Festa da Transladação da Santa Casa de Loreto

Santo do Dia, 9 de dezembro de 1966

A D V E R T Ê N C I A

O presente texto é adaptação de transcrição de gravação de conferência do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira a sócios e cooperadores da TFP, mantendo portanto o estilo verbal, e não foi revisto pelo autor.

Se o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério tradicional da Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como homenagem a tão belo e constante estado de espírito:

“Católico apostólico romano, o autor deste texto  se submete com filial ardor ao ensinamento tradicional da Santa Igreja. Se, no entanto,  por lapso, algo nele ocorra que não esteja conforme àquele ensinamento, desde já e categoricamente o rejeita”.

As palavras “Revolução” e “Contra-Revolução”, são aqui empregadas no sentido que lhes dá o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira em seu livro “Revolução e Contra-Revolução“, cuja primeira edição foi publicada no Nº 100 de “Catolicismo”, em abril de 1959.

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Para aprofundar um tão magno assunto, consulte a obra acima, publicada no Brasil em julho de 2020, cuja versão original em italiano, estampada em junho de 2018, até o momento teve mais de 50.000 exemplares difundidos

Amanhã nós teremos a festa da Transladação da Santa Casa de Loreto, a casa de Nossa Senhora em Nazaré, onde a Virgem nasceu, o Verbo se encarnou e Jesus passou sua adolescência na volta do Egito. Foi transportada pelos Anjos para Loreto, na Itália e temos um fragmento da Santa Casa de Loreto em nossa capela.

Então, como comentário da festa de amanhã, temos um trecho de Rohrbacher a respeito da transladação da casa de Nazaré:

“Em 1291, a casa de Nazaré é colocada às margens do Adriático, na Dalmácia (atual Croácia, n.d.c.)”.

 Quer dizer, ela foi transladada pelos Anjos da Ásia Menor, onde estava e para ser salva da dominação dos maometanos foi, então, depositada às margens do Adriático.

“A população local, cheia de assombro, não sabia explicar o prodígio. Eis que o bispo Alexandre, que estava gravemente enfermo, aparece restabelecido e conta a visão que tivera. Chamara pela Virgem e Esta lhe aparecera rodeada de Anjos. “Eis-me aqui, filho, que me chamaste. Vim dar-te um eficaz socorro e explicações para o mistério que desejas revelado. Fica sabendo que a santa morada trazida recentemente ao teu território, é a casa mesma onde nasci e recebi quase toda minha educação. Foi onde recebi a nova trazida pelo arcAnjo Gabriel, onde concebi por obra do Espírito Santo o Divino Menino. Foi lá que o Verbo se fez carne.

“Os Apóstolos, depois de Minha morte, consagraram essa Casa ilustre pelos altos mistérios, disputando a honra de ali celebrar o augusto sacrifício. O altar é o mesmo que o apóstolo Pedro erigiu; o crucifixo que lá se vê colocado, o foi outrora pelos apóstolos. A estatueta de cedro é a minha imagem feita pelo Evangelista Lucas que, levado pela afeição que por mim nutria e pelo apego, exprimiu por meio da arte os meus traços, tão perfeitamente quanto é possível a um mortal.

Esta Casa amada, muito amada pelo Céu, cercada por tantos séculos pelas honras da Galileia, mas hoje desprovida de homenagens em meio aos desfalecimentos da fé, passou de Nazaré para essas plagas. O autor desses grandes acontecimentos é Deus, para quem nada é impossível. De resto, a fim de que tu mesmo sejas testemunha e explicador de tudo que te disse, fica curado. Tu, enfermo desde há muito, surgindo subitamente em toda saúde, levarás a todos a crença desse prodígio”.

 

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Acima, o interior da Santa Casa, em Loreto (Itália)

Nós estamos aqui na presença de uma verdadeira maravilha. Estamos na presença de um milagre operado por Deus para atestar a realização desse outro milagre. Os homens poderiam ter visto de um modo sensível a Santa Casa de Nazaré ser conduzida pelos ares, pelos Anjos. Poderiam ter ouvido os cânticos angélicos, poderiam ter presenciado uma das cenas mais belas da história e poderiam então ter crido nesse fato.

Mas acontece que esses milagres muito evidentes, Deus não os faz. Deus faz milagres que tenham certeza de milagres, mas não tenham a nota da evidência. A diferença que há entre evidência e certeza é que evidência é uma forma de certeza que nem um homem de má fé pode recusar. Enquanto a simples certeza é a que um homem de boa fé não recusa, mas que um homem de má fé pode recusar. Por exemplo, num milagre: se vejo um cego que estava na gruta de Lourdes, de repente sara, é um milagre que me dá certeza de que aquilo foi operado por Nossa Senhora. Mas não me dá a evidência, como seria, por exemplo, se o homem não tivesse olhos e de repente aparecessem olhos nas órbitas dele. Aí o milagre seria de uma tal monta que nem com má fé seria possível negar.

Ora, esses milagres de evidência a Providência Divina não os fazem. A Providência Divina faz habitualmente os milagres de certeza. E seria um milagre de evidência ver a Santa Casa de Nazaré voando pelos ares, baixar de repente numa cidade do Mar Adriático. Mas a Providência, como ela não quis que esse fato fosse visto, mas quis que os homens acreditassem nisso, a Providência então dispôs as coisas de maneira tal que houvesse uma prova de que esse fato tivesse sido feito por Deus. Uma primeira prova estava no maravilhoso do fato. Uma casa que, examinados os materiais, notoriamente foi construída no Oriente, que aparece de repente numa aldeinha onde ela não existia.

Os senhores sabem que numa aldeinha todo mundo conhece todas as casasNão é possível, da noite para o dia, aparecer uma casa nova numa aldeinha, sem que se tenha visto construir etc., etc. O fato em si já tem uma nota milagrosa. Mas acrescido desse fato do bispo sarar, acrescido pela confirmação de que a Casa desapareceu no Oriente onde estava; acrescido pelo fato de que por razões X, Y, Z essa Casa depois ainda foi transferida para Loreto, onde atualmente se encontra, o milagre se torna então inteiramente evidente.

Agora, o que é interessante é como a Providência dispôs todas as coisas de maneira que numa só Casa se realizassem tantas maravilhas. Os senhores viram que nessa mesma Casa Nossa Senhora nasceu. Nessa mesma Casa Nossa Senhora recebeu a Anunciação e concebeu o Verbo. Nessa Casa Ela passou, antes disso, quase toda sua existência. Nessa Casa Ela viveu com o Menino Jesus e São José. Quer dizer, essa Casa tem uma continuidade tradicional que faz com que os fatos sagrados se tenham acumulado uns sobre os outros ali; e a cada novo fato sagrado, ela tem um novo título para se tornar sagrada.

Por que que isso é assim?

Nós vemos com freqüência, lendo revelações fidedignas de outras almas privilegiadas com dons sobrenaturais, que a Providência faz isso com os objetos e com os lugares. Os objetos que serviram para algo, servem para mais algo, para mais algo, para mais algo de tradicional e de sagrado. Os lugares em que se passou algo são os lugares em que se passou mais algo, mais algo etc. Por que? É porque a Providência sabeEla é autora da ordem natural das coisas e com a ciência infinita de Deus, que conhece naturalmente que entre um lugar e um fato que se passa nesse lugar, se estabelece uma misteriosa coesãouma misteriosa unidade, por onde algo do admirável e benéfico do fato, passa para o lugar.

Como qualquer um de nós gostaria, por exemplo, de poder colocar a sua frontepoder descansar sua cabeça em uma pedra do caminho aonde Nosso Senhor tivesse descansado a Sua fronte infinitamente sagrada! Por que? Porque depois daquele fato e até nossos dias, quantas coisas mudaram, quantas coisas se passaram; mas uma vez que Ele ali pousou Sua fronte, aquilo ficou sagrado, tomou uma certa comunicação com a fronte dEle e algo de sagrado ali ficou.

Quantos de nós teríamos verdadeiro encanto – é um dos anelos de minha vida e eu espero, não posso ter certeza, que me seja dado fazer isso antes de morrer – quantos de nós não gostaríamos de passar uma noite inteira de adoração no Jardim das Oliveiras, tendo nas mãos o Evangelho e alguma revelação digna de crédito, lembrando cada um dos episódios que ali ocorreram, osculando o chão, pedindo perdão pelos Apóstolos que não quiseram vigiar durante aquela noite, fazendo então a nossa vigília como reparação, representando uma reparação por tanta gente que devia estar vigiando pelos interesses de Nossa Senhora e da Civilização Cristã e que não se incomoda com nada disso, que pensa apenas na sua própria vidinha e que dorme nessa hora de agonia da civilização cristã…

Por que estar no Horto das Oliveiras? Isso não poderia ser feito aqui? Eu vou dizer mais: vejam os senhores até que ponto vai o mistério desse assunto. Em última análise, Nosso Senhor está realmente presente em qualquer sacrário de qualquer igreja de São Paulo. E eu fazendo essa meditação junto a Ele realmente presente, eu – em tese – estou muito melhor do que fazendo no Horto das Oliveiras, onde Ele não está realmente presente. E, entretanto, eu que posso fazer essa meditação aqui com tanta facilidade, eu sonho com a ideia de poder fazer essa meditação lá onde Ele não está realmente presente…

Por essa continuidade misteriosa das pessoas, dos fatos, das coisas; por causa de uma tradição que fica, de que quando cessa o fato, quando morre a pessoa, a coisa que fica é uma espécie de continuação do resto.

É no que se funda o culto, exatamente, das relíquias indiretas. A relíquia direta é a que é tirada do corpo de um santo; a relíquia indireta é algo em que o santo tocou e que toma uma continuação com isso.

a Santa Casa de Loreto é uma augustíssima continuação de todas essas coisas admiráveis que aqui veem mencionadas. Inclusive dessa coisa tão misteriosa de que São Luís Maria Grignion de Montfort trata, com uma elevação sem nome, e que é aquele período de trinta anos em que o Verbo Encarnado quis estar obediente inteira, completa e irrestritamente a Nossa Senhora, numa vida oculta a todos os homens, mas da qual ele diz essa coisa espantosa: “Jesus Cristo deu mais glória a Deus Pai pela sua submissão a Maria durante trinta anos, do que lhe teria dado se convertesse toda a terra operando os maiores prodígios!” (cfr. “Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem”, artigo I, Primeiro Princípio, tópico n. 18)

Então, vamos voltar nosso espírito para a Casa de Loreto e pedir a Nossa Senhora que nos dê amanhã a graça de uma maior proximidade e de uma maior devoção para com essa realidade admirável que é o Filho de Deus, o Senhor Onipotente de todas as coisas, obedecendo a São José e a Nossa Senhora trinta anos, na Casa de Loreto. Voltemos nossa atenção para esse fato, para compreendermos de um modo mais vívido, mais interno e mais profundo toda a sujeição que nós devemos a Nossa Senhora.

 

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