São Joaquim (26/7), pai de Nossa Senhora – Felizes daqueles a quem Deus trata pelas vias do inexplicável: esses terão as melhores explicações

Plinio Corrêa de Oliveira

Santo do Dia, 15 de agosto de 1968

A D V E R T Ê N C I A

O presente texto é adaptação de transcrição de gravação de conferência do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira a sócios e cooperadores da TFP, mantendo portanto o estilo verbal, e não foi revisto pelo autor.

Se o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério da Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como homenagem a tão belo e constante estado de espírito:

“Católico apostólico romano, o autor deste texto  se submete com filial ardor ao ensinamento tradicional da Santa Igreja. Se, no entanto,  por lapso, algo nele ocorra que não esteja conforme àquele ensinamento, desde já e categoricamente o rejeita”.

As palavras “Revolução” e “Contra-Revolução”, são aqui empregadas no sentido que lhes dá o Prof. Plínio Corrêa de Oliveira em seu livro “Revolução e Contra-Revolução“, cuja primeira edição foi publicada no Nº 100 de “Catolicismo”, em abril de 1959.

 

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São Joaquim é expulso do templo com sua oferenda (Giotto)

A ficha é de “L’année liturgique”, de Dom Guéranger:

“Os pormenores que temos sobre os pais de Maria nos chegam de um livro apócrifo: o proto evangelho de Tiago. É ele que nos legou os seus nomes: Joaquim que significa preparação do Senhor, e Ana que significa graça”.

É uma coisa muito bonita a gente ver em todo o espírito do Oriente como este sentido simbólico era mais desenvolvido do que no Ocidente. E isto penetrou os livros sacros também.

Os senhores estão vendo aí os pais de Nossa Senhora que têm o nome feito de maneira que a conjugação do nome de ambos dá a definição do que é Ela. Porque os senhores vem, ele se chama Joaquim que quer dizer “preparação para o Senhor” e Ana significa a graça. Exatamente a preparação para o Senhor e cheia de graça é Ela, Ela quem trouxe o Senhor e era cheia de graça.

Assim nós temos um mundo de símbolos no mundo antigo.

“Uma tradição constante fá-los muito ricos, principalmente em rebanhos, como os primeiros patriarcas. Mas a maior riqueza que desejavam, um filho, o Senhor não lhes concedera. Ana era estéril. No templo, um dia em que Joaquim apresentava suas vítimas, elas foram rejeitadas com desprezo. Era uma outra oferenda que o senhor dele esperava. Quando apresentaram, tempos depois, a Mãe do Cordeiro de Deus, ela não será repelida”.

Havia um desprezo entre os judeus para os casais estéreis. Porque a glória dos judeus era ter a possibilidade de vir a ser antepassado do Messias, do esperado de todas as nações. E então quem era estéril certamente não seria antepassado do Messias, de onde ser desprezado. E outras versões indicam que São Joaquim e Sant´Ana eram muito desprezados por causa disso. Já tinham chegado às portas da velhice e ainda não tinham tido filhos.

O casal rezou, então, pedindo a Deus que tivesse pena do desprezo em que estavam, e depois desta oração lhed veio uma Filha… mas que Filha! Isto explica provavelmente que a oferenda de São Joaquim tenha sido rejeitada no templo.

“Mas naquele dia, sem conhecer ainda o futuro, fugiu o patriarca cheio de dor para um monte, sem nem mesmo despedir-se da esposa”.

Como sua oferenda foi recusada, ele sentiu todo o opróbrio que havia nisto. Um homem que desejava ardentemente ser antepassado do Messias, mas não seria. Então, fugiu para um monte sem falar com Sant´Ana. Se não fosse irreverência, diríamos – em nossa linguagem – que ele tomou um “baixa” [depressão] enorme…

“Começou a jejuar, sem interrupção, dizendo: não tomarei alimento até que o Senhor meu Deus me olhe em sua misericórdia, minha prece será meu alimento.”

É muito bonita a oração! Quer dizer, é uma espécie de certeza de ser atendido e de arrancar do Céu, pela violência de sua prece, a graça que desejava. Diz o Evangelho que “o reino dos céus é dos violentos”. Qual é essa violência? É,  por exemplo, não arredar pé: “não saio enquanto Deus não me conceder esta graça”.

Se não me engano, foi Santa Catarina de Siena que disse um vez diante do Santíssimo Sacramento o seguinte: “eu não saio junto do sacrário enquanto Vós não me estenderdes a mão”. E Nosso Senhor teve a misericórdia de abrir o tabernáculo, estender a mão e apertar sua mão… Esta é a confiança dos santos… isto é que é um santo! Estes santos obtêm tudo de Nossa Senhora.

“Por seu lado, Ana chorava o duplo luto de sua viuvez e de sua esterilidade.”

Ela pensou que seu marido tivesse morrido.

“Mas enquanto ela orava no jardim e seu esposo na montanha, suas instâncias foram ouvidas. Um Anjo do Senhor apareceu-lhes e consolou-os e Ana então pode dizer: sei agora que o Senhor me abençoou largamente porque eu, que era viúva, já o não sou mais, e eu, que era estéril, concebi”.

Os senhores vejam que beleza! Ou seja, Nosso Senhor quis que o apuro, que aquela longa provação culminasse num sofrimento extremo. E São Joaquim foi para a montanha e Sant´Ana ficou no jardim chorando porque pensava que estava viúva. Então não só era estéril, mas tinha perdido um esposo exemplaríssimo ao qual ela não podia deixar de consagrar muita amizade, muita estima. Quando a dor tinha chegado a este auge, veio o auge da graça: era a libertação.

Qual libertação? Ele não tinha morrido, estava vivo, ela não era viúva, tinha esposo e não era mãe estéril, pois havia concebido. A “preparação para o Senhor” e a “graça” conceberam Aquela que foi o caminho dAquele que é a própria graça.

Aí os senhores têm uma ideia de toda a simbologia contida nesses acontecimentos.

Devemos tirar alguma lição disso? A eterna lição da confiança! Quando as coisas parecerem perdidas, que não têm mais jeito, quando o procedimento da Providência para com os contra-revolucionários parece inexplicável, aí que devemos esperar com mais confiança, porque aí vem todas as explicações. Felizes daqueles a quem Deus trata pelas vias do inexplicável: esses terão as melhores explicações!

Tenho a impressão de que esta seria uma bem-aventurança especial para todos os católicos verdadeiros que passam por tantas situações inexplicáveis e que depois recebem celestiais explicações.

Enfim tudo isto dito, fica o pedido a Nossa Senhora da Assunção hoje, e a São Joaquim amanhã, de nos concederem esta confiança que resista a tudo, que resista às coisas mais inexplicáveis e que se afirma dentro das maiores tristezas.

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