Plinio Corrêa de Oliveira

 

 

A Baronesa e a Passionária

 

 

 

Catolicismo, N° 559 - Julho de 1997 (*)

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Grande de rosto e de porte, com um não-sei-quê de nobremente aquilino no olhar e no perfil, Lady Churchill reunia entretanto todas as graças genuinamente femininas. Sua educação aristocrática lhe comunicara um charme evidente. Sua imponência coexistia elegantemente com uma afabilidade atraente. Apesar de vistosa, era sumamente discreta. E sabia ser inteligente sem em nada disputar a seu brilhante esposo os olhares do público. No equilíbrio de tantas qualidades quase opostas, tudo era degagé [natural] e nada era recherché [afetado].

Na semana que finda, li portanto com emoção a notícia de que falecera a baronesa Churchill (Elizabeth II lhe concedera este título após a morte do esposo).

Não posso ocultar, porém, que a essa emoção se associou um espanto rapidamente transformado em indignação.

A "Folha de S. Paulo" foi o jornal de nossa cidade que mais dados publicou sobre a vida de Lady Churchill. Realçou-lhe a perfeita união com o esposo, a íntima cooperação até na obra intelectual deste, e acabou por revelar que essa grande dama terminara sua vida na penúria, obrigada, para saldar seus modestos gastos, a vender até quadros pintados pelo falecido Premier.

Assim é o Estado moderno. No início do século XVIII, John Churchill ganhou para a Inglaterra várias batalhas. Por isto, foi elevado a Duque de Malborough e dotado com os abundantes recursos que lhe permitiram construir o magnífico castelo de Blenheim, mansão até hoje de um de seus descendentes. No século XX, a glória de John Churchill foi superada por um inglês da estirpe dele, isto é, por Winston, que não fez nada mais nem menos do que salvar a Inglaterra. E sua esposa morre na penúria!

Estou pressentindo à distância algum leitor socialista que uiva: "estamos na época da igualdade e da justiça social!"

Não disponho de mais espaço para responder a esta objeção, modelo perfeito de tolice. Justiça é retribuir a cada qual segundo seus méritos. E não é retribuir igualmente a gênios e mediocridades, heróis e pusilânimes, homens beneméritos ou egoistarrões. E se a viúva de um operário tem o direito a uma pensão correspondente ao honesto trabalho prestado por seu marido, não vejo por onde a viúva de um homem genial e benemérito não tenha direito a um status correspondente ao serviço de seu esposo, que salvou a pátria.

 

Mas estou persuadido de que meu argumento não modificará o modo de pensar de socialistas e comunistas. Em via de regra, eles acham justo que a Passionária [acima, em uma foto da década de 70, ndc], a fera do comunismo espanhol nos idos do Alzamiento esteja hoje gozando dos confortáveis subsídios de deputado às Cortes de seu país, no exercício de um mandato para qual sua velhice não lhe dá força, sua cultura não lhe dá títulos, e seu passado não lhe dá direito. E acham justo também que uma das maiores damas de nosso século morra na penúria... 

(*) Excertos do artigo A Baronesa e a Passionária, do Prof. Plinio, publicado na "Folha de S. Paulo" em 19 de dezembro de 1977.


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