A TFP: uma vocação – TFP e famílias – TFP e famílias na crise espiritual e temporal do século XX, 1986 – Parte I, Secção III, Cap. I – Necessidade do empenho apostólico dos leigos

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 São Francisco de Assis fundou para os leigos a Ordem Terceira e assentou as bases de uma renovação radical da sociedade. Acima, pintura representando o sonho que o Papa Inocêncio III teve em que viu esse mesmo Santo  sustentando a Basílica de São João de Latrão, antes que suas regras fossem aprovadas por aquele mesmo Pontífice – Giotto, Basílica Superior, Assis, Itália)

(*) A este propósito ver nota “Ao leitor” do célebre livro Exercício de Perfeição e Virtudes Cristãs do Padre Alonso Rodríguez SJ, citado no final do volume II deste trabalho.

Capítulo I – Leigos, isto é, membros da Igreja discente, sempre desempenharam um papel de grande alcance nas atividades da Igreja, colaborando dedicadamente com a Sagrada Hierarquia e o Clero; e, em nosso tempo, mais do que nunca, tornou-se prementemente necessário o empenho apostólico do laicato.

  1. Dos tempos apostólicos até nossos dias, o importante papel do laicato na Igreja

De uma obra do Pe. Arturo Alonso Lobo OP, célebre canonista espanhol recentemente falecido: 

O apostolado dos leigos remonta aos tempos apostólicos

“Para poder afirmar que o apostolado leigo remonta aos próprios albores da Cristandade, “basta um conhecimento superficial da antiga literatura cristã, das primeiras páginas da literatura e da história da Igreja nascente, compreendendo nestas páginas as Epístolas e os Atos dos Apóstolos, inspirados pelo próprio Deus, cuja Providência permitiu que chegassem até nós.

” “Os Apóstolos, tão logo granjearam alguns adeptos e discípulos, começam a usar deles como instrumentos de sua atividade, empregando-os como colaboradores de seus trabalhos, de seu apostolado e de toda a obra evangelizadora que eles mesmos deviam desenvolver’ (Discurso de Pio XI às Associações Católicas de Roma, de 19-4-1931). (…) 

Na era das perseguições, toma ele máximo incremento

A atividade leiga como auxiliar e subsidiária da Hierarquia, ganha máximo incremento quando, por causa das perseguições ditadas em Roma contra os cristãos, os Bispos e Sacerdotes não podiam apresentar-se em público para proclamar a doutrina redentora, sob pena de terminar no patíbulo. (…)

“Como o Clero não podia penetrar em muitos ambientes da sociedade, nem se pôr em contato com o elemento oficial, por ser precisamente este que o perseguia, teve que servir-se dos simples fiéis, como de intermediários para atrair o povo à Fé e iniciar a Hierarquia entre a alta classe social, lamentavelmente a mais corrompida. (…)

“Esses mesmos leigos eram os que acudiam aos cárceres, levando aos cristãos, sepultados em lúgubres masmorras, o consolo da Comunhão eucarística, ministrada secretamente por eles, que os confortava nas provações e os sustentava durante as torturas do martírio.

“Dessa tática e desse método “proveio que penetrassem rapidamente as instituições cristãs, não só nas casas particulares como também nos acampamentos militares, nos tribunais e na própria corte imperial’ (Leão XIII, Immortale Dei, 11885). 

Aos monges, leigos na sua maioria, deve a Teologia seus primeiros passos

Concedida a paz à Igreja e convertida a religião cristã em lei do Império Romano, floresceram as grandes instituições que conhecemos sob o denominador comum de monacato.

Aos monges (leigos em sua maioria) deve a Teologia seus primeiros e mais fundamentais passos. Foram eles que estudaram, discutiram e publicaram por todas as partes os dogmas e a moral do Cristianismo; foram eles que suscitaram aquelas gravíssimas questões dogmáticas sobre a Trindade e a Cristologia, que nem sempre resolviam com acerto, mas que tanto atraíam o povo, e nas quais com não pouca freqüência tomavam os próprios fiéis parte muito ativa. 

Os leigos, durante as invasões bárbaras, na epopéia das Cruzadas e nas Ordens de Cavalaria

À geral ofensiva desencadeada pelos bárbaros contra a religião e contra a cultura cristã, opuseram eles intransponível barreira. Quando mais tarde surge o perigo muçulmano, serão também os leigos, alertas à voz da Hierarquia, que empunham as armas e se levantam em Cruzada contra o Crescente que pretendia profanar o Santo Sepulcro e outras recordações da Terra Santa. Para proteger os peregrinos que caminhavam rumo à Palestina e para combater pela Fé contra o grande inimigo da Cristandade, os leigos se organizaram e formaram as belas instituições religioso-militares, que se chamaram Ordens de Cavalaria. Sua Fé ardente, seu valor heróico, seu sacrifício desinteressado oferecido pela causa de Deus, são o melhor expoente daquela ação e ajuda organizada que os católicos de então ofereceram à Igreja. 

Na defesa da Fé, e contra hereges e salteadores que infestavam os caminhos, um ramo leigo da Ordem dominicana

“Livre já a Cristandade do perigo bárbaro e muçulmano, pôde olhar mais para dentro de suas fronteiras e dar lugar àquela floração de Ordens Religiosas, de Associações e Irmandades entusiastas, cujo fim não era outro senão a colaboração e o apoio aos Pastores da Igreja, com os diversos ministérios e as variadas formas que cada uma em particular prefixava em sua Regra.

“Por falta de direção sábia, orientação segura e enlace firme com a Hierarquia, houve que lamentar, entre os membros dessas Associações de leigos, certos desvios e erros que algumas vezes chegaram a ser verdadeiras heresias, e que precipitaram muitos adeptos na mais completa heterodoxia. Conhecemos, por exemplo, na França, os albigenses e os cátaros, contra os quais lutou denodadamente o zelo apostólico de São Domingos de Gusmão, o qual instituiu a chamada Ordem dos Pregadores.

Este grande exército estava composto por soldados de classes muito diversas; entre elas interessa-nos destacar agora o ramo leigo, que recebeu nos princípios o nome de Milícia de Cristo, e teve por missão oficial a defesa da Fé, o auxílio dos inocentes peregrinos e o amparo da Igreja contra os bandos de hereges e assaltantes que infestavam os bosques e caminhos próximos aos povoados, de onde, com demasiada freqüência, saíam para executar seus roubos e despojar do necessário os indefesos cristãos.

Quando esta santa instituição perdeu seu fim primitivo, organizou-se à maneira da Ordem Terceira de São Francisco, que já crescia sob o amparo da Primeira e oferecia tão opimos frutos, constituindo-se ela também em Ordem Terceira da grande família dominicana. (…)

A grande multiplicação, a partir de então, de Confrarias, Irmandades e outras Associações de leigos

“Imitando este gênero de institutos de leigos, logo se multiplicaram as Confrarias e as Irmandades, as Associações beneficentes e as Sociedades de Caridade, as Congregações e demais fundações pias, até chegar em nosso tempo a constituir um número muito elevado, com finalidades mais ou menos diversas” (Pe. ARTURO ALONSO LOBO OP, Laicología y Acción Católica, Ediciones Stvdivm, Madrid, 1955, pp. 162, 165 a 168 / Imprimatur: Fr. Francisco OP, Obispo de Salamanca, Salamanca, 1-1-1954). 

  1. “Grandes Santos que, sendo simples leigos, criaram na Igreja de Deus magníficas instituições de todo o gênero e até verdadeiras Ordens Religiosas”

Da magnífica obra “El liberalismo es pecado“, de D. Félix Sardá y Salvani, que recebeu carta de aprovação da Secretaria da Sagrada Congregação do Índex:

 “O que é o laicismo?

 “Seus ferozes contraditores julgaram melhor anatematizá-lo do alto de suas respectivas cátedras, mais ou menos autorizadas, do que defini-lo. Nós, que há anos andamos em relações públicas e particulares com ele, procuraremos livrá-los deste apuro e dar-lhes uma definição, a fim de que tenham alguma base em suas invectivas.

“Sob três aspectos se tem considerado o Laicismo.

“1°.) A pretensa exageração da inciativa leiga na apreciação de pessoas e doutrinas.

“2°.) A pretensa exageração da iniciativa leiga na direção e organização de obras católicas.

“3°.) A pretensa falta de submissão de certos leigos à autoridade episcopal.

“Eis o três pontos do acintoso processo que contra os laicistas se formulou há dois ou três anos.

“Escusado é dizer que estes três pontos que aqui damos claramente definidos pela primeira vez, nunca os discriminou em suas fogosas perorações o altivo fiscal que levantou principalmente a voz contra nós. Isso de concretizar atos e precisar conceitos, não deve entrar nas leis da sua polêmica extremamente original. Limitam-se a muito vociferar em altos gritos: “Cisma! cisma! seita! seita! rebeldia! rebeldia!’; a muito ponderar os foros e prerrogativas da autoridade episcopal; a provar com autoridades e cânones verdades que ninguém nega sobre esta autoridade: porém, nada de aproximar-se (nem de longe) do verdadeiro ponto do debate; nada de provar gravíssimas acusações, esquecendo que acusação que não se prova deixa de ser acusação e passa a ser desavergonhada calúnia.

“Ó! que luxo de erudição, que profundeza de teologia, que subtileza de direito canônico, que ênfase de retórica escolar se há malbaratado em provar que eram os piores inimigos da causa católica os seus mais firmes defensores; que eram os autores e fautores do Laicismo precisamente os de contínuo apostrofados de Clericalismo; que tendiam a emancipar-se do santo magistério episcopal os que foram em todos os tempos os mais aditos e dóceis ao cajado de seus Pastores no que pertence à sua jurisdição!

“Esta última frase – “no que pertence à sua jurisdição’ – têm-na em lamentável e talvez calculado esquecimento os ferozes impugnadores do mal apelidado Laicismo, e, ao vê-los dar tantas voltas à Encíclica Cum multa, dir-se-ia que ainda não acertaram ver nela esse parêntesis, que dá a devida e natural explicação do mais substancioso dela.

“Com efeito, todas as acusações de rebeldia dirigidas contra certas associações e jornais seriam muito cabíveis sempre que se provasse (como efetivamente nunca se provou nem se provará) que tais associações e jornais, ao resistir com varonil firmeza a fazer parte da malfadada união católico-liberal, que se lhes quis canonicamente impor, resistiram a seu natural chefe religioso “em alguma coisa que era da sua jurisdição’.

“O colossal talento dos descobridores e impugnadores do Laicismo podia bem ocupar-se disso, que seria tarefa digna de sua laboriosidade e que por certo tarde veriam concluída. Mas que fazer? Aos antilaicistas não foi dado ver, nem deve haver para eles no seu Manualzinho de Lógica aquele vício chamado ‘mutatio elenchi’, que é o que de contínuo lhes faz cantar ‘extra chorum’. (…)

“É, sem dúvida, um Laicismo singular este (…) que forma, numa palavra, na academia, no templo, na imprensa, o grupo mais ardorosamente batalhador em defesa dos direitos da fé e da Santa Sé. (…)

“Em resumo, não há tal Laicismo nem coisa que se lhe pareça. Há, sim, um punhado de católicos leigos que valem por um exército e que incomodam deveras a seita católico-liberal, que tem por esse motivo muito legítima e justificada razão para odiá-los.

“E que se acrescente:

“1°.) Que o católico leigo pôde sempre e pode e deve com mais justo motivo hoje, nas circustâncias presentes, tomar parte muito ativa na controvéria religiosa, expondo doutrinas, apreciando livros e pessoas, desmascarando figuras de suspeita catadura, atirando direto ao alvo que de antemão lhe indicou a Igreja. (…)

“2°.) Que o fiel leigo pode em todos os tempos e pode hoje empreender, organizar, dirigir e levar a cabo toda espécie de obras católicas segundo os trâmites que para isso prescreve o Direito Canônico, e sem outra limitação além da que este indica. Disto nos dão exemplo grandes Santos que, sendo simples leigos, criaram na Igreja de Deus magníficas instituições de todo gênero e até verdadeiras Ordens Religiosas, como foi São Francisco de Assis, que, pasmem os antilaicistas! nunca chegou a ser sacerdote, nem era subdiácono, mas um pobre leigo, quando lançou os fundamentos da sua Ordem.

“Com muita razão se pode, pois, fundar um jornal, uma academia, uma associação, sem atender mais do que às regras gerais que para isso estabelece, não o critério de um homem, quem quer que seja, mas a sábia legislação canônica, de que todos são súditos, e a que todos devem ser obedientes, desde o Príncipe mais elevado da Igreja, até ao mais obscuro leigo.

“3°.) Que tratando-se de questões livres não há rebeldia, nem desobediência em cada jornal, associação ou indivíduo pretender resolvê-las segundo o seu critério particular; sendo muito de se notar, ainda que em nada estranho, que neste ponto tenhamos nós, os católicos, que dar aos liberais lições de quais sejam os foros da verdadeira liberdade cristã, e de quão diferente é a nobre submissão da fé do baixo e rasteiro servilismo. As opiniões livres, nem o confessor pode impô-las ao seu confessado, ainda que as julgue mais proveitosas ou seguras, nem o pároco aos seus paroquianos, nem o Prelado a seus diocesanos, e muito conveniente seria que sobre isto dessem os nossos ilustres contraditores relessem a Bouix, ou pelo menos ao Padre Larraga.

“Igualmente não há crime, nem pecado, nem sequer falta venial (e muito menos heresia, cisma ou qualquer outra tolice) em certas resistências. São resistências que a Igreja autoriza e que portanto ninguém pode condenar. E isto sem querer saber ainda se tais resistências são algumas vezes não só lícitas, mas recomendáveis; e não só recomendáveis, mas obrigatórias em consciência, como seria se de boa ou má fé, com retas ou não retas intenções se pretendesse obrigar um súdito a que subscrevesse fórmulas, ou adotasse atitudes, ou aceitasse conveniências abertamente favoráveis ao erro, desejadas, urdidas e aplaudidas pelos inimigos de Jesus Cristo. Em tal caso o dever do bom católico é a resistência a todo o transe e antes morrer do que condescender.

“Eis o que há a dizer sobre a tão debatida questão do Laicismo, que vista a boa luz e com mediano conhecimento da matéria, nem sequer chega a ser questão. A ser certa a teologia, que sobre este ponto tem assentado os chefes mais graves do catolicismo-liberal, pouco ficaria que fazer ao diabo para ser senhor do campo, porque em rigor tudo lhe daríamos já feito por nossas próprias mãos.

“Para tornar impossível na prática todo o movimento católico-leigo, não há melhor recurso do que exigir condições tais, que o tornem moralmente impraticável.

“Numa palavra, tudo isto não passa de jansenismo puro a que por fortuna caiu já o disfarce” (D. FÉLIX SARDÁ Y SALVANI, El Liberalismo es pecado, E.P.C., Madrid, 1936, 9ª. ed. pp., 156 a 161 / Con censura y licencia eclesiásticas).

  1. Em plena Idade Média, São Francisco de Assis funda para os leigos a Ordem Terceira…

Da encíclica Auspicato Concessum, de 17 de setembro de 1882, de Leão XIII:

É Jesus Cristo, que salvou uma vez a humanidade, que a vem salvando em todos os séculos

“Jesus Cristo, redentor do gênero humano, é a fonte perene inesgotável de todos os bens que nos vêm da infinita misericórdia divina: de modo que Ele mesmo, que uma vez salvou a humanidade, a vem salvando em todos os séculos: “Pelo que, não há debaixo do céu outro nome dado aos homens pelo qual possamos ser salvos’ (Act. IV, 12).

“Donde, se, por efeito de fraqueza ou da culpa, o gênero humano se vê novamente caído tão baixo, a ponto de precisar de uma mão poderosa que o levante, mister se lhe faz recorrer, para auxílio, a Jesus Cristo, tendo por indubitável não ser possível mais eficaz e mais seguro refúgio. Porquanto tão ampla e tão forte é a sua divina virtude, que basta para fazer cessar todo perigo, para sanar qualquer mal. E o remédio virá sem falta, bastando que a família humana seja novamente chamada a professar a fé de Jesus Cristo e a observar os seus santos preceitos. 

E para a grande obra restauradora foi escolhido Francisco

“Em tais conjunturas, quando está maduro o momento designado nos piedosos Conselhos do Eterno, a Divina Providência ordinariamente suscita um homem, não da têmpera dos mais, porém sumo e extraordinário, e confia-lhe a tarefa de restituir a salvação à sociedade. Ora, era isto o que sucedia no fim do século doze e algo depois; e, para a grande obra restauradora foi escolhido Francisco.

“São bastante conhecidos aqueles tempos (século XIII) com as suas qualidades boas e más. Profunda e robusta a fé católica; afervorados pelo sentimento religioso, cruzados afluíam às fileiras, e reputavam belo zarpar para a Palestina, resolvidos a vencer ou morrer. Não obstante, sobremodo licenciosos corriam os costumes; e rigorosíssima era a necessidade de repor em vigor a vida cristã. (…) 

Diante do mundo corrompido, a pura imagem da perfeição cristã

“Tal o século em que apareceu Francisco. Ele, porém, com admirável simplicidade e igual constância, com a palavra e com o exemplo quis oferecer aos olhares do mundo corrompido a pura imagem da perfeição cristã. (…)

“Certamente não foi o acaso que trouxe ao ouvido do bom jovem aquelas sentenças do Evangelho: “Não queirais ter nem ouro, nem prata, nem dinheiro nas vossas bolsas, nem saco para a viagem, nem duas vestes, nem sandálias, nem bastão’ (Mt. X, 9-10), e: “Se queres ser perfeito, vai, vende o que tens, dá-o aos pobres…, e vem e segue-me’ (Mt. XIX, 21).

“E, acolhendo estas palavras como ditas especialmente para si, ele vai, despoja-se de tudo, até mesmo das vestes que tinha sobre si: esposa irrevogavelmente a pobreza, e, dessas grandes máximas da perfeição evangélica, que com tanta generosidade de coração já abraçara, forma o fundamento da regra que dará à sua Ordem. (…) 

Povoações inteiras suplicavam que as admitisse em sua Ordem

“Como Cristo aos seus Apóstolos, Francisco também reuniu em torno de si alguns discípulos que enviar depois pela terra a pregarem a paz cristã, a salvação eterna das almas. (…)

“Excede toda admiração o que as histórias relembram do entusiasmo que arrebatava os povos empós de Francisco.

“Povoações e cidades inteiras, mesmo populosas, acorriam a ele por onde quer que ele passasse, e muitas vezes lhe suplicavam dignar-se de os admitir a todos indistintamente à profissão da sua Regra. 

A Ordem Terceira, para homens e mulheres de todas as idades e condições

“Razão pela qual julgou o Santo dever chegar, como o fez, à fundação da Ordem Terceira, que, sem romper os vínculos da família e das coisas domésticas, pudesse receber pessoas de todas as condições, de todas as idades, de ambos os sexos. Pelo que, sabiamente a quis regulada não tanto por estatutos particulares quanto pela aplicação das leis gerais do Evangelho, das quais nenhum cristão tem razão de se atemorizar: isto é, observar os mandamentos de Deus e da Igreja, evitar facções e rixas, nada fraudar, não terçar armas senão em defesa da religião e da pátria, ser temperante na comida, modesto no vestuário, guardar-se do luxo, fugir das seduções de bailes e de espetáculos perigosos. (…)

A Europa deve agradecer a São Francisco que os preciosos bens da civilização não se tenham perdido

Poderoso auxílio ao bem-estar público provinha daquela casta de pessoas que, tendo o olhar fixado nas virtudes e nas leis do seu fundador, na medida do possível, se aplicavam a fazer reflorir no seio das cidades corrompidas os dotes da vida cristã. Por certo, graças à obra e ao exemplo dos Terceiros, viram-se freqüentemente extintas ou mitigadas as discórdias de partido; tiradas das mãos dos facciosos as armas; afastadas as causas de litígios e contendas; proporcionados alívios aos indigentes, aos abandonados; refreado o luxo devorador dos patrimônios, corruptor dos costumes. Pelo que, a paz doméstica e a tranqüilidade pública, a integridade e a mansidão, o reto uso e a tutela da propriedade, que são os melhores elementos de civilização e de bem estar, brotam, como de raiz própria, da Ordem Terceira; e, se estes bens não foram perdidos, deve a Europa agradecê-lo em grande parte a Francisco” (LEÃO XIII, Auspicato Concessum, Documentos Pontifícios, n. 92, Vozes, Petrópolis, 1953, pp. 5 a 11).

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São Francisco de Assis sustenta a Igreja (pormenor – Giotto – Basilica Superiore di Assisi)

  1. …e assenta as bases de uma renovação radical da sociedade, feita de acordo com o espírito evangélico

Da encíclica Rite Expiatis, de 30 de abril de 1926, de Pio XI, também em louvor do Seráfico pai São Francisco:

“O Seráfico Santo, (…) fundadas as duas Ordens, uma para homens, outra para mulheres que aspiram à perfeição evangélica, empreendeu a percorrer rapidamente as cidades italianas, anunciando, ou por si mesmo, ou por seus discípulos que se lhe associaram, e pregando ao povo a penitência em breves, mas calorosíssimas alocuções, colhendo por este ministério com sua palavra e seu exemplo frutos incríveis. 

Ninguém podia resistir à pregação de Francisco

“Em toda parte onde ele chegava a exercer o ministério apostólico, o Clero e o povo iam processionalmente ao encontro de Francisco, entre o badalar dos sinos e os cânticos populares, agitando, no ar, ramos de oliveiras. Pessoas de toda idade, sexo e condição se apinhavam em torno dele, assediavam dia e noite a casa onde se recolhia, para ter a vantagem de vê-lo sair, de tocá-lo, de ouvi-lo e de falar-lhe. 

Territórios inteiros se punham sob sua direção

“Ninguém, por mais inveterado na prática contínua de vícios e pecados, podia resistir à sua pregação. Assim se deu que muitíssimas pessoas, até de idade madura, aos grupos, como à porfia, abandonavam todos os bens terrenos por amor à vida evangélica, e territórios inteiros da Itália, renovados os costumes, se punham sob a direção de Francisco. De tal modo, desmedidamente cresceu o número dos seus filhos e tão grande era em toda parte o entusiasmo para seguir seus vestígios, que o próprio Patriarca Seráfico freqüentemente era obrigado a dissimular e demover do propósito de deixar o mundo, homens e mulheres já dispostos a renunciar também à união conjugal e à convivência doméstica. Entretanto, o desejo que principalmente animava estes novos pregoeiros da penitência era de estabelecer a paz entre indivíduos, famílias, cidades e territórios, convulsionados por intermináveis discórdias. (…) 

A Ordem Terceira, exemplo novo e até então desconhecido

“A esta obra de pacificação e reforma geral muito contribuiu a Ordem Terceira, instituição essa que tem, exemplo novo até então desconhecido, o espírito de uma Ordem religiosa sem a obrigação por votos, e se propõe a fornecer a homens e mulheres, que vivem no mundo, os meios não só de observar a lei de Deus, mas de alcançar a perfeição cristã. (…)

Francisco, seja com o vitorioso apostolado seu e dos seus filhos, seja com a fundação da Ordem Terceira, assentou as bases de uma renovação radical da sociedade, feita em acordo com o espírito evangélico” (PIO XI, Rite Expiatis, Documentos Pontifícios, n. 25, Vozes, Petrópolis, 1950, 2ª. ed., pp. 18 a 20).

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Santa Caterina de Siena, leiga (afresco de Andrea Vanni, Basílica de São Domingos, Siena, Itália)

  1. Orientadora de Pontífices, Príncipes e Cardeais

Do Prólogo às obras de Santa Catarina de Sena (1347-1380), por D. Frei Francisco Barbado Viejo OP, Bispo de Salamanca e Grão-Chanceler da famosa Universidade espanhola:

“Esta ação dos dons do Espírito Santo em Santa Catarina será algumas vezes silenciosa e inconsciente, outras imperante e avassaladora, guiando-a sempre na própria santificação, e no apostolado individual santificador de seus discípulos, e no plano social, pacificador de povos e orientador de pontífices, príncipes e cardeais” (Fr. FRANCISCO BARBADO VIEJO OP, Obras de Santa Catalina de Siena, Prólogo, BAC, Madrid, 1955, p. XXV / Imprimatur: Fr. Francisco OP, Obispo de Salamanca, 1-12-1955). 

  1. Santa Catarina de Sena, leiga, “a conselheira atendida do Papa e dos governos, o árbitro da cristandade”

Comenta o autor de uma vida de São Bernardino de Sena a respeito da grande Virgem senense:

“Enfim, cercada de um esplendor ainda mais fulgurante, brilhava a figura de Santa Catarina de Sena: filha de operários, humilde terceira dominicana, torturada pelos sofrimentos; enquanto vivia num estado contemplativo cujos mistérios espantam nossa inteligência, demonstrava, nas coisas do mundo, um gênio admiravelmente prático; achava acentos convincentes para pregar a paz, a união, a justiça, numa época em que tudo era dissensão, discórdia e violência, não só na cidade, mas também na Igreja universal.

“Somente por sua autoridade santa, tornou-se, mocinha ainda, a conselheira atendida do Papa e dos governos, o árbitro da cristandade, e apareceu como um dos tipos mais extraordinários e mais puros desta sorte de profetismo que em certas horas de crise excepcional, apraz à Providência fazer surgir ao lado da hierarquia eclesiástica” (PAULO THUREAU-DANGIN, São Bernardino de Sena, Vozes, Petrópolis, 1937, p. 16 / Com aprovação eclesiástica, 23-6-1937).

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Urna contendo as relíquias da Bem-aventurada Ana Maria Taigi (leiga, mãe de família e terciária da Ordem dos Trinitários). Igreja de São Crisógono, Roma

  1. “Seu papel essencial é o de sustentar o Papado mediante suas orações”

De uma vida da Beata Ana Maria Taigi (1769-1837), Mãe de família:

” “Sem efusão de sangue não há remissão’. Pois bem, Deus elegeu esta mulher humilde (Beata Ana Maria Taigi), para obter a remissão do mundo. Nunca, desde o Grande Cisma do Ocidente, houve uma miséria espiritual semelhante, no reino de Cristo. Deus é escarnecido, expulso de milhares de templos, o clero é dizimado, os Papas arrastados de prisão em prisão, a Cristandade se afunda em um rio de sangue. Não há um só sacerdote nos exércitos da Revolução e do Império, para absolver os moribundos.

“Era necessária uma vítima expiatória. Substituição ininteligível para o racionalismo. (…)

A Santa, atestam Monsenhor Pedicini, Monsenhor Natali e o Pe. Felipe, foi “vítima pela Igreja e por Roma’. (…)

Seu papel essencial (da Beata Ana Maria Taigi) é o de sustentar o Papado mediante suas orações. (…) Os príncipes da Igreja vão à sua casa, algumas vezes, solicitar seus conselhos, mas suas armas preferidas são o silêncio e a imolação” (ALBERT BESSIERES SJ, La Beata Ana Maria Taigi, Desclée de Brouwer, Buenos Aires, 1942, pp. 139 e 151 / Puede imprimir-se: Mons. Dr. Antonio Rocca, Obispo de Augusta y Vicario general, Buenos Aires, 28-3-1942).

  1. No Concílio Vaticano I (1870), reclamada com instância a cooperação dos leigos

Da encíclica Sapientiae Christianae, de 10 de janeiro de 1890, de Leão XIII:

“Quão necessária é a fé para a salvação, tão necessário é que a palavra de Cristo seja pregada. É certo que este encargo de pregar ou de ensinar pertence por direito divino aos Doutores, isto é, aos Bispos que o Espírito Santo constituiu para governarem a Igreja de Deus (Act. XX, 28) e de um modo especial ao Pontífice Romano, Vigário de Cristo, proposto com poder supremo à Igreja universal como mestre de quanto se há de crer e praticar.

“Mas não cuide ninguém que ficou por isso proibido aos particulares cooperar com alguma diligência neste ministério, principalmente aos homens a quem Deus concedeu dotes de inteligência junto com o desejo de serem úteis ao próximo. Esses, em caso de necessidade, podem muito bem, não já afetar a missão de Doutores, mas comunicar aos outros o que eles mesmos aprenderam, e ser em certo modo o eco dos mestres.

“Até mesmo esta cooperação dos particulares pareceu aos Padres do Concílio Vaticano tão oportuna e frutuosa, que não hesitaram em reclamá-la nos termos seguintes: “A todos os fiéis cristãos, principalmente àqueles que têm superioridade e obrigação de ensino, suplicamos pelas entranhas de Jesus Cristo, e em virtude da autoridade deste mesmo Senhor e Salvador nosso lhes ordenamos, que apliquem todo o seu zelo e trabalho em desviar esses erros e eliminá-los da luta da Igreja, e difundir a luz puríssima da nossa fé’ (Constit. Dei Filius ad fin.)” (LEÃO XIII, Sapientiae Christianae, Documentos Pontifícios, n. 10, Vozes, Petrópolis, 1946, pp. 12-13). 

  1. A Igreja sempre acolheu com benignidade e abençoou a colaboração do laicato católico

Da encíclica Il Fermo Proposito, de 11 de junho de 1905, de São Pio X:

“Bem vedes, Veneráveis Irmãos, de quanto aproveitam à Igreja as seletas falanges de católicos, que pretendem congregar todas as suas forças vivas, com o fito visado de fazer guerra, por todos os meios justos e legais, à civilização anticristã; reparar, a todo modo, as gravíssimas desordens que dela provêm; reintroduzir Jesus Cristo na família, na escola, na sociedade, restabelecer o princípio da autoridade humana como representante de Deus; tomar muito a peito os interesses do povo, principalmente os da classe operária e agrícola, não só infundindo no coração de todos a verdade religiosa, manancial único e verdadeiro de consolo em todas as vicissitudes da vida, mas também se esforçando por enxugar-lhe as lágrimas, suavizar-lhe as penas, melhorar-lhe a condição econômica com medidas bem ajustadas; afanar-se por conseguir que as leis públicas se amoldem à justiça, se corrijam e proscrevam as que lhe são contrárias; defender, finalmente, e manter, com fortaleza católica, os foros de Deus e os não menos sacrossantos direitos da Igreja.

A grande quantidade de todas estas obras, alentadas e promovidas, em grande parte, pelo laicato católico, e diversamente traçadas segundo as necessidades próprias de cada nação e circunstâncias peculiares de cada país, é o que em termo mais especial e certamente mais nobre sói denominar-se “Ação Católica’ ou “Ação dos católicos’, que em todos os tempos foi posta em auxílio da Igreja; auxílio este que a Igreja sempre acolheu com benignidade e abençoou, embora com o decurso dos tempos se haja prestado de modos diversos” (São PIO X, Il fermo Proposito, Documentos Pontifícios, n. 38, Vozes, Petrópolis, 1951, 2ª. ed., pp. 7-8).

  1. Para São Pio X, mais do que nunca, era preciso haver em seu tempo leigos esclarecidos, resolutos, intrépidos, verdadeiramente apóstolos

Da conhecida revista eclesiástica francesa L’Ami du Clergé:

“Um dia (São) Pio X, conversando com vários Cardeais, perguntou-lhes qual era, em sua opinião, o meio mais seguro para regenerar a sociedade contemporânea.

“Um opina pela escola católica; outro, pela multiplicação das igrejas; um terceiro, pelo recrutamento dos Padres.

“A cada um, Pio X dá uma resposta negativa, e acrescenta: “O que é presentemente mais necessário, é ter em cada paróquia um grupo de leigos esclarecidos, resolutos, intrépidos, verdadeiramente apóstolos’ ” (L’Ami du Clergé, 41ème année, 5 série, n. 25, Langres, 19-6-1924, p. 399 / Imprimatur: Lingonis, 18-6-1924, Eug. Lindecker, vic. gen.). 

  1. Segundo Pio XII, nunca a colaboração dos leigos com a Hierarquia foi tão necessária

De Pio XII, em alocução de 5 de outubro de 1957, aos participantes do II Congresso Mundial para o Apostolado dos Leigos:

Sempre houve na Igreja de Cristo um apostolado dos leigos. Santos como o Imperador Henrique II, Estêvão, o criador da Hungria católica, Luís IX de França, eram apóstolos leigos, se bem que, no início, não estivessem cônscios disto, e que o termo apóstolo leigo ainda não existisse naquela época. Mulheres também, como Santa Pulquéria, irmã do Imperador Teodósio II, ou Mary Ward, eram apóstolos leigos.

“Se hoje em dia esta consciência é despertada, e se o termo apostolado leigo é um dos mais empregados quando se fala da atividade da Igreja, é porque a colaboração dos leigos com a Hierarquia nunca foi necessária até este ponto, nem praticada de maneira tão sistemática” (PIO XII, Alocução aos Participantes do II Congresso Mundial para o Apostolado dos leigos, Documentos Pontifícios, n. 127, Vozes, Petrópolis, 1960, 2ª. ed., pp. 31-32). 

  1. A luta contra o comunismo, importante função do apostolado dos leigos

Da mesma alocução de Pio XII, em 5 de outubro de 1957, aos participantes do II Congresso Mundial para o Apostolado dos Leigos:

“Essa colaboração (dos leigos com a Hierarquia) traduz-se em mil formas diversas, desde o sacrifício silencioso oferecido pela salvação das almas, até à boa palavra e ao exemplo que força a estima dos próprios inimigos da Igreja, até à cooperação nas atividades próprias da Hierarquia, comunicáveis aos simples fiéis, e até às audácias que se pagam com a vida, mas que só Deus conhece e que não entram em nenhuma estatística. Talvez que este apostolado leigo oculto seja o mais precioso e o mais fecundo de todos.

O apostolado leigo tem, aliás, como qualquer outro apostolado, duas funções: a de conservar e a de conquistar, ambas as quais se impõem com urgência à Igreja atual. E, para o dizermos bem claramente, a Igreja de Cristo não cogita de abandonar sem luta o terreno ao seu inimigo declarado, o comunismo ateu. Este combate será prosseguido até o fim, mas com as armas de Cristo!” (PIO XII, Alocução aos Participantes do II Congresso Mundial para o Apostolado dos Leigos, Documentos Pontifícios, n. 127, Vozes, Petrópolis, 1960, 2ª. ed., p. 32).

  1. Uma colaboração que sobretudo em nossos tempos se deve verificar

Da encíclica Princeps Pastorum, de 28 de novembro de 1959, de João XXIII:

Pio XII – e isto redunda em seu singular mérito e louvor – com copiosa doutrina e renovados incitamentos advertiu e incentivou os leigos a assumirem solicitamente o seu lugar ativo no campo do apostolado em colaboração com a Hierarquia eclesiástica (cf. Litt. Enc. Pii XII, Mystici Corporis; A.A.S. XXXV, 1943, pp. 200-201; Litt. Enc. Pii XI, Rerum Eclesiae; A.A.S. XVIII, 1926, p. 78); com efeito, desde os primórdios da história cristã e em todas as épocas sucessivas, esta colaboração dos fiéis fez com que os Bispos e o clero pudessem eficazmente desenvolver a sua obra entre os povos, quer no campo propriamente religioso, quer no campo social. Pode e deve isto verificar-se também nos nossos tempos que antes revelam maiores necessidades, proporcionais a uma humanidade numericamente mais vasta e com exigências espirituais multiplicadas e complexas. Aliás, onde quer que a Igreja é fundada, deve estar sempre presente e ativa com toda a sua estrutura orgânica, e portanto não somente com a Hierarquia nas suas várias ordens, mas também com o laicato: e, portanto, é por meio do clero e dos leigos que ela deve necessariamente desenvolver a sua obra de salvação” (JOÃO XXIII, Princeps Pastorum, Documentos Pontifícios, n. 132, Vozes, Petrópolis, 1960, pp. 16-17).

  1. As circunstâncias atuais pedem aos leigos um apostolado muito mais intenso e amplo

No decreto sobre o apostolado dos leigos, Apostolicam Actuositatem, o Concílio Vaticano II ensina a mesma doutrina:

O apostolado dos leigos, que procede de sua própria vocação cristã, nunca pode faltar na Igreja. Quão espontânea e quão frutuosa foi essa atividade nas origens da Igreja, demonstram-no abundantemente as próprias Sagradas Escrituras (cfr. Act. XI, 19-21; XVIII, 26; Rom. XVI, 1-16; Phil. IV, 3).

“Entretanto, nossos tempos não exigem menor zelo dos leigos, antes pelo contrário as circunstâncias atuais lhes pedem um apostolado muito mais intenso e mais amplo. Porque o número dos homens, que aumenta dia a dia, o progresso das ciências e da técnica, as relações mais estreitas entre os homens, não só ampliaram até o infinito os imensos campos de apostolado dos leigos – campos em parte franqueados só a eles – mas também suscitaram novos problemas que exigem seu cuidado e diligente preocupação” (Apostolicam Actuositatem, Concílio Vaticano II, BAC, Madrid, 1965, pp. 501-502).

  1. A premente obrigação dos leigos em nossos dias

Do novo Código de Direito Canônico, promulgado por João Paulo II:

“Can. 225 – § 1. Os leigos, enquanto destinados por Deus, como todos os fiéis para o apostolado por meio do batismo e da confirmação, têm obrigação geral e gozam do direito de trabalhar, quer individualmente quer reunidos em associações, a fim de que o divino anúncio da salvação seja conhecido e aceito por todos os homens em todo o mundo; essa obrigação é mais premente nas circunstâncias em que os homens, a não ser por meio deles não podem ouvir o Evangelho e conhecer a Cristo.

“§ 2. Têm também o dever especial, cada um segundo a própria condição, de animar e aperfeiçoar com o espírito evangélico a ordem das realidades temporais, e assim dar testemunho de Cristo, especialmente na gestão dessas realidades e no exercício das atividades seculares” (Código de Direito Canônico, promulgado por João Paulo II, Tradução oficial da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, Edições Loõla, São Paulo, 1983, p. 99).

  1. “Os fiéis têm o direito de manifestar aos Pastores da Igreja as próprias necessidades, principalmente espirituais, e os próprios anseios”

Ainda do novo Código de Direito Canônico, promulgado por João Paulo II:

“Can. 212 – § 1. Os fiéis, conscientes da própria responsabilidade, estão obrigados a aceitar com obediência cristã o que os sagrados Pastores, como representantes de Cristo, declaram como mestres da fé ou determinam como guias da Igreja.

“§ 2. Os fiéis têm o direito de manifestar aos Pastores da Igreja as próprias necessidades, principalmente espirituais, e os próprios anseios.

“§ 3. De acordo com a ciência, a competência e o prestígio de que gozam, têm o direito e, às vezes, até o dever de manifestar aos Pastores sagrados a própria opinião sobre o que afeta o bem da Igreja e, ressalvando a integridade da fé e dos costumes e a reverência para com os Pastores, e levando em conta a utilidade comum e a dignidade das pessoas, dêem a conhecer essa sua opinião também aos outros fiéis (*)” (Código de Direito Canônico, promulgado por João Paulo II, Tradução oficial da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, Edições Loyola, São Paulo, 1983, pp. 94-95).

(*) Nota do Pe. Jesus S. Hortal SJ: “Ao direito dos fiéis de apresentar suas necessidades e suas opiniões aos Pastores, corresponde o dever destes de acolher com interesse essas manifestações e de submetê-las a estudo sério”.  

  1. A Igreja é também golpeada pelos que dela fazem parte

Em alocução aos alunos do Seminário Lombardo, em 7 de dezembro de 1968, disse Paulo VI:

A Igreja atravessa hoje um momento de inquietude. Alguns praticam a autocrítica, dir-se-ia até a autodemolição. É como uma perturbação interior, aguda e complexa, que ninguém teria esperado depois do Concílio. Pensava-se num florescimento, numa expansão serena dos conceitos amadurecidos na grande assembléia conciliar. Há ainda este aspecto na Igreja, o do florescimento. Mas posto que “bonum ex integra causa, malum ex quocumque defectu’, fixa-se a atenção mais especialmente sobre o aspecto doloroso. A Igreja é golpeada também pelos que dela fazem parte (Insegnamenti di Paolo VI, Tipografia Poliglotta Vaticana, vol. VI, p. 1188; as palavras não são textuais do Pontífice e sim do resumo que delas apresenta a Poliglotta Vaticana).

  1. “Por alguma fissura entrou a fumaça de Satanás no Templo de Deus”

Na alocução Resistite fortes in fide, de 29 de junho de 1972, Paulo VI afirma (as palavras textuais do Pontífice são apenas as citadas entre aspas no resumo da Alocução apresentado pela Poliglotta):

Referindo-se à situação da Igreja de hoje, o Santo Padre afirma ter a sensação de que “por alguma fissura tenha entrado a fumaça de Satanás no templo de Deus’. Há a dúvida, a incerteza, o complexo dos problemas, a inquietação, a insatisfação, o confronto. Não se confia mais na Igreja; confia-se no primeiro profeta profano (estranho à Igreja) que nos venha falar, por meio de algum jornal ou movimento social, a fim de correr atrás dele e perguntar-lhe se tem a fórmula da verdadeira vida. E não nos damos conta de já a possuirmos e sermos mestres dela. Entrou a dúvida em nossas consciências, e entrou por janelas que deviam estar abertas à luz. Da ciência, que é feita para nos oferecer verdades que não afastam de Deus, mas nos fazem procurá-lO ainda mais, e ainda mais intensamente glorificá-lO, veio pelo contrário a crítica, veio a dúvida. Os cientistas são aqueles que mais pensada e dolorosamente curvam a fronte. E acabam por revelar: “Não sei, não sabemos, não podemos saber’. A escola torna-se um local de prática da confusão e de contradições, às vezes absurdas. Celebra-se o progresso para melhor poder demoli-lo com as mais estranhas e radicais revoluções, para negar tudo aquilo que se conquistou, para voltar a ser primitivos, depois de ter exaltado tanto os progressos do mundo moderno.

Também na Igreja reina este estado de incerteza. Acreditava-se que, depois do Concílio, viria um dia ensolarado para a História da Igreja.

Veio, pelo contrário, um dia cheio de nuvens, de tempestade, de escuridão, de indagação, de incerteza. Pregamos o ecumenismo, e nos afastamos sempre mais uns dos outros. Procuramos cavar abismos, em vez de soterrá-los.

Como aconteceu isto? O Papa confia aos presentes um pensamento seu: o de que tenha havido a intervenção de um poder adverso. O seu nome é diabo, este misterioso ser a que também alude São Pedro em sua Epístola (que o Pontífice comenta na Alocução). Tantas vezes, por outro lado, retorna no Evangelho, nos próprios lábios de Cristo, a menção a este inimigo dos homens. “Cremos – observa o Santo Padre – que alguma coisa de preternatural veio ao mundo justamente para perturbar, para sufocar os frutos do Concílio Ecumênico, e para impedir que a Igreja prorrompesse num hino de alegria por ter readquirido a plenitude da consciência de si’ (Insegnamenti de Paolo VI, Tipografia Poliglotta Vaticana, vol. X, pp. 707 a 709). 

  1. Foram difundidas verdadeiras heresias, no campo dogmático e moral, criando dúvidas, confusões e rebeliões

Em alocução de 6 de fevereiro de 1981, aos Religiosos e Sacerdotes participantes do I Congresso Nacional Italiano sobre o tema Missões ao povo para os anos 80, João Paulo II assim descreveu a desolação hoje reinante na Igreja:

“É necessário admitir realisticamente e com profunda e sentida sensibilidade que os cristãos hoje, em grande parte, sentem-se perdidos, confusos, perplexos e até desiludidos: foram divulgadas prodigamente idéias contrastantes com a Verdade revelada e desde sempre ensinada; foram difundidas verdadeiras heresias, no campo dogmático e moral, criando dúvidas, confusões e rebeliões; alterou-se até a Liturgia; imersos no “relativismo’ intelectual e moral e por conseguinte no permissivismo, os cristãos são tentados pelo ateísmo, pelo agnosticismo, pelo iluminismo vagamente moralista, por um cristianismo sociológico, sem dogmas definidos e sem moral objetiva” (L’ Osservatore Romano, 7-2-81).

  1. “A Sagrada Escritura anuncia claramente que os pecados do povo têm origem nos pecados dos Sacerdotes”

De uma Instrução do Papa Adriano VI (1522-1523), lida pelo Núncio pontifício Francisco Chieregati aos Príncipes alemães reunidos em dieta, em Nuremberg, em 3-1-1523:

“Deves dizer também livremente haver Deus permitido esta perseguição a sua Igreja, por causa dos pecados dos homens, e especialmente dos Sacerdotes e Prelados, pois decerto não se encurtou a mão do Senhor para nos salvar; mas são nossos pecados que nos afastam dEle, de modo que não nos ouve as súplicas.

A Sagrada Escritura anuncia claramente que os pecados do povo têm origem nos pecados dos sacerdotes, e por isso, como observa (São João) Crisóstomo, nosso Divino Salvador, quando quis purificar a enferma cidade de Jerusalém, dirigiu-se em primeiro lugar ao Templo, para repreender antes de tudo os pecados dos sacerdotes; e nisso imitou o bom médico, que cura a doença em sua raiz.

“Bem sabemos que, mesmo nesta Santa Sé, há já alguns anos vêm ocorrendo muitas coisas dignas de repreensão; abusou-se das coisas eclesiásticas, quebrantaram-se os preceitos, chegou-se a tudo perverter. Assim, não é de espantar que a enfermidade se tenha propagado da cabeça aos membros, desde o Papa até aos Prelados.

 “Nós todos, Prelados e Eclesiásticos, nos afastamos do caminho reto, e já há muito não há um que pratique o bem. Por isso devemos todos glorificar a Deus e nos humilharmos em sua presença; que cada um de vós considere por que caiu, e se julgue a si mesmo, ao invés de esperar a justiça de Deus no dia de sua ira.

“Por isso (igualmente) deves tu prometer em nosso nome que estamos resolvidos a empregar toda a diligência para que, em primeiro lugar, seja reformada a Corte romana, da qual talvez se tenham originado todos esses danos; e acontecerá que, assim como a enfermidade por aqui começou, também por aqui comece a saúde.

“Nós nos consideramos tanto mais obrigados a levar isso a bom termo, quanto todo o mundo deseja semelhante reforma.

“Nós não procuramos nossa dignidade pontifícia (o Papado que Adriano VI exerce), e de mais bom grado teríamos terminado, na solidão da vida privada, nossos dias; de bom grado teríamos recusado a tiara, e só o temor de Deus, a legitimidade da eleição e o perigo de um cisma Nos determinaram a aceitar o supremo múnus pastoral. Em conseqüência, queremos exercê-lo não por ambição de mando, nem para enriquecer nossos parentes, mas a fim de restituir à Santa Igreja, Esposa de Deus, sua antiga formosura, de prestar auxílio aos oprimidos, de elevar os varões sábios e virtuosos e, genericamente, fazer tudo o que compete a um bom pastor e verdadeiro sucessor de São Pedro.

“Não obstante, que ninguém se surpreenda se não corrigirmos todos os abusos de um só golpe, pois as doenças estão profundamente enraigadas, e são múltiplas; pelo que é preciso proceder passo a passo, e opor primeiramente os oportunos remédios aos danos mais graves e perigosos, para não perturbar ainda mais a fundo por meio de uma precipitada reforma de todas as coisas. Com razão diz Aristóteles que toda mudança repentina é muito perigosa para uma sociedade” (LUDWIG PASTOR, Historia de los Papas, Editorial Gustavo Gili, Barcelona, 1952, vol. IX, 107-109 / Imprímase: El Vicario General, José Palmarola, por mandato de Su Señoría, Lic. Salvador Carreras, Pbro., Scrio. Canc.) 

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“Na Revolução Francesa, os mais graves escândalos na Igreja de Deus deram-nos os Padres e Bispos revolucionários” (Execução na praça da Revolução, Demachu, museu Carnavalet, Paris)

  1. Não houve uma única heresia na Igreja de Deus que não haja sido levantada ou propagada por algum clérigo

Ainda da obra El liberalismo es pecado, há pouco citada (*):

(*) A respeito das denúncias feitas à Sagrada Congregação do Índex sobre o livro El liberalismo es pecado, escreveu o Secretário da dita Congregação a seguinte carta ao Ilmo. e Revmo. Sr. D. Jaime Catalá y Albosa, Bispo de Barcelona:

“Exmo. Sr.:

“A Sagrada Congregação do Índice recebeu a denúncia do opúsculo intitulado El liberalismo es pecado, de D. Félix Sardá y Salvani, sacerdote dessa diocese; esta denúncia foi re petida juntamente com outro opúsculo intitulado O processo do integrismo, isto é, refutação dos erros contidos no opúsculo El liberalismo es pecado, sendo autor deste segundo opúsculo D. de Pazos, cônego da diocese de Vich. Por isso a dita Congregação estudou com maduro exame um e outro opúsculos com as observações feitas; mas no primeiro nada encontrou contra a sã doutrina, antes o seu autor D. Félix Sardá y Salvani merece louvor, porque com argumentos sólidos, clara e ordenadamente expostos, propõe e defende a sã doutrina na matéria que trata, sem ofensa de nenhuma pessoa.

Não se formou porém o mesmo juízo acerca do outro opúsculo publicado por D. de Pazos, porque necessita de correção em alguns pontos, e além disso não se pode aprovar o modo injurioso de falar usado pelo autor, mais contra a pessoa de Sardá, que contra os erros que supõe no opúsculo deste escritor.

Em virtude disto a S. Congregação mandou que D. de Pazos seja admoestado pelo seu próprio Ordinário, para que retire quanto seja possível os exemplares do seu dito opúsculo; e para futuro, se se promover alguma discussão sobre as controvérsias que se podem originar, abstenha-se de quaisquer palavras injuriosas contra as pessoas, segundo o ensina a verdadeira caridade de Cristo, tanto mais quanto o nosso SSmo. Padre Leão XIII, se recomenda muito que se combatam os erros, não quer nem aprova as injúrias feitas, principalmente a pessoas conspícuas em doutrinas e piedade.

“Ao comunicar-vos isto por ordem da S. Congregação do ndice, a fim de que o possais comunicar ao vosso preclaro diocesano, o Sr. Sardá, para tranqüilidade do seu espírito, peço a Deus vos dê toda a prosperidade e ventura, e com a expressão de todo o meu respeito me subscrevo:

De Vossa Exa.

Aditíssimo servidor

Fr. Jeronimo Pio Sacheri O.P.

Secretário da S. Congregação do Índice”. (fim da nota) 

 “Convém, pois, salvando todos os respeitos, tocar também este ponto e perguntar, com sinceridade e boa fé – se pode haver também ministros da Igreja manchados de Liberalismo.

“Sim, amigo leitor, sim, pode haver também por desgraça, ministros da Igreja liberais; e há-os radicais, moderados e unicamente afetados. Exatamente como sucede entre os leigos.

“Não está isento o ministro de Deus de pagar miserável tributo à fraqueza humana, e por conseguinte também repetidas vezes o tem pago ao erro contra a fé.

“E que tem isto de notável, se não tem havido uma única heresia na Igreja de Deus que não haja sido levantada ou propagada por algum clérigo? Mais ainda; é historicamente certo que não tem dado que fazer, nem têm medrado em século algum, as heresias que não começaram por ter clérigos em seu apoio.

“O clérigo apóstata é o primeiro fator que busca o diabo para esta sua obra de rebelião. Necessita de apresentá-la de algum modo autorizada aos olhos dos incautos e para isso nada lhe serve tanto como o referendo de algum ministro da Igreja. E como por desgraça nunca faltam clérigos corrompidos em seus costumes, caminho mais comum da heresia, ou cegos pela soberba, causa também muito usual de todo o erro, por isso nunca faltaram a este apóstolos e fautores eclesiásticos, qualquer que tenha sido a forma sob que se tem apresentado na sociedade cristã.

Judas, que começou no próprio apostolado a murmurar e a semear suspeitas contra o Salvador e acabou por vendê-lo a seus inimigos, é o primeiro tipo do sacerdote apóstolo e semeador da cizânia entre seus irmãos; e Judas, advirta-se, foi um dos doze primeiros sacerdotes ordenados pelo próprio Redentor.

A seita dos Nicolaítas teve origem no diácono Nicolau, um dos sete primeiros diáconos ordenados pelos Apóstolos para o serviço da Igreja, e companheiro de Santo Estevão, protomártir.

Paulo de Samosata, grande heresiarca do século III, era Bispo de Antioquia.

“Dos Novacianos, que tanto perturbaram com o seu cisma a Igreja universal, foi pai e autor o presbítero de Roma, Novaciano.

Melécio, Bispo da Tebáida, foi autor e chefe do cisma dos Melecianos.

Tertuliano, também sacerdote e eloqüente polemista, cai e morre na heresia dos Montanistas.

Entre os Priscilianistas espanhóis, que tanto escândalo causaram na nossa pátria no século IV, figuram os nomes de Itácio e Salviano, dois bispos, a quem desmascarou e combateu Higino; foram condenados em um Concílio reunido em Saragoça.

O principal heresiarca que teve talvez a Igreja, foi Ario, autor do arianismo, que chegou a arrastar consigo tantos reinos como o Luteranismo de hoje. Ario foi um sacerdote de Alexandria, despeitado por não haver alcançado a dignidade episcopal. E tanto clero ariano houve nesta seita que grande parte do mundo não teve outros Bispos nem Sacerdotes durante muito tempo.

Nestório, outro famosíssimo herege dos primeiros séculos, foi monge, Sacerdote, Bispo de Constantinopla e grande pregador. Dele procedeu o Nestorianismo.

Eutiques, autor do Eutiquianismo, era presbítero e abade de um mosteiro de Constantinopla.

Vigilâncio, o herege taberneiro, tão chistosamente satirizado por S. Jerônimo, havia sido ordenado Sacerdote em Barcelona.

Pelágio, autor do Pelagianismo, que foi objeto de quase todas as polêmicas de Santo Agostinho, era monge, doutrinado em seus erros sobre a graça por Teodoro, Bispo de Mopsuesta.

O grande cisma dos Donatistas chegou a contar grande número de clérigos e Bispos. Deles diz um moderno historiador (Amat. Hist. de la Igles. de J.C.): “Todos imitaram logo a altivez de seu chefe Donato, e possuídos de uma espécie de fanatismo de amor-próprio, não houve evidência, nem obséquio, nem ameaça que pudesse apartá-los do seu ditame. Os Bispos julgavam-se infalíveis e impecáveis; os particulares com estas idéias imaginavam-se seguros, seguindo os seus Bispos ainda contra a evidência.

“Dos hereges Monelitas foi pai e doutor Sérgio, patriarca de Constantinopla.

“Dos hereges Adopcianos, Félix, Bispo de Urgel. 

 “Na seita iconoclasta caíram Constantino, Bispo de Natólia; Tomás, Bispo de Claudiópolis, e outros prelados, contra os quais combateu São Germano, patriarca de Constantinopla.

“Do grande cisma do Oriente não precisamos dizer quem foram os autores, pois é sabido que foram Fócio, patriarca de Constantinopla e seus Bispos sufragâneos.

Berengário, o perverso impugnador da Sagrada Eucaristia, foi arcediago da Catedral de Angers.

Wiclef, um dos precursores de Lutero, era pároco na Inglaterra; João Huss, seu companheiro de heresia, era também pároco na Boêmia. Foram ambos justiçados como chefes dos Wiclefitas e Hussitas.

“De Lutero, basta recordar que foi monge agostiniano de Wittemberg.

Zwínglio era pároco de Zurich.

“De Jansênio, autor do maldito jansenismo, quem ignora que era Bispo de Iprés?

“O cisma anglicano, promovido pela luxúria de Henrique VIII, foi principalmente apoiado por seu favorito, o Arcebispo Cranmer.

Na Revolução Francesa, os mais graves escândalos na Igreja de Deus deram-nos os Padres e Bispos revolucionários. Causam horror e espanto as apostasias que afligiram os bons naqueles tristíssimos tempos. A Assembléia francesa presenciou por esta ocasião cenas, que o curioso pode ler em Henrion ou em qualquer outro historiador.

O mesmo sucedeu depois na Itália. São conhecidas as apostasias públicas de Gioberti e Fr. Pantaleão, de Passaglia, e do Cardeal Andrea.

Na Espanha houve clérigos nos clubes da primeira época constitucional, clérigos nos incêndios dos conventos, clérigos ímpios nas Cortes, clérigos nas barricadas, clérigos entre os primeiros introdutores do protestantismo depois de 1869. Houve Bispos jansenistas em grande número no reinado de Carlos III. (Veja-se a este respeito o tomo III dos Heterodoxos, por Menéndez Pelayo).

Vários dentre estes pediram e muitos aplaudiram em cartas pastorais a iníqua expulsão da Companhia de Jesus. Hoje mesmo em várias dioceses espanholas, são conhecidos publicamente alguns clérigos apóstatas e casados imediatamente, como é lógico e natural.

“Saiba-se, pois, que desde Judas até ao ex-padre Jacinto, a raça dos ministros da Igreja, traidores ao seu chefe e vendidos à heresia, se sucede sem interrupção; que ao lado e em frente da tradição da verdade, há também na sociedade cristã a tradição do erro; e que, em contraste com a sucessão apostólica dos ministros bons, tem o inferno a sucessão diabólica dos ministros pervertidosNem isto deve escandalizar ninguém. Recorde-se a este propósito a sentença do Apóstolo, que não se esqueceu de prevenir-nos: “É preciso que haja heresias, para que se manifeste quais são entre vós os verdadeiros fiéis’ ” (D. FÉLIX SARDÁ Y SALVANI, El Liberalismo es pecado, E.P.C., Madrid, 1936, 9ª. ed., pp. 116 a 120 / Con censura y licencia eclesiásticas).

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