o Menino Jesus ao fiel. Que sentido profundo! Realmente, a melhor recompensa que Ela nos dá é Nosso Senhor Jesus Cristo; é amá-lo e estarmos unidos a Ele, é obedecer-lhe. Esta é uma recompensa que excede a toda linguagem.

Nosso Senhor disse de Si mesmo a Abraão: “Ego sum merces tua magna nimis” – Eu sou a tua recompensa exageradamente grande. Quem recebe a Deus por recompensa, recebe uma recompensa exageradamente grande. Este é o sublime prêmio da consagração a Nossa Senhora.

A devoção a Nossa Senhora aumenta nossas virtudes, unindo-nos sempre mais a Nosso Senhor

Com o auxílio da graça, nós praticamos em nossa família de almas uma série de virtudes através das quais desejamos unir-nos muito especialmente à Igreja Católica, o Corpo Místico de Nosso Senhor Jesus Cristo: a virtude do senso católico, da pureza, do senso do sacrifício, da renúncia de si mesmo, do gosto pelo trabalho, pela mortificação, pelo esforço, o gosto pelo método naquilo que não seja geométrico, etc. Enfim, nós desejamos adquirir todas as virtudes, para unirmo-mos a Nosso Senhor.

Ora, a melhor forma de se adquirir essas virtudes é praticar a devoção a Nossa Senhora. É Maria quem nos obtém essas virtudes de modo excelente, de maneira mais direta, mais rápida, mais segura do que qualquer outra forma.

Isto, na ordem prática das coisas, se opera não apenas ouvindo-se uma explicação de São Luís Grignion, ou lendo o Tratado da Verdadeira Devoção e guardando tudo na memória, mas adquirindo-se um determinado teor de vida espiritual que devemos desejar assumir. Este teor consiste num conhecimento muito sério do que podemos esperar de Maria, e de como agir em relação a Ela.

A devoção a Nossa Senhora aumenta nossa capacidade de sofrer

Em plano muito mais elevado, podemos esperar de Nossa Senhora aquilo que um filho espera de sua mãe?

Há duas espécies de mães: a boa e a pseudo-boa. A mãe pseudo-boa tem pena do filhinho e não quer que ele sofra. Ela pactua com todas as traquinagens do filho, com todas as suas faltas no cumprimento do dever, com toda a sua moleza, dispensando-o de todas as regras e prejudicando irremediavelmente a formação do seu caráter.

Mas há outro tipo de mãe que, dada a contingência atual do homem, sabe que não há outro meio para ele, senão sofrer, sofrer e sofrer muito, para dilatar a alma, santificá-la, engrandecê-la. Sabe que é preciso sofrer para estudar, que é preciso sofrer para lutar na vida, que é preciso sofrer para viver, sofrer enfim em todas as circunstâncias. Sabe, em última análise, que o homem vale na medida do que sofreEsta mãe cuida de aliviar os sofrimentos de seus filhos, na medida em que isto seja possível e não lhes cause prejuízo. Mas toda a medida de sofrimento que verdadeiramente a educação exija, uma boa mãe quer que o filho a atinja. Ela simplesmente limita-se a ampará-lo no sofrimento, de tal forma que ele tenha força e coragem para sofrer o que deve. Mas ela quer que ele sofra. Nossa Senhora procede por essa forma.

Haveria ilusão em tomar as vidas de santos, os florilégios de Nossa Senhora, e ver de modo unilateral certas graças excepcionais que Ela concede. Por exemplo, São Francisco de Sales, no auge de uma tentação atroz relacionada com o problema angustiante da predestinação, emagrecendo, definhando, numa esterilidade espiritual pavorosa, com uma procella tenebrarum dentro da alma, aproxima-se de uma imagem de Nossa Senhora e recita o Memorare; imediatamente as nuvens se dissipam, e ele se sente cheio de paz e de tranqüilidade; a crise espiritual estava resolvida.

Tendo-se um sem-número de casos destes, não se pode deixar de sentir uma impressão profundamente edificante e muito útil para a vida espiritual. Mas ela não deve ser unilateral.

Nossa Senhora alivia amiúde as provações de nossa vida espiritual, como uma boa mãe que reduz o sofrimento do filho na medida do indispensável. Mas há um limite necessário para todo sofrimento, e não é um limite pequeno. Dele Nossa Senhora não nos tira.

Não se pense que a devoção a Nossa Senhora é uma espécie de morfina para a vida espiritual, que, uma vez ingerida, dissipa todas as dores. Não, Nossa Senhora – e São Luís Grignion insiste sobre isto – não tira do ombro do fiel o peso da cruz, mas lhe dá forças abundantes para carregá-la. Ela lhe dá o amor à cruz e ao sofrimento. Este é o fruto da devoção a Nossa Senhora.

A graça de possuir uma grande intimidade com Nossa senhora

Devemos compreender, portanto, que na devoção a Nossa Senhora há duas coisas a pedir. Reconhecendo que somos homens fracos, que não somos atletas na vida espiritual, devemos pedir a Ela que nos socorra nas aflições que nos parecem muito pesadas. É um esplêndido pedido, e Ela no-lo atenderá muitas vezes. Sempre que, na medida da Providência de Deus, for possível socorrer-nos, Ela o fará. Mas devemos lembrar-nos de que há uma certa medida de dor que devemos suportar, e por inteiro. Nós mesmos não sabemos bem qual é essa medida; Ela o sabe. Precisamos então pedir-Lhe forças para a suportar. Neste ponto, no equilíbrio destes dois pedidos, é que está a providência de Nossa Senhora.

Imaginemos uma pessoa que leva sua vida quotidiana, a qual tem sempre dois aspectos diferentes. Há períodos em que vivemos a rotina comum: é o trabalho de ir e voltar da escola, de preparar a lição, de visitar um parente. É uma engrenagem comum, um quase prosaísmo quotidiano. Mas há outro aspecto da vida do homem, que são as ocasiões dos grandes sofrimentos, em que ele não tem apenas os aborrecimentos da vida de todos os dias, mas em que arca com o peso de sofrimentos excepcionalmente grandes.

Numa e noutra destas situações da vida espiritual, imaginemos uma pessoa que saiba verdadeiramente praticar a devoção de São Luís Grignion. Nas pequenas dificuldades da vida quotidiana, ela se lembrará de que tem em Nossa Senhora uma Mãe. Não só várias vezes durante o dia, mas terá disto uma consciência habitual e permanente. Quando estiver em dificuldades, quando tiver problemas, ainda que sejam minúsculos, pedirá o socorro de Maria, dirigir-se-á a Ela. Em todas as circunstâncias correntes da vida, estará rezando à Virgem Santíssima. Viverá numa permanente intimidade com Nossa Senhora, para tudo pedindo-Lhe socorroNuma perplexidade, pedir-lhe-á que a faça ver o verdadeiro caminho. Já nas grandes ocasiões, pedir-lhe-á forças para suportar o peso das provações excepcionais, obtendo com isto energia para os atos de heroísmo que muitas vezes a vida espiritual exige de cada um.

Se uma pessoa souber oferecer todos os seus atos em união com Nossa Senhora e segundo as intenções d’Ela, se souber pedir constantemente o Seu auxílio em todos os momentos, sua vida espiritual crescerá maravilhosamente. Se está distraída na leitura, por exemplo, pedir que Ela a faça, apesar disso, tirar frutos; se sai à rua e vê alguém que está cometendo um pecado, pedir por aquela alma; se tem uma tentação, pedir força para resistir; se vê uma alma que sofre, pedir por ela; enfim, recorrer continuamente a Nossa Senhora. Podemos dizer que não há melhor programa para a vida espiritual. Isto exige, porém, toda uma compenetração e todo um esforço de vontade.

Nossa Senhora, panacéia para a vida espiritual

Das provações inerentes à vida espiritual ou impostas pela fidelidade à Igreja, há uma muito árduapela qual todos devemos passar. É a sensação de aridez, de estagnação, de imobilidade aparente de todas as coisas. Entra ano, sai ano, e a vida espiritual parece não progredir. É a vida de apostolado que se debate sempre nos mesmos problemas; é algo que vai acontecer e se consegue evitar; mais tarde é outro mal que está para surgir, e se consegue impedir; novamente outro imprevisto, e chora-se porque não se o evitou, mas fica-se vigilante para outro que está para acontecer. Nos primeiros momentos, ter-se-á a sensação de montanha russa. Esta diverte quando se dá nela uma volta. Mas passar nela alguns anos é humanamente insuportável, e sentimo-nos tentados a acabar com aquele sobe-e-desce, a fim de vivermos como um homem particular qualquer.

Este prolongamento contínuo da mesma ordem de coisas aparentemente imóvel é como navegar no mar sem ponto de referência. Fica-se navegando, sabe-se pela posição das estrelas que se está mudando de posição, mas, exceção feita disto, não se tem noção de movimento. E quanto de esforço despendido para se navegar! Seria a sensação dos remadores de uma galera, que tivessem a impressão de que o barco não se move do lugar. É a sensação de enfaramento, de monotonia, que por vezes pode-se ter na vida espiritual e na de apostolado.

Para tais ocasiões, a solução é o recurso a Nossa Senhora. Rezar a Ela, que é o remédio para tudo. Costuma-se dizer que não se devem admitir panacéias. Há uma exceção: Nossa Senhora é verdadeiramente uma panacéia, exceto para a má vontade de quem positivamente não quer ser bom. “Qui creavit te sine te, non salvabit te sine te” – Aquele que te criou sem teu concurso, não te salvará sem a tua colaboração, diz Santo Agostinho.

Esta verdadeira devoção a Nossa Senhora nos dá possibilidades de eficácia incalculáveis, no serviço da Igreja.

Tomemos, por exemplo, um contra-revolucionário que pratica seriamente esta devoção, e que assista a uma reunião de formação. O mérito de ter comparecido à reunião reverte às mãos de Nossa Senhora. E Ela, que conhece melhor os interesses da Igreja do qualquer homem, aplicá-lo-á de acordo com a Sua Sabedoria. Assim, além do apostolado que faz comparecendo às reuniões, pode fazer um bem maravilhoso em um outro plano. Bem pode ser que esteja participando de modo invisível, sem o saber, dos mais altos destinos da Igreja, da luta entre a Esposa de Cristo e a anti-Igreja. Ele não o sabe, mas Nossa Senhora terá nisto aplicado seus méritos, e está produzindo frutos que ele nem sequer pode imaginar. É o que há de mais certo, pois Nossa Senhora não esbanja os nossos méritos. Ela os aplica com a máxima sabedoria possível. Portanto, o que fazemos quando os confiamos à Sua sabedoria é aproveitá-los ao sumo.

A escravidão a Nossa Senhora dá valor incalculável às nossas boas obras

Contudo, qual é verdadeiramente o mérito das nossas ações? A presença a uma reunião, por exemplo, tem um certo mérito, enquanto ato feito por amor à Igreja, e enquanto representa a privação de um lazer, de um repouso, de um divertimento, para trabalhar para Ela.

O mérito de uma ação está, de um lado, em que ela seja intrinsecamente boae de outro nas disposições internas com que a alma age. São disposições que têm um certo lusco-fusco, uma mescla dos defeitos e qualidades que existem em cada um de nós. Mas as ações de Nossa Senhora têm mérito incomparável. São Luís Grignion diz que Nossa Senhora teve mais méritos em um ponto de costura, dado numa roupa para o Menino Jesus, do que São Lourenço deixando-se queimar vivo para confessar a Jesus Cristo.

Ora, devemos nos lembrar de que nossas ações, enquanto escravos de Nossa Senhora, de algum modo participam da ação d’Ela. De certa forma é Ela que está agindo em nós. E, portanto, há um valor, uma virtude e uma eficácia que nossa ação recebe de Nossa Senhora, pela qual ela passa a valer muito mais do que poderíamos merecer por nossos próprios méritos.

Não há, portanto, mais alto nível de eficácia de vida e de ação do que neste método de devoção.

A maldade humana e a devoção a Nossa Senhora

O homem tornou-se, após o pecado original, não apenas ruim, mas péssimo. A maldade e a miséria humanas tornaram-se traços indeléveis de sua natureza corrompida.

Estamos, com isto, prestando um depoimento a nosso respeito. Com efeito, enquanto homens, nossa miséria é tão grande que, se dela tivéssemos noção, facilmente seríamos levados ao desânimo. Muitos, meditando acerca do contraste entre Deus e a nossa miséria, desnorteiam-se. Julgando não merecer a Sua misericórdia, são levados, a fim de sobreviver, a julgar que Deus exige menos deles.

A razão deste desespero está em que tais pessoas não colocam Nossa Senhora dentro desse panorama, de si trágico.

Realmente, Deus é tudo quanto d’Ele sabemos pela Revelação. Quanto a nós, sabemos o que somos; ou, melhor dizendo, o que não somos. Mas entre nós e Jesus Cristo há Nossa Senhora. Esta mediação d’Ela ligada à de Jesus Cristo, que é o único mediador entre Deus e os homens, restabelece inteiramente aquele canal pelo qual nos podemos salvar, apesar de nossas misérias.

Com isso presente, encontramos de um lado uma paz muito grande dentro do reconhecimento de nossas misériase de outro o modo de afirmar a moral mais rigorosa e mais severa, sem ceder ao desespero nem cair no jansenismoEla é a Arca da Aliança, em função da qual tudo toma seu verdadeiro aspecto e se torna animador para a vida espiritual.

Índice pormenorizado

Introdução

Capítulo I – Necessidade da devoção à Santissima Virgem / Artigo I – Primeiro princípio: Deus quis servir-se de Maria na Encarnação

Segundo princípio: Deus quer servir-se de Maria na santificação das almas

Art. II – Consequencias: 1a. Maria é a rainha dos corações; 2a. Maria é necessária aos homens para chegarem ao seu último fim

Capítulo II – Verdades fundamentais da devoção à Santíssima Virgem

Capítulo II (continuação): Mediação Universal de Nossa Senhora na obra de São Luís Grignion

Capítulo III – Escolha da verdadeira devoção à Santíssima Virgem

Capítulo IV – A perfeita devoção à Santíssima Virgem ou a perfeita consagração a Jesus Cristo

Capítulo VI – Figura bíblica desta perfeita devoção: Rebeca e Jacó

 

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