2. Brasil, uma vocação de grandeza

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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Visitando o Brasil nos anos 30, Stefan Zweig ficou maravilhado com esta terra, que considerou destinada a tornar-se "um dos factores mais importantes do futuro desenvolvimento do mundo" (7). 

 

O que impressiona em primeiro lugar no Brasil é a grandeza das superfícies e dos horizontes. A extensão deste País, com os seus 8.511.965 quilómetros quadrados, corresponde a mais de metade da América do Sul. As grandes montanhas que descem a pique sobre o mar, as florestas de vegetação luxuriante, o caudaloso rio Amazonas que, com uma bacia de mais de cinco milhões de quilómetros quadrados, constitui o mais vasto sistema fluvial da terra, transmitem-nos a imagem de um país que tem super-abundância de tudo: da natureza, das luzes, das cores, a ponto de fazer pensar, segundo a comparação de Rocha Pita, num verdadeiro "paraíso terrestre".

"Em nenhuma outra região o céu se mostra mais sereno, nem madruga mais bela a aurora; o sol em nenhum outro hemisfério tem os raios mais dourados, nem os reflexos nocturnos tão brilhantes; as estrelas são as mais benignas e mostram-se sempre alegres; os horizontes, ou nasça o sol, ou se sepulte, estão sempre claros; as águas, ou se tomem nas fontes pelos campos, ou dentro das povoações nos aquedutos, são as mais puras; é, enfim, o Brasil terreal paraíso descoberto" (8).

O vasto território brasileiro está perpetuamente revestido de luz "como um diamante a cintilar nas sombras do Infinito. (...) A sua refulgência abre no silêncio dos espaços uma claridade inextinguível, fulva, ardente, branda ou pálida. Tudo é sempre luz. Descem do sol as luminosas vagas ofuscantes, que mantêm na terra a quietação profunda. A luz tudo invade, tudo absorve" (9).

Esta luz, que difunde uma claridade inextinguível e parece conservar a terra numa atmosfera de recolhida quietude, reveste aqueles grandes espaços com uma misteriosa dimensão espiritual. Quase se diria que a extensão luminosa dos horizontes predispõe a alma para uma vocação sublime.

A data de nascimento do Brasil é 22 de Abril de 1500, quando as naus com as suas brancas velas –onde refulgia a cruz rubra da Ordem de Cristo– da armada portuguesa, comandada por Pedro Alvares Cabral, lançaram âncoras em terras brasileiras. O primeiro gesto dos descobridores foi plantar uma Cruz na praia e fazer celebrar o sacrifício incruento do Calvário no território descoberto. Desde então, o Brasil foi a Terra de Santa Cruz (10). A constelação do Cruzeiro do Sul parecia selar nos céus esta cena, que ficaria impressa para sempre na alma brasileira. "O Cruzeiro do Sul, emblema heráldico da Pátria, através da sua doce luz recorda para sempre, durante a noite, a perpetuidade do pacto de aliança. Ela diz palavras de imortal esperança à nação cristã que cresce sobre a Terra da Santa Cruz" (11). Desde então, observou um diplomata italiano "o perfume originário do cristianismo difundiu-se em todos os rincões da terra brasileira, como se tivesse sido espargido de uma só vez, para sempre" (12).

A Cruz, como recorda o P. Serafim Leite, S. J. "era um símbolo e uma promessa. Mas não era ainda a semente. Esta viria, prolífica e abundante, quase meio século depois, em 1549, com a instituição do Governo Geral e a chegada dos Jesuítas" (13). Naquele ano, seis missionários da Companhia recém fundada por Santo Inácio, acompanharam o governador Tomé de Souza, enviado por D. João III de Portugal para evangelizar a nova terra (14). Estes, observou Stefan Zweig, trouxeram "consigo a coisa mais preciosa que é necessária para a existência de um povo e de um país: uma ideia, e precisamente a ideia criadora do Brasil" (15).

Os jesuítas infundiram uma alma naquela terra potencialmente riquíssima –e não só em bens materiais– mas até então adormecida. "Esta terra é a nossa empresa" (16), declarou o P. Manuel da Nóbrega (17), que, com o P. José de Anchieta (18) pode ser considerado o fundador do Brasil. Do descobrimento até aos nossos dias os missionários desenvolveram uma "obra sem exemplo na história" (19), de cristianização e, ao mesmo tempo, de civilização das terras brasileiras. Os jesuítas catequizaram os nativos, reunindo-os em aldeamentos, abriram as primeiras escolas, construiram colégios, igrejas, estradas, cidades (20). Quando os huguenotes tentaram apropriar-se da nova terra, os padres Nóbrega e Anchieta foram os inspiradores das operações militares contra os protestantes franceses que desembarcaram na Baía de Guanabara (21). No centro da orla marítima da esplêndida baía reconquistada pelos portugueses (22), foi fundada uma pequena cidade destinada a tornar-se a capital: o Rio de Janeiro, em que parecem confluir, numa síntese irrepetível, todas as belezas naturais do Brasil: montes, colinas, florestas, ilhas, enseadas (23). A capital dos domínios portugueses na América, São Salvador da Bahia, foi uma das "células genéticas" (24) do Brasil, juntamente com São Paulo, São Sebastião do Rio de Janeiro e as capitanias de Pernambuco e Maranhão.

O imenso território foi dividido em doze capitanias hereditárias, das quais derivaram a maioria dos Estados que constituiriam a Federação brasileira (25). Os donatários, munidos de amplas prerrogativas e mercês, eram escolhidos pelo rei de Portugal, entre "as pessoas melhores. Ex-navegadores, combatentes, personagens da corte" (26). O Brasil continuou a ser parte integrante do Reino de Portugal, mesmo durante o período em que a Coroa portuguesa esteve unida à espanhola (1580-1640).

A consciência nacional brasileira começou a formar-se nas lutas contra os holandeses que conseguiram estabelecer-se na Bahia (1624-1625) e, mais estavelmente, no Recife (1630-1654) (27). Quando esta última posição holandesa se rendeu ao exército luso-brasileiro, já existia um povo unido. "As guerras holandesas tiveram o condão de consolidar num tipo até então desconhecido, os elementos diversos da colonização" (28).

O primeiro "tipo" aristocrático brasileiro foi o dos senhores de engenho, cultivadores da cana de açúcar, cuja produção constituiu, durante toda a época colonial, a mais típica cultura brasileira, no quadro feudal das capitanias (29).

As plantações da cana e os engenhos –pequenas refinarias em que trabalhavam os escravos, construídas nas proximidades dos cursos de água– foram o início da civilização agrícola brasileira. A casa-grande, herdade do senhor de engenho, parecia uma fortaleza militar (30). Os senhores de engenho constituíram o elemento aglutinador da resistência contra as invasões dos holandeses, inimigos da Fé e do Rei (31). Fora já a aristocracia rural quem organizara a defesa contra os franceses e ingleses, que anos antes tentaram estabelecer-se no Brasil.

O ciclo da cana de açúcar foi a actividade primária agrícola e industrial, nos primeiros dois séculos da vida nacional. No século XVIII, após a inesperada descoberta de ouro em Minas Gerais, este metal assumiu o primeiro lugar na produção económica do País.

Os bandeirantes (32), herdeiros directos dos descobridores, pela prodigiosa coragem e espírito de aventura, foram os protagonistas do ciclo do ouro e das pedras preciosas. A cavalo, com a bandeira à frente, tendo a guerra como forma de vida, remontavam o curso dos rios, escalavam as montanhas, aventuravam-se rumo ao interior à procura do ouro e das pedras preciosas.

Na segunda metade do século XVIII, depois dos ciclos sócio-económicos do açúcar e do ouro, teve início a terceira grande era, a do café, que até 1930 foi a principal fonte de riqueza da economia brasileira.

No século XIX o Brasil adquiriu a sua independência, mas de modo diverso das outras nações latino-americanas: não através da luta armada, mas mediante a constituição de um império a cujo trono ascendeu D. Pedro I de Bragança, filho do Rei de Portugal.

A 7 de Setembro de 1822, em São Paulo, D. Pedro proclamou a independência do Brasil, sendo promulgada dois anos depois a primeira Constituição. O seu sucessor, D. Pedro II (33) foi um soberano extraordinariamente culto e empreendedor, cujo longo e pacífico reinado se encerrou com a revolução republicana, logo depois da abolição da escravatura (34). O Império perdeu o apoio da aristocracia fundiária, a qual julgara errónea ou prematura a libertação dos escravos. Em 15 de Novembro de 1889, após um golpe de estado incruento, a República foi proclamada, no Rio de Janeiro.

"Os brasileiros –escreveu o historiador italiano Guglielmo Ferrero– viram a monarquia cair docemente, sem efusão de sangue, como terminam os belos dias de verão, calmos e luminosos" (35).

Em 1891, o Império do Brasil tornou-se a República dos Estados Unidos do Brasil, com uma nova bandeira onde se lia o mote positivista "Ordem e Progresso" (36). "Estava então o Brasil no começo de uma época que se requintaria em fazer do `progresso' um deus e da `ciência' uma deusa das suas elites intelectuais" (37). A República era constituída por uma Federação de estados autónomos, cada qual com um parlamento e um governo próprios. O Estado separou-se da Igreja, foi instituído o matrimónio civil, alterada a política económica. Os primeiros anos do século caracterizaram-se, no Brasil, por um clima de euforia e de optimismo, devido às esperanças levantadas pela mudança institucional e pelo progresso económico e social do País (38). Foi o "período áureo" da I República (39).

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Notas:

(7) Stefan ZWEIG, "Brasile, Terra dell'avvenire", tr. it. Sperling & Kupfer, Milão, 1949, p. 10; cfr. também Errani SILVA BRUNO, "História e Tradições da Cidade de São Paulo", Livraria José Olympio Editora, Rio de Janeiro, 1954, 3 vol.; Affonso A. DE FREITAS, "Tradições e reminiscências paulistanas", Governo do Estado de São Paulo, São Paulo, 1978 (3a ed.); Luiz GONZAGA CABRAL, S.J., "Influência dos Jesuitas na colonização do Brasil", in "Jesuítas no Brasil", vol. III, Companhia Melhoramentos de S. Paulo, São Paulo, 1925.

(8) Sebastião DA ROCHA PITA (1660-1738), "História da América Portuguesa", in E. WERNECK, Antologia Brasileira, Livraria Francisco Alves, Rio de Janeiro, 1939, p. 210.

(9) José PEREIRA DA GRAÇA ARANHA (1868-1931), "A esthética da vida", Livraria Garnier, Rio de Janeiro-Paris, 1921, p. 101.

(10) ”O Brasil nasceu cristão. `Ilha de Vera Cruz', o chamou o seu primeiro historiador, que foi também um dos seus descobridores" (Padre Serafim LEITE, S.J., "Páginas de História do Brasil", Companhia Editora Nacional, São Paulo, 1937, p. 11). O cronista da expedição, Pero Vaz de Caminha, escreve ao soberano: "Não podemos saber se existe ouro, prata, metais ou ferro; não os vimos. Mas a terra por si mesma é rica (....) Todavia o melhor fruto que se poderá tirar será, a nosso ver, de levar aos seus habitantes a salvação de suas almas" (cit. in Roger BASTIDE, "Il Brasile", tr. it., Garzanti, Milão, 1964, p. 13; texto da carta de Pero Vaz de Caminha in Jaime CORTESÃO, "A expedição de Pedro Alvares Cabral", Livrarias Ailland e Bertrand, Lisboa, 1922, pp. 233-256).

(11) Yves DE LA BRIÈRE, "Le règne de Dieu sous la Croix du Sud", Desclée de Brouwer & C., Bruges-Paris, 1929, p. 20.

(12) Roberto CANTALUPO, "Brasile euro-americano", Istituto per gli Studi di Politica Internazionale, Milão, 1941, p. 89.

(13) Pe. S. LEITE, S.J., "Páginas de História do Brasil", cit., pp. 12-13. "Sem desconhecer o concurso dos demais, pode-se, sem receio, emitir esta proposição exacta: a história da Companhia de Jesus no Brasil, no século XVI, é a própria história da formação do Brasil nos seus elementos catequéticos, morais, espirituais, educativos e em grande parte coloniais. A contribuição dos outros factores religiosos não modifica sensivelmente estes resultados" (p.14).

(14) O Regimento de 17 de dezembro de 1548, em que o Rei de Portugal D. João III traçava ao seu governador Tomé de Souza as regras de governo a que devia ater-se no Brasil, afirmava: "A razão principal que me há levado a mandar povoar a citada terra do Brasil foi que a gente do país se convertesse à nossa santa fé católica" ("Regimento de Tomé de Souza", Biblioteca Nacional de Lisboa, Arquivo da Marinha, liv. 1 de ofícios, de 1597 a 1602). Cfr. também padre Armando CARDOSO, S.J., "O ano de 1549 na história do Brasil e da Companhia de Jesus", in Verbum, n.° 6 (1949), pp. 368-392.

(15) S. ZWEIG, "Brasile. Terra dell'avvenire", cit., p. 35. Cfr. Carlos SODRE LANNA, "Gênese da Civilização Cristã no Brasil", in Catolicismo, n.° 519 (março 1994), pp. 23-24; idem, "A epopeia missionária na formação da Cristandade luso-brasileira", in Catolicismo, n.° 533 (Maio de 1995), pp. 22-23.

(16) Cit. in Antonio DE QUEIROZ FILHO, “A vida heróica de José de Anchieta”, Edições Loyola, São Paulo, 1988, p. 43.

(17) O Padre Manuel da Nóbrega nasceu no Minho, Portugal, a 18 de Outubro de 1517 e morreu no Rio de Janeiro em 18 de Outubro de 1570. Graduou-se em Direito Canónico e Filosofia em Coimbra. Entrou para a Companhia de Jesus em 1544 e em 1549 foi enviado por Santo Inácio ao Brasil onde foi o primeiro superior da missão jesuítica e primeiro Provincial. A sua missão desenvolveu-se por quase vinte anos e terminou com sua morte.

(18) Nascido em 19 de Março de 1534 em La Laguna (Canárias), o beato José de Anchieta morreu em Reritiba (hoje Anchieta) em 9 de Junho de 1597. Em 1551 entrou para a Companhia de Jesus e dois anos depois embarcou para o Brasil com um grupo de missionários que seguiam o governador português Duarte da Costa. Ordenado sacerdote em 1566, participou da fundação de São Paulo (1554) e do Rio de Janeiro (1567) e tornou-se, em 1578, Provincial do Brasil, desenvolvendo um infatigável apostolado que lhe valeu o título de "Apóstolo do novo Mundo". Foi beatificado por João Paulo II em 1980. Cfr. ALVARES DO AMARAL, "O Padre José Anchieta e a fundação de São Paulo", Conselho Estadual de Cultura, São Paulo, 1971.

(19) S. LEITE, S.J., "História da Companhia de Jesus no Brasil", Livraria Portugália, Lisboa, 1938, vol. I.

(20) Ao lado dos jesuítas, desenvolveram o seu apostolado os beneditinos (1582), os carmelitas (1584), os capuchinhos (1612) e outras ordens religiosas. Os jesuítas, expulsos em 1760 pelo Marquês de Pombal, voltaram ao Brasil em 1842. Sobre os 40 mártires jesuítas de 1570, cfr. Mauricio GOMES DOS SANTOS, S. J., "Beatos Inácio de Azevedo e 39 companheiros mártires", in Didaskalia, n.° 8 (1978), pp. 89-155; pp. 331-366 (tradução do estudo feito pelo departamento histórico da Congregação dos Santos).

(21) Conselheiro dos Padres Nóbrega e Anchieta, foi um aristocrata italiano, Giuseppe Adorno, da família dos Doges genoveses, que havia posto a sua fortuna e a sua vida ao serviço da nova pátria lusitana, após ter sido obrigado a abandonar a sua cidade. Além de Adorno, transferiram-se para o Brasil no século XVI os Acciaiuoli (Accioly), os Doria, os Fregoso, os Cavalcanti (Cavalcanti d'Albuquerque).

(22) C. SODRÉ LANNA, "A expulsão dos franceses do Rio de Janeiro", in Catolicismo, n.° 509 (Maio 1993), pp. 22-24.

(23) O Rio de Janeiro, do ponto de vista de seu panorama, pode considerar-se como uma síntese do Brasil. É o coração do Brasil que continua ali a palpitar, apesar de que a capital oficialmente ter sido transferida para Brasília. Há alí uma misteriosa síntese do País, um convite a um futuro carregado de misteriosas promessas" (Plínio CORRÊA DE OLIVEIRA, "Meditando sobre as grandezas do Brasil", in Catolicismo, n.° 454 (Outubro 1988).

(24) O insígne historiador do Brasil, Sr. João Ribeiro, chama com enérgica exactidão células genéticas do tecido do Brasil os seguintes pontos do seu território: Bahia, Pernambuco, São Paulo, Rio e Maranhão. Ora, destas cinco células genéticas, duas (...) foram exclusivamente obra da Companhia: São Paulo, que ela criou por suas mãos, e o Rio de Janeiro, que contra tudo e contra todos ela conseguiu que se fundasse. As outras três - Bahia, Pernambuco e Maranhão - receberam dos Jesuítas o máximo da sua expansão". (L. G. CABRAL, S.J., "Jesuítas no Brasil (século XVI)", Companhia Melhoramentos de São Paulo, São Paulo, 1925, p. 266).

(25) Homero BARRADAS, "As capitanias hereditárias. Primeiro ensaio de um Brasil orgânico", in Catolicismo, n° 131 (Novembro 1961).

(26) Pedro CALMON, "História do Brasil", Livraria José Olympio Editora, Rio de Janeiro, 1959, vol. I, p. 170.

(27) Cfr. Lúcio MENDES, "Calvinistas holandeses invadem cristandade luso-americana", in Catolicismo, n.° 427 (Julho 1986), pp. 2-3; id., "Martírio e heroísmo na resistência ao herege invasor", in Catolicismo, n.° 429 (Setembro 1986), pp. 10-12; Diego LOPES SANTIAGO, "História da Guerra de Pernambuco", Fundação do Património Histórico e Artístico de Pernambuco, Recife, 1984. Neste período, muitos oficiais italianos, sobretudo napolitanos, lutaram no Brasil (cfr. Gino DORIA, "I soldati napoletani nelle guerre del Brasile contro gli olandesi (1625-1641)", Riccardo Ricciardi Editore, Nápoles, 1932). Quando em 1624, a Companhia das Indias Ocidentais holandesas fez ocupar a Bahia, Filipe IV enviou uma frota, da qual fazia parte um contingente napolitano, guiado por Carlo Andrea Caracciolo, Marquês di Torrecuso. Outro chefe napolitano, o Conde de Bagnoli Gian Vincenzo Sanfelice, defendeu com êxito em 1638 a Bahia, invadida pelos calvinistas holandeses, que aspiravam formar um Estado protestante na América meridional. Entre o Brasil e o Reino de Nápoles sempre houve um fecundo intercâmbio (cfr. por exemplo: Paolo SCARANO, "Rapporti politici, economici e sociali tra il Regno delle Due Sicilie e il Brasile (1815-1860)", Società Napoletana di Storia Patria, Napoles, 1958).

(28) P. CALMON, "Storia della Civiltà brasiliana", tr. it. Industria Tipografica Italiana, Rio de Janeiro, 1939, p. 52.

(29) A cana-de-açúcar, produto ideal para um país que inicia o seu desenvolvimento, era cultivada, no fim do século XVI, ao norte e ao sul do Brasil. O centro do cultivo era o estado de Pernambuco, cujo porto do Recife se tornou no século XVII o maior empório de açúcar de todo o mundo (P. CALMON, "Storia della Civiltà brasiliana", cit., p. 85). Cfr. também Plínio CORRÊA DE OLIVEIRA, "No Brasil Colônia, no Brasil Império e no Brasil República: gênese, desenvolvimento e ocaso da Nobreza da terra", apêndice à edição portugesa de "Nobreza e elites tradicionais análogas nas alocuções de Pio XII ao Patriciado e à Nobreza Romana", Livraria Civilização Editora, Porto, 1993, pp. 159-201.

(30) Gilberto FREYRE, "Casa-Grande e Senzala", Editora José Olympio, São Paulo, 1946 (5a. ed.), vol. I, p. 24.

(31) A conquista das terras tem sobretudo um caráter guerreiro. "Todo latifúndio desbastado, toda sesmaria `povoada', todo recinto construído, todo engenho de açúcar `fabricado', tem como premissa necessária uma difícil empresa militar. Do norte ao sul, as fundações agrícolas e pastoris fazem-se com a espada na mão" (Francisco José OLIVEIRA VIANA, "O Povo Brasileiro e a sua Evolução", Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio, Rio de Janeiro, 1922, p. 19).

(32) Sobre os bandeirantes, cfr. a imponente "História geral das Bandeiras Paulistas" (São Paulo 1924-1950, 11 volumes) de Affonso DE TAUNAY, resumida in "História das Bandeiras Paulistas", Edicões Melhoramentos, São Paulo, 1951, 2 vol.; cfr. também J. CORTESÃO, "Raposo Tavares e a formação territorial do Brasil", Ministério da Educação e Cultura, Rio de Janeiro, 1958; Ricardo ROMAN BLANCO, "Las bandeiras", Universidade de Brasilia, Brasilia, 1966.

(33) Dom Pedro II (1825-1891) desposou em 1843 a princesa Teresa Cristina, irmã de Ferdinando II Rei das Duas Sicílias. Sua filha mais velha, Isabel (18461921) casou-se com o príncipe Gastão de Orleães, Conde d'Eu, de quem teve três filhos: Pedro de Alcântara, Luís e António. Tendo o primeiro renunciado, em 1908, aos direitos de sucessão, por si e por sua futura descendência, tornou-se herdeiro do Trono o irmão Dom Luís de Orleães e Bragança (1878-1920), casado com a princesa Maria Pia de Bourbon-Sicília (cfr. Armando Alexandre DOS SANTOS, "A Legitimidade Monárquica no Brasil", Artpress, São Paulo, 1988). Sobre dom Pedro II, cfr. Heitor LYRA, "História de dom Pedro II: 1825-1891", Editora Nacional, São Paulo, 1940. "Dom Pedro foi um soberano magnânimo, generoso e justo, um modelo de patriotismo e de cultura, de zelo e de probidade, de tolerância e de simplicidade. Foi sábio e filântropo. Membro do Institut de France e das principais sociedades científicas e literárias estrangeiras, foi um protector das artes, das ciências e das letras. Prestou ajuda material à educação de muitos brasileiros ilustres; este grande mecenas nunca lhes fechou a bolsa" (S. RANGEL DE CASTRO, "Quelques aspects de la civilisation brésilienne", Les Presses Universitaires de France, Paris, s. d., pp. 29-30). Cfr. também Leopoldo B. XAVIER, "Dom Pedro e a gratidão nacional", in Catolicismo, n° 491 (dezembro 1991).

(34) Uma primeira lei de 1871, denominada "lei do ventre livre", concedia a liberdade aos filhos nascidos de mãe escrava a partir dos 21 anos de idade. Em 1885 foi aprovada a "lei dos sexagenários", que emancipava os escravos com mais de 65 anos. A 13 de maio de 1888, sob o ministério conservador de João Alfredo Corrêa de Oliveira, a princesa Isabel, Condessa d'Eu e Regente imperial, durante a ausência do pai em viagem pela Europa, sancionou a lei que abolia definitivamente a escravidão. Naquele momento, o Brasil tinha uma população de 14 milhões de habitantes com pouco mais de 700.000 escravos; o fenómeno da escravidão estava na realidade extinguindo-se espontaneamente. Sobre a abolição da escravidão cfr. PLÍNIO CORRÊA DE OLIVEIRA, "A margem do 13 de maio", in Legionário, n° 296 (15 de Maio de 1938). Cfr. também Robert CONRAD, "Os últimos anos da escravatura no Brasil, 1850-1888", Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, 1978 (2a. ed.); Emilia VIOTTI DA COSTA, "A abolição", Global, São Paulo, 1982.

(35) Cit. in S. RANGEL DE CASTRO, "Quelques aspects de la civilisation brésilienne", cit., p. 29.

(36) Guglielmo Ferrero conta haver visitado no Rio de Janeiro, na rua Benjamin Constant um "templo da Humanidade", "conversando agradavelmente de muitas coisas com o grande sacerdote, o senhor Teixeira Mendes" (G. FERRERO, "Fra i due mondi", Fratelli Treves Editori, Milão, 1913, p. 187).

(37) G. FREYRE, "Ordem e Progresso", 2 vol., Livraria José Olympio Editora, Rio de Janeiro, 1974, (3a. ed.), vol. I, p. 515. Cfr. também Ronald M. SCHNEIDER, "Order and Progress. A Political History of Brasil", Westview Press, Boulder (Colorado), 1991.

(38) Na chefia do estado sucederam-se Prudente de Morais (1894-1898), Campos Sales (1898-1902), Rodrigues Alves (1902-1906), Afonso Pena (1906-1909), Nilo Peçanha (1909-1910), Hermes de Fonseca (1910-1914), enquanto a política externa brasileira foi constantemente dirigida neste período pelo Barão do Rio Branco (1845-1912).

(39) "Foi o 'período áureo' da Primeira República, se quisermos dar uma definição à época, à maneira dos historiadores antigos..." (Plínio DOYLE, "Brasil 1900-1910", Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro, 1980, vol. I, p. 14). Na aurora do século o Brasil tinha 17.318.556 habitantes, dos quais 60% viviam no campo.


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