São Vicente Ferrer (5/4): pregador extraordinário, assemelha-se a um profeta do Antigo Testamento e anuncia o começo da Revolução

Santo do Dia, 4 de abril de 1966

A D V E R T Ê N C I A

O presente texto é adaptação de transcrição de gravação de conferência do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira a sócios e cooperadores da TFP, mantendo portanto o estilo verbal, e não foi revisto pelo autor.

Se o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério tradicional da Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como homenagem a tão belo e constante estado de espírito:

“Católico apostólico romano, o autor deste texto  se submete com filial ardor ao ensinamento tradicional da Santa Igreja. Se, no entanto,  por lapso, algo nele ocorra que não esteja conforme àquele ensinamento, desde já e categoricamente o rejeita”.

As palavras “Revolução” e “Contra-Revolução”, são aqui empregadas no sentido que lhes dá o Prof. Plínio Corrêa de Oliveira em seu livro “Revolução e Contra-Revolução“, cuja primeira edição foi publicada no Nº 100 de “Catolicismo”, em abril de 1959.

 

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Hoje é aniversário da morte de Francisco Marto, a quem Nossa Senhora apareceu em Fátima. Ele faleceu em 1919.

Amanhã será a festa de São Vicente Ferrer, Confessor, “que contribuiu para a extinção do grande cisma do Ocidente no século XIV”. A seu respeito, temos os seguintes dados:

“Vicente Ferrer nasceu na Espanha, em 1357. Sua vocação foi anunciada a seus pais de forma miraculosa, antes de seu nascimento. A seu batismo acorreu toda a cidade de Valença, sendo seus padrinhos os membros do Conselho Municipal.

“Entrou para a Ordem Dominicana aos 18 anos, revelando logo rara inteligência e dotes para a pregação. Acompanhou o cardeal Pedro de Luna a Avinhão, sendo que algum tempo depois este foi eleito papa sob o nome de Bento XIII, na época do grande cisma que dividia a Igreja. O novo papa quis que Vicente fosse seu auxiliar, mas o santo sabia que esta não era a sua missão. Assim deu início à grande obra de evangelização como pregador.

“Percorreu a França, Espanha, Itália e Inglaterra, esta última por especial pedido do rei Henrique IV. Os pecadores mais endurecidos não resistiam às suas palavras, assim como numerosíssimos judeus, muçulmanos e cismáticos se convertiam. A ignorância e a corrupção dos costumes, coisas comuns da guerra e do cisma, tornavam necessárias as missões de Vicente. Era preciso um apóstolo cuja voz terrível pudesse abalar as consciências a fim de arrancar os pecadores às suas desordens. O Santo tratava comumente somente dos temas mais assustadores do cristianismo tais como o pecado, o juízo de Deus, o inferno e a eternidade. Tinha, além disso, o dom de pronunciar seus discursos da maneira a mais patética. Não se contentando em ser veemente, ele falava ainda de uma maneira proporcionada à compreensão dos ouvintes. A santidade de sua vida dava nova força às suas palavras.

“Sua fama chegou ao reino mouro de Granada, cujo soberano Mohamed Yusuf III quis ouvi-lo. São Vicente começou a promover tantas conversões que os ministros do rei, temerosos do que sucederia à crença muçulmana, pediram-lhe que afastasse dali o grande pregador.

“Depois de uma existência toda consagrada a levar almas para Deus, pontilhada por milagres sem conta e pela luta contra o doloroso cisma de Avinhão, que culminou pela condenação pelo Santo do antipapa Pedro de Luna e a aceitação completa de Martinho V, que fora escolhido pelo concílio de Constança, São Vicente veio a falecer na Bretanha, em 1419, aos 62 anos de idade.”

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Granada – Corte dos leões 

Tenho a impressão de que poucas coisas são tão bonitas na hagiografia quanto o nós situarmos a missão do santo no panorama proposto pela RCR (Revolução e Contra-Revolução). Segundo tal panorama, no século XIV, a Cristandade começava a decair. Era uma decadência eclesiástica tremenda que se atestava pelo fato de haver ao mesmo tempo papas exilados em Avinhão, que estavam sob a férula dos reis de França. E um cisma tremendo: três papas que se combatiam reciprocamente, dos quais, naturalmente, um só era válido. Mas estava de tal maneira a confusão na Cristandade, que para cada pseudo-papa ou papa, havia santos que estavam do seu lado. Os senhores compreendem o que significava, para isso ser possível, a putrefação toda do clero. Mas esta acarretava, por sua vez, como conseqüência, a degenerescência dos fiéis. E era toda a Idade Média que entrava em decomposição, de caráter mais moral do que intelectual; era uma explosão de orgulho e de sensualidade que começava, a qual devia depois gerar os desvios intelectuais que são os erros da Revolução.

Então a Providência manda, muito adequadamente, para essa época, um santo que foi grande na sua Ordem como, por exemplo, foi grande na sua esfera própria, São Tomás de Aquino. Porque se se pode dizer, de um lado, que São Tomás de Aquino foi Doutor Comumo filósofo dos filósofoso teólogo dos teólogos, pode-se  dizer que como pregador popular – depois dos Apóstolos – ninguém excedeu provavelmente São Vicente Ferrer, nem mesmo, no século XIX, Santo Antônio Maria Claret, que foi um pregador assombroso.

São Vicente Ferrer dizia de si mesmo que era o “Anjo do Apocalipse”, que tinha vindo para anunciar a derrocada da Civilização Cristã e o começo do fim do mundo. E de fato ele lutou enormemente para a moralização dos costumes, lutou para que exatamente essa decadência moral se sustasse.

Essa ficha biográfica que acabei de ler aqui é muito sintomática, porque menciona as conversões que São Vicente Ferrer obteve, mas como fatos colaterais, não digo secundários, mas de uma importância menor dentro do conjunto de sua obra. O grande fato era o poder de sua pregação, por onde sacudia as consciências meio adormecidas e por onde ele era, por excelência, o santo oposto à tibieza. Porque esse tipo de santo que fala sobre inferno, pecados, que tonitroa, que pede o castigo do Céu, é exatamente o santo chamado sobretudo para falar às almas tíbias, porque de outro modo não poderia converter. Então compreendemos o número colossal de conversões que operouPorém essas conversões, por mais numerosas que tenham sido, foram insuficientes. Delas não nasceu um movimento, uma onda organizada para combater a Revolução que surgia. E o resultado é que converteu muitas almas, mas não a sociedade enquanto tal. Em outros termos, ele não foi tão ouvido pelos homens de seu tempo quanto era devido. São Vicente Ferrer foi o dique que a Providência levantou, mas que a maldade dos homens destruiu.

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Profeta Habacuc (por Aleijadinho, Congonhas do Campo – Minas Gerais) 

Mas na abertura dessa torrente que começa a cair para o abismo, fica de pé sua figura grandiosa, anunciando as catástrofes que provinham do fato de ele não ter sido ouvido. Exatamente como de um profeta do Antigo Testamento anunciando desgraças ao povo de Deus, porque não tinha ouvido o enviado de Deus.

Assim, fica sua imensa figura pairando sobre o firmamento da Igreja no fim de um pórtico que é o fim da Idade Média e que pode ser considerado o começo da Revolução.

Aí está a imensa figura de São Vicente Ferrer e a explicação histórica de seu estilo de pregar, dos dons com que foi favorecido e da missão que recebeu de Deus.

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