Santo Efrem, Doutor da Igreja (9/6)

Santo do Dia, 18 de junho de 1963

A D V E R T Ê N C I A

O presente texto é adaptação de transcrição de gravação de conferência do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira a sócios e cooperadores da TFP, mantendo portanto o estilo verbal, e não foi revisto pelo autor.

Se o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério tradicional da Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como homenagem a tão belo e constante estado de espírito:

“Católico apostólico romano, o autor deste texto  se submete com filial ardor ao ensinamento tradicional da Santa Igreja. Se, no entanto,  por lapso, algo nele ocorra que não esteja conforme àquele ensinamento, desde já e categoricamente o rejeita”.

As palavras “Revolução” e “Contra-Revolução”, são aqui empregadas no sentido que lhes dá o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira em seu livro “Revolução e Contra-Revolução“, cuja primeira edição foi publicada no Nº 100 de “Catolicismo”, em abril de 1959.

 

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Santo Efrem (306-373). Mosaico no Mosteiro Novo de Quios, Grécia

Hoje é festa de Santa Teresa, viúva, filha de D. Sancho I, rei de Portugal, e irmã de duas outras Santas. Tendo sido declarado nulo seu casamento com o Rei de Leão, professou na Ordem de Cister, século XIII.

Amanhã teremos a festa de Santo Efrem sírio, Diácono, Confessor e Doutor da Igreja, chamado “cítara do Espírito Santo”, grande devoto da Virgem, lutou contra os hereges, século IV.

Há duas categorias de santos na devoção popular: alguns para os quais se reza e dos quais se fala, e outros santos que foram “arquivados” e postos em silêncio, a respeito dos quais não se fala e para os quais não se reza.

Até certo ponto isso é normal. Vamos dizer que de algum modo os santos, depois de mortos, têm sua história: são canonizados e alguns chamam a atenção durante muito tempo. Mas depois, no firmamento da Igreja, há tantos santos, que a atenção dos fiéis se volta para outros e aqueles vão ficando esquecidos. O que não é um fenômeno, mas é algo que corresponde à ordem da História da Providência. Ficam no calendário da Igreja, são lembrados pela Ordem Religiosa a que pertenceram, ou pela Diocese em que nasceram etc., mas cedem lugar a outros que passam, por assim dizer, no grande palco da História, até que terminado o tempo, terminadas todas as canonizações e encerrada a História da Humanidade, esses santos serão venerados pelas almas de uma santidade inferior que também foram admitidas no Reino dos Céus.

Portanto, isso é algo natural. Porém, não é normal que todo santo que incomode a “heresia branca” [uma piedade desvirtuada por um sentimentalismo que deforma, por exemplo, o verdadeiro conceito de caridade cristã, n.d.c.] entre logo nesse “arquivo”, enquanto outros que incomodam menos, custem mais ou nunca sejam “arquivados”…

E assim temos sistematicamente um silêncio a respeito dos reis santos, a rainha santa, a princesa santa…  Quem de nós ouviu falar nessa Santa Teresa, viúva? Eu não sabia que ela existia, mas estou sabendo agora. Quais são as duas outras irmãs que ela teve e que também foram santas? Por que seu casamento com o Rei de Leão foi declarado nulo? Como foi a vida que ela levou na Ordem de Cister?

No esquema resumido que temos não se diz, nem se poderia dizer, pois não temos um hagiógrafo capaz de responder a todas essas perguntas. Mas aqui fica o ponto: como seria bom que alguém se esmerasse em ir procurando a biografia desses santos…

Por exemplo, na enciclopédia “Espasa Calpe” deve haver alguma coisa sobre quase tudo isso. Se houvesse alguém com luz primordial, com um chamado especial para isso, e que, de acordo com nosso Departamento do Exterior, escrevesse para perguntar algo sobre tais biografias, fotografias, etc… Que beleza se algum dia pudéssemos inaugurar uma galeria de estampas bonitas, feitas pelo Dante e pelo Humberto, representando os reis e rainhas santos com a coroa na cabeça! Isso seria algo muito esplêndido!

A vida de todo santo é cheia de surpresas. Quando comecei a ler a vidas de Santos bem escritas e documentadas, comecei a me entusiasmar e compreendi que toda vida de santo é isso. Há um trecho da Sagrada Escritura inserida numa liturgia referente a um Santo e que diz o seguinte: “Não foi encontrado ninguém que seja parecido com ele”. E isso se pode dizer de cada Santo, mesmo daqueles que foram muito parecidos com outros. Há peculiaridades extraordinárias, há coisas lindíssimas!

O cerne, o eixo da História da Humanidade é a vida dos Santosé para eles que ela se ordena. E o creme dos cremes da História é saber como se tornaram Santos.

Se pudéssemos tomar essas vidas de Santos, uma por uma, veríamos verdadeiras maravilhas, teríamos, assim, o nosso ciclo santoral ultramontano para quebrar a “heresia branca”.

Vou pedir a Santa Teresa – e peço que se associem às minhas orações – para ver se ela toca alguém para fazer esse serviço. Se tocar alguém, quem sabe se não fazemos uma pequena comissão de estudos? Que beleza e que surpresa podermos ostentar no Congresso 2000 de “Catolicismo”, logo na entrada, um painel de Santos aos quais esse Congresso está recomendado!

Dizem – eu acho isto um pouco… mas não deixa de ter certa razão – que quando se pede a um santo esquecido somos atendidos, porque não têm muitas pessoas que rezem para eles. Há nisso algo de verdade. Quem sabe se pedindo a estes Santos nos ajudam e trabalhamos para a glória deles?

Aqui está um ponto de partida interessante: termos na sede um relicário só para as relíquias dos Santos que foram reis, príncipes da alta nobreza etc., com uma bonita coroa encimando o relicário. Podemos fazer esta pergunta a quem fôssemos mostrar a sede: “Você gosta de venerar Santos que foram reis? Aqui há várias relíquias…”.

Outra página, outro aspecto da hagiografia (vida dos santos): todos os Santos foram devotos de Nossa Senhora, mas nem todos tiveram uma missão mariana tão definida; e de algum modo podemos dizer que nem todos foram tão marianos do mesmo modo.

Santo Efrem, de quem tratamos hoje, Doutor da Igreja, foi um dos grandes inauguradores da Mariologia. Ele tinha uma coisa muito curiosa: como era missionário e gostava de pregar a Doutrina Católica para o povo, para fazer apostolado, compôs poesias que eram cantadas. Como São Luiz Maria Grignion de Montfort, ele ensinava o povo a entoá-las. Suas canções eram tão bonitas, tão harmoniosas, sua teologia, por outro lado, era tão poética e cabia tão bem para os ouvidos populares, que foi chamado de “citarista do Espírito Santo”!

Não posso imaginar nada mais bonito e evocativo do que Santo Efrem – com um perfil fortemente oriental – sentado numa pedra, com um grande vale estendendo-se a seus pés, uma árvore bonita, uma pequena fonte, ele reclinado sobre si mesmo pensando e compondo uma bonita canção sobre Nossa Senhora, para ser entoada com aquele lirismo pastoral muito simples do Oriente, e desenvolvendo a teologia sobre Nossa Senhora de modo muito poético e agradável… E naquelas aldeias, naquelas solidões, naquelas cidades de mercados, o povo aprendendo as canções, os camponeses voltando para casa com o cântaro à cabeça e cantando as canções de Santo Efrem. Depois, as crianças cantando essas canções nos mercados ou nas reuniões de família à noite. É a linda imagem de sua alma: “citarista do Espírito Santo”!

Imaginemos uma cítara colocada sobre uma mesa e, de repente, a cítara começa a tocar sozinha. É o Espírito Santo que compõe a música. É uma canção diretamente produzida pelo Divino Espírito. A alma dele foi essa cítara, e que cantou em honra de Nossa Senhora.

E agora aqui vai outro desejo… Como Danielacho que devemos ser “varões cheios de desejos”: que Nossa Senhora nos desse citaristas para a época das realizações das promessas de Nossa Senhora em Fátima, para cantarem canções guerreiras de Nossa Senhora, e desde já formando o espírito das pessoas em função dessa época. Canções cheias de sentido, teológicas, e ao mesmo tempo cantando a beleza do heroísmo católico, a beleza das belezas.

Quem sabe se o Divino Espírito Santo inspirasse na alma de algum de nós uma canção sobre a morte de Nossa Senhora e a morte do guerreiro, a união dos dois holocaustos e o entusiasmo com que o guerreiro marcha para esse holocausto…

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