Plinio Corrêa de Oliveira
Festa da Visitação de Nossa Senhora “Senhora, eu não sou digno de ouvir a Vossa Voz, mas dizei uma só palavra e minha alma será transmudada de um momento para outro, se Vós assim o quiserdes”.
Santo do Dia, 2 de julho de 1970
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A D V E R T Ê N C I A Gravação de conferência do Prof. Plinio com sócios e cooperadores da TFP, não tendo sido revista pelo autor. Se Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério da Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como homenagem a tão belo e constante estado de espírito: “Católico apostólico romano, o autor deste texto se submete com filial ardor ao ensinamento tradicional da Santa Igreja. Se, no entanto, por lapso, algo nele ocorra que não esteja conforme àquele ensinamento, desde já e categoricamente o rejeita”. As palavras “Revolução” e “Contra-Revolução”, são aqui empregadas no sentido que lhes dá Dr. Plinio em seu livro “Revolução e Contra-Revolução“, cuja primeira edição foi publicada no Nº 100 de “Catolicismo”, em abril de 1959.
Hoje temos a festa da Visitação de Nossa Senhora à sua prima Santa Isabel. É um desses temas tão, tão tratados, que eu creio que quase não há mais o que dizer a respeito dele, entre nós. Mas quando a gente o examina de perto, há sempre alguma consideração que vale a pena fazer. E uma das considerações que sempre me pareceram mais bonitas é que São João Batista… Os Srs. conhecem o episódio: Nossa Senhora recebeu a revelação do Anjo de que sua prima Santa Isabel estava esperando uma criança. Então Nossa Senhora e São José se encaminharam para a residência de Santa Isabel, e ali então – Nossa Senhora também já tinha concebido o Menino Jesus, mas não tinha dito nada. Então, nós vemos que Santa Isabel pressentiu, soube, teve conhecimento da existência do Menino Jesus, pelo modo pelo qual ela saudou Nossa Senhora. Como também Nossa Senhora quando falou, quando Ela se dirigiu a Santa Isabel, São João Batista, que estava no ventre de Santa Isabel, teve conhecimento de que Nossa Senhora estava falando e estremeceu de gáudio. E a voz de Nossa Senhora santificou São João Batista. Nós podemos tirar daí algumas aplicações muito importantes para nossa vida espiritual. Em primeiro lugar, o que é que essa virtude que teve Santa Isabel, por onde ela conheceu que o Menino Jesus estava em Nossa Senhora? É uma coisa que, evidentemente, não ia sem auxílio do Divino Espírito Santo, mas era uma espécie de sentimento, de percepção de que o Menino Jesus estava ali. Era um conhecimento de que Deus estava ali presente. Essa graça, não de modo tão agudo, nem de modo tão excelente, entretanto de modo bastante alto, o verdadeiro católico deve ter também. Quando ele corresponde à graça, ele deve ser dotado de um senso por onde ele percebe onde Deus está e onde Deus não está. Não de um modo físico, mas de um modo moral, de um modo sobrenatural. Assim, o verdadeiro católico deve ser munido de um senso tal que as coisas que são segundo Deus, ele percebe que são segundo Deus, e as coisas que não são segundo Deus ele percebe que não são. E para isso não é necessário que ele tenha grande cultura, grande inteligência, muitas informações de teologia; basta que ele tenha um verdadeiro senso católico, que ele tenha correspondido bem à graça do batismo. É disto que Santa Isabel nos dá um exemplo maravilhoso, percebendo o Menino Jesus que estava em Nossa Senhora. Que isso é uma graça muito especial, entretanto, nós o vemos — e que não entra nisso uma percepção natural — nós o vemos por um pormenor curioso. São José não era um santo menor do que Santa Isabel. A Igreja aconselha que não se travem debates a respeito de saber qual santo é maior, se é esse ou aquele. É contrário à dignidade dos santos ficar fazendo essas comparações e é superior à sabedoria dos homens aquilatar bem coisas dessa natureza. Não deixa de ser verdade que São José era o esposo castíssimo de Nossa Senhora. E que ele tinha em relação a Nossa Senhora uma união muito maior do que Santa Isabel, que era apenas uma parente de Nossa Senhora. E tudo leva a crer, portanto, que ele tenha sido um santo bem superior à Santa Isabel. Quando Nossa Senhora concebeu o Menino Jesus, São José não conheceu que [Ela] tinha concebido o Menino Jesus. A tal ponto que teve a famosa perplexidade que todos os Srs. conhecem. Entretanto, Santa Isabel teve conhecimento que Nossa Senhora concebera o Menino Jesus. Como é que se há de explicar – se o conhecimento da presença de Deus é um fruto da virtude- como é que se há de explicar que São José, sendo um Santo tão maior do que Santa Isabel presumivelmente, e sendo esposo de Nossa Senhora, com direito próprio e verdadeiro ao fruto do ventre dEla, embora ele não fosse o pai do Menino Jesus, como é que ele não conheceu que ali estava o Menino Jesus? A gente vê facilmente a razão: É que Nosso Senhor distribui as suas glórias, as glórias que Ele quer dar, segundo planos insondáveis. Foi uma glória para Santa Isabel, que se venerará por todo sempre, essa de ela saber tão cedo que o Menino Jesus estava lá e de cantar em louvor de Nossa Senhora, como Mãe do Menino Jesus. Mas foi uma glória para São José o não saber. E assim é Deus, que faz do saber e do não saber, glórias para os homens. Porque foi uma glória para ele não saber. Por quê? Porque foi a razão da gloriosa perplexidade dele, da conduta virtuosíssima dele nessa perplexidade, e que o tornou o padroeiro dos perplexos até a consumação dos séculos. Porque nunca homem passou perplexidade mais extraordinária do que aquela. E nunca homem, diante de sua perplexidade, se portou com tanta virtude quanto ele. De maneira tal que ele deu uma prova de amor, ele deu uma prova de dedicação extraordinária, conservando a atitude que ele conservou. E ele com isso fez resplandecer magnificamente a santidade que havia nele. Bom, voltando à atitude de Nossa Senhora perante Santa Isabel, o que é que se passou de São João Batista e Nossa Senhora? Nossa Senhora falou, e segundo disse Santa Isabel, ela sentiu o filho dela estremecer no seio dela, estremecer de alegria! Por que isto! Porque, segundo muitos autores — não é uma opinião imposta pela Igreja, mas não é uma opinião condenada pela Igreja — segundo muitos autores, São João Batista, como sendo o último profeta do Antigo Testamento e o mais alto deles todos, e que reunia em si todas as glórias do profetismo oficial, São João Batista, lúcido como ele era, ele podia aquilatar o que era a Mãe de Deus, podia aquilatar o que era a Encarnação, da qual ele seria um profeta. Ele iria anunciar que Nosso Senhor vinha aparecer. E então, ele ouvindo, sentindo a voz de Nossa Senhora, sentindo a presença de Deus, ele estremeceu de alegria. E segundo os teólogos, no momento em que ele estremeceu de alegria, ele foi santificado por Nossa Senhora, ainda no ventre materno. Aqui os Srs. veem a atitude, o poder de Nossa Senhora. O eco da voz dEla santifica um homem de um momento para outro, dá-lhe um grau eminente de santidade. Isto é o que nós devemos esperar de Nossa Senhora. Nós devemos pedir a Ela que a voz dEla fale no íntimo de nossas almas e que de um momento para outro essa voz nos santifique, concedendo-nos uma virtude que, às vezes, anos, anos e anos de lutas e de trabalhos não nos proporcionaram. Uma palavra de Nossa Senhora nos pode conceder isso. E aqui fica uma recomendação para todos aqueles que tenham algum desânimo na vida espiritual, que tenham alguma tristeza na vida espiritual, alguma perplexidade na vida espiritual. Eles podem fazer sua aquela oração que o Padre diz antes da comunhão e que o Centurião, se não me engano, disse a Nosso Senhor: “Senhor, eu não sou digno de que entreis em minha casa, mas dizei uma só palavra e a minha alma será salva”. Nós podemos dizer a Nossa Senhora: “Senhora, eu não sou digno de ouvir a Vossa Voz, mas dizei uma só palavra e minha alma será transmudada. E será transmudada de um momento para outro, se Vós assim o quiserdes”. Os Srs. têm então aqui uma graça para pedir a Nossa Senhora: é que Ela fale à nossa alma e que nossa alma estremeça de júbilo, como estremeceu a alma de São João Batista. E que nossa alma se santifique de um momento para outro, como a alma de São João Batista se santificou. |