Plinio Corrêa de Oliveira

 

A Revolução nos ambientes e a atitude dos contra-revolucionários

 

III  -  Como  deve  reagir  o

contra-revolucionário

 

 

 

 

 

 

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A D V E R T Ê N C I A

O presente texto é adaptação de transcrição de gravação de conferência do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira a sócios e cooperadores da TFP, mantendo portanto o estilo verbal, e não foi revisto pelo autor.

Se o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério tradicional da Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como homenagem a tão belo e constante estado de espírito:

“Católico apostólico romano, o autor deste texto  se submete com filial ardor ao ensinamento tradicional da Santa Igreja. Se, no entanto,  por lapso, algo nele ocorra que não esteja conforme àquele ensinamento, desde já e categoricamente o rejeita”.

As palavras "Revolução" e "Contra-Revolução", são aqui empregadas no sentido que lhes dá o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira em seu livro "Revolução e Contra-Revolução", cuja primeira edição foi publicada no Nº 100 de "Catolicismo", em abril de 1959.

1. Oração

Em primeiro lugar é preciso rezar. Recorrer a Nossa Senhora. Por exemplo, pôr em todos os rosários e comunhões esta intenção: que Nossa Senhora me dê uma graça para dar uma sacudidela nisso, ajudando-me a compreender bem todos esses princípios e auxiliando-me a perceber os erros e os defeitos que impregnam muitos dos ambientes que nos cercam, e a reagir continuamente contra eles. Pedir a Ela que me "desintoxique", caso eu não tenha reagido convenientemente e me tenha contaminado com a mentalidade desses ambientes revolucionários.

2. Estudo

Em segundo lugar, estudar esta matéria e pensar nestes pontos com freqüência.

3. Crítica e reação contínuas

Em terceiro lugar, é preciso fazer um exercício da presença de Deus, quando se estiver em presença dos homens. Quando se está tratando concretamente com uma pessoa, ou se está andando numa rua, faz-se este exercício da presença de Nossa Senhora:

"Eu sei, pelas graças que Nossa Senhora me concedeu, que devo ver esta realidade assim, assim, assim etc; sei que os que vivem segundo a Revolução têm uma concepção de vida errada. Estou reafirmando em face deles as minhas convicções ou não? Estou, ao olhar neles, vendo o erro dentro deles? Estou tomando uma atitude interior de separação em relação a eles, porque eles pensam desse jeito? Sim ou não?"

Fazer isto concretamente, na hora. Aqui está o exercício efetivo, e isto o dia inteiro. Isto é um martírio, mas a alma que assim age subirá como um rojão!

A) Como deve ser a crítica

Contínua - O modo verdadeiro de fazer a coisa é o seguinte: quando se está em contato com os ambientes revolucionários, procurar fazer internamente a crítica desses ambientes de acordo com os critérios da R-CR. Quer dizer: aqui está um gesto de tal defeito; aqui está outro gesto de tal erro; aqui está um igualitarismo em tal ponto, etc. Ir adquirindo um senso crítico das coisas.

É preciso criticar, por exemplo, determinada música enquanto eu a ouço, e rejeitar o efeito que ela está produzindo em mim. Isso é de dia, de noite, quando se está tratando com um e com outro, quando se observa o que se vê nas ruas etc. Vendo isto por toda parte onde se está, e criticando. É preciso viver com alma de moralista-sociólogo.

Procurar os erros por trás das atitudes e dos modos de ser - O diapasão da Contra-Revolução é o oposto do diapasão dos ambientes revolucionários. Procurar um fato que se tenha passado, com espírito revolucionário bem saliente, e perguntar: o que tal coisa tem de ruim? Que erro há naquilo, para eu detestar?

Por exemplo: que erros há por trás do hábito de vestir-se sem dignidade e compostura?

A justificativa deles: 1) O gostoso é estarmos com naturalidade, sem constrangimento. Compostura e constrangimento eu rejeito. 2) Compostura é mera formalidade, e todos sabem que, ainda que eu esteja em mangas de camisa, sou muito composto, pois o hábito não faz o monge.

Que argumentos eu tenho contra isso? Nas maiores civilizações da Terra, que tiveram os homens mais compostos, sempre se achou que não bastava a excelsa personalidade deles, e que era preciso vestir-se de acordo com aquelas posições. Não somos nós que iremos pensar de modo diverso. São dois erros, estes, que chegam à conaturalidade com o descomposto, o que é uma falta de amor de Deus.

Todos os erros desses ambientes igualitários e vulgares, como os que descrevemos, tendem, em última análise, a não dar "amolação", para deixar todos inteiramente à vontade, tão largados quanto uma planta ou um bicho, sem controle.

Verificar, portanto, em tudo, quais erros característicos do espírito dos ambientes revolucionários existem. Um ambiente do tipo que descrevemos não gostaria de um filme sobre a Madame de Pange. Que distância! Léguas!

É de grande utilidade não apenas a análise dos ambientes em todas as ocasiões em que entramos em contato com eles - exercício não só útil, mas inteiramente indispensável - mas também uma crítica metódica freqüente, algumas vezes na semana, daquilo que fomos vendo no correr dos dias, e que muito caracteristicamente, ou até de modo larvado, traduz o espírito revolucionário, em quaisquer de seus matizes regionais.

Ver os erros em seu ponto de encontro, não isoladamente - É preciso ver os erros em seu ponto de encontro, porque eles constituem uma filosofia, constituem um nexo. No tipo de ambiente que aqui analisamos, o nexo é: na vida nada é grave, na vida nada é sério, há um jeito de se passar a vida subestimando tudo, divertindo-se continuamente, rindo continuamente, estando continuamente no maior dos comodismos e fazendo aquilo que a gente acha gostoso. Isto é o fundo da coisa. E tudo se põe, então, em um trato pessoal sem cavalheirismo, sem gravidade e sem nobreza; um trato todo ele igualitário, que faz desses ambientes meios onde quase não existem classes sociais.

Mas daí vem um modo de tratar os assuntos pelo qual cada pessoa que aborde a outra já aborda para brincar, para dizer uma coisa engraçada, para tratar como camarada, e nunca para tratar de uma coisa seriamente até o fundo. Nas reuniões e conversas - a gente vê pela rua - o assunto é negócio ou brinca-brinca. O convívio humano, de alma para alma, é continuamente brinca-brinca. Tendência para transformar o pijama e o chinelo na indumentária local; a maior comodidade, a maior sem-cerimônia, o maior desabuso possível a respeito de tudo, e isso tudo porque a vida foi feita para ser passada rindo, para ser passada no meio de galhofas e de brincadeiras, e porque nada é trágico, nada é horroroso.

Fazer confronto com o espírito contra-revolucionário – O resultado é o seguinte: nada é sublime. Primeira ruptura com o espírito ultramontano, para o qual tudo tem perspectivas últimas sublimes. Tudo é gravíssimo, tudo é elevadíssimo, tudo pede cerimônia, pede compostura, pede seriedade, pede elegância, pede distinção, pede nobreza. Quer dizer, há um choque fundamental entre as duas mentalidades.

De outro lado, a par desse perpétuo brinca-brinca, fica insinuado que todos os homens são camaradas uns dos outros, que todos se estimam, como se o pecado original não existisse. Fica insinuado um espírito que exclui completamente a idéia do conflito dos inimigos de Nossa Senhora com uma humanidade que eles procuram ludibriar para fazer mal, e sobretudo a idéia da oposição irredutível entre a causa do Bem e a causa do mal. Nesses ambientes, ninguém é inteiramente da causa do Bem - ao menos a impressão que se quer dar é esta - e ninguém é inteiramente da causa do mal, porque não se deve ser, porque a posição medíocre de espírito é a verdadeira. Então se recusa a achar que alguém é traidor, que alguém é conjurador, como se recusa a achar que alguém é um grande homem. Carlos Magno e seus Pares não estão no firmamento desses ambientes. Quer dizer, é uma microlice crônica.

Quanto aos defeitos morais, eu diria que, no fundo, é uma falta de sabedoria. Porque a virtude da sabedoria é exatamente aquela que nos leva a querer ver as coisas pelas suas mais altas causas, pelos seus mais altos aspectos, o fim último das coisas, o sentido mais profundo. E isto que analisamos nesses ambientes é uma falta crônica de sabedoria, é deter-se numa parte da realidade que é a realidade palpável, a realidade que cai debaixo dos sentidos; e a realidade impalpável, a parte espiritual da realidade, aquilo que é espírito, aquilo que, em última análise, é Deus, isto fica posto de lado. É um pecado contra a sabedoria. É um tipo de ambiente fundamentalmente não sapiencial.

B) Como deve ser a reação

É preciso ser diametralmente contrário - Não basta ter um espírito contra-revolucionário igual, universal, contrário aos erros fundamentais da Revolução. Deve-se compreender que a mentalidade dos ambientes revolucionários é viciada e errada, e isso de um modo peculiar, gerando aspectos próprios em cada lugar ou região que se considere. É preciso conhecer esses erros, e é preciso ser diretamente o oposto deles. Os senhores não calculam como uma fidelidade nesse ponto é capaz de os pôr para frente!

O triunfo de um grupo de contra-revolucionários consiste em dar aos seus membros uma formação diametralmente contrária ao espírito dos ambientes revolucionários que os cercam. É necessário criar o ambiente que Nossa Senhora quer, o oposto dos ambientes infectados pela Revolução, e que envolve os militantes da Contra-Revolução. Esse é o modo verdadeiro de fazer apostolado.

Posição contra-revolucionária vivencial - Os contra-revolucionários devem ter o espírito verdadeiro na hora das vivências, e não apenas teoricamente. Sem um exercício contínuo, eles correm o risco de se deixarem contaminar pelo espírito revolucionário que os rodeia. Os que percebem que absorveram esse espírito, e os que não desejam absorvê-lo, devem tratar de repelir as influências da Revolução - como elas se apresentam concretamente nos meios revolucionários que os cercam - e devem não apenas pensar, mas viver e agir segundo os princípios da Contra-Revolução. É necessário que tais princípios estejam impregnados na própria alma.

O principal é esta impregnação, mas se a gente não se lembrar continuamente disso, volta-se a viver e a agir segundo os padrões dos ambientes que devemos detestar.

Percebendo que a própria alma não tem essa impregnação dos princípios contra-revolucionários, há necessidade de um trabalho de enxerto: enxertar-se na Contra-Revolução até receber toda a seiva. É, de fato, um trabalho artificial. Ele exige, antes de tudo, um esforço de atenção, para não se sair do diapasão contra-revolucionário. É, entretanto, cabível para alguns, para não ser um trabalho inumano, fazer o exame por etapas. Colocar-se cada hora no diapasão. Isto acaba mantendo uma continuidade. Fazer em cada etapa uma jaculatória: "Sapiencial Coração de Maria, ajudai-me".

Habituar-se, assim, a ver as coisas e agir segundo o diapasão verdadeiramente contra-revolucionário. É como se alguém usasse óculos para ter uma visão mais perfeita e real das coisas. Se o defeito é não ver as coisas de acordo com a Contra-Revolução, procurar então, com freqüência, lembrar-se disso e como que ver através dos óculos da Contra-Revolução.

Examinar-se assim: se Nossa Senhora estivesse aqui, o que Ela acharia disso? Que atitude Ela tomaria face à minha atitude diante disso? Ela aprovaria? Estou neste diapasão? O que está faltando? Fazer isso, por exemplo, de hora em hora.

C) Sem crítica, tende-se a afundar na Revolução

Enquanto os que desejam lutar pela Contra-Revolução não fizerem uma crítica dos ambientes e dos fatos, para estarem numa espécie de atrito interno habitual com os ambientes revolucionários, não podem sair do lugar. Isso é não se dar inteiramente, o dia inteiro, a Nossa Senhora, é se dar às meias. Porque acaba sendo que, tendo nós em relação aos inimigos dEla - inimigos dEla são todos os que seguem a Revolução - um estado de espírito de falta de oposição, algo do espírito deles se comunica a nós.

O resultado: a alma do contra-revolucionário, que deveria ser um sacrário do espírito ultramontano nos ambientes onde vive, e que deveria ser um tabernáculo para espalhar as graças da Contra-Revolução, não o é.

D) Repercussão nas relações com Nossa Senhora

Isso tem depois uma repercussão na relação da alma com Nossa Senhora. Quem tem essa vivência, essa falta de vigilância e de oposição ao mal, pode teoricamente ter Nossa Senhora em conta de Chefe, de Guia, de Farol, mas se estiver espiritualmente com Ela, não pode ter essa posição de alma. Porque não é possível ao mesmo tempo estar inteiramente de um lado e inteiramente do outro. A pessoa pode ter uma adesão teórica sem limite a Nossa Senhora, pode ter uma intenção de manter essa adesão teórica até de olhos fechados, aceitando o que Ela inspira e manifesta às almas, porque é Ela quem o faz, mas a comunicação de alma faz-se de modo incompleto, e o faz porque a alma não está inteiramente voltada para a oposição contínua, teórica e vivencial, ao mal como ele se apresenta concretamente em seu redor.

O resultado é que há uma infidelidade a Nossa Senhora, por omissão. O espírito dela não se comunica à alma adequadamente, por causa disso. Como o espírito (mentalidade, feitio etc.) se comunica por uma espécie de "osmose", de pessoa a pessoa - a graça é assim, basta ver em “A Alma de Todo Apostolado” de Dom Chautard - essa osmose se dá de modo precário, muito insuficiente, por causa dessa vivência errada. A dedicação a Nossa Senhora começa a amortecer, com a falta de reação ao espírito dos ambientes revolucionários, pois se a pessoa toma um rumo diferente do dEla, como evitá-lo?

O curioso é que quando uma alma fica assim, não vigilante e mole diante das influências dos ambientes impregnados de Revolução, o demônio não atormenta muito. A pessoa é nociva a ele, e ele preferiria mil vezes que ela não existisse. Se ele pudesse matar, matava, é bem verdade. Mas para ele ainda é menos mal assim do que haver fogo e entusiasmo. Por isso ele nem cria grandes catástrofes nem grandes tormentas, e deixa correr. Eu olho para os que não enfrentam adequadamente a Revolução, e vejo uma vida espiritual mais ou menos calma, e a coisa tocando...

E) Contatos com os ambientes intensamente contra-revolucionários

Devem ser feitas viagens aonde há ambientes intensamente contra-revolucionários com o intuito de se firmar no espírito da R-CR. Mas, naturalmente, quando já se vai com uma orientação de espírito que, a priori, antes de a viagem ser começada, produz uma obstrução nos benefícios que ela pode produzir, o contato com a Contra-Revolução não produz todo o bem que deveria produzir.

Cada um não encontra, no ambiente do outro, os defeitos próprios dos quais tem que se desintoxicar. É como uma pessoa que vive à beira-mar, e faz estação climatérica na montanha; e quem mora na montanha faz estação climatérica à beira-mar. É normal.

Continua


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