São Luís Maria Grignion de Montfort: um dos santos mais desprezados e humilhados na História da Igreja

Almoço no Eremo do Amparo de Nossa Senhora, 3 de junho de 1993

 

A D V E R T Ê N C I A

O presente texto é adaptação de transcrição de gravação de conferência do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira a sócios e cooperadores da TFP, mantendo portanto o estilo verbal, e não foi revisto pelo autor.

Se o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério da Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como homenagem a tão belo e constante estado de espírito:

“Católico apostólico romano, o autor deste texto  se submete com filial ardor ao ensinamento tradicional da Santa Igreja. Se, no entanto,  por lapso, algo nele ocorra que não esteja conforme àquele ensinamento, desde já e categoricamente o rejeita”.

As palavras “Revolução” e “Contra-Revolução”, são aqui empregadas no sentido que lhes dá o Prof. Plínio Corrêa de Oliveira em seu livro “Revolução e Contra-Revolução“, cuja primeira edição foi publicada no Nº 100 de “Catolicismo”, em abril de 1959.

 

 

(…) Ele, entre outras coisas, mandou construir na Bretanha, que era… Vandée e Bretanha eram as partes mais… ele era natural de uma dessas províncias e ali exerceu o grosso de seu apostolado. Mas mandou erguer uma cruz, um calvário.
Um calvário era uma cruz, elevada em geral no alto de um morro e tendo à direita Nossa Senhora e um pouco à esquerda São João Evangelista, aos pés as santas mulheres chorando. Se vêem grupos assim nas igrejas etc., e de um modo bastante frequente ainda hoje.
Bem, e esse calvário era colossal e deveria atrair pessoas da região inteira, e ser fundamento de uma devoção enorme a Nosso Senhor, Nossa Senhora etc.
Quando o calvário estava em construção aparecem tropas reais, o rei mal informado sobre essa devoção e influenciado pelos jansenistas – que o rei perseguia, mas alguns jansenistas disfarçados de católicos tinham influência sobre o rei. Acontece que por ordem de Luís XIV mandaram destruir esse calvário.
Em geral ele era tão mal tratado que ele tinha por princípio que nos lugares onde ele fosse – havia conventos por toda parte – ele pedir refeição em algum convento. Naturalmente apresentando-se como padre em qualquer convento dava para ele a refeição que ele pedia.
Uma vez ele foi a um convento da Companhia de Jesus e deram a ele alguma coisa para comer, mas deram com uma tal brutalidade e um tal pouco caso que ele comeu o almoço miserável. E quando saiu ele disse a alguém apenas o seguinte: “Eu nunca pensei que numa casa de padres, quer dizer, num convento, um padre pudesse ser tão mal tratado.”
Esse era o homem sobre cujos ombros pesava a possibilidade gloriosa de salvar a França.
Isso é para os senhores verem bem que terão que passar por humilhações também, mas que enfrentando essas humilhações como ele enfrentava, sem gabolice, sem megalice; mas também com coragem e sem falsa humildade, ele faria um bem enorme. Entre os bens que ele fez está a TFP.
A TFP é largamente um fruto de São Luís Grignion de Montfort, nesse sentido da palavra – que os senhores já conhecem, e com isso que é um pouquinho longo de contar – e nós terminamos o nosso almoço.
Quando eu tinha mais ou menos vinte anos, vinte e um ou vinte e dois anos, eu senti a necessidade de consagrar toda a minha vida, quer dizer, todo o meu tempo livre, consagrar todo esse tempo livre ao trabalho pela Igreja e pelo apostolado, congregações marianas etc. e tal.
E para isso eu precisava ter dinheiro para viver porque eu não podia viver de brisas. Então eu pedi a Nossa Senhora, por meio de uma novena a Santa Terezinha do Menino Jesus, que me desse a graça de receber uma quantia de dinheiro bastante grande para tocar o meu apostolado para frente; também pedi a graça da expansão do meu apostolado. Quer dizer, dinheiro para o apostolado e bênçãos, graças etc. para o apostolado expandir-se.
Bem, Santa Terezinha ajudou-me no ponto de longe o mais importante, que era a expansão do meu apostolado. Mas no resto não me ajudou. Eu esperava… Até, aliás a coisa foi o seguinte:
Eu pedi a Santa Terezinha que eu ganhasse 400 contos num bilhete de loteria, que era a quantia mínima necessária para viver decentemente e poder fazer apostolado sem estar me preocupando com… O tempo enorme que eu gastei na minha vida para manter-me, manter minha mãe etc., etc.
Bem, e outra coisa que eu queria era que me viesse às mãos um bom livro de vida espiritual. Esse foi propriamente o pedido.
O dinheiro não veio, até hoje eu não ganhei na loteria… É preciso dizer que eu também não comprei loteria. Mas Nossa Senhora poderia me ter feito chegar essa loteria por outra via. Foi melhor que não fosse porque foi assim que Ela fez, logo foi melhor que Ela fizesse assim.
Mas, dentro de uns quinze dias mais ou menos eu fui a uma livraria dos padres do Coração de Maria, que ainda existe ali perto da sede [da Rua Martim Francisco], e entrei para procurar um livro para ler. E me lembro que procurei vários livros e três ou quatro me pareceram melhores, mas eu só tinha dinheiro para comprar um. E vi vários e vi um “Traité de la vrai dévotion à la Très Sainte Vierge – Tratado da Devoção à Santíssima Virgem”, autor: um homem de quem eu nunca tinha ouvido falar, padre Luís Maria Grignion de Montfort. Eu nunca tinha ouvido falar do nome. Impliquei um tanto com o nome de Grignion: “Não tem sentido esse Grignion… o que é esse Grignion? Nome esquisito, eu nunca vi alguém chamar Grignion? Enfim, vamos ver…”
Folheei o livro e eu achei o livro muito simpático: apresentação material, tudo muito direito, muito bem feito, o livro era escrito em francês… Os srs. podem imaginar que a atração não era pequena, e sobretudo, tratava de Nossa Senhora. E eu estava querendo um livro sobre Nossa Senhora, então comprei esse livro. Vim para casa e não li no dia que eu comprei, mas no dia seguinte. Eu fazia as minhas meditações de manhã e eu comprei à tarde, já não era hora de meditação. No dia seguinte de manhã abri o livro para eu ler. Comecei a ler e fiquei para lá de maravilhado com o livro!
E de lá veio a minha devoção… Acresceu-se muito a devoção a Nossa Senhora com o que Ela me tinha agraciado aos pés da imagem de Nossa Senhora Auxiliadora quando eu era menino. E de lá para cá a nota marial, muito preponderantemente marial que eu tenho feito o possível para comunicar à TFP.
Agora, eu pergunto aos senhores, o que é que seria a TFP se ela não tivesse a devoção a Nossa Senhora? Não seria nada!
Eu não seria nada também sem a devoção à Nossa Senhora! Essa devoção a Nossa Senhora em boa parte e em parte preponderante, resulta em mim, portanto nos senhores também, do livro de São Luís Maria Grignion de Montfort, do qual ouvimos alguma coisa agora.

Nota: Para uma vasta coletânea de documentos a respeito de São Luís Maria Grignion de Montfort, clique aqui.

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