Capítulo IV

 

1980-1988 (3)

 

 

 

 

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Um homem, uma obra, uma gesta – Homenagem das TFPs

a Plinio Corrêa de Oliveira
 

EDIÇÕES BRASIL DE AMANHÃ
Rua Javaés 681 – São Paulo
Impressão e acabamento
Artpress – Papéis e Artes Gráficas Ltda.
Rua Javaés 681 – São Paulo
s/d (1989)

Reforma Agrária – Ação & Reação 12

Começam as invasões – Plinio Corrêa de Oliveira denuncia a insuflação eclesiástica

UM ARCEBISPO, entretanto, rompeu o silêncio, a propósito do livro Sou católico: posso ser contra a Reforma Agrária?, e nisso não deu mostras do fino senso de oportunidade que pareceu guiar seus colegas da CNBB neste passo. Foi o Sr. D. Benedito Ulhoa Vieira, de Uberaba.

O Prelado foi visitar uma exposição de gado em sua cidade, que é a metrópole do zebu. Lá deparou com o concorridíssimo stand da TFP, o qual exibia vistosos anúncios daquele livro. Agro-reformista convicto, não se conteve e, diante dos jornalistas ali presentes, investiu contra a Sociedade.

Não contra o livro, que tanto do ponto de vista da Doutrina Católica como da ciência econômica, era inatacável. Nem contra o procedimento dos sócios e cooperadores que ali atuavam, o qual era exemplar. Preferiu S. Exa. lançar um ataque de caráter direto, e por assim dizer pessoal, contra a TFP, afirmando: "Eles se apresentam como católicos, e na realidade não são; eles constituem-se juízes do Papa, do Concílio e dos Bispos: portanto não são católicos" (18).

Nada fere tanto a honra do católico quanto dizer-lhe que não é católico. Era explicável que, como Presidente do Conselho Nacional da entidade, o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira saísse a público para perguntar ao Prelado se ele havia encontrado algum ponto, nas obras ou atitudes da TFP, que lhe permitisse afirmar que os diretores, sócios ou cooperadores dela não são católicos. Pois nunca ninguém teve a veleidade de tentar demonstrar a falta de identidade católica apostólica romana deles, mesmo quando tiveram de manifestar de público seu desacordo com ensinamentos ou medidas de altas autoridades eclesiásticas. Inclusive da CNBB. Ou mesmo do Vaticano, como foi o caso da Declaração de Resistência em face da política de Paulo VI, de aproximação com os regimes comunistas (ver TFPs: ações conjuntas em âmbito internacional 4).

À réplica do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, D. Benedito nada respondeu. Não escolhera bem a oportunidade. Atacou o que não era estratégico que atacasse. Falou em termos não convincentes. Lançou acusações não defensáveis.

Mas ao menos havia falado. Dera sua contribuição para sacudir o marasmo. Fez de modo peremptório declarações enunciativas do que – sob a forma de zumbidos pouco leais, de origem não inteiramente comprovável – vinha circulando em meios católicos do Brasil, com sorrateiro desafio da evidência dos fatos.

E este aspecto da questão permitiu ao Presidente do CN da TFP encerrar com bom humor a série de dois artigos que escreveu para "Última Hora" sobre o assunto, afirmando que "nisto foi simpático esse bom Sr. D. Benedito!" (19) 

* * *

Como continuou a marcha dessa imensa operação de guerra psicológica, que é a Reforma Agrária?

Deixando de lado a conduta de placidez aparente, usada durante esse período de tática de "descontração", elementos de destaque da CNBB iniciaram violenta saraivada de declarações reformistas.

Nos artigos Começa a rajada e Ziguezague (20), o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira descreveu esse impressionante vaivém, assinalando vários estampidos da série, detonada por afirmações desinibidas do Sr. D. Pedro Casaldáliga, no Rio Grande do Sul (*), e seguidas de declarações de sabor agro-reformista de vários outros Bispos (21). D. Ivo Lorscheiter, Bispo de Santa Maria e então Presidente da CNBB, bem como D. Quirino Schmitz, Bispo de Teófilo Otoni, chegaram mesmo a falar de luta armada para provocar as mudanças sociais (22).

(*) D. Casaldáliga (cfr. "Jornal do Brasil", 17-6-81), depois de dizer que "o ideal cristão equivale ao ideal do socialismo", de considerar o socialismo da Nicarágua "um bom caminho", e de ver "aspectos positivos" no socialismo cubano e soviético, acabou por fazer a seguinte afirmação: "Nos países socialistas o povo sobrevive [sic] melhor e a fome é menor lá do que nos países capitalistas"...

A esta saraivada seguiram-se logo depois (setembro de 1981) as ocupações de imóveis urbanos e rurais, ora inspiradas, ora até promovidas pela "esquerda católica", através das Comunidades de Base (**).

(**) Nos artigos Ocupações: caos; e Função social, porrete e faca ("Folha de S. Paulo" de 15-9-81 e 12-8-82), o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira mostra como a TFP simpatiza de toda a alma com os carentes autênticos. Compadece-se da situação deles. E sempre pleiteou em seu favor uma ampla distribuição de terras, às custas do maior latifundiário do País, que é o Poder Público. Mas não pode concordar em que a situação deles seja resolvida pela aplicação do falso princípio de que a qualquer um está facultado o direito de proclamar-se carente, segundo um critério todo subjetivo e arbitrário. E que, a partir disto, possa deitar mão no que é dos outros. Entrava aqui, em toda a sua complexidade, o problema da função social da propriedade, que sempre constituiu matéria de investigação – em obras-primas de subtileza e sensatez – dos moralistas católicos antigos. Distinguiam eles as obrigações de caridade das de justiça. Prevalecendo estas últimas, estudavam em que gênero de justiça se clas­sificavam: comutativa ou dis­tributiva. E sendo distributi­va, caso o beneficiário adqui­risse posteriormente haveres que lhe sobrassem, analisavam se este era obrigado a reem­bolsar o benfeitor. Em qual­quer eventualidade, pergunta­vam-se se ficaria aquele de­vendo gratidão a este último, isto é, afeto, respeito, ajuda quando ocorresse o caso.

À "esquerda católi­ca" nada disto importava. Para ela, o carente deve ver em todo abastado um ladrão, o qual está indebitamente na posse de algo daquilo a que tem direito estrito. Pelo que lhe toca o direito de avan­çar pura e simplesmente – de porrete e faca na mão, se for preciso – contra o abas­tado, e arrancar-lhe o necessário.

Do papel da caridade cristã para resolver pacificamente situações dessa nature­za, a "esquerda católica" na­da dizia. Ou quase nada. Da justiça comutativa, pela qual alguém deve pagar pelo que comprou e fornecer o que vendeu, e da distinção en­tre esta justiça e a distributi­va, idem. Dos deveres de gra­tidão, de homenagem e de as­sistência do beneficiado, me­nos ainda.

Com sua justiça so­cial falha de matizes, descabe­lada e agressiva, a "esquer­da católica" não faria senão lançar o Brasil no pandemô­nio e no caos... rumo à escra­vidão comunista. 

Os que então tomavam a publicidade como reflexo certo da opinião pública julgaram que o mundo vinha abaixo, a golpes de hissope desferidos por eclesiásticos. A tensão entre o Episcopado (in­conformado) e o Governo (defensor da legalidade) chegava ao auge (23). 

Subitamente tudo parou, sem se saber como nem por quê. O bom povo continuava a viver e a trabalhar normalmente, sem se me­ter nas ocupações de imóveis – evidentemente organizadas – e in­diferente aos comícios clérico-comunistas a propósito da alta do custo de vida.

Um dado, porém, se transformou. A "esquerda católica" vol­tou à ordem legal como uma espada volta à bainha. E nesse hiato inesperado, o Governo tomou nas mãos o estandarte da Reforma Agrária da CNBB e o fez avançar.

O instrumento de avanço foi o projeto de lei de usucapião ru­ral, que reduzia para cinco anos a prescrição aquisitiva imobiliária no campo.

* * *

Na TFP, esse projeto fora detidamente estudado. E chegou-se à conclusão de que ele era muitíssimo menos grave pelo que dizia, do que pelo que fazia prenunciar.

"A lei de usucapião rural constitui uma obra-prima de guerra psicológica agro-reformista", comentava o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira na "Folha de S. Paulo" (24). "Que, entretanto – acrescen­tava – um grande rugido de contra-ofensiva da classe rural ainda pode frustrar. Virá esse rugido? É de se desejar. A tempo? É de se esperar..."

O rugido salvador não veio. A reação se imobilizou. A lei foi aprovada, e por fim sancionada pelo Presidente da República.

E a publicidade apresentou o projeto como o começo do fim da atual ordem agrária, deixando na massa do País a impressão de­primente de uma derrota da propriedade privada. Impressão essa in­calculavelmente mais danosa aos fazendeiros do que todo o prejuí­zo que teriam com a prescrição quinquenária.

Quanto à CNBB, parece que seus mentores deram por virtual­mente vencida a atual estrutura agrária, e já foram preparando a der­rubada da propriedade urbana.

Na reunião de Itaici-82 foi debatido e aprovado o documento So­lo urbano e ação pastoral, o qual relativiza ao máximo o direito de propriedade, chegando a pôr em xeque o próprio título jurídico legítimo da mesma, e tentando, até, justificar as ocupações e as invasões. Já se podia entrever o dia em que chegaria a vez da reforma empresarial... (25)

A CNBB foi assim se erigindo, cada vez mais, em um V Poder da República, fortemente apoiado pelo IV Poder (constituído pelos órgãos de comunicação social), e intervindo cada vez mais na esfera própria aos três Poderes oficiais – o Legislativo, o Executivo e o Ju­diciário – com o intuito de impor suas reformas socializantes (26).

 

Espantosa acusação contra a TFP veiculada, e depois não mais sustentada, por revista carioca

O COMUNICADO Na França, o punho estrangula a rosa (27), de autoria do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, data­do de 15 de fevereiro de 1982 e publicado na íntegra em 39 jornais de 19 países (ver TFPs: ações conjuntas em âmbito inter­nacional n.° 12), denunciava o virtual amordaçamento da imprensa anti-socialista francesa. Mas previa também que, revelando-se tal amordaçamento infrutífero, o socialo-comunismo internacional revi­daria à campanha da TFP com novo estrondo publicitário.

Nas últimas linhas do comunicado lia-se: "De ordinário, pouco depois [das grandes campanhas empreendidas pacificamente, no plano ideológico, pela TFP] sobrevêm ofensivas publicitárias, de caráter não doutrinário, que tomam por pretexto deformações ou calúnias inverossímeis. O mesmo sucederá desta vez? Quem viver, verá".

Concomitantemente à redação dessas palavras e pouco mais de dois meses depois da publicação da Mensagem das 13 TFPs, eclodiu no Brasil novo estrondo publicitário, que teve por leitmotiv uma acusação ainda mais aberrante do que todas as anteriores lançadas contra a Sociedade.

A revista "Manchete", que circulou com data de 27 de fevereiro de 1982, estampava uma reportagem contrária à TFP, constituída de todo um tecido de inverdades sobre o caráter pretensamente violento de sua atuação. Repetia ela várias acusações fantasiosas a que já se fez referência neste trabalho: campos de treinamento paramilitares, porte ilegal de armas, prática de "lavagem cerebral" etc. Mas acrescentava, a título de novidade-sensação, que seus cooperadores teriam a intenção de atentar contra a vida de João Paulo II. Como "prova", estampava uma grande foto onde se viam dois rapazes de costas, não identificáveis, num local também não identificável, praticando tiro-ao-alvo contra uma estampa de João Paulo II.

Na realidade, um muito pequeno jornal de Campos, com tiragem de apenas três mil exemplares, já havia publicado reportagem com a mesma espantosa acusação, e com trechos sensivelmente semelhantes aos estampados depois por "Manchete" (28). Por exemplo, assim descrevia o jornalzinho de Campos os cooperadores da TFP:

"Sempre de roupas azuis, de carros azuis e muitos de olhos azuis". "Manchete" achou forte demais insinuar que os rapazes pudessem desejar escolher também a cor dos próprios olhos... e publicou a frase com algumas adaptações:

 "Sempre vestidos de azul, com carros também azuis, quando transitam, aos pares, pelas ruas de Campos, Itaperuna, São Fidelis e demais cidades do Norte Fluminense, o povo murmura:

"Cuidado, lá vêm eles!

"Não falam com ninguém, e agridem os que ousam interpelá-los".

Esse o perfil que "Manchete" traça dos sócios e cooperadores da TFP!

Tanto o noticiário da revista carioca como o do jornal de Campos, que o precedeu, foram imediatamente desmentidos pela entidade, num comunicado curto e incisivo (29). A própria revista, embora com considerável atraso, reconheceu a improcedência de sua denúncia, publicando, sem comentários, circunstanciado desmentido da TFP (30).

O caso estaria encerrado se, nesse meio tempo, o Sr. Cardeal D. Eugênio Sales, Arcebispo do Rio de Janeiro, não tivesse dado crédito à notícia caluniosa, através de nota oficial da Cúria Arquidiocesana censurando a TFP (31).

O Prof. Plinio Corrêa de Oliveira interpelou respeitosamente o Purpurado, o qual entretanto não retirou a acusação, antes a ampliou, estendendo-a a outros pontos de discrepância com a entidade (32). O Presidente do Conselho Nacional da TFP replicou a cada acusação (33). Por fim, a própria "Manchete" – como já se disse acima – deixou de manter sua denúncia, com o que a polêmica cessou por completa falta de base. O Sr. Cardeal-Arcebispo do Rio de Janeiro não voltou a se manifestar. 

 

"Começa a emergir um imenso Poder paralelo, o qual declara implicitamente em situação de minoridade os outros três Poderes de que constitucionalmente é composto o Estado"

CEBs, o grande instrumento da "esquerda católica" para promover a revolução social

COM CRESCENTE INSISTÊNCIA, a mídia vinha apontando as Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) como a grande potência emergente no campo eleitoral brasileiro, a qual iria levar de roldão o resultado das urnas, nas eleições de novembro de 1982.

A atuação desses organismos já se fizera sentir mais ou menos em todos os movimentos reivindicatórios de matiz esquerdista, em todas as greves, em todas as convulsões sociais que vinham sacudindo o Brasil a partir da década de 70.

Eles estiveram presentes, em 1978, no tão noticiado Movimento Contra a Carestia, bem como, em 1980, nas greves dos metalúrgicos, nos tumultos operários do ABC, nas depredações de ônibus em Salvador, e nas invasões de imóveis urbanos e rurais que se deram em vários pontos do território nacional. Também atuaram nos rumorosos casos dos colonos de Ronda Alta (RS) e dos "posseiros" do Araguaia, tendo este último deflagrado a prisão e o processo dos sacerdotes franceses, Padres Aristides Camio e Francisco Gouriou, condenados na Justiça como incitadores daquele ato de sangue.

Com sua organização camaleônica, as CEBs costumam adotar nomes diversos ou nenhum nome, conforme as circunstâncias e o lugar. Ora uma delas se chamará Grupo de Reflexão, Equipe de Liturgia, Grupo de Oração ou Grupo de Base. Ora se intitulará Grupo de Quarteirão, Grupo de Rua ou Associação de Amigos de Bairro. Ora ainda se metamorfoseará em Movimento de Não-Violência, ou em Movimento pela Libertação dos Presos do Araguaia. Mas sempre serão dirigidas por monitores ou agentes pastorais que, inspirados na "Teologia da Libertação", farão uma "reinterpretação" do Evangelho e das Sagradas Escrituras num sentido propício à luta de classes e às transformações sócio-econômicas de cunho socialista e confiscatório.

Pelas tubas das CEBs, já começavam a ecoar, nas profundidades de nossos sertões, os slogans da "operação pega-fazendeiro" (34). Pela lógica de pensamento e de ação das CEBs, como pelo seu dinamismo "místico" exasperado, a esses brados era de esperar que se seguissem ou se somassem, dentro de não muito tempo, os de "pega-patrão", "pega-patroa", "pega-locador", "pega-dirigente". "Pega", enfim, todo mundo que se deixasse embalar indolentemente, em letargo profundo, ora pelo desalento ora pelo otimismo – sempre para justificar, a seus próprios olhos e aos dos outros, a inércia face ao perigo comunista que se avolumava.

As CEBs não atacavam duramente apenas a propriedade. Também a instituição da família se encontrava em sua alça de mira. As CEBs subvertiam a fundo essa instituição, e tendiam à supressão dela, por inutilidade. Por outro lado, um prócer destacado da organização, D. José Maria Pires, Arcebispo de João Pessoa (PB), chegou mesmo a proclamar como excelsa a missão que pode ter uma prostituta, superior até à de freira (35).

* * *

Contra essa imensa e espantosa Revolução em marcha – pois era uma verdadeira Revolução, no sentido lato da palavra, que as CEBs preparavam – a TFP se sentia no dever de prevenir os brasileiros e conclamá-los à resistência.

Fê-lo o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira em colaboração com dois lúcidos e vigorosos intelectuais que integram o quadro social da TFP, os irmãos Gustavo Antonio Solimeo e Luiz Sérgio Solimeo, na obra As CEBs... das quais muito se fala, pouco se conhece – A TFP as descreve como são (Editora Vera Cruz, São Paulo, 6 edições, 72 mil exemplares).

Na primeira parte do livro, o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira traça com penetração e clareza o panorama da atual situação brasileira, e dentro deste panorama o papel das Comunidades Eclesiais de Base. As CEBs são, essencialmente e por excelência, os instrumentos da CNBB para semear o descontentamento na população (especialmente entre os trabalhadores manuais), transformar em seguida o descontentamento em agitação e, através dessa agitação, impor aos Poderes Públicos a tríplice Reforma: Agrária, Urbana e Empresarial. Tudo isso, muito provavelmente, com vistas a instituir no Brasil um regime socialista autogestionário (36).

O Prof. Plinio Corrêa de Oliveira tira a conclusão de que, no Brasil, começa a emergir um imenso Poder paralelo, o qual declara implicitamente em situação de minoridade os outros três Poderes de que constitucionalmente é composto o Estado (o Executivo, o Legislativo e o Judiciário).

Esse Leviatã, esse V Poder (já que na expressão de Carlos de Laet a imprensa se transformara em um IV Poder a ombrear com os três poderes oficiais, o Executivo, o Legislativo e o Judiciário) (*) é exatamente a CNBB, dia a dia mais ciosa de monopolizar matérias que lhe competem cumulativamente com o Estado, e por vezes mesmo outras que a este competem exclusivamente. E dia a dia, também, menos assídua no exercício do poder excelso, inigualável, que Nosso Senhor Jesus Cristo confiou exclusivamente à Igreja sobre matéria especificamente espiritual.

(*) Carlos Maximiliano Pimenta de Laet (1847-1927) foi membro fundador da Academia Brasileira de Letras, jornalista, escritor, professor catedrático na cidade do Rio de Janeiro e polemista católico temido.

* * *

A Parte II da obra informa o público brasileiro sobre a realidade das CEBs – a doutrina disseminada por estas, sua organização, seus métodos para recrutamento de aderentes, e para a ação dos mesmos aderentes sobre o conjunto do corpo social. Para este efeito, os autores dessa parte da obra, srs. Gustavo Antonio Solimeo e Luiz Sérgio Solimeo, foram colher os dados por assim dizer dos próprios lábios daquelas organizações, isto é, dos escritos em que elas se autodefinem para seus aderentes e para o público. Completam as informações assim coligidas, outras notícias de jornais e revistas inteiramente insuspeitos de distorcer os fatos em detrimento das CEBs.

Compulsando essa massa de documentos que não haveria exagero em chamar de monumental (no final do livro em questão vêm elencados 707 documentos consultados, entre livros, revistas, jornais, folhetos etc.), ordenando-os e analisando-os com penetração, e articulando os vários aspectos fugidios que deles se desprendem, puderam os dois co-autores dessa parte da obra traçar um quadro geral das Comunidades Eclesiais de Base, tais como existem e se expandem hoje no Brasil.

* * *

A divulgação do livro começou na capital paulista, nos últimos dias de agosto de 1982, e rapidamente se estendeu para outras capitais e 1.510 cidades de todos os Estados da Federação.

* * *

Como não podia deixar de acontecer, amplos setores do progressismo e do "esquerdismo católico" fremiram de ódio ante o novo lançamento da TFP. Mas não souberam como retrucar, nem tiveram o que responder.

As repercussões colhidas em campanha indicam, a par de calorosas demonstrações de simpatia e de adesão à tomada de posição da TFP, furores mal-contidos de elementos desse setor, manifestados ora por pesados insultos, ora por ameaças de agressão. Estas foram sempre evitadas pela atitude dos sócios e cooperadores da TFP, exemplarmente corteses e pacíficos, mas ágeis em ladear, com altaneria e destreza, as situações de choque e os agentes provocadores.

Comentou-se também, à boca pequena, que a Arquidiocese de São Paulo iria estudar a obra, verificar os documentos e apresentar de público uma refutação. Passaram-se os dias, correram os meses. Silêncio!

Aqui e ali, apareceram umas respostinhas frágeis, que nada respondiam. Tão fracas, que se julgou provavelmente, nos meios interessados, mais prudente não levá-las ao grande público. A reação dominante dos arraiais comuno-progressistas foi, pois, o silêncio. Mas antes que esse silêncio se estabelecesse por completo, "esvoaçaram as vespas da malevolência". Como? É o que se verá a seguir. 

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O auge do êxito da argumentação de uma associação não se dá quando seus adversários replicam, e ela vence na tréplica. Mas é quando suas atitudes geram o silêncio.

Quem responde, geralmente é porque conserva pelo menos um resto de possibilidade de resistir. Mas quem é atacado de forma consistente e permanece calado, confessa implicitamente não ter como se defender.

Quando a TFP fala, geralmente seus adversários emudecem. Ou desconversam.

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"Intermezzo": o caso de "O São Paulo"

OS SÓCIOS E COOPERADORES da TFP mal haviam posto os pés no centro de São Paulo, para a propaganda do livro sobre as CEBs, quando começou a esguichar contra a entidade um abundante e tendencioso noticiário, na imprensa de São Paulo e Rio, sendo reproduzido em seguida em todo o País.

Versava este sobre o suposto envolvimento da TFP na impressão de um número falso do semanário arquidiocesano "O São Paulo", atribuindo ao Sr. Cardeal D. Paulo Evaristo Arns declarações que ele não fizera. O assunto vinha causando sensação, e ocupou durante semanas o alto das páginas dos jornais.

Apesar de o próprio Purpurado inocentar lealmente a TFP (*), a gráfica de um de seus sócios foi varejada. Por fim, como se verá, uma declaração do delegado encarregado das investigações corroboraria o desmentido categórico da TFP, publicado pela imprensa.

(*) "Não quero culpar ninguém sem provas. A TFP sempre teve a coragem de apresentar seus documentos assinados e, por isso, eu sempre respeitei essa organização" ("Folha de S. Paulo", 25-8-82). 

* * *

A fim de impedir que a tentativa de estrondo publicitário que se esboçava desviasse as atenções da momentosa campanha de difusão do livro, que a TFP apenas começava, a entidade fez publicar em Seção Livre na "Folha de S. Paulo" o comunicado A TFP lança novo livro: esvoaçam as vespas da malevolência, o qual saiu estampado na edição de 3 de setembro de 1982.

O comunicado dava a versão exata dos fatos, ao mesmo tempo que punha a descoberto a malevolência da conduta de certos órgãos de imprensa no episódio. E deixava claro o inteiro alheamento da TFP em relação a tal assunto, provando que os tênues indícios alegados jaziam atirados ao solo. 

* * *

Pela lógica das coisas, o caso então deveria ser dado por encerrado. No entanto, há certas malevolências que não se fatigam...

Insensível à evidência de tudo que atrás ficou narrado, o advogado da Cúria Metropolitana de São Paulo, ex-presidente da Comissão Justiça e Paz arquidiocesana e depois Secretário da Justiça do Governo do Estado de São Paulo, sr. José Carlos Dias, persistiu em suas suspeitas.

Acompanhado do Sr. Bispo D. Luciano Mendes de Almeida, então Secretário da CNBB, e prestigiado por aparatosa repercussão publicitária, foi levar ao Ministro da Justiça, Dr. Abi-Ackel e, por meio deste, ao Presidente da República, General João Batista Figueiredo, um dossiê sobre o caso da falsificação. Ao partir – e depois ao retornar – declarou ter pistas que bem podiam conduzir à demonstração de que a falsificação de "O São Paulo" e de outros textos emanados da "esquerda católica" viria da TFP (37).

Era levar longe demais a desconfiança.

Num artigo categórico e de ampla repercussão, que ocupou de alto a baixo a coluna "Tendências/Debates" da "Folha de S. Paulo" (38), o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira literalmente pulverizou as declarações do sr. José Carlos Dias. A tal ponto estas ficaram reduzidas a pó, que a Comissão Justiça e Paz, pela voz de sua presidente, sra. Margarida Genevois, veio em auxílio e consolo de seu ex-presidente, através de vazia e ressentida nota à imprensa, publicada pela "Folha de S. Paulo" em 18-9-82.

Nesse artigo, intitulado Suspeita estapafúrdia e juízo temerário, o Presidente do Conselho Nacional da TFP exprime seu pasmo em constatar que o sr. José Carlos Dias pudesse imaginar que "uma organização, a qual vem fazendo à `esquerda católica' uma oposição alta, compacta e extensa como uma serrania, lucre o que quer que seja em esborrifar agora contra essa mesma esquerda algumas gotas de água suja ou, em outros termos, um jornalzinho e uns folhetos falsificados".

* * *

 Dias depois, os jornais estampam a notícia de que as investigações acabaram por levar à descoberta, em Belo Horizonte, da gráfica onde havia sido impresso o número falso de "O São Paulo".

A declaração prestada à "Folha" pelo Delegado de Polícia Dr. Carlos Antonio Sequeira (**), de que nada havia sido apurado contra a TFP, no tocante a esta encerrava definitivamente o caso, e punha termo às especulações malévolas. E os veiculadores das suspeitas injuriosas e estapafúrdias caíram no mais completo descrédito junto à opinião pública.

(**) "Está apurado que a editora Artpress, pertencente a um sócio da TFP, não teve nenhuma relação com a falsificação do jornal `O São Paulo'. Ao contrário, as perícias executadas pelo Instituto de Criminalística no maquinário daquela empresa tornaram claro que a gráfica não tem condições para imprimir a edição apócrifa ou o verdadeiro `O São Paulo'. Assim, está desfeita a suspeita levantada por alguns contra a TFP, mesmo porque não se apurou qualquer vínculo entre a gráfica que imprimiu o jornal apócrifo, em Belo Horizonte, e aquela organização" ("Folha de S. Paulo" e "Folha da Tarde", São Paulo, 18-9-82; no dia anterior, ambos os jornais já haviam publicado desmentido do delegado, em termos análogos; "Jornal de Brasília", 24-9-82). 

 

Como se tivessem sido acionadas pela vareta de um único maestro, as invasões de terras começam a se multiplicar em todo o território nacional, minando o direito de propriedade.

"Catolicismo" mostra, com base em convincente documentação, a extensão da ameaça.

A penetração popular da matéria é facilitada pela apresentação em quadrinhos de parte desta.


Notas:

(18) “Jornal da Manhã”, Uberaba (MG), 8-5-81.

(19) Cfr. “Última Hora”, Rio de Janeiro, 15 e 22-5-81.

(20) Cfr. "Folha de S. Paulo", 20 e 21-7-81.

(21) Declarações de: D. Edmundo Kunz, Bispo Auxiliar de Porto Alegre, em "Zero Hora", Porto Alegre, 30-6-81; D. Antonio Zuqueto, Bispo Auxiliar de Teófilo Otoni, em "Notícias" (boletim semanal da CNBB), 2-7-81; D. Clemente Isnard, Bispo de Nova Friburgo e então Vice-Presidente da CNBB, "Jornal do Brasil", 11-7-81; D. José Rodrigues, Bispo de Juazeiro, "Jornal do Brasil", 15-7-81.

(22) Cfr. "Jornal do Brasil", 5 e 6-7-81.

(23) Cfr. Plinio Corrêa de Oliveira, A guerra do hissope, "Folha de S. Paulo", 5-10-81.

(24) Cfr. Reforma Agrária e guerra psicológica, "Folha de S. Paulo", 31-10-81.

(25) Cfr. Plinio Corrêa de Oliveira, em colaboração com Gustavo Antonio Solimeo e Luiz Sergio Solimeo, As CEBs... das quais muito se fala, pouco se conhece – A TFP as descreve como são, pp. 47 e 48.

(26) Id., ibid., pp. 48 a 59.

(27) Publicado na imprensa internacional a partir de 25-2-82.

(28) Cfr. "A Notícia", Campos (RJ), 11-2-82.

(29) Publicado em "Última Hora", Rio de Janeiro, 19-2-82; "Folha de S. Paulo", 20-2-83; "O Norte", João Pessoa, 25-2-82; "A União", João Pessoa, 25-2-82; "Monitor Campista", Campos (RJ), 26-2-82; "Folha da Manhã", Campos (RJ), 26-2-82; "O Estado do Paraná", Curitiba, 4-3-82; "A Tarde", Salvador, 7-3-82; "O Norte Fluminense", Bom Jesus do Itabapoana (RJ), 7-3-82; "Equipe", Cuiabá, 16-3-82. O jornal de Campos que precedeu "Manchete" em tal campanha fora desmentido pela TFP em nota publicada na "Folha da Manhã", Campos (RJ), 13-2-82.

(30) Cfr. "Manchete", 27-3-82.

(31) Datada de 27-2-82.

(32) Em carta de 1º-3-82; ver também "O Estado de S.Paulo", 13-3-82.

(33) Cfr. "Folha de S. Paulo", "Última Hora" (RJ) e "Correio do Povo", Porto Alegre, todos em 2-3-82; "Ultima Hora" (RJ), 8-3-82.

(34) Cfr. As CEBs... das quais muito se fala..., Parte II, Capítulo I, 2.

(35) Cfr. Parte II, Capítulo II, 2.

(36) Cfr. id., p. 160 e Parte II, Capítulo IV, 2.

(37) Cfr. "Folha de S. Paulo", 9 e 10-9-82.

(38) Em 15-9-82.

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