Capítulo V

 

 

10. 1994: O mundo numa visão

de conjunto

 

 

 

 

 

 

 

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O último manifesto público redigido e assinado pelo pensador brasileiro foi estampado em 9 de Dezembro de 1994 na Folha de S. Paulo. Dirigia-se então aos participantes da Cimeira Americana que se reuniu em Miami entre 9 e 11 de Dezembro do mesmo ano, e traçava impressionante quadro da situação internacional no crepúsculo do nosso século. As palavras finais renovam aquela confiança na vitória da Civilização Cristã que constituiu a nota dominante do esforço apostólico de Plínio Corrêa de Oliveira e da TFP. Transcrevemos o texto integral deste documento, que se afigura quase como um seu testamento histórico:

"As TFPs das três Américas

I. Exprimem preocupação

• pela enigmática indiferença, moleza e até cumplicidade de certas esferas políticas, intelectuais, eclesiásticas, publicitárias e económicas do Continente em relação ao mal sucedido regime comunista vigente na antiga `Pérola das Antilhas' e ao seu velho inspirador e chefe Fidel Castro;

• pela incongruente política de dois pesos e duas medidas de vários organismos e governos da região em relação aos regimes do Haiti e de Cuba: agiriam com o máximo rigor diplomático contra o primeiro, enquanto vêm fazendo, há décadas, concessões liberais e até lisonjeiras em relação ao segundo;

• pela hábil metamorfose operada, após a queda do muro de Berlim, por numerosas figuras da extrema esquerda que, sem renegarem o seu passado e as suas metas igualitárias, e apenas mudando de rótulos e métodos de acção, alcançaram importantes posições políticas;

• pela utilização do poder político que vem sendo feita por essas figuras, no sentido de promover uma verdadeira revolução cultural que anestesia as reacções sadias da opinião pública, ao mesmo tempo que desfere golpes radicais contra os princípios básicos da Civilização Cristã;

• pelo potencial destrutivo e detonador de caos sócio económico que têm demonstrado na América Latina grupos terroristas e guerrilheiros apoiados em conexões internacionais;

• pela continuidade da crise que, no plano espiritual –porém com inevitáveis reflexos na ordem temporal– afecta a Santa Igreja Católica, Apostólica, Romana, com o paralelo avanço de seitas ditas `cristãs', de religiões animistas e até de movimentos satanistas.

II - Deploram

• a arrogância com que movimentos homossexuais reivindicam, em diversos países americanos, peudo- `direitos', tão radicalmente contrários à Lei de Deus e à ordem natural:

• as inconcebíveis pressões de alguns organismos internacionais e sectores sociais de várias nações do Continente, em favor do aborto e do controle da natalidade (cfr. Conferência do Cairo), do divórcio, do concubinato, da eutanásia e de outras medidas que conduzem à extinção da família;

• as experiências de manipulação genética que envolvem embriões humanos, desconhecendo princípios religiosos e éticos elementares;

• o aumento do tráfico e do consumo de drogas, e as tentativas de despenalização desse consumo;

• a colaboração ominosa de importantes meios de comunicação social na difusão de antivalores que corroem a Civilização Cristã até aos seus fundamentos.

III - Manifestam acentuadas reservas

• diante da precipitação com que alguns sectores políticos desejam levar avante processos de integração hemisférica, com ritmos e condições que na prática poderão desgastar, se não abolir, as necessárias fronteiras nacionais, as características peculiares de cada país e até as suas próprias soberanias;

• ante o desconhecimento, por parte desses sectores, dos resultados tão discutíveis de experiências similares, como o Tratado de Maastricht, na Europa, contestado por milhões de europeus;

• ante as expectativas exageradas e até o verdadeiro fascínio, despertado no espírito das multidões por tantos órgãos de comunicação social, com referência ao desenvolvimento económico, apresentado como se fosse uma panaceia para todos os problemas do nosso tempo; enquanto isso, fica relegada a segundo plano a profunda crise espiritual e moral que afecta de forma crescente o tecido social, em toda a América;

• ante as esperenças frenéticas com que alguns encaram o surgimento de uma pseudo-civilização cibernética, sem avaliar todos os riscos, nem os inconvenientes graves e certos de transformações psicológicas, morais e culturais que ela acarreta;

• ante a crescente influência, em matéria política, social, económica, que vão assumindo determinadas organizações não-governamentais (ONGs), muitas das quais possuem programas nítidamente revolucionários (por exemplo reivindicações propensas a favorecer um indigenismo retrógrado e contrário à Civilização Cristã), como ficou patente na ECO-92, realizada no Rio de Janeiro; e diante do volumoso financiamento internacional que esse tipo de ONGs vem recebendo;

• ante o processo de asfixia económica e sucateamento de nobres Forças Armadas do hemisfério, com ilusório fundamento em novas realidades nacionais e internacionais;

• em relação àqueles que acusam algumas Forças Armadas de terem violado os direitos humanos dos guerrilheiros, enquanto se mostram suspeitamente omissos em denunciar os crimes que estes cometeram, e continuam a cometer em importantes países como à Colômbia e o Perú, contra populações urbanas e rurais.

IV - Apelam

• aos preclaros participantes da Cúpula de Miami para que abordem em profundidade, sem temor de discrepâncias e debates fecundos, estes e outros temas delicados e urgentes da realidade interamericana;

• aos líderes da Cúpula de Miami para que apresentem soluções efectivas aos mencionados problemas, em harmonia com as tradições cristãs do Continente, interpretando assim os legítimos anelos da opinião pública das três Américas;

• aos referidos participantes da Cúpula de Miami para que adoptem, com a indispensável urgência, medidas políticas, económicas e publicitárias próprias a viabilizar a imediata normalização da situação do povo cubano.

V - Vêem com esperanças

• a saudável repulsa contra múltiplas formas de Revolução anti-cristã que vai despontando –notadamente nas camadas mais humildes– em consideráveis parcelas da opinião pública inter-americana;

• as justificadas e crescentes desconfianças com que essas parcelas da opinião continental vêem a acção de outros meios de comunicação social –especialmente da TV–enquanto veículos da agressiva imoralidade, particularmente nociva para a infância e a juventude;

• o insucesso eleitoral de candidatos ostensivamente esquerdistas em países como o Brasil, México, Colômbia, Perú, Uruguai, Argentina e El Salvador;

• o total descrédito, até entre os sectores mais modestos da população, da assim chamada `teologia da libertação' e das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) nelas inspiradas;

• o debilitamento da obsessão ideológica igualitária que impregnou durante décadas a mentalidade ocidental, em benefício do socialismo e do comunismo;

• as excelentes perspectivas de colaboração da América Latina com os Estados Unidos e o Canadá, em sólidas bases cristãs, que se abrem com os fenómenos descritos neste item.

Concluindo, as TFPs das três Américas

• afirmam a sua profunda convicção de que, quando os homens resolvem cooperar com a graça de Deus, o desenrolar da História gera maravilhas: é esta a lição que nos foi legada pela Europa pré-medieval e medieval, a qual, a partir de populações latinas decadentes e de hordas de invasores bárbaros, chegou, sob todos os pontos de vista, a um nível religioso, cultural e económico sem precedentes;

• manifestam portanto a certeza de que, para além das tormentas morais, das dificuldades materiais e das ciladas de toda a ordem que vão sendo preparadas no Continente pelos inimigos da Igreja e da Civilização Cristã, haverá nas Américas um ressurgir da Cristandade, de acordo com o previsto por Nossa Senhora em Fátima, em 1917, quando anunciou: `Por fim, o meu Imaculado Coração Triunfará!” (93) 

Nota:

(93) Plínio CORRÊA DE OLIVEIRA, "As Américas rumo ao 3° milénio: conviçcões, apreensões e esperanças das TFPs do continente", in Catolicismo, n° 528 (Dezembro de 1994).

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