Nossa Senhora de Lourdes: indiferença e má fé do mundo ante Seus milagres

 Santo do Dia, 3 de fevereiro de 1964

A D V E R T Ê N C I A

O presente texto é adaptação de transcrição de gravação de conferência do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira a sócios e cooperadores da TFP, mantendo portanto o estilo verbal, e não foi revisto pelo autor.

Se o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério tradicional da Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como homenagem a tão belo e constante estado de espírito:

“Católico apostólico romano, o autor deste texto  se submete com filial ardor ao ensinamento tradicional da Santa Igreja. Se, no entanto,  por lapso, algo nele ocorra que não esteja conforme àquele ensinamento, desde já e categoricamente o rejeita”.

As palavras “Revolução” e “Contra-Revolução”, são aqui empregadas no sentido que lhes dá o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira em seu livro “Revolução e Contra-Revolução“, cuja primeira edição foi publicada no Nº 100 de “Catolicismo”, em abril de 1959.

 

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Hoje estamos na novena de Nossa Senhora de Lourdes.

A respeito de Nossa Senhora de Lourdes, creio que se poderia desenvolver, a partir de hoje até o dia da festa, cada noite, um ponto sobre a novena.

Tomando os aspectos que haveria a esmo, tenho a impressão de que um ponto interessante, que já temos discutido aqui, é a cegueira do mundo contemporâneo com relação a Lourdes. Creio que poucas coisas poderiam servir de teste mais adequado para aquilo que, propriamente, se chama a má fé do mundo contemporâneo em relação à verdadeira Igreja Católica, do que o fato de Lourdes. Se não houvesse o fato de Lourdes, seríamos propensos a dizer que, se hoje houvesse milagres como no tempo do Evangelho, as multidões se moveriam como no tempo do Evangelho, e que a ausência dos milagres determinaria esse ceticismo de hoje.

Na realidade, os milagres ocorrem, os milagres estão ocorrendo há cem anos, e estão ocorrendo continuamenteE em nenhuma época da história foi tão possível controlar a autenticidade dos milagres como em nossa época. Todos os meios possíveis de controle tem sido empregados, os mais requintados, os mais rigorosos, os mais severos, e o que mais há é o seguinte: esses milagres, depois de verificados por juntas médicaspassam pelo crivo de importantes eclesiásticos da França, e essa comissão é tão rigorosa, que tem rejeitado alguns milagres aceitos pelos médicos, não sem imenso burburinho da parte de muitos fiéis, de maneira que passa por uma análise rigorosa.

Quando esses milagres são aceitos como tais, são publicados por toda parte, o mundo médico tem toda oportunidade de se inteirar a respeito deles. Portanto, não há possibilidade de se fazer uma contestação séria a respeito disso. Apesar da continuidade desses milagres, o mundo moderno não se move e não toma atitude. E não toma atitude por causa de uma posição de espírito que, no fundo, parece uma desatenção. À primeira vista, dir-se-ia que a atenção do mundo moderno não está concentrada no fato, mas que se para ele se voltasse, mudar-se-ia de opinião. Mas não é verdade, porque os milagres que ocorrem em Lourdes é algo de tal natureza que deveria chamar a atenção de toda pessoa reta e de boa fé. O fato disso não ser tomado em consideração e não ser um acontecimento dominante na vida intelectual e nos problemas religiosos de nossos dias, é uma prova da má fé do mundo contemporâneo.

Não é a má fé que se exprimiria do seguinte modo: “estou vendo que há milagres, mas não quero ver”. É uma coisa diferente: “Receio que seja milagre e não quero verificar, porque se for milagre, sou conduzido a conclusões que não quero aceitar. Então, por causa disso, fecho meus olhos e recuso o milagre”.

Certa vez conversava com “x” a respeito do modo pelo qual os filhos das trevas comentam o homem viciado: “Fulano é um bêbado, um mal filho de família, mas, coitado, no fundo tem bom coração”. Pergunta-se por que. Resposta: “Ele não deixa passar um aniversário da mãe, sem levar-lhe uma bonita flor…” Quer dizer, durante 364 dias por ano, o sujeito aborrece a mãe, mas como dá uma flor por ano para ela, no fundo, então, tem bom coração…!

Um outro é um homem que rouba muito nos negócios; comenta-se: “é verdade, mas não sejamos tão severos, ele dá muita esmola…” É um gatuno, mas dá muita esmola… Olha-se para a esmola e não se olha para o roubo. Um outro é um marido muito infiel, muito adúltero, “Mas – dizem – protege a honra de sua casa. Por exemplo, nunca abusou de alguma criada, em casa”. Quer dizer, o mínimo de qualidade que tem, é aumentado. Por causa da mínima qualidade, engolem os maiores defeitos.

Entretanto, os mesmos que são condescendentes para com os viciados empedernidos, tomam em relação aos católicos verdadeiros uma atitude intransigente por causa do menor defeito que tenham e recusam toda espécie de qualidade.

Esse mesmo mundo, diante dos milagres que Nossa Senhora concede em Lourdes: silêncio. Se não houvesse mais milagres, diriam: “Por que Ela não faz mais milagres?…”

Ora, há coisa mais extraordinária do que milagres a jato contínuo, ao longo de 100 anos? Para isso não existe consideração de nenhuma espécie. Ela é taumaturga? “É, mas olhem tal mago que faz prodígios também…” Mas por que comparar aquelas coisas, misturas de patifarias com demônios, com as de Nossa Senhora de Lourdes? Quem é que faz, a respeito de Lourdes, a propaganda que se faz a respeito de tal mago? O demônio faz uma coisa: propaganda para ele. Nossa Senhora obtém um milagre e a reação é: nada…! Quer dizer, para o bem, olhos fechados; para o mal, olhos abertos. Querem ver toda espécie de “bem” que haja no mal e toda espécie de mal que haja no bem. Isso é propriamente má fé.

Isso também se observa nessa espécie de má fé sistemática do ímpio em relação àquele que procura servir a Nossa Senhora. E essa atitude dos ímpios deve ser tomada como uma fonte de alegria para quem procura servir a Nossa Senhora. Com efeito, quem é objeto da mesma parcialidade que há contra Ela – em última análise – o é porque pertence a Nossa Senhora e se encontra sob Seu manto. De maneira que ante essa má fé sistemática também em relação a nós, devemos considera-la como objeto de reconhecimento e de gratidão, pois é sinal que também levamos a mesma marca que Nossa Senhora tem.

Essa consideração deve levar a pedir a Nossa Senhora de Lourdes que conceda a graça de cada vez mais sermos assim, e de cada vez mais atrair a parcialidade dos maus, porque esta é a prova de que Deus está conosco. Todas as coisas de Nosso Senhor foram julgadas assim pelo mundo: realizava aquelas curas, aquela santidade prodigiosa, aquela doutrina extraordinária, aquela presença inefavelmente perfeita… E, entretanto, dizia-se dEle que era glutão, que frequentava pessoas de má vida, que tinha parte com o demônio… É sempre a mesma coisa. “Christianus alter Christus – O cristão é um outro Cristo”. Isso nos deve alegrar e incentivar a pedir a Nossa Senhora que nos dê coragem e alegria por sermos também um signo de contradição – “mutatis mutandis”, feitas as devidas adaptações – como foi Ele e como foi Ela.

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