Capítulo IV

 

1980-1988 (2)

 

 

 

 

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Um homem, uma obra, uma gesta – Homenagem das TFPs

a Plinio Corrêa de Oliveira
 

EDIÇÕES BRASIL DE AMANHÃ
Rua Javaés 681 – São Paulo
Impressão e acabamento
Artpress – Papéis e Artes Gráficas Ltda.
Rua Javaés 681 – São Paulo
s/d (1989)

 

Reforma Agrária – Ação & Reação 11 

Desfazendo um falso boato da esquerda católica: o católico pode ser contra a Reforma Agrária 

LOGO APÓS a reunião plenária de Itaici, em 1980, a CNBB lançou o documento Igreja e problemas da Terra (IPT), verdadeiro manifesto agro-reformista, o qual ecoou publicitariamente como uma bomba em todo o País.

O documento fazia notória a má disposição da CNBB para com as propriedades de tamanho médio ou grande. E proclamava como regime fundiário ideal para o Brasil, tanto do ponto de vista da justiça como do bem comum, aquele em que a terra pertencesse ao trabalhador manual. O que importava em dizer que a classe dos fazendeiros procederia de modo muito "simpático" e "cristão" se se deixasse eliminar...

Prevendo a inconformidade de suas vítimas, o IPT trazia toda uma série de argumentos – dos quais bom número inspirado no socialismo e no comunismo – para, em nome da Fé cristã, suscitar a ofensiva geral do País contra as propriedades rurais grandes e médias. Ademais, apresentava às autoridades sugestões concretas para a imediata efetivação da partilha rural. 

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"O católico deve ser fiel aos

ensinamentos tradicionais

do Supremo Magistério da Igreja.

Em conseqüência, o católico anti-agro-reformista

tem não só o direito, como também o dever

de continuar a ser contrário à Reforma Agrária".

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Prometendo ir além, a CNBB anunciava para o ano seguinte outro documento, reivindicando uma reforma urbana, a qual seria – por analogia – a aplicação dos princípios fundiários agro-reformistas ao solo urbano. Para data posterior entrevia-se outra reforma também análoga, que figuras altamente representativas da CNBB não deixavam de preconizar: a das empresas industriais e comerciais. 

* * *

A CNBB costumava insistir em que ela constitui órgão oficial do Episcopado brasileiro. Um alto dignitário dela (13) chegou a proclamá-la porta-voz oficioso do próprio Vigário de Cristo. 

Este fato criava gravíssima questão de consciência, não apenas para os fazendeiros, mas também para todos os católicos formados segundo a doutrina tradicional da Igreja, bem como para os homens de pensamento e de ação existentes no País. Essas três amplas e ponderáveis categorias de brasileiros muito explicavelmente poderiam se perguntar qual a efetiva validade magisterial de tantas afirmações, novas e singulares, contidas no IPT. E qual a autoridade dos argumentos doutrinários do IPT para lançar tão hirsutas e explosivas asseverações (14).

 

Estava no papel da TFP  romper o silêncio e dar resposta a essas perguntas. Ela o fez por meio do livro Sou católico: posso ser contra a Reforma Agrária? (1981, 360 pp., 4 edições, 29 mil exemplares), de autoria do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, em colaboração com o Master of Science em Economia Agrária, Prof. Carlos Patricio del Campo (*).

(*) Carlos Patricio del Campo é engenheiro agrônomo pela Universidade Católica do Chile e formado em Economia Agrária (M.S.) pela Universidade da Califórnia, Berkeley (EUA). Professor de Econometria da Escola de Economia e Administração da Universidade Católica do Chile; professor de Economia Agrária e Desenvolvimento Econômico do Departamento de Economia Agrária da Faculdade de Economia e Administração da Universidade Católica do Chile. Como membro do Centro de Investigações Econômicas da Universidade Católica do Chile e do Departamento de Economia Agrária da mesma Universidade, dirigiu vários trabalhos na área de desenvolvimento econômico e avaliação de projetos. Foi coordenador e professor do Programa de Pós-Graduação da Escola de Economia e Administração e do Departamento de Economia Agrária da Universidade Católica do Chile. Foi também assessor agrônomo do Departamento de Economia da Produção do Ministério da Agricultura do Chile e de várias entidades privadas. Radicado no Brasil desde 1972, trabalhou como assessor econômico de diversas empresas e vem prestando assessoria administrativa e financeira à Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade.

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Com o Serviço de Documentação da TFP brasileira colaboram 52 pessoas no total. Tal setor recebe regularmente 214 publicações de 27 países, bem como 51 do Brasil, as quais são compulsadas por 34 leitores versados em português, espanhol, francês, inglês, alemão, italiano, russo, polonês, latim, holandês, árabe, ucraniano e catalão.

Conta com uma biblioteca especializada com mais de 10 mil volumes, dos quais 2.275 já foram resumidos, para facilitar a pesquisa dos escritores da entidade.

A TFP, ao lado desta, dispõe em São Paulo de outra sete boas bibliotecas, sem considerar coleções particulares como a de Plinio Corrêa de Oliveira.

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Essa obra, embora densa, está prestigiosamente ilustrada e adornada. A capa em cores apresenta um braço episcopal. Nos botões da manga da batina (ou do paletó...) se lê I-T-A-I-C-I. De tesoura em punho, o braço secciona o solo fértil e produtivo de uma bela paisagem rural, e deixa atrás de si um sulco de terreno desértico, assolado pela Reforma Agrária.

O livro demonstra que o católico deve ser fiel, acima de tudo, aos ensinamentos tradicionais do Supremo Magistério da Igreja. Ora, um exame detido do IPT leva à conclusão de que não há consonância entre aqueles ensinamentos e a Reforma Agrária preconizada pelo documento da CNBB. Em conseqüência, o católico anti-agro-reformista tem não só o direito, como também o dever de continuar a ser contrário à Reforma Agrária.

A parte econômica da obra prova que o documento da CNBB apresenta graves lacunas ao traçar o panorama da situação econômica da lavoura brasileira e ao apontar para a "solução": a Reforma Agrária que pleiteia. Assim, ainda que o pronunciamento episcopal não fosse objetável do estrito ponto de vista da Doutrina Católica, seria inaceitável do ângulo econômico.

 

Propagandistas se preparam para campanha, na sede da TFP brasileira à Rua Dr Martinico Prado, 246 (São Paulo)

Para a divulgação do livro, a Sociedade destacou primeiramente duplas de propagandistas, que se deslocaram simultaneamente para os mais diversos pontos de nosso território-continente, a fim de entrar em contato com o homem do campo em seu próprio meio. Procurava assim a TFP desenvolver junto a este uma ação direta de estímulo e apoio.

As duplas de propagandistas encontraram em geral uma acolhida simpática por parte dos fazendeiros, líderes rurais, dirigentes de sindicatos, cooperativas e outras associações do campo.

As repercussões coletadas mostravam, de um lado, reações excelentes diante da avalanche agro-reformista que se armava. Sobretudo era notória a onda de insatisfação provocada pelas tomadas de atitude esquerdistas de um número cada vez maior de eclesiásticos que – apoiados em núcleos de ativistas pertencentes às Comunidades de Base – iam ateando o fogo da luta de classes no meio rural. 

Mas, por outro lado, registravam também incipientes manifestações de desânimo e de espírito entreguista por parte de filões de fazendeiros, sobretudo dos encastelados em posições de influência ou em lideranças rurais. Para estes, a reação anti-socialista "não adiantava", "não dava", porque o comunismo vinha mesmo. O mais pasmoso é que esse estado de ânimo desalentado e pessimista coexistia, sem choque, com outro, às vezes na mesma pessoa. Ou seja, o otimismo seguro de que "a catástrofe não viria", e de que por isso era supérfluo reagir contra o comunismo (15). 

Esse filão de desalento, de otimismo balofo e de inércia pesava muito desfavoravelmente no conjunto dos fazendeiros, e foi necessário considerável esforço dos propagandistas da TFP no sentido de alertar a classe rural para o permanente risco a que está exposta se não resistir, legalmente mas sem esmorecimento, ao perigo.

 

Stand em feira agropecuária (Londrina)

Somaram-se a esta ação capilar, de contato direto com os fazendeiros, as grandes campanhas de rua da TFP nas principais cidades do País. Com retumbante sucesso, Sou católico: posso ser contra a Reforma Agrária? alcançou 4 edições, totalizando 29 mil exemplares.

 

Campanha na Avenida Paulista (São Paulo)

No decurso desses sete meses de campanha, os métodos de difusão empregados pela TFP foram invariavelmente legais e corteses. Nenhum incidente nas 1801 cidades percorridas em todas as Unidades da Federação.

 

  

À esquerda, em frente ao Teatro Municipal de São Paulo. À direita, em uma das movimentadas ruas no centro da capital paulista

Em todas, sim, salvo no Rio, onde quase ao término da campanha – depois de os propagandistas percorrerem o dia inteiro o centro da cidade, em meio à cordial acolhida carioca – cerca de dez baderneiros, a uma palavra de ordem, investiram contra uma das bancas, bradando slogans de cunho comunista. Isto sob o foco das câmaras de filmagem do carro de reportagem de conhecida TV carioca, a qual – como que por coincidência – se encontrava no local...

Como algum lance do gênero, calculado naturalmente para servir de elemento de detonação de uma campanha publicitária, já havia sido previsto pela TFP, os jovens cooperadores da entidade agiram de acordo com o que fora combinado de antemão, dispersando-se. O que não impediu "O Globo" (16) de noticiar, sem sequer mencionar os agentes provocadores: "Passeata da TFP causa confusão na Cinelândia". A mesma notícia dizia que a agremiação desenvolvia atuação para "revogar a lei do divórcio". Tal versão falseada foi prontamente desmentida por uma nota da TFP, distribuída às agências de notícias pelo Serviço de Imprensa da entidade (17). 

* * * 

No que se refere à argumentação e às teses levantadas por Sou católico: posso ser contra a Reforma Agrária?, não houve nos arraiais agro-reformistas leigos quem lhe opusesse qualquer réplica. Nem tampouco nos da CNBB.

Da parte daquele organismo episcopal, tão concernido no livro – se bem que com respeitosa mas categórica franqueza – só houve um silêncio cautamente inquebrantável sobre o tema. Nenhum desmentido, nenhuma réplica, nenhuma tentativa de refutação. Pois, o que responder?


Notas:

(13) Cfr. artigo de D. Aloisio Lorscheider, em "O Povo" de Fortaleza, 16-2-81.

(14) Cfr. Plinio Corrêa de Oliveira, em "Última Hora" do Rio de Janeiro, de 15-5-81, e "Folha de S. Paulo" de 20 e 21-6-81.

(15) Cfr. Cap. I, deste volume.

(16) Cfr. "O Globo", 8-10-81.

(17) Cfr. "O Globo", 10-10-81.

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