Plinio Corrêa de Oliveira

 

Abertura do IV Encontro de Correspondentes Esclarecedores da TFP

 

 

 

 

 

 

 

Conferência de 25 de janeiro de 1985, Sexta-feira

  Bookmark and Share

 

A D V E R T Ê N C I A

O presente texto é adaptação de transcrição de gravação de conferência do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira a sócios e cooperadores da TFP, mantendo portanto o estilo verbal, e não foi revisto pelo autor.

Se o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério tradicional da Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como homenagem a tão belo e constante estado de espírito:

“Católico apostólico romano, o autor deste texto  se submete com filial ardor ao ensinamento tradicional da Santa Igreja. Se, no entanto,  por lapso, algo nele ocorra que não esteja conforme àquele ensinamento, desde já e categoricamente o rejeita”.

As palavras "Revolução" e "Contra-Revolução", são aqui empregadas no sentido que lhes dá o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira em seu livro "Revolução e Contra-Revolução", cuja primeira edição foi publicada no Nº 100 de "Catolicismo", em abril de 1959.

Temas abordados: Pela ação misteriosa da guerra psicológica revolucionária, a Rússia não se tornou tão forte quanto o Ocidente, mas ela tornou o Ocidente mais fraco do que ela: é nessa ação que se insere exatamente a atividade da TFP * O que resta da Europa e toda a América são a parte mais importante do mundo que se trata agora para a Rússia de conquistar * Histórico das relações do Ocidente com o comunismo * Política do red or dead  * Investida do comunismo contra a TFP através dos estrondos, sobretudo na Venezuela * “De mil soldados não teme a espada, quem luta à sombra da Imaculada!”

Para aprofundar os assuntos tratados nesta conferência, consulte "Um homem, uma obra, uma gesta - Homenagem das TFPs a Plinio Corrêa de Oliveira" (1989).

*     *     *

 

Rev.mo. Padre Olavo, Revmos. Srs. Sacerdotes, minhas senhoras, meus senhores.

Depois desta tão calorosa e merecida salva de aplausos aos sacerdotes que nos honram com sua presença e mais ainda com sua valiosa amizade, toca-me começar a exposição da matéria do dia de hoje, com que se abre mais este encontro da TFP com seus  Correspondentes e Esclarecedores; não só disseminados pelo Brasil afora, mas já se pode dizer, pelo número e pela extensão da área coberta pelos países que eles representam, a TFP esparsa pelo mundo inteiro!

Eu deveria e devo fazer aos senhores uma exposição do que ocorreu com a TFP nos últimos meses desde o último Encontro até este, e ao fazer a relação dos assuntos, para tratar com os senhores, verifiquei desde logo que eles se dividiam em dois blocos. E para melhor fazer entender a importância relativa dos dois blocos, um em relação ao outro, eu faço uma comparação tirada das crônicas da vida de família.

Os senhores considerem uma família que faz a sua crônica, o que lhe aconteceu em 7, 8 meses. Como é apropriada esta comparação da TFP com uma grande família, uma família de almas! Então, nós somos também uma grande família de almas, e há 7, 8 meses nós convivemos à distância, porém não nos encontramos. Nós notamos que nos primeiros 3 ou 4 meses, a crônica dessa vida de família, é da vitalidade salutar, em progresso, em alegria, em devoção à Causa que nós defendemos.

Nos últimos 3 meses, mais definidamente, pelo contrário, a família entra numa tempestade, numa borrasca, numa luta heroica! A família entra, digamos, num processo e ela está engajada no processo. E então, o processo, que tem muito mais importância do que os fatos anteriores, esse processo assume a parte mais notável da narração.

Assim, se dá também com a TFP: a partir de uns 3 meses atrás, começou uma campanha internacional contra a TFP. E constitui para nós um dever, nós analisarmos esta campanha internacional, e indicarmos as razões pelas quais ela ocupa um tal papel dentro desse Encontro, das exposições, dos temas, destas conferências, que vão ser apresentadas aos senhores nesses dias; e assim, a crônica se transforma em história. E os senhores teriam 4 meses de crônica, e 3 meses de história!

O que ocorreu no mundo durante este tempo? O que ocorreu com a TFP durante este tempo? Alguns fatos notáveis ocorreram no mundo. Estes fatos precisam ser considerados por nós, especialmente, porque eles não deixam de ter um certo reflexo com o problema do comunismo e anticomunismo, que é um dos nervos vitais da TFP.

Depois nós veremos o que aconteceu conosco.

Muito, muito sumariamente, há pelo menos 3 fatos importantes para considerar. Na maior potência temporal da Terra, que são os Estados Unidos, houve uma eleição; o presidente Reagan foi reconduzido à suprema magistratura, e isto teve o significado iniludível de que a nação norte-americana apoia uma política de firmeza em face da Rússia. Uma política de firmeza que não quer ceder, que não quer retroceder; que não quer provocar uma guerra, mas que em última análise, se for preciso, não fugirá desta guerra.

É um grande passo para a defesa do Ocidente, que até a pouco se poderia chamar de Ocidente cristão, a defesa do Ocidente contra o comunismo.

Nós temos um outro fato, muito significativo também, e carregado de esperança, um passo no qual não nos devemos ver a caminhada inteira percorrida, mas um primeiro passo, ou alguns primeiros passos cheios de esperança, um acontecimento que ocorreu na maior potência espiritual da terra, e esta maior potência especial da terra, antes de tudo por razões sobrenaturais; mas também por razões naturais, é o Vaticano.

Por razões sobrenaturais, porque o Vaticano é o governo da Igreja Católica, da Igreja instituída por Nosso Senhor Jesus Cristo, e contra a qual não prevalecerão as portas do Inferno.

De outro lado é um grande passo também do ponto de vista natural. Nós sabemos que a Igreja Católica conta hoje, por toda face da terra, [com] 600 milhões de filhos, e que todos esses filhos estão atentos a toda palavra que parte do Vaticano. Não há bloco ideológico mais coeso e mais importante na terra.

E, conforme um golpe de leme que se dê no Vaticano, numa direção ou noutra direção, 600 milhões de pessoas na opinião pública rumam para um determinado lado. Quer dizer, dos lábios de João Paulo II, pendem as palavras que servem de bússola, de leme para o mundo.

Ora, há muito tempo, e por razões que nós analisaremos daqui a pouco, há muito tempo que essas palavras não contém uma mensagem clara a respeito do comunismo. Não condenam o comunismo. Qual foi a surpresa, qual foi o encantamento dos católicos como nós, preocupados com o problema comunista a fundo, porque sabemos que é o problema central dos nossos tempos na ordem temporal; e com reflexos enormes na ordem espiritual – qual a surpresa e qual o encantamento dos católicos, quando sabem de repente, pelos jornais cotidianos, que a Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé, pela pena do Emno. Cardeal Ratzinger, Prefeito, baixou uma instrução condenando vários erros da "Teologia da Libertação", e estabelecendo mais uma vez a linha divisória entre marxismo e doutrina católica. Mais ainda, chumbando o comunismo no marxismo!

Em virtude de manobras astutas, que não vem ao caso aqui descrever, o comunismo andava insinuando por toda parte, que ele estava um tanto dissociado – em quanto, não se sabe, porque ele todo é confuso e mentira – que ele estava um tanto dissociado da doutrina de Marx. E que, portanto, também os católicos poderiam ser comunistas, sem serem marxistas.

Ora, como é o marxismo que é o sistema filosófico ateu e materialista, evolucionista, condenado pela Igreja; uma vez que se concebesse membros do PC, não marxistas, ou comprometidos apenas com uma parte da filosofia marxista, haveria lugar para católicos marxistas. Ou seja, a ponte levadiça, horrorosa, que se queria baixar na muralha da Igreja, para nela poderem entrar os comunistas – porque não eram os católicos que penetrariam no comunismo; eram os comunistas que penetrariam na Igreja Católica – esta ponte levadiça estava baixada, e o trânsito começava a se fazer.

De tal maneira se fez que o Cardeal Ratzinguer apontou a existência de uma influencia notória do comunismo nos círculos da "Teologia da Libertação".

Vem afinal a palavra de João Paulo II: Comunismo é marxismo; comunismo e marxismo são condenados pela Igreja Católica! Acabou-se!

Se fosse só isto! Mas, os jornais intoxicados de infiltração comunista por toda parte, não noticiaram talvez o mais importante. É que esta tomada de atitude do Vaticano, da Igreja, não foi feita só por um documento da Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé; foi feita por vários pronunciamentos sucessivos, posteriores, de João Paulo II, por exemplo, recebendo os episcopados do Peru, do Equador, de outras nações, e em outras oportunidades em que ele teve ocasião de falar. Em que ele deu todo o seu apoio ao pronunciamento do Cardeal Ratzinger, e ainda acrescentou várias outras considerações importantes a isto.

De maneira que, uma alteração fundamental ficou feita no panorama geral, a jogada comuno-católica levou uma espadagada. Nós não pretendemos de nenhum modo, que com essas expressivas tomadas de atitude, o complexo problema da esquerda-católica, e do relacionamento entre a religião católica, a Igreja Católica de um lado, e o leviatã comunista de outro lado, esteja esgotado.

A realidade nos mostra que ainda há um longo caminho a percorrer para desentulhar o ambiente das confusões que nele se encontram. Mas, não deixa de ser verdade que os primeiros passos dão a esperança de outros, num caminho, que é este sim, verdadeiramente um caminho de salvação.

Assim, nós registramos estes fatos, e depois de considerarmos tão altos poderes da terra, na ordem hierárquica dos valores, o Vaticano, depois a Casa Branca – depois de considerarmos estes dois valores, nossos olhares desviam-se deles, para considerar um terceiro fato. Acontecido num povo pequeno, num povo humilde, num povo campônio, num povo a respeito do qual o mundo não falava, e quase não pensava, até o momento em que ele se ergueu no cenário internacional, como um herói, se pôs a lutar e se pôs a sangrar: o povo afegão!

Quando algum dia se escrever a história de nosso século, ver-se-á que no mundo inteiro havia pânico em relação ao gigante comunista. Pânico nas maiores potências temporais; pânico, infelizmente nas próprias fileiras católicas. Houve um pequeno povo que se levantou que não teve pânico. E em que acossado entre morrer e comunistizar-se, optou pelo morrer, e avançou!

E provou ao mundo que um anão corajoso vale mais na luta do que “n” gigantes balofos! Ele começou a esmagar o colosso russo, a infligir derrotas humilhantes, a se afirmar corajosamente, a defender palmo a palmo o próprio território. Não numa caminhada só de vitórias, mas também entre derrotas terríveis, sabendo conquistar do fundo da derrota do dia de hoje, a vitória brilhante do dia de amanhã.

Está na história que é desígnio de Deus muitas vezes, dar o bom exemplo aos grandes, pela boa conduta dos pequenos. É esse bem o caso, e nós podemos dizer: o heroísmo anticomunista continua no mundo, na sua forma sensível, aguerrida, material, pelo exemplo do povo afegão!

Esses três fatos dão uma ideia essencial do que, concernente ao quadro comunismo-anticomunismo, aconteceu nesses meses, em matéria internacional.

Nós poderíamos nos perguntar, o que é que nós diríamos do panorama interno do Brasil. Nós temos três fatos importantíssimos. Um desses fatos é a generalização da guerrilha – porque já se pode chamar guerrilha – da guerrilha agrícola, rural, por quase todo o Brasil, com uma agitação que tende a se transformar em guerrilha, nos lugares onde guerrilha ainda não apareceu. Esta agitação, infelizmente, é preciso dizer, promovida em larga medida pela "Teologia da Libertação", pelos sacerdotes que foram vítimas da lábia da "Teologia da Libertação". Sem o apoio desses sacerdotes, essa guerrilha não seria possível. E isto ficou provado de modo fulgurante pelo último número de "Catolicismo", que dá uma reportagem documentada, e que ninguém ousou contestar.

Como de costume, os nossos adversários ideológicos, fingiram que não tomaram conhecimento que isto saiu. E não disseram uma palavra. Como a diriam e como, se tivesse alguma coisa de errado nisso. Estas revistas que andam por aí, que para colher dados para difamar a TFP, ou para pôr ridículo, chegam até a ir a um outro restaurante que eu frequento, para saber que pratos eu encomendo, do que é que eu gosto ou não gosto... com quem eu me sento não sento à mesa para conversar, etc., etc., não teriam deixado de esquadrinhar  com lupa qualquer erro, qualquer lapso, qualquer lacuna que houvesse no número de "Catolicismo".

Ele aí está! Já circulou largamente, passou por todos os olhares e todos os exames da malevolência... e a malevolência se calou!

Talvez um dia nós façamos um encontro que tenha outro tema; eu estou certo de que os senhores afluirão ávidos. É: um dia na TFP. Cada departamento como trabalha, cada setor o que é que faz, como é que se vive dentro da TFP, como é a TFP vista na sua intimidade. Isso seria um Encontro que eu acho que atrairia muita gente. Não é esse o tema, pelo contrário, hoje o tema é a TFP na orla de um de seus grandes dias ou de uma de suas grandes etapas! Eu não posso entrar por aí.

Fica, portanto, um pouco monótono dizer que, ao par desses fatos mais salientes, é sobretudo importante notar que os serviços da TFP funcionaram regularmente; que os eremos itinerantes continuaram a percorrer na sua marcha heroica, o Brasil, com aquela regularidade com as estrelas percorrem o céu!

Essa itinerância, cuja dimensão se mede pela distância que vai do Yapoc até o Arroio Chuí, ou que vai das orlas do Atlântico até o mais fundo das zonas habitadas da mata brasileira – todo o Brasil, os nossos eremos percorrem! Esta itinerância tem seu contrapeso harmônico, nos nossos eremos de clausura, em que jovens na força da idade, estudam e rezam continuamente, constantemente, preparando os grandes lances doutrinários da TFP!

Eu não vou aqui mencionar os serviços prestados por outros departamentos da TFP. A nossa querida e benemérita DAFN – Diretoria Administrativa e Financeira; o ENSDP, que cuida da coleta de donativos – e tantas outras seções da TFP. Eu lembro simplesmente que todas elas, no extremo de seu trabalho, e de sua aplicação de dia a dia, desenvolveram seus serviços regularmente. E que um serviço foi bem para frente, e disso nós temos um resultado excelente diante dos olhos: o serviço dos Correspondentes e Esclarecedores.

Graças a Deus, este serviço tornou mais regulares, mais intensas, começou a dar densidade e consistência ao corpo de  Correspondentes e Esclarecedores que temos pelo Brasil inteiro; e o afluxo tão considerável dos que estão aqui, mais numerosos ainda do que no ano passado, apesar das dificuldades decorrentes da crise econômica e financeira que vai constituindo um sorvedouro para as finanças pouco potentes, e até para as finanças muito poderosas; apesar disso, nós temos este salão repleto! Que Nossa Senhora por isso seja louvada!

Mas, Revmos. senhores sacerdotes, minhas senhoras, meus amigos, apesar de todos esses pormenores serem tão interessantes para nós, nós devemos deixar isto de lado. Isto é a parte da crônica. Que é aparte da história? Qual é a parte da batalha grande dentro da qual nós entramos, e que se desvenda diante de nós?

O fato essencial é uma campanha monumental, cerrada, da qual os senhores numa conferência especial terão todos os pormenores, que se desenrolou na república venezuelana, nossa amiga e nossa irmã, e que da qual os jornais diários deram as notícias tendenciosas com que os senhores estão acostumados. E que as quais foi preciso a TFP desmentir a peso de ouro, em seção paga, quase sempre, porque a verdade, ou abre o caminho com ouro, ou tem que se calar; a mentira, essa  voa! Sobretudo quando ela é calúnia; e a calúnia voa sobretudo quando ela é contra a TFP!

É a razão desta linda imagem, cuja fotocópia está dominando, materna e regiamente esta sessão, a razão da presença desta linda imagem aqui se prende a isto. Nossa Senhora de Comoroto é a padroeira da Venezuela. Essa imagem existe no jardim da Sede do  Reino de Maria. Eu conheci durante o Concílio uma fotografia, um santinho dessa imagem. E me impressionou o caráter sério, materno, sereno, régio da imagem. Isso me encantou. E chegando aqui manifestei o desejo de ter uma imagem assim para nossa sede.

Um componente dessa mesa, precisamente o Dr. Caio Vidigal Xavier da Silveira, meteu-se pela Venezuela adentro – ou afora – e conseguiu ali esta imagem que ele conseguiu trazer para o Brasil. É Nossa Senhora de Coromoto, patrona da Venezuela.

Embora, alongue um pouco a nossa exposição, que tem o defeito de ser longa demais... embora alongue um pouco a nossa exposição, eu não resisto à tentação de lhes contar o essencial do que aconteceu com Nossa Senhora de Coromoto.

Coromoto não é o nome de um lugar; quando se diz Nossa Senhora Aparecida, Nossa Senhora de Lourdes etc., são lugares. Coromoto não é o nome de um lugar; Coromoto é o nome de uma pessoa. O lugar onde se venera a imagem de Nossa Senhora de Coromoto é um pequeno lugar da Venezuela chamado Guanare, onde morava a pessoa chamada Coromoto. E a imagem de Nossa senhora do Coromoto, não tem essa dimensão considerável, mas ela é tão pequena, que precisa ser vista numa lupa. Entretanto, ela é exatamente o que está aqui.

Qual é a história magnífica dessa imagem? Magnífica e triste ao mesmo tempo. Coromoto era um índio no período colonial da Venezuela, quando a Venezuela era colônia do reino da Espanha. Esse índio nasceu pagão e se converteu. E deu num bom católico, fervoroso, modelar etc., etc., naturalmente se batizou, recebeu os Sacramentos etc. Mas, depois ele fez uma viagem pela América Central. E quando ele voltou, ele estava mudado. Ele tinha entibiado no seu fervor religioso, em pouco tempo ele abandonou a Igreja Católica, e voltou ao culto idolátrico dos seus maiores!

Coromoto, assim posto, entristecia a Virgem. E Nossa Senhora, Mãe de misericórdia, nossa vida, doçura e esperança, teve pena de Coromoto. E um dia Ela apareceu a Coromoto. E apareceu a Coromoto sorrindo, afagando-o e convidando-o a voltar ao bom caminho. Coromoto estava de tal maneira empedernido que ele recusou, à rainha do Céu, o pedido materno dEla. E vendo que apesar disso, Ela por misericórdia não se retirava, resolveu apedrejá-la. E pegou algumas pedrinhas que tinha ao alcance, e jogou contra Ela. Ela pegou uma dessas pedrinhas, e deixou em algum lugar. Depois desapareceu.

Maravilha das maravilhas, quando ele pegou essa pedrinha, viu que a imagem dEla estava impressa na pedrinha! Não pintada, não desenhada, mas numa espécie de relevo. Uma pedrinha comum. E era um símbolo magnífico da misericórdia de Nossa Senhora. Até quando nós jogamos uma pedra contra Ela, Ela nos entrega sua efígie, como quem diz: “Meu filho, ama-Me!”

Esta imagem começou a ser venerada pelos católicos, visitada, etc., construiu-se ali uma pequena igreja, depois construiu-se um santuário, e essa pedrasinha está exposta dentro de um relicário, num lugar de honra do santuário. Mas, é tão pequena, que está assestada sobre ela uma lente potente, e depois uma iluminação. De maneira que os católicos vão lá e podem divisar com facilidade esta obra prima da misericórdia de Nossa Senhora!

Nossa Senhora dos perdões incalculáveis; Nossa Senhora das misericórdias inexcogitáveis. Eu não conheço, do bastante que tenho lido sobre aparições e revelações de Nossa Senhora, eu não conheço nada mais tocante, que mais fale na insistência do amor cheio de perdão de Nossa Senhora, do que nossa Senhora de Coromoto.

É esta terra que foi escolhida para ser o ponto de partida, como os senhores verão daqui a pouco, de uma campanha internacional contra a TFP.

Nesta terra se desenrolaram fatos que nós vamos analisar daqui a pouco, muito por alto aliás, porque a conferência especial sobre isso vem depois; nesta terra se fez uma divisão na população: alguns favoráveis à TFP; outros, não diria, eu insisto em não dizer contrários à TFP propriamente, mas como narcotizados por um estrondo publicitário, cujo tamanho incalculável os senhores vão ver daqui a pouco também, ou vão ver na próxima conferência, também.

 De qualquer forma, a parte fiel à TFP, nesse estrondo, procedeu com uma dignidade própria aos melhores dias de Coromoto. A TFP venezuelana, é preciso dar graças a Nossa senhora por isso, a TFP venezuelana brilhou, e deu glória a Nossa Senhora! Ela sofreu perseguição por amor à Justiça; sobre ela luz a bem-aventurança dos que tem a promessa do reino dos Céus.

Qual é a justificativa de um estrondo tão grande como foi na Venezuela, e começa a ser pelo mundo afora? Se este estrondo conseguir propagar-se – do que não estou certo, porque ele também já sofreu expressivos revezes, talvez ele se difunda, talvez ele não se difunda – qual é a razão de ser de um estrondo tão grande contra a TFP?

 

 

 

A TFP fiel aos ensinamentos e exemplos do nosso Divino Mestre, uma vez que se diz christianus alter Christus – o cristão é um outro Cristo – a TFP pode fizer de si mesma que nos seus 20 anos de história, ela pertransiit benefaciendo, como diz São Pedro de Nosso Senhor Jesus Cristo: “passou fazendo o bem”!

Não pensem os senhores que se trata aqui de uma mera peleja de comunistas com anticomunistas, como os houve tantas pela terra. Não! É uma coisa que tem um significado muito mais profundo se nós fizermos uma análise do contexto contemporâneo. Uma análise do contexto contemporâneo à luz da Mensagem de Fátima. Aí nós compreendemos bem o que está acontecendo. Nós compreendemos bem o que poderá acontecer. Nós compreendemos bem a alegria, a honra e a glória que há em pelejar esta peleja!

À luz da Mensagem de Fátima, nós podemos considerar a história dos acontecimentos mundiais, divididos em duas partes: primeiro, feita a Mensagem, qual é a audiência que o mundo dá à esta Mensagem; Segundo lugar: o que vai acontecer ao mundo, pelo fato de não ter dado ouvido à esta Mensagem?

Agora, de outro lado, o que faz Nossa Senhora, durante estes longos e longos e longos anos, de penar e de sofrer, o que faz Nossa Senhora para que o mundo ouça esta mensagem?

Então, esquematicamente os senhores se encontram diante do seguinte quadro, que me parece incontestável:

Em 1917, aparecendo na Cova da Iria, em Portugal, à Jacinta, à Francisco e à Lúcia, Nossa Senhora faz uma comunicação: o mundo está se atolando no pecado, está se atolando na impiedade, e caminha para castigos assustadores. O desaparecimento de muitas nações, convulsões, etc., grandes sofrimentos para o Santo Padre, até que chegue o momento em que Ela intervém; e Ela vence, e Ela converte a Rússia, e ela converte o mundo inteiro! É o que nós chamamos o Reino de Maria, a justo título.

Então, de um lado, nós podemos considerar toda a ação de Nossa Senhora ao longo desses anos, –   de um modo, pela graça, falando no interior das almas, por atos da Hierarquia, por atos dos particulares etc., difundindo a mensagem de Fátima pela terra inteira.

De outro lado, os senhores considerem o mundo que faz ouvidos moucos à mensagem de Fátima, e vai caminhando para o desfecho. Num momento em que parece que esse desfecho se prepara, nesse momento, em matéria de anticomunismo, sustentado por uma associação com ramificação internacional, e com inspiração nítida e desassombradamente católica, os  senhores só encontram de pé um estandarte!... É o estandarte...

(Aplausos, brado)

Perguntar qual é o sentido desta luta, é perguntar (defeito na gravação) os limites da Rússia comunista, da Rússia com a Polônia, com a Hungria, com Checoslováquia, e com as nações balcânicas, até o Oceano Pacífico, percorrendo uma extensa zona fronteiriça  com as nações pagãs da África, está bem: em toda esta zona, nós notamos que o comunismo entra, se instala, um líder desconhecido com cara de hiena toma conta do poder, e começa a dominar as vastidões com seu olhar terrível e amedrontar o mundo.... E este líder se chama Stalin, um simples eslavo desconhecido que vegetava na Suíça, mas que de repente tomou conta do poder na Rússia, e o poderio russo começa então a se estabelecer metodicamente, a bem dizer, em 20 anos: de 1917 a 1939 o comunismo, na Rússia, não fez senão outra coisa senão quebrar a nação, como uma fera quebra os ossos da sua presa, e depois engolir a nação como a fera engole e presa. Encher-se do sangue dela, como a fera faz com a presa.

Foram anos de dominação, de expansão do comunismo ad intra. Quando a 2ª guerra mundial começou, o comunismo tinha conquistado, durante estes 22 anos, um fruto essencial. Ele tinha, para seus ataques internacionais, ele tinha este dado concreto: um pedestal imenso, com riquezas imensas que ele podia manejar à vontade. Não era assim no momento em que ele tomou conta do poder.

Então, toda essa absorção da Rússia pelo comunismo, é uma primeira realização da profecia de Fátima: “O comunismo espalhará seus erros por toda a parte”. Depois, senhor da Rússia, a expansão dos erros do comunismo continua. Nesse período antes já da 2ª. Guerra Mundial, os russos fizeram do Kremlin uma internacional de propaganda no mundo inteiro. E todos os comunistas do mundo passaram a depender politicamente do Kremlin. De maneira que o Kremlin passou a ser a central revolucionária do mundo inteiro; dominando a Rússia, e capaz de introduzir a Revolução nas entranhas de qualquer nação contemporânea.

Os senhores estão vendo que é portanto um poder tentacular, os erros estavam começando a se espalhar.

Arrebenta a 2ª Guerra Mundial, o resultado é a derrota das potências do Eixo, Roma-Berlim-Japão, estabelece-se uma situação que nós vamos analisar daqui a pouco, um armistício; e esse armistício tem como consequência que é feita à Rússia uma concessão simplesmente colossal: todos os Balcãs lhe são entregues; a Polônia lhe é entregue; uma parte da Alemanha Ocidental lhe entregue; lhe é entregue a Hungria, lhe é entregue a Checoslováquia. Ela fica senhora de uma imensa faixa da Europa Ocidental, tão próspera e  tão desenvolvida até antes da guerra, e que agora cai debaixo da garra do comunismo. A expansão do comunismo continua.

Esta expansão a Rússia continua depois do fim da Guerra Mundial, portanto depois de 1945, esta expansão a Rússia continua a fazê-la de modo incessante. E nós temos então uma outra etapa, uma longa etapa em que o comunismo, por duas vias vai tomando conta do mundo: Uma é a via militar e da violência; outra é a vida da guerra psicológica revolucionária. Nós analisaremos daqui a pouco estas duas vias, e nós veremos como através disso a Rússia tem hoje um poder no mundo, que é feito em grande parte, dos meios de ação que ela acumulou. Mas, é feito em grande parte, desta ação misteriosa por onde ela não se tornou tão forte quanto o Ocidente, mas ela tornou o Ocidente mais fraco do que ela.

Nós analisaremos os mistérios dessa ação, porque é nessa ação que se insere exatamente a atividade da TFP.

O fato concreto é que nesse período de expansão, nós vemos grandes nações caírem também sob o regime comunista, depois das conquistas da 2ª Guerra Mundial. A China inteira fica comunista; mais tarde o Vietnã, o Cambodge, outras nações ainda, parte da Coréia, etc., ficam comunistas também. Na Ásia, o Iraque, outras nações, caem sob o poder do comunismo; parte da África cai sob o poder do comunismo; e nesta investida enorme, nós temos então uma dualidade de situações, nós temos que, diante de si, para crescer, a Rússia agora tem que atacar as nações outrora católicas, apostólicas, romanas. As nações que descendem de católicos, apostólicos romanos medievais.

Ou estas nações são ainda católicas  –  nosso Brasil é uma delas, não era católico na Idade Média, não existia, mas Portugal era católico, e o Brasil descende dos católicos da Idade Média toda a América do Sul está nesse caso; ou de nações que apostataram, como por exemplo, grande parte da Alemanha, Inglaterra, etc. E os descendentes destas nações, também na América do Norte.

Então nós temos que a Europa descendente dos medievais, e a América, descendente dos descendentes dos medievais, são o que resta de independente em relação ao comunismo, são a parte mais importante do mundo que se trata agora para a Rússia de destruir. Com dois enclaves já conquistados, e quão dolorosos, quão infeccionados, e quão expressivos: Cuba e Nicarágua. Grenada, o era também. Mas, uma ação oportuna dos Estados Unidos, expulsou de lá o dominador russo, e acabou-se!

Então, nós ficamos em presença de uma ação comunista que está colocada diante de um mundo mais poderoso do que o comunismo, porque tudo isso que o comunismo conquistou é pouco no terreno militar, se  nós considerarmos as forças somadas da Europa e da América Latina, mas sobretudo dos Estados Unidos, o poderio econômico dos Estados Unidos, industrial dos Estados Unidos, etc.; o conjunto, isto vale muito mais do que a Rússia pode mobilizar. A Rússia precisa conquistar isto. E para conquistar isto ela fica colocada na necessidade de resolver o seguinte problema:

As nações que ela vai atacar são tão fracas que ela possa vencê-las numa guerra- guerra? Certamente não. A fraca é ela. Ela vive de subsídios que loucamente o Ocidente lhe manda. Eu tenho um amigo polonês que esteve na Polônia, e ouviu esta queixa  de mais de um polonês com quem ele conversou na rua: “Por que vocês nos mandam subsídios? Vocês deveriam nos negar os subsídios.” Ele disse: “Mas vocês morreriam de fome!”  “Morrer de fome, não tem importância! O que tem importância é não viver sob o comunismo!”

Bem, então, de outro lado, há a possibilidade de uma guerra atômica. A Rússia pode produzir nos Estados Unidos, devastações enormes! Estas devastações deixarão inutilizado o Ocidente. Eu não hesito em afirmar que quantitativamente falando, as devastações produzidas pela Rússia no Ocidente, são maiores do que aquelas que o Ocidente pode produzir na Rússia. Pela razão muito simples de que há muito mais o que devastar entre nós do que entre eles! O que é devastar a Sibéria? Jogar uma bomba atômica nas geleiras da Sibéria, o que é isso?

Agora, jogar uma bomba atômica em qualquer ponto dos Estados Unidos, que coisa pode representar; em qualquer ponto da Europa, em alguns pontos chaves da América Latina, quanto isto pode representar? Se nós tomarmos em consideração que a cidade do México, e a cidade de São Paulo, são das mais populosas do mundo hoje em dia, o que uma coisa dessas pode representar?

Mas, a questão é que também a Rússia pode perder muito.  E se ela perder muito, perde tudo; e nós se perdermos muito, não perdemos tudo!

Bem, então, para a Rússia o verdadeiro problema não é esse: se vale a pena atacar ou não. Mas, é um problema prévio: eles não teriam um meio de conquistar o Ocidente sem guerra, de maneira a lucrar para si, poupar todas as riquezas que eles tem em grande parte com subsídios norte-americanos?

Mas, de outro lado poupar também todo o Ocidente que eles podem devorar? Vale a pena para uma fera que a ovelha, que ela quer comer, seja destruída por um bombardeio? Não é melhor que a ovelha fique intacta, que ela hipnotize a ovelha e que a coma? Não pensem numa fera, mas pensem numa cobra. Imagem uma cobra que tivesse a alternativa: ou hipnotiza o passarinho e o atrai para dentro de sua boca, ou vem o inimigo e mata o passarinho... Em que ela lucra que se mate o passarinho? Mas comer o passarinho... ohhh! Vamos começar a hipnose! Esse é o verdadeiro caminho!

Qual é a hipnose que Rússia quer fazer? Como é que se joga a hipnose e qual é o remédio contra essa hipnose? Essa hipnose é precisamente a guerra psicológica revolucionária.

Antes de entrar na análise dessa guerra psicológica revolucionária, como ela de fato se deu, que representa uma parte um pouco, eu digo com certo respeito humano, um pouco mais longa dessa exposição, antes de começar esta parte eu lembro entretanto tudo quanto Nossa  Senhora fez durante este tempo para chamar o mundo e para evitar que o mundo fique na situação em que está.

Houve uma expansão mundial da devoção à Fátima. Aquilo que começou numa cova, com uma revelação a 3 crianças, tão contestadas e satirizadas, pela própria parte ímpia da imprensa de Portugal; aquilo se espalhou pelo mundo inteiro. E hoje um santuário enorme, monumental se ergue em Fátima. E peregrinações de centenas e centenas de milhares de pessoas vêm, da Europa inteira, e de todos os quadrantes do mundo, para rezar na Cova da Iria! Para rezar junto aos corpos de Francisco e de Jacinta, que estão sepultados hoje em dia no Santuário de Nossa Senhora de Fátima, e para pedir graças a Nossa  Senhora de Fátima.

Vem multidões, e seja dito isto em honra do Portugal, nossa mãe pátria, vem multidões de portugueses, às vezes homens de idade,  senhoras de idade, a pé, dos últimos rincões de Portugal, à pé, e às vezes chegam com os pés sangrando, mas eles querem levar a homenagem de seu amor a Nossa  Senhora de Fátima!

Por delegação do Papa, o Cardeal Aloisi Masella, coroou Nossa Senhora de Fátima com uma coroa de ouro! Que alta honraria, que consagração. Por outro lado, a visita de altos hierarcas à Fátima, onde celebram a missa, é incessante, é constante. Cardeais, arcebispos, bispos etc., vão sempre lá. As multidões, enfim, todo mundo vai lá. Mas, como isto ainda é pouco em relação ao que mais Nossa Senhora tem feito.

Nossa Senhora iniciou o circuito glorioso das imagens peregrinas. As imagens que são fac-símiles de uma imagem mater de Fátima, e que percorre o mundo inteiro, que já estiveram até atrás da Cortina de Ferro, embora muito passageiramente, para levar as bênçãos de Nossa Senhora. E que, por esta forma, vão espalhando amor a Nossa Senhora de Fátima, e vão espalhando o conhecimento da mensagem de Fátima.

Com que saudades e com que esperança eu digo: nós tivemos entre nós, e os  senhores viram durante meses e meses, a convivência augusta de uma destas imagens, em que Nossa  Senhora não fala, é uma imagem de madeira, mas que encontra meios de mudar tanto de fisionomia que é uma coisa impressionante a coleção de fotografias que a TFP tem, da imagem com as fisionomias modificadas! Fisionomias que sorriem, que acolhem, que olham com ansiedade perplexa para o futuro, que imploram a Deus, que fazem tudo quanto o coração materno faria à cabeceira de um filho gravemente doente. Isto faz Nossa Senhora para o mundo contemporâneo, através das várias imagens.

Durante este tempo, e nós passamos agora então, para a questão da hipnose soviética sobre o mundo. Durante este tempo começa então a se desenrolar um outro conjunto de fatos, durante todo este tempo que vai do fim da 2ª Guerra Mundial até agora, começa a se desenrolar um outro conjunto de fatos. E este conjunto de fatos diz respeito à tal hipnose. Como conceber esta hipnose?

Houve um grande teórico da guerra, alemão, do século XVIII, mas ninguém escreveu melhor, nem tão bem como ele, nem com tanta profundidade quanto ele, sobre a guerra  –  o livro dele é a grande pilastra de todos os que estudam a teoria da guerra, ele escreveu a seguinte coisa: “Para vencer, não é necessário sempre ter armas e ganhar uma batalha vigorosa. Para vencer, basta muitas vezes tirar ao adversário a vontade de guerrear.”

O que foi feito foi um longo sistema de preparar o Ocidente para perder a vontade de guerrear contra o comunismo. Enquanto o comunismo, nunca perdeu a vontade de guerrear contra o Ocidente. A partir desse momento em que os  senhores tem dois adversários: um é o pote de ferro, que não se incomoda com a colisão; e outro é o pote de barro que estreme com a colisão, o resultado não tem dúvida nenhuma: racha o que é de barro, e fica o que é de ferro. O que, vendo, muita gente preferirá não combater.

Então, a preparação da grande entrega do mundo ao comunismo, sem combate, esta preparação fez-se enquanto o comunismo por modos violentos ia se assenhoreando do mundo, e enquanto, por outro lado, a imagem de Fátima ia também desdobrando a luz de sua mensagem pelo mundo; o comunismo ia trabalhando o mundo, no fundo, nas entranhas, ia trabalhando o mundo em duas pistas:

A sociedade temporal, quer dizer, os Estados e as nações; segundo lugar, as sociedades espirituais, por excelência e por antonomásia, a Santa Igreja Católica Apostólica Romana. Em segundo lugar, também, as outras Igrejas. O comunismo penetrou durante este tempo nas religiões.

Tirando à sociedade temporal o medo de combater; e tirando à sociedade espiritual a vontade de combater. E, por essa forma, preparando o mundo, trêmulo e submisso, um mundo tal que, no ano passado ainda todo o Ocidente se pôs diante dessa pergunta, pergunta que os séculos futuros não compreenderão: o que é melhor; “morrer, a ficar vermelho; ou ficar vermelho e não morrer? Red or dad?” 

A grande alternativa... ou seja: é melhor nós nos entregarmos ao comunismo, e salvarmos nossas vidas evitando o bombardeiro atômico? Ou é melhor todos nós morrermos e evitarmos, por essa forma, de ficarmos comunistas? Alternativa esta que o futuro não compreenderá. O futuro não compreenderá como é que os homens contemporâneos não compreenderam a verdadeira saída para esta alternativa. E a saída é uma saída que é pungente... Não é absolutamente menos pungente –  e pelas suas proporções mundiais é mais dramática –  do que a resposta de Nossa Senhora a Coromoto.

Aí está a Mensagem de Fátima: “Igreja Católica, amada minha, converte-te  –  se se pode dizer isto da Santa Igreja –  faz a consagração de acordo com o que foi mandado! Consagre-me o Papa, consagre-me todos os bispos em união com o Papa, o mundo no mesmo dia, numa mesma solenidade. Os homens, comecem a praticar as virtudes cristãs, os bons costumes; retroceder, portanto, nas modas imorais, nos costumes imorais, nas perversões de toda ordem, em que estão imersos, e Eu converterei a Rússia! Eu –  diz Nossa  Senhora  –  Eu me encarrego desta obra maravilhosa; Eu faço reinar a paz no foco da guerra, trago a Rússia para a Santa Igreja Católica, Apostólica Romana, que a tantos séculos ela abandonou. E num mundo pacificado, reinarei Eu com meu coração de Mãe!”

A esta altura, a alternativa primeira não é “sim ou não; morrer ou ficar comunista”, a alternativa primeira é: obedecer a Mensagem de Fátima, ou não! Mas, também, se Nossa Senhora aparece e fala ao mundo, e indica o caminho, e o mundo recusa esse caminho,  o que é que há senão descaminho? O resto não interessa, as alternativas que se desdobram a partir de uma recusa, interessam pouco. O que interessa é não recusar, é seguir a Mensagem de Fátima!

A grande alternativa é: católico ou não católico! Bom católico, ou mau católico, esta é a alternativa. Os homens fecham os ouvidos a esta alternativa, e vão resolver o seguinte problema: Uma vez que nós seguimos o caminho que não é o da salvação, já não digo das almas, mas das nações da terra, o que lhes resta fazer? Uma guerra tão devastadora que restem poucos homens na terra, mas esses homens ao menos sejam homens independentes, livres, vivendo na Civilização Cristã? Ou a escravidão comunista por toda parte?

Ainda aí, se as circunstâncias nos reduzirem a optar, optaríamos sob protesto, porque a opção não é essa; mas tendo que optar, como não! Então, reduzidos a escravos daqueles que seguem o contrário do que Cristo mandou; ou irmos para o céu, morrermos em quantidade, mas irmos para o céu, ohhh! Melhor morto do que vermelho!

Ainda que o mundo não siga a Mensagem de Fátima, Nossa Senhora continua mãe do mundo. O filho pródigo pode abandonar a casa paterna, o Pai não abandona o filho pródigo. Se o pai não abandona, a mãe que representa por assim dizer a quintessência do carinho do pai, a mãe abandonará seu filho?  Como é excogitável isso? Logo a Mãe de todas as mães, a Mãe de misericórdia, a Mãe de Jesus Cristo, abandonar os filhos que Jesus Cristo comprou na Cruz com seu sangue infinitamente preciso? É totalmente impossível!

Seja como for, o mundo não está ouvindo a mensagem de Fátima, até agora, senão em pequena proporção. E em comparação com a magnitude dos acontecimentos históricos que eu tenho que narrar, e que ainda rapidamente vou narrar,  tudo o que diz respeito a Fátima, parece uma brisa delicada, leve, que quase não se percebe no meio de um tufão medonho; uma brisa de perfumes que corta misteriosamente o tufão; que vai de cá para lá, mas que não se percebe quase por um bom aroma. Por quê? Porque ela aparece débil em relação à tempestade desencadeada. A tempestade da força, a tempestade da violência revolucionária já vimos. Como é esta tempestade que nós poderíamos comparar com um chuvisco de anestésico que cai sobre o mundo inteiro?

Ela começou assim. Começou com o fim da 2ª Guerra Mundial; 1945, e nós podemos acompanhá-la até 1958; porque ela continua ainda, e continua mais forte, mais insistente do que nunca. Como é esta tempestade? Ela é assim.

Em primeiro lugar, 1º período das relações entre a Rússia comunista e o Ocidente. A Rússia penetra nas nações que ela acaba de conquistar, e estabelece ali à força um regime terrível. Ela quebra essas nações. Os senhores se lembram ou leram em livros, muitos não se lembram da “Primavera de Praga”, a invasão da Checoslováquia pelas tropas russas, e o estabelecimento à força do regime comunista lá dentro. Os senhores lembram da invasão da Hungria pelas tropas comunistas, e a trituração da Hungria. Isso se deu em todas as nações que a Rússia conquistou. E ela reduziu essas nações à imensa senzala a que ela já reduziria o antigo império dos czares.

Ao lado disso, ela traça a Cortina de Ferro. A famosa, a trágica Cortina de Ferro, que cortou a Alemanha pela metade e que, construída em 1961, e que deu origem a tantos dramas que nós conhecemos.

A Rússia da prisão da Lubianka; a Rússia dos desterros na Sibéria, a Rússia dos fuzilamentos, se estendeu até esta parte da Europa, que eu acabo de falar. Liberdade de cultos, quase completamente extinta; casamento, reduzido a um mero registro; todos os bens confiscados, a todos os particulares, e pertencentes ao Estado; relações diplomatas com o Ocidente, frias... A guerra acabara, mas não houvera paz. O tratado de paz só foi firmado recentemente, em Helsinki. Antes disso, havia apenas um armistício; as relações da Rússia com o Ocidente, frias. Comércio, pouco.  Relações culturais, mínimas. Viagens de um lado para outro da Cortina, por curiosos, que queriam conhecer o outro lado; por gente do lado de cá que queria receber gente vinda da zona da noite para vir ver um pouco a zona da luz, que é o Ocidente, isto absolutamente era escasso, era raro, quase não se dava.

Era, portanto, aquilo que se chamou o primeiro período:  guerra fria!

Receava-se que de um momento para outro a Rússia invadisse o Ocidente. Eu me lembro que em 1952, se não me engano, ou 50, não tenho boa memória, numa das viagens que eu fiz à Alemanha, eu fui convidado por um dono de castelo na Alemanha, a visitar a família dele. E ele fez muito empenho em que eu pousasse no castelo,   e só no dia seguinte saísse, para conhecer bem a família dele.

E eu, com essa despreocupação própria ao ocidental, e sobretudo própria ao brasileiro, eu não fui verificar bem no mapa onde é que passava a Cortina de Ferro. Eu cheguei a Munich, o tal castelo ficava perto de Munich, eu cheguei a Munich e telefonei para a  senhora do castelo, era uma princesa, avisando que eu estava lá. O marido dela, eu já sabia disso, estava em viagens de negócios, fora, muito longe, estava na Ásia, não sei onde.

Bem, mas ele tinha feito questão que eu conhecesse os familiares dele. E ela muito amavelmente disse que estava avisada de minha vinda etc., me convidou para me alojar no castelo dela etc., etc. Eu fui, jantamos, conversa muito agradável, ela uma princesa encantadora, na conversa, nas maneiras; a mãe muito inteligente, sabendo conversar notavelmente, a conversa foi muito bem. Depois ainda fomos à sala de conversa, ainda conversamos bastante.

Quando chegou em determinada hora, chegou a hora de dormir. E eu perguntei para ela, para onde é que se ia, para o lugar de dormir. Pensei que ela indicasse um lacaio, um empregado qualquer, para me acompanhar até meu quarto. Mas, ela, com aquela despretensão amável, que a caracterizava, me disse: “Não, eu vou acompanhá-lo!”

Disse: “Mas, princesa, por favor, me indique, me indique num pedaço de papel, que eu vou até lá!...”

“Eu vou, porque eu quero mostrar ao senhor, o seu quarto”. Eu fui, agradeci, e fomos até o meu quarto. Era razoavelmente longe. Ela passou na minha frente e abriu a porta do quarto, eu vi um quarto muito bem mobilizado, bonito etc., com uma grande cama de penas, destas enormes, onde a pessoa se afunda sucessivamente, várias vezes...

E ela me disse: “Professor, aí está seu quarto, eu desejo ao senhor uma boa-noite.” - “Princesa, muito obrigado, também desejo a si e a todos os seus uma boa noite...” - Ela disse: “Queria lhe fazer um aviso. O senhor está vendo por essa janela  –  me levou para ver a janela  –  aquele pátio embaixo tem um caminhão...”  –  Ah, pois não! Pensei: o que tenho eu que ver com esse caminhão... que vai levar amanhã qualquer espécie de mercadoria produzida por essa propriedade rural, vai levar vender em Munich, está acabado. Eu disse: pois não!

Ela disse: “Aqui tem uma escada – havia uma escada, na melhor tradição de castelos, assim em caracol ela disse:  –  tem uma escada. Se o senhor ouvir barulho durante a noite, é sinal de que os russos estão chegando... e que a 3ª Guerra Mundial começou! Nesse caso nós estamos equipados para sair de caminhão até a fronteira da Suíça, que é perto. E o senhor está convidado em ir de caminhão conosco!...”

Eu tive a coragem de sorrir... Porque ela estava tão habituada ao perigo, que ela disse isso com naturalidade. Mas, para nós, a possibilidade de atrasar um pouco na hora da descida, e um comunista nos pegar..., é incalculável, é incompreensível, não é?

Ela fechou a porta e eu sentei numa cadeira... “Puxa, onde eu vim cair!...” Tive um sério debate sobre se valeria a pena eu me vestir, ou dormir vestido... interior... Optei pela primeira hipótese, para experimentar bem à vontade aquela cama de pena, que estava muito atraente. Deitei-me. Confesso que por melhor que tivesse a cama, custei dormir. Acordei várias vezes. De manhã, nos primeiros clarões da aurora, eu estava de pé, e desci pela escada para junto do caminhão.

Vi um dos panoramas mais belos que eu vi em minha vida: O lago de Starberg. Lindo, azulado prateado... Ele era azulado. Quando batiam ondas, as dobras eram prateadas... Em certo momento eu vejo uma borboleta, entre azulada e prateada, parecia um pouco da água que se tinha feito borboleta e que voava sobre a água!

Os senhores crerão que nada disso me reteve? Numa hora decente, depois de ter tomado café etc. “Princesa, eu tenho negócios em Munich! Até logo, muito obrigado, foi um encanto! Eu nunca me esquecerei dessas horas aqui!...”

Era esse o suspense da guerra, em que viviam todos os povos do Ocidente, na Europa. E com isso, nós temos então propriamente uma guerra fria. Guerra porque não havia paz; guerra porque não havia mais o calor das bombas; guerra por causa da frieza das relações; guerra por causa do perigo que de um momento para outro podia cair sobre as pessoas.

Mas, acontece – e está na ordem natural das coisas,  –  que essa guerra que representava um estado de espírito, precisava ter um  homem que o simbolizasse, e não havia  homem para melhor simbolizar este estado de espírito do que Stalin. Stalin, o sombrio, sucessor de Lenin. Com uma cara carrancuda, feroz, sinistra.  Lenin era sinistro e macio; Stalin era sinistro e brutal. E um homem malfazejo, exercendo seu poder sobre toda a terra. Taciturno, feroz, e além do mais, misterioso. 

Mas, acontece que durante esse tempo, precisamente por causa disso, no Ocidente ergueu-se a maior onda anticomunista que houve de então para cá, foi o comunismo de depois da guerra. Diante desta Rússia, que estava como um urso branco malfazejo, para se atirar sobre o mundo, diante desta Rússia, a reação. Na reação, todo mundo que representava o Ocidente, anticomunista. E a preocupação pelo comunismo empolgou o Ocidente: como fazer, como combater. Foi o zênite do anticomunismo.

Modestamente, fez parte deste anticomunismo –  com muita expressão dentro do meio católico brasileiro, mas o Brasil era uma nação bem menor então, tudo era menor; então modestamente fez parte deste anticomunismo –  o “Legionário”, antecessor do “Catolicismo”; o “Legionário”  no qual trabalhavam todos aqueles que constituíam o grupo mais velho dos que fundariam, em 1960, a TFP. Então, isto está se dando em 1945, com vista já para 1960.

E o anticomunismo não era aquele anticomunismo agressivo e feroz do tempo do Eixo, do tempo de Hitler e de Stalin. Era um anticomunismo a seu modo. Que não queria agredir, mas que sobretudo não queria ser agredido. Não preparava a conquista da Rússia, mas preparava a defesa do Ocidente, custasse o que custasse.

O anticomunista o que era? Não era qualquer homem contrário ao comunismo. Mas, eram aqueles dentre os homens do Ocidente, todos ou quase todos contrários ao comunismo, que se entregavam a esta tarefa especial, de impedir que a noção do perigo comunista amolecesse no Ocidente. E que estavam sempre chamando atenção para este perigo e preparando o estado de espírito moral de reação contra um ataque comunista. Era, portanto, um anticomunismo preventivo. Não era um anticomunismo repressivo.

O símbolo desse anticomunismo preventivo, o homem que alcançou nomeada no mundo inteiro, e que foi o modelo para inúmeras versões dele mesmo, em vários países, foi o Senador McCarthy. Ele era um democrata, senador norte-americano, ele denunciou os empreendimentos do comunismo no mundo inteiro; ele denunciou a  quinta-coluna; ele denunciou os inocentes-úteis; ele denunciou todos os artifícios que a Rússia utiliza para penetrar no ocidente, nos próprios Estados Unidos  e ele deu todo um instrumental da análise da ação comunista bastante interessante para o anticomunismo no mundo inteiro.

Mas, aconteceu algo sobre o que eu acredito, eu que li pouco sobre isto, acredito que a história ainda tenha algo a dizer: este homem tão temível para o comunismo, foi de repente envolvido num drama. E o drama foi o seguinte: opositores dele no Senado norte-americano, analisando discursos e as denúncias dele, encontraram afirmações falsas; encontraram a citação de testemunhas inidôneas. E com isso fizeram um estrondo publicitário contra ele, e esse estrondo [fez com que ele] fosse condenado pelo Senado norte-americano, como usando meios de manobras anticomunistas indignos.

Isto representou uma tal baixa de prestígio dele, que ele se retirou da vida política. E passou, o infeliz, a se entregar à bebedeira. Em pouco tempo ele estava morrendo de cirrose do fígado.  Verdadeiro drama que representou para o anticomunismo um recuo proporcional ao avanço que McCarthy tinha representado. Essa derrocada do porta-bandeira do anticomunismo, representou o primeiro sinal de deserção e de defecção do anticomunismo por toda a parte.

Mas, também houve um outro passo que concorreu para isto: Foi a morte de Stalin, e à ascensão no poder na Rússia, de um ditador completamente diferente. Este ditador era Kruschev. Kruschev que eu não hesito em qualificar de palhaço, incumbido de outra representação aos olhos do mundo. Nós devemos dizer uma palavra a respeito desta representação.

À medida que este perigo de guerra foi durando, sem se realizar, foi se generalizando no Ocidente a noção de que a guerra provavelmente não viria; e que, portanto, era possível ter com o comunismo, entendimentos; era possível ter com o comunismo um intercâmbio sem ficar comunista, e sem permitir a propaganda comunista. Mas, o intercâmbio que ajudasse um pouco a eles, para evitar que no extremo da fome, eles atacassem o Ocidente.

Uma propaganda que fingisse dar a eles um pouco de entrada no Ocidente, com a intenção de pacificá-los. Um pouco como quem, para não ser agredido por uma fera, lhe dá carne que comprou no açougue. Para ver se a fera perde o seu tempo comendo aquela carne, e não come a carne de quem lhe comprou aquele pedaço de que ela vai se nutrir.

Bem, começa aí uma outra teoria a respeito das relações com o comunismo, uma outra teoria sobre a psicologia do comunismo. Começa a se generalizar pela terra um certo zum-zum de que os comunistas do tempo de Kruschev já não eram os do tempo de Stalin. Que eles estavam mais brandos, mais macios, que eles viam a  boa vontade do Ocidente; e que se o Ocidente tivesse muito mais boa vontade com eles, eles desistiriam de qualquer ataque. A prevenção da guerra pelo presente; a prevenção da guerra pelo sorriso; a prevenção da guerra pela concessão, ainda que concessão um pouco imprudente...

Segundo a mentalidade dessa gente, desse período, [a prevenção d]esta guerra representava uma vantagem, e uma vantagem considerável. Começou a dar-se isso no ano de 1953 quando Kruschev subiu ao poder. Qual era a vantagem?

A bomba atômica, espantalho da humanidade, ali estava! Não valia a pena, em vez de um bombardeiro atômico, correr um pouco de risco? Um risco que em última análise poderia ser obviado? Então, vamos correr o risco, e vamos apertar a mão dos comunistas; vamos mudar de atitude! Eles mudaram! Olhe Kruschev como é engraçado, como é brincalhão! Ele encontrava jornalistas do Ocidente, contava piadas. Essas piadas eram contadas para todo o Ocidente, todo mundo dava risada!

Num salão de diplomatas onde ele entrou uma vez, diplomatas ocidentais, ele para fazer brincadeira, ele entrou deitado no chão, caminhando com os cotovelos. E todo mundo estalou de dar risada! Esse é o homem cheio de bonomia! O tempo de Stalin acabou! Nós vamos passar da guerra fria, para a coexistência; e a coexistência pacífica! A cordialidade! Nós vamos deixar desaparecer o anticomunismo, para ter uma política de bom relacionamento com o comunismo, em que o combate ao comunismo vai passando para o segundo plano.

Essa posição já não mais anticomunista, foi facilitada por todos os meios, ou quase todos os meios de comunicação social do Ocidente. E os anticomunistas ainda ficaram mais isolados. Porque eles pareciam ao mesmo tempo necessários, para evitar toda entrega, mas meio supérfluos se eles tomassem muita influência. Era preciso que eles existissem, mas existissem pouco. Que eles estivessem presentes no jogo, mas como uma peça colateral. Era a véspera do momento em que se tentaria tirá-los do tabuleiro de xadrez; véspera do momento em que se quereria acabar com o anticomunismo!

Bom, qual foi a recíproca disso? Durante este tempo, as três potências grandes do mundo eram o Vaticano, Washington –  a Casa Branca,  –  e o Kremlin. Quais as relações deles, dos russos com a casa Branca, quais as relações com o Vaticano?

Com a Casa Branca, a Rússia começou a pedir créditos, a importar mercadorias; começou a permitir que entrassem diplomatas, que entrassem caravanas para fazer visitas à Rússia. Ela começou a permitir uma aparência de liberdade religiosa lá dentro, e todo mundo dizia: “Isto vai longe, confiemos!” Estão longe os dias do anticomunismo militante, é a moda de ontem, não é mais a moda de hoje.

Com o Vaticano? Com o Vaticano aconteceu que  Pio XI tomara medidas anticomunistas radicais! Ele declarara formalmente que o comunismo era intrinsecamente perverso, e que não era possível uma colaboração com o comunismo. Pio XII, poucos anos entes de morrer, baixou um decreto excomungando –  um decreto do Santo Ofício  –  excomungando todos os comunistas; e ferindo com penas canônicas todo católico que colaborasse com os comunistas. De maneira que a colaboração com o comunismo ficou proibida! Do lado da Igreja... não a muralha de ferro, mas a muralha da benção defendia a Igreja contra as infiltrações comunistas.

Morreu Pio XII e subiu ao trono, João XXIII. João XXIII subiu no momento em que, precisamente, Kruschev estava desenvolvendo esta campanha. João XXIII subiu em 1958. E o degelo com o comunismo ainda se acentuou mais, porque ele tomou algumas atitudes diplomáticas, simpáticas, gentis, sem se comprometer muito, como por exemplo, recebendo uma filha de Kruschev junto com o genro, que era um jornalista comunista, etc., etc. Como quem quer alisar um pouco a fera, sem permitir que ela entre dentro da casa.

Em 1963, morre João XXIII e sobe ao trono Paulo VI. E Paulo VI iniciou decididamente a política de distensão com a Rússia. Aquilo que o Osservatore Romano  –  o jornal da Santa Sé  –  e todos os órgãos do Vaticano chamavam a “ostpolitik vaticana”, aplicação, pelo Vaticano, da política de boa vontade. Que o governo alemão ocidental iniciara com o comunismo. E mais ou menos todas as nações do Ocidente, começaram essa détente com o comunismo.

Muito favorável a esse descongelamento com o comunismo, muito perturbadora para os anticomunistas, foi por exemplo a encíclica de Paulo VI, “Octogésima advenians”, em que ele, a respeito do socialismo, que é a câmara de espera do comunismo, deixa mais ou menos franco que o católico pode ou não pode ser socialista, conforme se entenda a palavra socialista.

É o brouhaha, quando antes Pio XI declarara que socialismo e catolicismo eram palavras que urravam de se encontrar juntas. Expressões textuais dele.

Essa política do Vaticano, foi muito prudente, muito cauta, se nós a compararmos com a política da Casa Branca. Nixon, em 1971 visitou a China. Inaugurou assim a vida cordial, franca, despreocupada com os regimes comunistas. Depois, ele com isso deu a entender a todos os governos do Ocidente, que a hora era introduzir a China no convívio das nações. Mais tarde ele visitou a Rússia. E daí, da coexistência pacífica, nasceu uma outra ideia: a ideia da convergência.

Quem sabe se um belo dia não é possível um regime em que comunistas e não comunistas convivam; num regime que tem algum tanto de comunismo, e algum tanto não, digo, de não comunismo; um regime moderado, um regime que evite a bomba atômica e a guerra mundial.

Foi nesse período que a infiltração comunista nos meios católicos mais se estendeu. E foi nesse período que, dentro da perturbação geral, a TFP resolveu colocar, no que lhe diz respeito, e no seu âmbito de ação, as cartas sobre a mesa, publicando um manifesto, sujeito à apreciação de todas as autoridades eclesiásticas, e de todas as autoridades civis. Esse manifesto é o nosso manifesto de Resistência, no qual foi declarado formalmente que à vista da infiltração...

Nós fizemos antes, uma campanha de assinaturas de católicos, pedindo ao Papa Paulo VI interferência no Brasil para conter a infiltração comunista nos meios católicos. Um milhão e tanto mil brasileiros assinaram este abaixo-assinado. Foi entregue em Roma, não recebemos resposta! Nós vimos bem que essa onda continuaria, e então fizemos uma declaração chamada “Declaração de Resistência”.

Uma longa declaração ocupando uma página inteira da FSP, na qual nós dizíamos que nós reconhecíamos em toda a extensão, a autoridade... (defeito gravação) em matéria de Fé e costumes. Mas que esta infalibilidade que existe em matéria de Fé e costumes, Nosso Senhor Jesus Cristo não a deu ao Papa em matéria política. Um Papa pode enganar-se em matéria política. E os historiadores da Igreja, Pastor por exemplo, de quem Bento XV disse que era um historiador como que oficial da Igreja, noticiam vários lances da história da Igreja em que este ou aquele Papa, bem intencionado, entretanto deu uma jogada política que não era do momento. Fez uma coisa que não era  o caso de fazer. E disso está a história cheia.

Então, nós mostrávamos a necessidade de um anticomunismo católico. Mantínhamos, portanto, bem alto o nosso estandarte. E dizíamos o seguinte: que sustentávamos que era preciso resistir ao comunismo, custasse o que custasse, com um anticomunismo ex professo! Que não fosse apenas um entendimento sorridente, mas fosse um ataque aos erros, fosse uma contradição aos erros, e tínhamos essa frase no manifesto: “Santo Padre, nossa vida é vossa, nosso coração é vosso Pedi-nos tudo que nós faremos. Só não nos pedis uma coisa: que nós cruzemos o braço diante do lobo que avança!”

É uma resistência provocada pelo amor; pelo amor, pelo amor ao Papado. Eu ia por no texto “que avança contra Vós”. Era o fundo do meu pensamento. Pensei que fosse mais respeitoso não dize-lo. Mas, resistimos para defendê-lo. Nunca para atacar a sagrada autoridade dele!

Esta declaração foi publicada em 74, e foi transcrita em vários jornais – por brevidade eu não os menciono aqui – não só do Brasil, mas de muitos outros países do mundo. Foi mandando ao Vaticano, com a devida reverência. Ninguém encontrou nada a objetar à perfeita ortodoxia dessa posição. E a TFP continuou o seu caminho!

Depois do abaixo-assinado contra a infiltração comunista na Igreja, que foi em 1969, depois dessa Declaração, nós continuamos na luta, mas o adversário lutava também. E o adversário lutava até por meio de slogans. Um dos slogans que alcançou mais êxito no mundo, foi o slogan lançado pelo presidente da Argentina, Gal. Lanusse. Ele dizia que tinha chegado a hora da “quebra das barreiras ideológicas”. Quer dizer, havia barreiras ideológicas entre nós e a Rússia, era preciso acabar com elas.

Ora, a réplica da TFP era precisamente o oposto: é preciso tê-las mais altas do que nunca!

Dentro desta história muito resumida – tão longa e entretanto muito resumida – dentro desta história, é preciso notar portanto dois movimentos contraditórios: o anticomunismo vai se tornando cada vez mais raro; as organizações anticomunistas vão fenecendo, perdendo eco, perdendo importância. Existem ainda algumas organizações anticomunistas de grande valor. Existe, por exemplo nos Estados Unidos, a John Birth Society, com a qual não estamos de acordo em tudo. Basta dizer que ela é protestante; o John Birty era um pastor protestante. Mas, ela presta muitos serviços.

Existe, sobretudo, nos Estados Unidos, a chamada Nova Direita, na qual temos muitos bons amigos, e que é uma organização, esta de grande eficácia, e de grande importância. Mas, não é toda ela de inspiração católica, ela tem promiscuamente católicos e protestantes; e não creio mesmo que fosse possível fazer uma coisa dessa importância nos Estados Unidos só com católicos. E de outro lado, sobretudo, ela não é uma organização internacional. Ela tem prestígio no mundo inteiro, mas os núcleos dela, numerosos, florescentes, existem só nos Estados Unidos.

Agora, enquanto por esta forma fenecia o anticomunismo; enquanto por esta forma soprava, entretanto, a mensagem especificamente anticomunista de Nossa Senhora de Fátima, com os ouvidos voltados para essa mensagem, a TFP florescia; florescia e expandia lentamente por toda a terra. E apresenta este quadro de 15 TFPs existentes no mundo, 15 TFPs que levantam alto a bandeira do anticomunismo, pacífico! Nós não queremos provocar a guerra, não queremos provocar revoluções, não queremos atentados, não queremos violência.

Achamos até que a violência é falta de habilidade, e quem recorre à violência em certas situações, não em todas, mas em certas situações históricas - a presente situação é marcadamente uma dessas - recorre à violência quem não tem jeito. Como quando muitas vezes recorre ao murro quem não sabe argumentar. Porque se soubesse argumentar não recorria ao murro. Dava um argumento, pontudo como um estilete, que reduz ao silêncio o adversário!

Enquanto o estandarte de expansão, de multiplicação mundial, a TFP se levanta só; enquanto estandarte de inspiração desassombradamente católica, a TFP se levanta só. O comunismo progride e progride cada vez mais. Quando nós temos uma fera que avança, e alguém que de estandarte na mão está no caminho da fera, quem pode espantar que a fera se jogue contra esse alguém?

Foi o que começou a acontecer na Venezuela. E o que eles querem, os comunistas querem que se irradie por toda América do Sul.

Eu passo agora a dizer, em duas palavras apenas, sobre o caso na Venezuela.

Eu tenho falado de estrondo publicitário. O que é um estrondo publicitário? Estrondo já se diz, é um barulho tão forte que abafa todos os outros. Não se houve nenhum outro barulho. O estrondo da cachoeira de Niágara por exemplo; o estrondo de um trovão, em alguma medida abafa todos os barulhos, é preponderante. Estrondo publicitário é uma campanha de meios de publicidade, tão forte, que a bem dizer não se pode ouvir a outra voz. É uma campanha tal em que o adversário, se não tiver mais dinheiro ainda e mais meios de comunicação social, fica abafado...

(defeito gravação)

... os que possuem os grandes capitais, que tem os jornais, as televisões, as rádios, estes podem se articular e fazer um estrondo. E jogar este estrondo contra qualquer um. Estrondos publicitários, a TFP sofreu vários. O histórico dos estrondos publicitários da TFP está sendo escrito. E é possível que esse ano mesmo, os senhores recebam um belo fascículo: A TFP e os estrondos que não a destruíram! E seria indispensável acrescentar: por graça de Nossa Senhora!

O fato é que esses estrondos publicitários contra nós sempre se caracterizaram por uma espécie de deslocamento. A TFP, os senhores veem isto em tudo o que nós publicamos, nós nunca cuidamos da vida privada de ninguém. Nunca atacamos a vida privada de ninguém. Nós cuidamos de doutrina, cuidamos de fenômenos sociais, econômicos e políticos na medida em que interessa a doutrina. Nós não temos partido político, não despertamos, não pleiteamos cargos públicos. Não temos outra ambição senão a implantação do Reino de Maria.

No mais, nós somos modelarmente neutros. E eu volto a dizer, ainda quando pudéssemos prejudicar algum adversário, atacando no terreno pessoal, quando há polêmicas pessoais contra alguém, nós emudecemos, por mais que esse alguém seja nosso inimigo irredutível. Nós lutamos no campo da doutrina.

Bem, acontece que no campo da doutrina, ninguém nos responde! Sempre que nós lançamos uma campanha doutrinária, grande, algum tempo depois, uns meses depois, às vezes um ano depois, vem uma campanha de difamação acusando a TFP dessas, ou daquelas outras coisas, no terreno pessoal. Porque no terreno doutrinário eles não tem o que dizer. É o modo mais vil de responder. Pelo modo de combater se entende quem é o combatente. Uma coisa é o combate do cruzado; outra é a luta do assassino. Nós combatemos como cruzados!

Em 1981 nós lançamos a nossa grande Mensagem das então 13 TFPs, contra o socialismo autogestionário. Esta Mensagem, a quem nenhum PS respondeu, essa Mensagem machucou a fundo... e era normal! Não é possível dizer a alguém: você está errado e supor que ele fique contente, a menos que ele se converta. Se ele não se converteu, fica furioso! Bem, eles não se converteram.

No ano passado, se não me engano, subiu ao poder na Venezuela um partido chamado Ação Democrática, que é de inspiração fortemente socialista. Foi tal a vitória desse partido que elegeu o presidente da República Lusinchi, que elegeu a forte maioria na Câmara dos Deputados e no Senado. O que não era deste partido, era de pequenos blocos socialistas declarados; e entre estes blocos, também o pequeno bloco comunista. E estes socialistas e comunistas, no seu conjunto constituem uma maioria tão pesada na Venezuela, que todos os membros do governo foram tirados do partido dominante: Ação Democrática.

Acontece que pouco depois de subir ao poder, o governo lança um projeto de lei autogestionário. Para estender a certos setores da economia venezuelana precisamente o sistema autogestionário que nós tínhamos condenado.

A TFP-Resistência, a TFP venezuelana, sai à público e refuta isto. Da parte do governo, silêncio. Pouco depois, pouco tempo depois começa o assalto. O assalto qual foi? Como é, em que data esse assalto se deu?

Estava preparada a vinda de um grande número de jovens, a maior parte pertencente à TFP venezuelana, alguns não pertencentes, convidados, estavam se aproximando, para virem ao Brasil de avião para passarem as férias aqui, e tomarem contato com a TFP brasileira.

Estavam jantando num festim, num jantar de despedida, alguns dias antes da partida, estavam jantando os rapazes na sede de Caracas, quando de repente a polícia caraquenha pula dentro de nosso enorme jardim, de lá investe aos pontapés arrombando a sede, entra e surpreende nosso pessoal jantando.

Era o fim do jantar, um jantar despretensioso, natural, simples. Pergunta: o que é isso? “Nós viemos fazer uma investigação completa nessa sede. Porque tivemos a denúncia de tráfico de maconha aqui... tivemos a denúncia de que aqui estão menores de idade proibidos pelos pais de estarem aqui; tivemos a denúncia de que aqui se realizava uma orgia, e por isso queremos revistar tudo!”

Os rapazes disseram sim, pois não, revistem o que quiserem, aqui não está se passando nada. Examinaram tudo, evidentemente não encontraram nada. Verificaram que era um jantar de despedida comum, alegre, entre amigos, que não havia mais nada. Intimação para comparecerem no dia seguinte à polícia, para prestar declarações.

Eles comparecem. Os pais desses rapazes tinham sido avisados também. Quando os rapazes, que dormiam na Sede, entraram na polícia, os pais, a maior parte deles, receberam com uma salva de palmas. Os que tinham filhos menores de idade, nós tínhamos autorização escrita de todos os pais deles, para frequentarem a sede, e os que queriam para vir a São Paulo. A coisa estava a mais legal possível. Fizeram interrogatório, não tiveram nada que declarar. O assunto parecia encerrado, os rapazes passaram para o Brasil.

Quando os rapazes estavam o Brasil, começa um fato inteiramente inesperado. Seis ou sete famílias, cujos pais eram doutrinariamente contrários à TFP, constituíram-se em comissão, e começaram a telefonar para as famílias dos outros pais, espalhando toda espécie de calúnia contra a TFP. Essencialmente que os filhos deles tinham vindo ao Brasil para sofrer lavagem cerebral; que tinham vindo ao Brasil porque a TFP brasileira era uma seita que tinha sequestrado os filhos deles; e que os filhos nunca mais voltariam à Venezuela.

E, naturalmente, a muitos pais, isto causava uma certa insegurança, um certo receio. E quando afinal terminou o mês de permanência no Brasil, os rapazes voltaram normalmente para a Venezuela, nós estávamos ignorando isto. Chegaram à Venezuela, chegaram à casa dos pais, estava tudo normal, a calúnia estava desfeita pelos próprios fatos.

Mas, a comissão continuou a insistir nesses pontos: lavagem cerebral e seita.

O que é que vem a ser lavagem cerebral? Os senhores vão ter uma conferência especial sobre isso. Lavagem cerebral, os senhores verão, é um slogan comunista que se atira contra as organizações que se quer derrubar. Não tem sentido científico nenhum. A TFP elaborou um folheto, com parecer de 15 ou 20 sumidades em matéria de psiquiatria, psicologia, sociologia, com fama mundial, residentes nos Estados Unidos, mostrando que os verdadeiros cientistas não reconhecem, não admitem a existência de lavagem cerebral. É apenas um slogan.

O que é que eles entendem como lavagem cerebral? É uma série de truques, pelos quais se tira da cabeça de uma pessoa, uma ideia, ainda que ela não perceba e não queira, e se mete outra ideia na cabeça. Qual é o sequestro? O rapaz, ou uma moça, seja o que for, colocado num ambiente muito fechado, de onde não pode sair, está praticamente preso, este, ouvindo papagaiar as mesmas coisas, acaba mudando de convicção. E então, esta é a lavagem cerebral, um verdadeiro roubo de mentalidade.

Ora, exatamente o que esses psiquiatras dizem é que o homem não é uma estante, não é um armário, onde se põe e tiram as idéias, como se põe e tiram as gavetas. Que a ideia, a convicção, é uma coisa racional, é uma coisa que toca no fundo o homem, e não é possível, por exemplo, tomar um católico, e por essa forma fazer com que ele perca a Fé. Ele se conserva católico. Se ele quiser resistir, ele se conserva católico. Ele pode até, de medo de pressões, dizer que não é católico, mas no fundo de sua alma ele se conserva católico. Porque ninguém arranca a fé da alma de um homem que crê, e é natural!

O mesmo se dá com as outras convicções profundas. E a história mostra isto. A própria análise dos norte-americanos que teriam sido sujeitos à lavagem cerebral pelos chineses, e que teriam perdido as convicções, esta análise mostra que não é verdade. Eles às vezes silenciaram as suas convicções, para evitar pancadaria. Pode ser que algum outro tenha mentido para evitar de apanhar, tenha mentido dizendo que pensava o que não pensava. Logo que eles foram libertados voltou cada um à posição que tinha antes. Lavagem cerebral não existe.

Se não existe lavagem cerebral, sequestro não tem razão de ser. Para que sequestro? Para que trancar as pessoas, do que é que adianta senão despertar desconfiança, dizer a uma pessoa: Vem cá conversar comigo; senta nesta mesa! Olha, você não pode sair daqui, e agora vou falar com você rijo!” Esse homem não crê nos argumentos dele. Se ele julga que é preciso fazer careta para convencer, ele acha que não tem lógica para convencer. É um impostor, é um mentiroso! Eu vou sair das garras dele logo que possa! É a conclusão!

É o contrário que se faz para persuadir. A gente é cortês, é amável, e dá os seus argumentos. Argumente bem, e confie na graça, persuadirás!

Além da conferência sobre lavagem cerebral, os senhores terão uma conferência sobre seitas. E os senhores verão o que é que é seita. Diz-se que a TFP é seita, tal coisa é seita, tal outra coisa é seita. Ninguém diz que a turma do “Rock in Rio” é seita; e havia uma porção de razões para achar que é seita. O que é uma seita? Nós vamos analisar o sentido jurídico disso, e segundo as maiores autoridades jurídicas mundiais, a palavra seita não tem consistência, ela não quer dizer nada!

Seita, se pode dizer da Igreja Católica, se pode dizer de um estabelecimento militar, pode-se dizer de toda espécie de estabelecimentos, que são seita; e que nada é seita. E por isso, por exemplo quando nos EUA esteve para ser aprovada uma lei anti-seitas, o episcopado da província eclesiástica de New York, pediu que não fosse aprovada, porque era um modo de perseguir a Igreja. E quando se instituiu na França uma comissão de repressão às seitas, o episcopado francês pediu que essa comissão cessasse de atuar; prevenindo que era um modo de perseguir a Igreja Católica e todas as igrejas. Porque não há religião que não possa ser qualificada de seita.

A TFP é uma seita? Se a seita é tudo e ao mesmo tempo é nada, todo mundo é seita, e ninguém é seita!

Bem, em consequência de tudo isso, desenrolou-se, então, um estrondo publicitário fenomenal. Exceto um jornal, “El Universal”, que publicava nossa matéria a peso de ouro, matérias de uma página inteira, que o adversário não respondeu durante todo o estrondo  –  o adversário fazia mentiras vergonhosas, nós desmentíamos a mentira no dia seguinte, eles não respondiam; eles voltavam para as mesmas acusações.

Eu não escapo ainda aqui à tentação de contar aos senhores um caso. O embaixador Gusmán, equatoriano, embaixador junto à Santa Sé, teve um filho que era membro da TFP da Venezuela. Sofreu um desastre de automóvel, sofreu uma pancada não sei aonde na cabeça, e ficou alienado. Não pensa. Este pobre rapaz foi levado para os pais no Equador, e está no Equador.

Bem, um detrator da TFP, um ex-membro da TFP, mentindo, declarou que a TFP fizera todo o possível para separar este rapaz dos pais. E fizera todo o possível também para que esse rapaz assim separado dos pais, se voltasse contra os pais. Mas que quando o rapaz sofreu o desastre, nós jogamos o rapaz na mão da família, como se fosse um bagaço, e nunca mais procuramos.

Bem, a TFP do Equador procurou o embaixador Gusman; ele deu uma carta magnífica, desmentindo tudo! Que o filho nunca separara dos pais, que tinha tido sempre relações exemplares com o pai, estava na Venezuela porque o pai queria; que a TFP, depois que o filho teve este desastre, até hoje não cessou de visitar, e que ele se comove com a solicitude da TFP.

Publicamos isto com uma interpelação: Sr. Fulano de tal, o senhor mentiu ou não mentiu? Responda amanhã! Nenhuma resposta, e as acusações continuaram a mesma! Até que, num crepúsculo trágico, os jornais mais debandados contra a TFP do que nunca, a televisão e o rádio começaram a dar que o Presidente Lusinchi iria fechar a TFP. Em certo momento leram a notícia, um decreto assinado por dois ministros, do Interior e da Justiça, suspendendo o funcionamento da TFP.

Imediatamente uma turbamulta de desconhecidos, chefiada por esta comissão de pais furibundos, rompeu os portões da Sede, invadiu a sede, começam a apedrejar a sede. Depois de horas da polícia não ir lá, não atender aos nossos que estavam de  porta fechada, sem poder resistir, afinal aparece a polícia, e abre um caminho para os nossos passarem.

Os adversários começam a se retirar... há mil episódios que os senhores vão ter notícias depois, e se retiram para lugares, casas de famílias amigas, para não serem mais perseguidos. Parecia tudo acabado. Começa outro episódio. A notícia, já dada anteriormente, o auge da calúnia, e portanto o auge da infâmia – porque infâmia e calúnia são palavras indissociáveis –  de que a TFP estava planejando um atentado contra S.S. João Paulo II quando visitaria a Venezuela agora.

Logo nós que nos temos em conta dos paladinos do Papado e que mesmo no momento trágico em que nós tivemos que declarar nossa resistência, encontramos aquelas palavras de veneração e de amor para nos exprimir diante do Papado, logo nós acusados de um assassinato, e do mais negro dos assassinatos, um assassinato contra quem está ocupando a sede de São Pedro? Como se poderia compreender uma coisa dessas? Prova nenhuma! Mas nenhuma! Indício, nenhum! A mera acusação jogada no rosto.

Em certo momento apareceu uma coisa no jornal. Um homem chamado fulano de tal Torrealba, estava andando pela rua, de automóvel, e teve uma colisão. A colisão foi com o carro da polícia, a polícia desce, investiga o automóvel e encontra dentro um revólver de longo alcance, um rifle e um mapa do trajeto que João Paulo II havia de seguir na Venezuela. E encontra também uma ficha de identidade desse homem como membro da TFP venezuelana.

Então estaria provado que a TFP estava tentando o morticínio de João Paulo II. Por que? Por causa desse mapa. Para que esse mapa? Por que? Por causa desse rifle. Por que esse rifle? Depois, por que? Por casa desse cartão de identidade. Por que esse cartão de identidade?

Muito por coincidência, no momento em que esse homem foi preso, saltam de dentro de um outro automóvel, repórteres em quantidade! É coincidência! Os senhores sabem o jogo da coincidência na história, não é? De maneira que na manhã seguinte os jornais caraquenhos estavam transbordando desta notícia: provado que a TFP está tentando um crime contra João Paulo II!

A TFP não podia responder, porque como estava suspensa, era crime ela tomar qualquer atitude. Vejam o papel do decreto da suspensão: era fechar-nos a boca antes de desatar a torrente das infâmias contra nós. Respondemos no exterior, respondemos no Brasil; respondemos em vários países sul-americanos, com comunicados que os senhores devem ter recebido. Em que dizíamos, antes de tudo o seguinte:

A TFP venezuelana contava só com 50 membros. Um cartão de identidade para uma sociedade pequena assim, é ridículo, não tem razão de existir. Para uma sociedade, um clube de centenas de milhares de membros, sim. Mas uma sede que é frequentada só por 50 pessoas, tem que tirar isto para provar que é sócio? É demência! Nunca teve cartão de identidade, por isso mesmo! E este homem, este tal Torrealba, nunca ninguém na TFP ouviu dizer quem era, não teve notícia da existência dele. Tudo mentira.

Quanto ao mapa, os jornais de Caracas publicaram este mapa. Qualquer um que tivesse um jornal desse dia no automóvel tinha esse mapa. Quanto ao revólver, foi declarado que o automóvel pertencia a um oficial de marinha, que esse Torrealba tinha roubado o automóvel ao oficial de Marinha. Era o mais natural que houvesse uma arma do oficial de Marinha dentro do automóvel?

Bem, para resumir, porque vai tarde, tardíssimo, o tempo, para resumir, basta dizer o seguinte: em poucos dias ninguém falava mais do caso. Quer dizer, o próprio ministro fez uma declaração que o tal Torrealba era débil mental, o Torrealba declarou que não conhecia a TFP, e tudo evanesceu. Era mentira!

Mas, daí apareceu na mentalidade dos da TFP venezuelana, a convicção seguinte: existe a intenção, da parte dos comunistas, não quero dizer da parte do governo, mas da parte de alguém que deve estar nos arraiais comunistas, existe a intenção de quando João Paulo II estiver aí, simular um crime contra ele, e depois culpar alguém da TFP. Que defesa tem os da TFP que estão aí? Como alguém pode provar que não esteve diante de uma justiça ultrapolitizada como é a justiça venezuelana?

Resultado único: sair da Venezuela, para ter passaporte em dia, e provar que eles estavam fora do país, durante a viagem de João Paulo II. Era o jeito de pisar na cabeça da serpente!

Fugiram da Venezuela em circunstâncias dramáticas; altamente protegidos por Nossa Senhora e entraram em território colombiano, com seus passaportes em ordem. E e daí espalharam-se pelos mais diversos países. De maneira que ninguém pode dizer que os membros da Resistência – o Sr. Pedro Morazzani, diretor do bureau TFP na Venezuela, que tanto nos ajudou em tudo isso, e sua senhora, Dona Mariana, ninguém pode dizer que eles estivessem presentes na Venezuela nesta ocasião. Não, não, não! Ali está a documentação.

No que vai dar isso? O que vai acontecer já amanhã na Venezuela, quando o pontífice desembarcar? Nós não sabemos. Porque quem está conduzindo a ofensiva da calúnia são eles. Mas, uma coisa nós sabemos: é que Nossa Senhora do Coromoto nos protegerá.

Na Colômbia houve certo movimento publicitário para pedir ao presidente da República o fechamento da TFP, mas o presidente da República é do Partido Conservador, e a juventude do Partido Conservador, numa sessão brilhantíssima, com 200 jovens presentes, votou por aclamação, uma moção de admiração e de confiança na TFP!

De outro lado, nós soubemos de gente de dentro de uma televisão, as televisões que publicaram coisas contra nós, receberam tantos telefonemas de famílias com filhos na TFP, de famílias admiradoras e amigas da TFP, que se viram zonzos! E no fim tinha um funcionário só para atender essas reclamações!

No Equador também houve proposta análoga. Tempestade de telefonemas em cima da televisão que se encarregou dessa proposta. Quer dizer, o estrondo está contido ali! É claro que este estrondo poderá tentar, com qualquer pretexto, apresentar-se no Brasil ou em qualquer outro país.

Na Argentina está havendo um estrondo fenomenal contra a seita Moon, com o que não temos nada que ver. É uma seita que nem é católica, é pagã etc., etc. Nem sei bem a justo o que é que faz essa seita.

Mas, a linguagem geral parece preparar um estrondo contra a TFP argentina. Pretextos nunca faltaram; motivos faltam completamente. Aí está a TFP na ventania, no escuro, de estandarte de pé!

Na terra ela conta com muitos e muitos amigos; entre estes amigos, vós, senhores  correspondentes e esclarecedores, ocupais um lugar de escol. De vossa dedicação, de vossa compreensão, de vossa franqueza em perguntardes tudo quanto quiserdes saber; e em esclarecer todos os que estiverem em torno de vós, a respeito da verdade dos fatos, nós contamos enormemente. Com isso contamos na terra.

Mais ainda contamos no Céu, com Aquela de quem o inesquecível Hino das Congregações Marianas diz “De mil soldados não teme a espada, quem luta à sombra da Imaculada!”

 


Bookmark and Share