Plinio Corrêa de Oliveira

 

 

São Dionísio, Bispo de Corinto

 

"Santo do Dia", 7 de março de 1967

  Bookmark and Share

A D V E R T Ê N C I A

O presente texto é adaptação de transcrição de gravação de conferência do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira a sócios e cooperadores da TFP, mantendo portanto o estilo verbal, e não foi revisto pelo autor.

Se o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério tradicional da Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como homenagem a tão belo e constante estado de espírito:

“Católico apostólico romano, o autor deste texto  se submete com filial ardor ao ensinamento tradicional da Santa Igreja. Se, no entanto,  por lapso, algo nele ocorra que não esteja conforme àquele ensinamento, desde já e categoricamente o rejeita”.

As palavras "Revolução" e "Contra-Revolução", são aqui empregadas no sentido que lhes dá o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira em seu livro "Revolução e Contra-Revolução", cuja primeira edição foi publicada no Nº 100 de "Catolicismo", em abril de 1959.

         Sábado é festa de São Dionísio, bispo de Corinto, a respeito do qual escreve Rohrbacher em sua obra “Vida dos Santos”:

“São Dionísio, bispo de Corinto, é considerado um dos mais ilustres prelados do século II. As numerosas cartas que ele escreveu a bispos e particulares são notável exemplo de virtude e erudição. Escrevendo uma carta a São Pinito, bispo de Creta, São Dionísio exorta-o a considerar a fraqueza do comum dos homens e a não impor generalizadamente aos fiéis o jugo da virgindade ou da continência perpétua, como se isso fosse questão absolutamente necessária para a salvação. É interessante a resposta de São Pinito, homem de grande eloquência e uma das maiores personalidades de seu século.

“Após haver testemunhado muita estima e respeito por São Dionísio, pede-lhe que dê ao povo alimento mais forte e que lhe escreva outras cartas para lhe sugerir máximas diferentes e para exercitá-lo no caminho da perfeição, com receio de que acostumados a serem alimentados com leite, envelheçam na infância de vida espiritual, sem aspirar à perfeição”.

Não sei se ficou clara a questão. São Dionísio, que é um personagem eminente etc., etc., teve conhecimento de que São Pinito, bispo de Creta fazia uma propaganda muito grande do estado de castidade perfeita.

Então, ele escreveu uma carta, em si muito razoável: querer que todo mundo fique solteiro, não é possível. Então São Dionísio pede que tenha em consideração a fraqueza humana, pois esse é um grau muito elevado de virtude que não se pode recomendar a todo mundo. Há muita gente que deve casar-se etc., etc.

A resposta de São Pinito é muito interessante. Afirmou ele, depois de haver testemunhado muita estima e respeito por São Dionísio, que este desse ao povo alimento mais forte, que escrevesse outras cartas para sugerir ao povo máximas diferentes e para exercitá-lo no caminho da perfeição.

Como quem diz: não adianta estar apenas reivindicando os direitos da virtude comum. Isso é bom, mas o próprio do Pastor é sobretudo incentivar à perfeição. E, portanto, peça atitudes árduas, generosas, altas, que o amor de Deus pode conduzir a isso. Acrescenta que o perigo é ficar dando leite de criança para os seus diocesanos a vida inteira, e assim eles envelhecerem na infância, não adianta nada. Passam a vida inteira no leite, incapazes de se alimentar espiritualmente com elementos sólidos.

Alguém dirá: “Mas Dr. Plinio, não é chocante esse comentário? São Pinito aí não está passando um pito em São Dionísio?” Respondo: os santos não são necessariamente os que nunca recebem os pitos merecidos, deles gostam e tiram proveito... e por isso ficam santos.

Já tive ocasião de referir aqui, e mais de uma vez, uma carta famosa de São Gregório VII para São Pedro Damião na qual o primeiro afirmou a este verdades duras, porque São Pedro Damião deu um giro pela França e fez umas coisas que seria difícil não chamar de indolentes. São Gregório VII pespegou São Pedro Damião o qual estendeu a mão à palmatória, deixando-se convencer.

Quem sabe se São Dionísio ficou santo porque ouviu tal sadia advertência de São Pinito. De qualquer forma, a ironia de São Pinito é de primeira ordem, isso não tem dúvida,

“Numa outra carta ao Papa Sotero, São Dionísio explica ao Pontífice que haviam adulterado outras cartas que escrevera. ‘Apóstolos do diabo alteraram outras cartas que escrevi, acrescentando ou tirando o que era necessário, para se tornarem suspeitas ou mesmo favoráveis aos erros que pregam. Que sejam malditos!’.”

Um “heresia branca” [sentimental, que tem uma noção distorcida da caridade e da misericórdia como a Santa Igreja ensina, n.d.c.] diria: “Dr. Plinio, o senhor não sabe o que é um santo... Um santo não amaldiçoa nunca! Amaldiçoa um homem ruim como o senhor, que tem seu coração cheio de cólera contra os homens bons como é o “heresia branca”. Mas um santo não amaldiçoa nunca”. A gente diz: “Mas olha aqui, São Dionísio disse isso”. – “Orgulhoso! Com esse homem não há nem jeito de discutir...”

Continua São Dionísio:

“Não deve parecer estranho que tenham tentado corromper os Santos Evangelhos, já que acreditam do seu interesse alterar os escritos de uma autoridade menor”.

O argumento é muito interessante. Em outros termos, afirma ele: se de mim que sou poca, acham vantajoso alterar, quanto mais o Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo eles acharão mais vantajoso ainda adulterar. Então, por causa disso, não estranho...


Bookmark and Share