Capítulo IV

 

 

6. O papel das paixões no processo revolucionário

 

 

 

 

 

 

 

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O processo revolucionário, considerado no seu conjunto, e também nos seus principais episódios, é visto pelo pensador brasileiro como o desenvolvimento, por etapas, e através de contínuas metamorfoses, de algumas tendências desregradas do homem ocidental e cristão e dos erros e movimentos que estas fomentam.

A causa mais profunda deste processo é, para Plínio Corrêa de Oliveira, uma explosão de orgulho e sensualidade que inspirou toda uma cadeia de sistemas ideológicos e uma uma série de acções a eles correlatas.

"O orgulho leva ao ódio a qualquer superioridade, e, pois à afirmação de que a desigualdade é em si mesma, em todos os planos, inclusive e principalmente nos planos metafísico e religioso, um mal. É o aspecto igualitário da Revolução.

"A sensualidade, de si, tende a derrubar todas as barreiras. Ela não aceita freios e leva à revolta contra qualquer autoridade e qualquer lei, seja divina ou humana, eclesiástica ou civil. É o aspecto liberal da Revolução.

"Ambos os aspectos, que têm em última análise um carácter metafísico, parecem constraditórios em muitas ocasiões, mas conciliam-se na utopia marxista de um paraíso anárquico em que uma humanidade altamente evoluída e `emancipada' de qualquer religião vivesse em ordem profunda sem autoridade política, e numa liberdade total da qual entretanto não decorresse qualquer desigualdade" (54).

Os autores contra-revolucionários do século XIX, como De Maistre, De Bonald e Donoso Cortés, descreveram bastante bem a Revolução no seu desenvolvimento de erros doutrinais. Mas o que, pelo seu lado, caracteriza a obra de Plínio Corrêa de Oliveira, é a atenção aos factores "passionais" e à sua influência sobre os aspectos estritamente ideológicos do processo revolucionário (55).

Conformando-se ao costume de diversos autores espirituais, quando fala de "paixões" como causas da Revolução, o autor refere-se às paixões desordenadas da alma humana (56). E, de acordo com a linguagem corrente, inclui nas paixões desordenadas todos os impulsos ao pecado existentes no homem em consequência do pecado original e da tríplice concupiscência denunciada no Evangelho: a da carne, a dos olhos e a soberba da vida (57).

A Revolução tem pois a sua primeira origem nas paixões desordenadas. Como os tufões e os cataclismos, elas possuem uma força imensa, mas para destruir (58).

Notas:

(54) Plínio CORRÊA DE OLIVEIRA, "Revolução e Contra-Revolução", cit., pp. 12-13.

(55) H-D. NOBLE, "Passions", in DTC, vol. XI,2 (1932), col. 2211-2241; Aimé SOLIGNAC, "Passions et vie spirituelle", in DSp, vol. XII,1 (1984), col. 339-357. As paixões podem ser entendidas em sentido metafísico (cfr. S. Tomás DE AQUINO, Summa Theologica, I-IIae, q. 23 art. 2-4) num sentido psicológico. Noble define a paixão como "um acto único do apetite sensitivo, que compreende essencialmente uma tendência afectiva e uma reacção psicológica" (col. 2215). Cfr. também Gérard BLAIS, "Petit traité pratique des passions humaines", Editions Paulines, Sherbrooke (Canadá), 1976; Antonin EYMIEU, "Le gouvernement de soi-même. Essai de psychologie pratique", Perrin, Paris, 1910. Indagando sobre as relações entre ideias, sentimentos e actos, Eymieu estabelece algumas grandes leis psicológicas, das quais a primeira é que a ideia leva ao acto do qual é a representação. O segundo princípio é que a acção suscita o sentimento do qual esta deveria ser a expressão normal. O terceiro é que a paixão se aguça até ao máximo, e emprega para os próprios fins as forças psicológicas humanas.

(56) "As tendências desordenadas produzem crises morais, doutrinas erróneas, e depois revoluções. Umas e outras, por sua vez, exacerbam as tendências. Estas últimas levam em seguida, e por um movimento análogo, a novas crises, novos erros, novas revoluções. É o que explica que nos encontremos hoje em tal paroxismo da impiedade e da imoralidade, bem como em tal abismo de desordens e discórdias". E sobre a marcha de requinte em requinte desse processo diz o Prof. Corrêa de Oliveira: "As paixões desordenadas indo num `crescendo' análogo ao que produz a aceleração da lei da gravidade, e alimentando-se das suas próprias obras, acarretam consequências que, por sua vez, se desenvolvem segundo intensidade proporcional" (Plínio CORRÊA DE OLIVEIRA, "Revolução e Contra-Revolução", cit., p. 24).

(57) Cfr. I Jo. 2, 16. Plínio CORRÊA DE OLIVEIRA, "Revolução e Contra-Revolução", cit., p. 30.

(58) Plínio CORRÊA DE OLIVEIRA, "Revolução e Contra-Revolução", cit., p. 24.

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