Discurso de Plinio Corrêa de Oliveira junto à sepultura de Dr. José de Azeredo Santos (11-7-1973)

Meu caro Azeredo, (…) o que foi a tua trajetória pública no firmamento da TFP, cabe-nos a nós, a quem a Providência deu o privilégio de contigo convivermos tão de perto durante quarenta anos de trabalhos, de lutas, de esforços em comum, cabe-nos a nós, e mais especialmente a mim, enquanto Presidente do Conselho Nacional da Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade, dizer uma última palavra de adeus.

Palavras de adeus verdadeiramente, nesta hora tão triste, mas ao mesmo tempo tão luminoso, que coincide com a atmosfera crepuscular que a esta hora do inverno paulista nos cerca, este momento tão triste, e ao mesmo tempo tão luminoso, em que nos despedimos de um companheiro de batalha. Momento triste porque a tua ausência, meu caro Azeredo, deixará um vácuo, momento luminoso porque esse vácuo é preenchido por um facho de luz, um facho de luz, aqui na terra, que se levanta alto até o Céu, até o trono celeste para o qual foste chamado.

Durante esses anos de luta foste valoroso e foste destemido, foste lúcido, trouxeste para a batalha os múltiplos talentos que a Providência te deu. De um lado, aquela perspicácia da terra montanhesa que te viu nascer; de outro lado, aquela gentileza, aquele ar prazenteiro, aquele ar acolhedor e afável, que parece ter-se acentuado pelo influxo do Rio de Janeiro – onde fizeste teus estudos – que se enriqueceu assim com algo da graça e do charme carioca.

Dentro dessa atividade na terra paulista, à qual te ligaste tão profundamente, o teu perfil moral se formou não só como profissional exímio, galardoado por uma bela ascensão na carreira que seguiste, mas sobretudo formou-se no convívio interno da TFP, aonde ao mesmo tempo soubeste ser nas horas da luta o batalhador que ocupava um lugar de destaque nas primeiras fileiras, enérgico, corajoso, perspicaz para descobrir o inimigo, ao mesmo tempo gentil e cavalheiresco, de maneira tal que nas tuas polêmicas nunca foste grosseiro, nunca foste agressivo no sentido baixo da palavra, mas sempre soubeste iniciar o combate e sustentá-lo até o fim com a galhardia de um verdadeiro cavalheiro.

De um convívio ameno, afável, atraente, muitas vezes encantador, a tua presença serviu para cimentar esta família de almas, sólida e robusta, que aqui em torno de nós se reúne. Tu pertenceste àquele pugilo de bravos que começou a luta a partir de apenas seis, e que hoje aqui se multiplica por estas cercanias em tantos jovens, que não eram sequer nascidos quando teus olhos se abriram para os problemas, e teu coração se abriu para a dedicação.

E aqui, neste momento, nós de ti nos despedimos com afeto. Com afeto, e considerando luminoso o momento, porque não podemos deixar de ter em vista que Nossa Senhora colheu a tua alma de batalhador no momento preciso em que um dos teus amigos [nota: o Prof. Plinio], junto ao teu leito de dor, recitava a consagração de São Luís Maria Grignion de Montfort. No momento em que, do coração de todas as pessoas ali reunidas, e dos lábios de uma delas que representava a TFP junto com tuas extremosas filhas que tão bem formaste e tão carinhosamente amaste, no momento em que destas almas, em nome da TFP, subia ao Céu uma consagração que era também tua – porque sei que outra coisa não querias na vida senão uma morte embalada pelos acentos da consagração de São Luís Maria Grignion de Montfort – no momento em que essa consagração chegava ao ápice, Nossa Senhora colheu tua alma.

Momento muito significativo, porque pela natureza de tua enfermidade, mil vezes poderias ter morrido, em circunstâncias anteriores. Entretanto, no vai e vem da doença, nas peripécias desta peripécia entre a vida e a morte, Nossa Senhora reservou esse momento preciso. Ela quis marcar essa coincidência frisante. Ela reservou esse momento preciso, em que tua alma, pela boca de tuas filhas e de teus amigos, se consagrava a Ela, para colher-te, aceitando assim a consagração que era feita em teu nome e em união contigo.

A esta hora já estarás quiçá entre os bem-aventurados, na visão de Deus face a face. Lembra-te de nós, que diante de nós temos talvez um caminho tão longo a percorrer! Luta a nosso lado! Teu nome será lembrado na aurora do Reino de Maria, e será lembrado sobretudo no momento terrível em que Deus vier julgar os vivos e os mortos, em que esse nome será mencionado entre os incontáveis vivos chamados à direita de Deus Padre para as glórias eternas. Assim seja. “Nos cum prole pia, benedicat Virgo Maria”. [cântico do “Credo”]

Nota: Clique aqui para ler o artigo do Prof. Plinio na “Folha de S. Paulo” (17-7-1973), O “prêmio demasiadamente grande”

E para a reportagem publicada em “Catolicismo” sobre Dr. Azeredo, clicar aqui.

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